segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A vida bate ( trecho do G1) , por Ferreira Gullar

“Alguns viajam:

vão a Nova York,

a Santiago do Chile.

Outros ficam

mesmo na Rua da Alfândega,

detrás de balcões e de guichês.

Vista do alto,

com seus bairros e ruas e avenidas,

a cidade é o refúgio do homem,

pertence a todos e a ninguém.

São pessoas que passam sem falar

e estão cheias de vozes

e ruínas.

És Antônio ?

És Francisco ?

És Mariana ?

Onde escondeste o verde

clarão dos dias?

E passamos

carregados de flores sufocadas.

Mas, dentro, no coração,

eu sei,

a vida bate.

Subterraneamente,

a vida bate.

Em Caracas, no Harlem, em Nova Delhi,

sob as penas da lei,

em teu pulso,

a vida bate.

E é essa clandestina esperança

misturada ao sal do mar

que me sustenta

esta tarde

debruçado à janela de meu quarto em Ipanema

na América Latina”

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Centro de pesquisa em bioetanol é inaugurado em Campinas

Por Fábio Reynol, de Campinas (SP)

Agência FAPESP – O Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) será inaugurado na tarde desta sexta-feira (22/1), em Campinas (SP), pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O CTBE deverá reunir esforços de instituições de pesquisa de todo o país que atuam no desenvolvimento do bioetanol, inclusive laboratórios da iniciativa privada.

Concebido em 2007, o laboratório contou com investimentos da ordem de R$ 69 milhões e já possui pesquisas em andamento, muitas delas com o apoio da FAPESP. “A Fundação paulista já investiu cerca de R$ 2 milhões em trabalhos que já estão em andamento no CTBE”, informou o diretor da unidade, Marco Aurélio Pinheiro Lima.

Segundo Lima, o CTBE nasceu a partir de um estudo que levantou os desafios da produção brasileira de etanol para os próximos 15 anos. Uma das metas do estudo era responder se seria possível multiplicar por dez a produção atual de álcool até o ano de 2015 e de forma sustentável. O futuro montante equivaleria a 250 bilhões de litros anuais, o que seria suficiente para substituir 10% da gasolina consumida no planeta, de acordo com o estudo.

“Muitos dos gargalos identificados demandam investimentos em ciência para resolvê-los”, conta o diretor. Por isso, o CTBE foi concebido de modo a abranger pesquisas relacionadas a todas as etapas de produção do etanol, desde a plantação até o desenvolvimento de motores automotivos.

A abrangência dos trabalhos coincide com a do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), que deverá contribuir com o laboratório e também se beneficiar da sua infraestrutura. Essa é a opinião do professor da Universidade de São Paulo, Marcos Buckeridge, diretor científico do CTBE e coordenador da divisão de Biomassa do BIOEN. “Está se formando um sistema brasileiro de bioenergia que reunirá os trabalhos de uma elite de especialistas espalhados pelo país”, anuncia o professor.

Etanol de celulose

Os esforços da pesquisa do CTBE estarão concentrados no desenvolvimento do etanol de segunda geração, produzido a partir da celulose da cana-de-açúcar, que, acumulada no bagaço e na palha da planta, hoje não é aproveitada, embora corresponda a dois terços da biomassa disponível.

Buckeridge explica que no coração dessa pesquisa está o processo de quebra da celulose. Na decomposição biológica essa massa é quebrada com o auxílio de enzimas que poderão ser estudadas a fundo nos laboratórios do campus do CTBE.

Ao lado da unidade, funcionam o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio). “Estar perto dessas instalações nos dá acesso a recursos de primeira linha como o anel de luz síncrotron, que ajuda desvendar a estrutura das enzimas, e os softwares específicos de bioinformática, desenvolvidos pelo LNBio”, exemplifica Buckeridge.

Embora autônomos, o LNBio, o LNLS e o CTBE serão coordenados por uma instância que acaba de ser criada pelo governo federal, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que terá como diretor o físico Rogério Cerqueira Leite.

