segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Agricultura, um modelo

ALBERTO TAMER - O Estado de S.Paulo

A agricultura brasileira pode ser chamada de "essa desconhecida". As atenções estão voltadas para a indústria, que fraqueja, e para outros setores, mas é a agricultura que tem evitado explosões inflacionárias e sustentado o crescimento econômico, principalmente nos anos de crise.
   
Um fato importante, diria mesmo, importantíssimo ao qual se dá pouco destaque: é também um modelo em que o setor privado responde por "toda" produção e comercialização no País. Tem o apoio técnico do governo, sim, pelo excelente trabalho realizado pela Embrapa, tem financiamento, mas não conta com a proteção dos escandalosos subsídios oferecidos pelos Estados Unidos e a União Europeia aos seus agricultores. Mesmo assim, os americanos estão perdendo terreno para o agronegócio brasileiro no mercado mundial. E repito, todos eles privados, multinacionais ou não.
   
Eis um modelo a seguir O Estado participa também por meio de um Ministério da Agricultura eficiente, que completa 150 anos, observa e age nas emergências, socorre os que precisam, estimula a agricultura familiar, mas fica distante. Não se mete nas decisões do que plantar, produzir e exportar. O mercado é que decide. A agricultura brasileira não precisa de estatais. Não quer intromissão do Estado.
   
Esse é um modelo de convivência entre Estado e setor privado que deveria ser estudado pelos dois candidatos a presidência, para que não inventem mais empresas estatais como se está fazendo hoje.
   
Mas a agricultura é isso mesmo? Sei que é essa a pergunta que o leitor deve estar fazendo. A resposta é sim. E baseada não só em dados do IBGE, mas também do governo americano. Mesmo sem subsídios, o Brasil é hoje o terceiro maior exportador de alimentos do mundo. Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o Brasil é líder na produção e exportação de açúcar, café em grãos e suco de laranja. Além disso, é o primeiro exportador mundial de carne bovina, tabaco, álcool etílico e carne de frango.
   
Ocupa a vice-liderança na produção e exportação de soja em grãos (atrás apenas dos EUA). É o terceiro maior exportador mundial de milho e o quarto de carne suína. O Brasil depende hoje da importação de trigo, que somou apenas US$ 1,2 bilhão em 2009, e alguns outros derivados, além de cevada e arroz. As exportações do agronegócio, em 2009, totalizaram US$ 64,75 bilhões, representando nada menos que 42,5% das vendas externas. As importações foram de apenas US$ 9,8 bilhões, o que significa um superávit de US$ 54, 9 bilhões. Sustentou a balança comercial.
   
O que exportamos e para quem o complexo soja lidera (farelo, óleo e grãos); representou 26% das vendas. Seguem as carnes (bovina, aves e suína), que foram responsáveis por 18% das vendas externas do agronegócio. O complexo sucroalcooleiro (açúcar e etanol) respondeu por 15% das exportações agropecuárias.
   
A China vem se consolidando, há dois anos, como o principal país comprador de produtos do agronegócio brasileiro. Absorveu no ano passado 13,77% das vendas externas. Os chineses compraram quase US$ 9 bilhões. Vale destacar que o Brasil exporta para cerca de 200 países.
   
Com 7,67% na participação das vendas externas do agronegócio, os Países Baixos estão em segundo lugar, representando nada menos que US$ 5 bilhões. Mas é importante registrar que representa a importação da Europa, pois é na pequena Holanda que está localizado o importante Porto de Roterdã.
   
E os americanos? São grandes produtores e exportadores e importam do Brasil apenas US$ 4,5 bilhões. Nada mais de 7% das nossas vendas do setor. Os Estados Unidos lutam com o Brasil na OMC, nas falidas negociações de Doha, porque querem exportar mais produtos agrícolas a preços subsidiados. Mesmo assim, sozinhos, ainda compram quase o mesmo que os 27 países da União Europeia juntos.

Mas será que vai dar para sustentar esse ritmo de exportações e ainda atender, neste ano, ao aumento da demanda interna por alimentos? Vai dar sim. É um assunto tão importante e vital para a economia brasileira, que vamos destinar uma segunda coluna para ele.

Uma sugestão Por que os professores de escolas e faculdades não pedem aos estudantes, neste início de semestre, trabalhos sobre a importância da agricultura brasileira no País e no mundo mostrando os pontos altos e baixos de uma realidade nacional quase esquecida e que só se lembra mesmo quando o Ministério completa 150 anos? 



