segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Dois males afinal evitados

LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
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Folha de SP, 07-11-2010
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As eleições do último domingo foram livres e democráticas. Foram próprias de uma democracia consolidada, porque o Brasil conta com uma grande classe média de empresários e de profissionais e com uma classe trabalhadora que participa dos ganhos de produtividade.
Porque conta com um sistema constitucional-legal dotado de legitimidade e garantido por um Estado moderno, que é efetivo em garantir a lei e crescentemente eficiente em gerir os serviços sociais e científicos que permitem reduzir a sua desigualdade.
É verdade que os dois principais candidatos não conseguiram desenvolver um debate que oferecesse alternativas programáticas e ideológicas claras aos eleitores. Por isso, a grande maioria dos analistas os criticou. Creio que se equivocaram.
O debate não ocorreu porque a sociedade brasileira é hoje uma sociedade antes coesa do que dividida. Sem dúvida, a fratura entre os ricos e os pobres continua forte, como as pesquisas eleitorais demonstraram. Mas hoje a sociedade brasileira é suficientemente coesa para não permitir que candidatos com programas muito diferentes tenham possibilidades iguais de serem eleitos -o que é uma coisa boa.
Os dois males que de fato rondaram as eleições de 31 de outubro foram os males do udenismo moralista e potencialmente golpista e o da americanização do debate político.
Quando setores da sociedade e militantes partidários afirmaram que a candidata eleita representava uma ameaça para a democracia, para a Constituição e para a moralidade pública, estavam retomando uma prática política que caracterizou a UDN (União Democrática Nacional), o partido político moralista e golpista que derrubou Getulio Vargas em 1954.
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Não há nada mais antipolítico ou antidemocrático do que esse tipo de argumento e de prática. As três acusações são gravíssimas; se fossem verdadeiras --e seus proponentes sempre acham que são-- justificam o golpe de Estado preventivo.
Felizmente a sociedade brasileira teve maturidade e rejeitou esse tipo de argumento.
Quanto ao mal da americanização da política******, entendo por isso a mistura de religião com política em um país moderno.
Os Estados Unidos, que no final da Segunda Guerra Mundial eram o exemplo de democracia para todo mundo, experimentaram desde então decadência política e social que teve como uma de suas características a invasão da política por temas de base religiosa como a condenação do aborto.
De repente um candidato passa a ser amigo de Deus ou do diabo, dependendo de ser ele "a favor da vida" ou não. A separação entre a política e a religião --a secularização da política-- foi um grande avanço democrático do século 19. Voltarmos a uni-las, é um grande atraso, é a volta à intolerância.
A sociedade brasileira resistiu bem às duas ameaças. E a democracia saiu incólume e reforçada das eleições.
Em seu discurso após a eleição, Dilma Rousseff reafirmou seu compromisso com os pobres, ao mesmo tempo em que se dispôs a realizar uma política de conciliação, não fazendo distinção entre vitoriosos e vencidos.
Estou seguro que será fiel a esse compromisso, como o foram os últimos presidentes. Nossa democracia o exige e permite.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Incineração: tecnologia de ponta transforma o lixo em energia

