quinta-feira, 17 de novembro de 2011


12/11/2011 - 10h12

Demanda por energia no Brasil vai crescer mais que a da China

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DE SÃO PAULO
Hoje na FolhaA demanda por energia no Brasil vai crescer a um ritmo mais acelerado do que na China nas próximas décadas, informa reportagem deTatiana Freitas publicada na edição deste sábado da Folha.
íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL (empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).
Segundo relatório anual da IEA (Agência Internacional de Energia), divulgado nesta semana, a demanda por energia no Brasil vai crescer 2,2% ao ano, entre 2009 e 2035.
Ao final do período, a demanda alcançará 421 milhões de toneladas de óleo equivalente (unidade que mede, de forma unificada para as diferentes fontes, a capacidade de geração de energia).
O percentual de crescimento é bem superior à média mundial, de 1,3% ao ano, e até à da China, de 2%. A expansão brasileira somente perde para a Índia, que verá a demanda aumentar 3,1% ao ano.
O gás natural terá um importante papel no desafio de atender à crescente demanda. A IEA estima que o consumo crescerá 6% ao ano no país, em resposta à maior oferta de gás com a exploração das reservas do pré-sal.
A demanda por energia nuclear também terá um forte crescimento, de 5,1% ao ano, e o uso da biomassa, o que inclui a cana-de-açúcar para a produção de combustíveis e geração de energia, crescerá 2,6% ao ano. A taxa é bem superior ao aumento da procura por óleo, de 0,8%.
Editoria de Arte/Folhapress