2. artigo  Alberto Tamer

A agricultura brasileira pode crescer no ritmo atual e até dobrar a produção em alguns anos sem pressionar o meio ambiente, violar florestas ou expulsar a pecuária. Há terra livre, há tecnologia, clima, insolação, recursos naturais e, acima de tudo, interesse do governo e do setor privado em atender a demanda interna e o mercado internacional. Não é apenas uma afirmação vazia, sem base. Ela se fundamenta em dados do IBGE, dos levantamentos de campo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), dos bancos que financiam as safras e das grandes empresas, nacionais ou não, que operam no setor.
Safras recordes. A produção de grãos no Brasil, ciclo 2009/2010, foi estimada em 146,7 milhões de toneladas, de acordo com o último anúncio (8 de julho) da Conab. Faltam apenas mais dois levantamentos e não há dúvida de que será mais uma safra recorde. A atual será 8,6% maior que a de 2008/2009, quando foram colhidas 135,13 milhões de toneladas. Vai dar para abastecer o mercado sem pressionar os preços. Como?
Há terras para plantar. Muita, mas muita mesmo. O IBGE, não o Ministério da Agricultura, faz um acompanhamento sistemático da produção agrícola, conhecido como LPSA. O mais recente, em junho, constatou que a área plantada com as principais lavouras no Brasil é de 61 milhões de hectares, em números redondos. E sabem quanto há de terra própria para a agricultura? O último levantamento do instituto, em 2006, informa que são 226 milhões de hectares.
Mas tem a pecuária! Sim, de acordo com esse mesmo levantamento, ela ocupava 158 milhões de hectares. Ou seja, haveria ainda 60 milhões de hectares para plantar sem invadir florestas. A produção poderia mais que dobrar por dois motivos: 1) levantamento da Fundação Getulio Vargas, que consta de reportagem do colega Fernando Dantas, do Estado, de segunda-feira, 28, revela que a produção agrícola vem aumentando mais do que a área plantada; e, 2) que a lavoura vem recuperando espaço perdido para a pecuária. Estão sendo plantados mais arroz, feijão, algodão e milho do que capim para os pastos invasivos.
Sei qual é a pergunta, agora: e as florestas? 98 milhões de hectares... Podem ficar tranquilos pois, se houver fiscalização eficiente, não é preciso derrubar nada. ( Tem mais: pela vivência do colunista na Amazônia, a maior parte da floresta quando derrubada, vira areião.)
O que há. Há financiamento oficial e do setor privado. O governo anunciou recursos recordes de R$ 100 bilhões para a safra atual. É ótimo, mas não é tudo. Em média, a participação oficial no financiamento da agricultura é de 33% do que o setor precisa. O restante vem do setor privado. Na crise, ele se retraiu e a participação oficial deve ter chegado a 35%. Foi oportuna e confirma a tese defendida na última coluna de que o modelo agrícola no qual o setor privado predomina e o Estado complementa é o melhor para o Brasil. Não só para a agricultura, para a indústria também.
Há características próprias, sim, adaptáveis a cada setor. O retorno na produção agrícola é mais rápido, um ano, em média, e o da indústria tem mais prazo de maturação. Mas não há dúvida de que o governo tem sido mais ágil e encontrado mais resposta na agricultura que na indústria.
E o que falta? Infraestrutura: estradas, ferrovias, portos. Um leitor atencioso corrige e informa que, pelo menos no milho, nem toda a safra é comercializada pelo setor privado. Há os leilões da Conab. Registro e agradeço a correção. O leitor informa também algo incrível. Uma saca de milho negociada, sem Conab, por R$ 8, custa R$ 9 para ser transportada de Primavera, no leste de Mato Grosso, para o porto de Paranaguá. É a ausência do governo onde devia estar.
A coluna agradece os e-mails. Não é parcial. Defende mais investimentos em todos os setores, sem o que o crescimento atual não se aguenta.
P.S.: A coluna continua aberta a todas as críticas e observações. Ela existe para os seus leitores.

Brasil está perto de ser maior o player mundial de alimentos, diz ministro da Agricultura

Wagner Rossi disse que, dado o crescimento demográfico global, os alimentos ganharão cada vez mais destaque nas comercializações
Venilson Ferreira, da Agência Estado  