Do site Ecocidades

Nossos resíduos podem ter um destino mais interessante - foto: Justin Ritchie
Hoje, existem 650 usinas que queimam resíduos para produzir energia no mundo. Só na Europa são quase 400 com a  tecnologia Waste-to-energy, (algo como   Do Lixo à Energia, veja vídeo explicativo), em expansão em países como Dinamarca, Alemanha e Holanda. Por aqui, algumas cidades pretendem investir nesse setor e em Minas Gerais, no município de Unaí, já há um projeto em desenvolvimento.
Devido à emissão de poluentes liberados com a combustão,  a incineração de resíduos urbanos é bastante polêmica  e  foi combatida por décadas pelos ambientalistas. Além disso, alguns acreditam que esse tipo de procedimento não seja compatível com a política de desperdício zero e possa desestimular a reciclagem, já que, para transformar lixo em energia, seria preciso que houvesse um excedente desse material para abastecer as usinas.
Mas o desenvolvimento tecnológico favorecido o waste-to-energy. Na Dinamarca, por exemplo, foi adotado um novo tipo de incinerador que, graças a dezenas de filtros e à destilação de gases nocivos, emite menos poluentes do que todas as lareiras  e as churrasqueiras da região juntas. O país, de 5.5 milhões de habitantes, conta com 29 usinas que servem 98 municípios e já tem planos para construir outras 10 delas. O curioso é que a Dinamarca apresenta uma das taxas mais altas de reciclagem do mundo. Só o material que não pode ser reaproveitado é mandado para os incineradores. O mesmo ocorre com a Alemanha, que também investe nesse setor.
Em agosto deste ano, o Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) começou a elaborar a proposta de implantação de uma usina a lixo na estação do Caju, no Rio de Janeiro. Pesquisadores calculam que a unidade poderia gerar 500 megawatts de potência instalada e, se fossem aproveitadas todas as 9 mil toneladas de lixo produzidas por dia pela cidade, seria possível abastecer 1,5 milhão de residências, com consumo médio de 200 quilowatt/hora por mês.
Essa, no entanto, não será a primeira experiência de tratamento térmico do lixo no país. O município de Unaí, no noroeste de Minas Gerais, construiu uma usina que, por meio do aquecimento, transforma os detritos em produtos para a utilização industrial. Todo tipo de lixo – exceto o hospitalar -  é submetido à temperatura de 800oC, sem contato direto com as chamas. Os resíduos de origem vegetal e animal são transformados em carvão. Os de origem mineral não sofrem deterioração e são encaminhados à reciclagem. Não se descarta nem o chorume. Ele é vaporizado, tratado e devolvido à forma líquida.
Além do carvão, são produzidos com esse processo o óleo vegetal, alcatrão líquido, lignina e água ácida, posteriormente comercializados. Mas os planos em Unaí vão além da venda desses materiais. Para aproveitar o carvão produzido na usina, está em construção uma termoelétrica para abastecer a região de energia.
Embora o caso mineiro ainda desperte certa desconfiança, especialistas concordam que, hoje em dia, a incineração de resíduos é segura e proveitosa, desde que associada à coleta seletiva.
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2 em 1 – novo sistema solar aquece e gera energia elétrica

Concentradores solares da Zenith aquecem a água e produzem eletricidade
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A nova onda da energia solar é usar espelhos para concentrar a luz. Uma recém-criada empresa israelense, a Zenith Solar, está usando a tecnologia e afirma que vai revolucionar a indústria de energia renovável, produzindo simultaneamente e por preços irrisórios energia térmica e elétrica.
Israel é um local propício à utilização da energia solar. Além do clima, depende da importação de energia. Desde a década de 70, com os choques do petróleo, as residências locais passaram a usar coletores solares para aquecer a água. Na década de 90, virou lei e todos os edifícios residenciais passaram a ser obrigados a usar o sistema que, hoje, abarca mais de um milhão de residências, gerando 4% da energia total consumida no país.
A Zenith acha que esse número pode subir para 16% usando seus novos coletores. Os sistemas solares tradicionais de produção de energia elétrica usam células fotovoltaicas baseadas em silício. O material é caro e pouco eficiente. De toda a energia que recebe converte apenas pouco mais de 10% em eletricidade. Algumas células feitas de arsenieto de gálio conseguem chegar a índices próximos de 30%, mas seu custo altíssimo viabiliza o uso apenas na indústria aeroespacial.  Para piorar, a demanda crescente por energia renovável fez o preço dos materiais tradicionais subir dez vezes.
Eis que surge a tecnologia de concentração da luz através de pequenos espelhos. Ela consegue multiplicar por 1.000 vezes a energia reunida em uma pequena célula fotovoltaica de 10×10 centímetros. Dessa forma, segundo a empresa, a terceira geração do coletor converte em energia 72% da luz que recebe usando uma célula pequena e, assim, barata. A empresa foi criada em 2006 e já tem um projeto inaugurado no kibutz Yavne, onde foram instalados 86 coletores com 7 metros de circunferência,  que produzem um terço da energia consumida pelas 250 famílias que lá residem. Essa energia é fornecida em parte como eletricidade e, de quebra, aquece a água dos moradores. Na realidade, a água quente é um subproduto do processo de resfriamento dos coletores e também pode, através de vapor comprimido, mover turbinas que geram mais energia elétrica.