terça-feira, 15 de novembro de 2011


Florestas energéticas






15 de novembro de 2011 | 3h 06
XICO GRAZIANO, AGRÔNOMO, FOI SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO. E-MAIL:, XICOGRAZIANO@TERRA.COM.BR - O Estado de S.Paulo
O homem, dizem, dominou o fogo há 500 mil anos. Juntamente com o raio solar, a queima da lenha energizou a civilização até começar a era dos combustíveis fósseis. Agora, com a crise ambiental se agravando, ressurge a madeira como energia renovável. O passado no presente.
Na fascinante história da energia, desde quando moradia se abrigava nas cavernas, a chama da madeira ocupou papel central na proteção humana. Inventada a máquina a vapor, a fogueira do lenho impulsionava as caldeiras da "maria-fumaça". Até ser substituída pelo óleo combustível. Coisa de 120 anos.
Fogão a lenha virou grife na culinária metropolitana. Poucos sabem, porém, que cerca de 3 bilhões de pessoas ainda utilizam a acha para a cocção alimentar, prática condenada pela Organização Mundial da Saúde em razão da intoxicação causada pela fumaça nos ambientes domésticos. Fogão a lenha no mundo mata, lentamente, 2 milhões de pessoas por ano.
No Brasil, os arbustos retorcidos da Caatinga nordestina encontram-se no limite de exploração. Percebe-se no Semiárido o desenrolar da história primitiva, agravada pela pressão populacional. O que antes significava uma boa condição de vida agora mostra um perigo ecológico: surrupiar a madeira das florestas nativas agride a biodiversidade e agrava o efeito estufa no planeta. Fazer o quê?
Plantar florestas. Ninguém melhor que os japoneses para ensinar a lição do reflorestamento. Lá a silvicultura começou a ser implantada a partir de 1700, proposta na era Tokunawa para recompor as florestas quase dizimadas por completo. A China, tardiamente, segue caminho semelhante. A África, ao contrário, desertifica-se a olhos vistos.
Edmundo Navarro de Andrade, visionário agrônomo, deve ter-se inspirado nos xoguns japoneses quando, em 1904, trouxe mudas de eucaliptos australianos para o Brasil. Era seu intuito produzir dormentes para assentar os trilhos da então Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Naquela época, frondosos e centenários ipês, perobas e jequitibás da Mata Atlântica tombavam para auxiliar, impulsionado pelas ferrovias, o progresso do País.
Mais tarde, em 1922, chegaram as primeiras mudas de pinheiros norte-americanos, introduzidos pela Companhia Melhoramentos. Neste caso a extração da celulose se vislumbrava. Seja para a finalidade do uso madeireiro, seja destinadas à fabricação de papel, as florestas plantadas demoraram a se expandir no Brasil. Somente após os anos 1970, estimulados por generosos incentivos fiscais, os reflorestamentos se avolumaram.
Em Minas Gerais, especialmente, as florestas de eucalipto motivaram-se também para abastecer os fornos da siderurgia do aço. Limpo, ecologicamente correto, tal carvão vegetal se distingue de seu parente ancestral, o carvão sujo oriundo das matas nativas. Onde reside a diferença?
Na energia renovável. Toda a matéria vegetal - folhas, galhos, troncos - se gera por meio da fotossíntese. Nesse processo, havendo água e radiação solar, as plantas "respiram" gás carbônico (CO2) da atmosfera, liberando oxigênio. O carbono assim absorvido se transforma, e se armazena, na biomassa.
A cada ciclo, as árvores crescem absorvendo gás carbônico e, se sofrerem combustão, devolvem para a atmosfera o carbono acumulado na madeira. Por essa razão, considera-se zerado o balanço de carbono oriundo de florestas plantadas.
Diferente conta se faz quando ocorre desmatamento das florestas nativas. Nesse caso as emissões de carbono das queimadas se contabilizam no efeito estufa do planeta. Idêntico procedimento se verifica na queima de petróleo, pois o negro combustível nada mais é do que acúmulo de matéria orgânica decomposta, ocorrido há milhões de anos.
Recentemente, visto o drama das mudanças climáticas, surgiram as florestas energéticas. O processamento da madeira com alta tecnologia gera um novo produto no mercado, conhecido como pellet - pequenos aglomerados secos que duplicam o poder calorífico da lenha comum. O fogo antigo moderniza-se e espanta o seu passado antiecológico.
Quem lidera, por aqui, a implantação de florestas energéticas é a Suzano, tradicional empresa do setor papeleiro, que anunciou vultosos investimentos nos novos negócios, de olho na Europa. Lá, as geradoras de energia precisam atender às rígidas diretivas que obrigam a aumentar a renovabilidade da matriz energética. Pellet da madeira tupiniquim vai limpar o Primeiro Mundo.
Esse movimento da economia de baixo carbono ajuda a turbinar a silvicultura no Brasil, atividade que já ocupa 6,5 milhões de hectares. Para comparação, os cafezais atingem 2,3 milhões de hectares plantados. Carregado por má fama no início, pelo fato de derrubar mata nativa, Cerrado principalmente, para plantar bosques homogêneos, o reflorestamento valoriza-se na agenda da economia verde.
O eucalipto, particularmente, está feliz, rompendo a velha sina de estragar o solo. Estudos como os do professor Barrichelo (Esalq-USP) comprovam que, afora o seu rápido crescimento, nada diferencia a demanda de água do eucalipto da advinda por outras árvores frondosas. Manejo florestal moderno protege, não compromete, os recursos hídricos.
Ambientalistas e ruralistas, perdidos no cansativo e infrutífero debate sobre o Código Florestal, bem que poderiam prestar mais atenção às reais oportunidades do mundo sustentável. Um olhar mais isento permitiria sair da agenda negativa do desmatamento e encarar o futuro. Nele, longe do preservacionismo puro e do vândalo produtivismo, se encontram as florestas energéticas.
Um patamar superior da produção no campo.

terça-feira, 8 de novembro de 2011


O homem terminal (Carlos Heitor Cony)