CUIABÁ - O Brasil tem condições de se tornar, em um futuro breve, o maior player mundial no setor de alimentos, na avaliação do ministro da Agricultura, Wagner Rossi. "Já estamos perto disso", disse a jornalistas após participar das comemorações dos 150 anos do Ministério da Agricultura. Rossi acredita que, dado o crescimento demográfico global, os alimentos ganharão cada vez mais destaque nas comercializações. "Nada será mais importante que os alimentos. E o Brasil é o maior produtor de alimentos no mundo", disse.
Durante seu discurso, o ministro salientou que 42% das exportações brasileiras são do setor agrícola ou pecuário. Além disso, comentou que agricultores e pecuaristas conseguiram se desvencilhar dos impactos da crise financeira internacional com rapidez e de "cabeça erguida". Ele também comentou a respeito da expectativa de produção recorde de grãos este ano, sobre a importância do meio ambiente e da necessidade de plantio de florestas no País, prática que foi vista inicialmente com preconceito por alguns produtores.
Rossi, que foi um dos poucos ministros indicados politicamente para assumir uma pasta quando os titulares se desvincularam para concorrer às eleições de outubro, foi só elogios ao presidente Lula. Segundo ele, o presidente tem origem urbana, mas sensibilidade para questões de agricultura e pecuária. "Lula foi o presidente que mais apoiou a Agricultura", disse, arrancando aplausos de funcionários e demais presentes à celebração.
O ministro brincou ainda com a comemoração dos 150 anos do Ministério dizendo que a agricultura já estava mencionada na certidão de nascimento do Brasil. Ele citou que, na carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, após o descobrimento, havia a famosa frase: "Nesta terra, em se plantando tudo dá".
Wagner Rossi disse também que apenas um seguro rural que garantisse inclusive os lucros cessantes poderia resolver o problema de queda de renda na agricultura brasileira, provocada pela globalização dos mercados.
Ele reconheceu que o atual sistema de crédito rural e de apoio à comercialização não é perfeito, pois cobre apenas os custos variáveis, os desembolsos feitos pelos agricultores no plantio de cada safra, sem remunerar a terra, o capital e o garantir lucro.
Rossi observa que a política agrícola é importante porque evita "desastres homéricos" que poderiam ocorrer no caso de uma adversidade climática catastrófica ou de preços baixos, pois estes fatores não podem ser controlados. A limitação para a expansão do seguro é o custo bastante elevado da operação. "O governo tem conseguido subsidiar parte do pagamento do seguro, mas uma parcela muito pequena tem acesso ao benefício", diz ele.
Em relação ao endividamento agrícola, que ultrapassa R$ 100 bilhões, o ministro Wagner Rossi lembrou que esta é uma questão estrutural, decorrente dos planos econômicos e da manipulação de preços pelos países desenvolvidos. Ele afirmou que tem sensibilidade para reconhecer as dificuldades enfrentadas pelos agricultores, mas disse não ser possível resolver o problema até o fim do atual governo. Na opinião do ministro, o problema do endividamento deve ser encaminhado pelo próximo governo, com um programa de quatro a oito anos, para depois a agricultura entrar no regime de mercado.
Hoje o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento comemora 150 anos. Entre outras homenagens, haverá a entrega da medalha do sesquicentenário por Rossi a ex-ministros da Pasta, representantes do agronegócio, instituições de pesquisa e ensino rural. A cerimônia está marcada para as 15h30, no Clube do Exército, em Brasília, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na ocasião será lançado, também, o Selo Comemorativo dos 150 Anos Ministério da Agricultura.

Lula prevê que Brasil exportará fertilizantes em 5 anos



CÉLIA FROUFE  Agencia Estado

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje que o Brasil deve passar de importador para exportador de fertilizantes em cinco anos. "Sempre disse que a Petrobras tinha que entrar na área de fertilizante. Se o Brasil importa hoje 80% de fertilizantes, em cinco anos vamos importar muito pouco ou já estar exportando um pouco", previu. Ele fez a afirmação durante cerimônia de comemoração dos 150 anos dos ministérios da Agricultura e dos Transportes.
Lula afirmou que isso será possível porque nesse período já haverá retorno das empresas brasileiras que estão produzindo em países vizinhos, como Argentina e Peru. "Essa era uma coisa que todo mundo sabia que era preciso. Não fui eu que inventei", disse.
Para o presidente, as coisas "estão acontecendo" no setor da agricultura e pecuária. Em grande parte, de acordo com ele, o resultado das vendas brasileiras ao exterior deve-se ao resultado comercial de suas viagens internacionais. "Sou o único presidente do mundo que não tem vergonha de vender biodiesel, cana, avião da Embraer, aquilo que o Brasil tem", citou.
Lula disse ainda que o Brasil é um país de destaque hoje no cenário internacional. "É só olhar o mapa do mundo que percebemos que o Brasil não tem nenhuma preocupação em competir com quer que seja", disse. "Estamos encontrando ponto de equilíbrio neste país. Vamos seguir em frente, pois não tem mais como a gente retornar", acrescentou.