De certa forma, somos todos terminais desde que nascemos, uns mais, outros menos

NA Semana passada, vi a reprise de um filme sobre o Dr. Morte. Devo de início elogiar a atuação de Al Pacino no papel principal, uma das melhores que já vi no cinema de todos os tempos.
Confesso que não me interessei pelo caso na devida ocasião, não acompanhei suas proezas nem seus julgamentos e só assisti ao filme na TV por falta de opções. Nem sequer guardei o nome do personagem, nome complicado, parece que de origem armênia. Nem mesmo guardei o nome do filme.
Mas fiquei impressionado com algumas cenas, sobretudo aquela em que, numa de suas prisões, ele gritava que a sociedade estava na Idade Média e invocava, entre outros, o nome de Galileu.
O Dr. Morte tinha uma posição contrária à eutanásia, considerando-a um homicídio. O doente terminal não era ou não podia ser consultado, a decisão era tomada pela família ou pelos médicos que afastavam os equipamentos ou deixavam de aplicá-los, interrompendo a assistência médica considerada inútil e cara.
No caso do Dr. Morte tratava-se na realidade de um suicídio assistido, o doente terminal, esgotados todos os recursos da medicina e não suportando as dores, autorizava a aplicação de uma injeção letal.
Ele tinha uma fórmula e um processo para abreviar o sofrimento insuportável do paciente.
Em alguns países, creio que na Suíça (posso estar enganado), o suicídio assistido não é considerado um crime. Evidente que é um assunto polêmico, condenado pela totalidade dos médicos cuja missão é salvar vidas, e não apressar a morte consentida ou mesmo implorada pelos doentes terminais.
E a sociedade, em seu atual estágio, também recusa a prática -daí as várias condenações que o Dr. Morte sofreu, sendo que na última, a muitos anos de cadeia, ele veio a morrer sem cumprir a pena integralmente.
Como disse, é um tema mais do que polêmico. Um doente terminal, esgotados todos os recursos da ciência, mas lúcido o bastante para decidir sobre si mesmo, teria o direito de pedir a morte uma vez que está sem condições de suicidar-se, atirando-se da janela ou fazendo uso de uma arma?
O assunto é macabro, mas recorrente. De certa forma, somos todos terminais desde que nascemos, uns mais, outros menos. De minha parte, habituei-me a me considerar um sobrevivente, mais tarde um homem em estágio terminal. 
Bem verdade que nunca pensei em suicídio, assistido ou não, mas costumo responder aos que me perguntam como estou revelando que "não passo desta noite" -uma frase que repito para mim mesmo todos os dias, o que me dá direito a aproveitar da melhor forma o dia seguinte- e faço isso há uns 20 anos e espero continuar fazendo enquanto puder.
Sei que a expectativa de vida vem aumentando, mas volta e meia, como no caso dos terremotos, desabamentos, desastres de carro ou avião, balas perdidas e homicídios em geral, de nada valem as perspectivas modernas que nos garantem uma vida mais longa.
De qualquer forma, a medicina e a tecnologia conjugadas não apenas aumentam as condições de vida como se esforçam para dar dignidade ao ato de morrer.
Sendo por natureza e definição um mortal, embora algumas pessoas me considerem imortal porque pertenço a uma academia cujo lema é "ad immortalitatem", tenho sérios motivos para me considerar um homem que termina todos os dias e instantes.
Quem acorda por mim no dia seguinte é um outro, apesar de herdar meus problemas, meus compromissos com a Receita Federal, amigos e desafetos, a batelada de exames e remédios e as chateações em geral que fazem parte da condição humana.
Pedindo perdão pelo assunto e pelo tom sinistro desta crônica, sabendo de antemão que receberei e-mails indignados de protesto e rejeição, busco a autoridade que não tenho em dois exemplos, um religioso, outro profano.
O primeiro é um conselho de Cristo anotado pelo evangelista Mateus: "Sufficit diei malitia sua" ("A cada dia bastam as suas atribulações"). O outro exemplo é o de Horácio, meu poeta preferido: "Aproveita o dia de hoje e nada espere do dia seguinte". Em latim, para dar mais solenidade: "Carpe diem quam minimum credula postero".