Buckeridge ressalta ainda que o CTBE será o local onde os pesquisadores de bioetanol poderão testar seus resultados em processos industriais. O professor explica que os pesquisadores deverão interagir com os engenheiros do laboratório e, assim, adaptar a pesquisa acadêmica às necessidades da indústria. Esses testes serão executados em uma miniplanta industrial que está sendo construída e fará parte das instalações do CTBE.

Ainda na cerimônia de inauguração de sexta-feira, o CTBE assinará acordos para desenvolver pesquisas conjuntas com o Imperial College London, da Inglaterra; com a Lund University, da Suécia; e com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A partir de 2011, Buckeridge espera promover um megaexperimento em formato de workshop no qual todos os grandes trabalhos de pesquisa em bioetanol possam se apresentar. Um dos objetivos do evento será avaliar e acompanhar o estágio em que se encontra a pesquisa científica nacional em bioetanol.

Atualmente com 60 empregados, o CTBE espera ter cerca de 170 colaboradores fixos até 2013. Além do combustível, os trabalhos deverão desenvolver uma cadeia de subprodutos oriundos da cana-de-açúcar como polímeros e medicamentos, aos moldes do que ocorreu com o desenvolvimento do petróleo, de acordo com Buckeridge. “Esses novos materiais devem estabilizar a indústria da cana, que hoje vive oscilações porque só conta com dois produtos principais: álcool e açúcar”, prevê o especialista.

BIOEN FAPESP

O Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia ( BIOEN) visa responder à demanda brasileira de desenvolvimento científico e tecnológico da produção de bioenergia, com destaque para a cana-de-açúcar. Para isso, o programa articula e estimula atividades de pesquisa realizadas em instituições públicas e privadas.

O BIOEN é organizado em cinco divisões temáticas: “Biomassa para bioenergia”, “Processo de fabricação de biocombustíveis”, “Biorrefinarias e alcoolquímica”, “Aplicação do etanol para motores automotivos” e “Impactos socioeconômicos, ambientais e uso da terra”.

DuPont e JBS fazem aliança para produzir metilato de sódio no país

TERÇA, 19 JANEIRO 2010 . VALOR ECONÔMICO


A multinacional americana DuPont e a gigante brasileira das carnes JBS firmaram uma parceria para produzir metilato de sódio no Brasil. O produto, que acelera a produção de biodiesel, será industrializado na fábrica da JBS em Pirapozinho (SP).

A decisão de produzir metilato de sódio no Brasil reflete o potencial do mercado de biodiesel no país, que desde o início deste ano está operando o B5 - mistura de 5% do biodiesel no diesel. O consumo nacional desse biocombustível está estimado em 2,4 bilhões de litros para este ano, o que significa uma demanda entre 40 mil a 60 mil toneladas de metilato de sódio. No mercado internacional, o consumo de biodiesel chega a 11 bilhões de litros e gera uma demanda de 220 mil toneladas de metilato de sódio.

A DuPont é uma das maiores produtoras de metilato de sódio do mundo e líder nos Estados Unidos. A JBS tornou-se uma produtora respeitável de biodiesel no país, após a incorporação da Bertin. Juntas, as duas empresas uniram o útil ao agradável. Em outras palavras, as duas empresas vão aproveitar as suas sinergias para negociarem o catalisador no mercado interno. Atualmente, a DuPont importa o metilato de sódio dos EUA.

"Seremos os primeiros produtores efetivos de metilato de sódio em larga escala no país", afirmou ao Valor Vinícius Soares, diretor da divisão de soluções químicas da DuPont para a América Latina. A unidade terá capacidade para produzir 60 mil toneladas/ano. A Basf anunciou, no mês passado, que colocará em operação sua primeira fábrica no país a partir do segundo semestre de 2011, também para 60 mil toneladas anuais. "A DuPont está acompanhando o mercado de biocombustíveis há pelo menos 10 anos. Apostamos no crescimento desse segmento. É um caminho sem volta", disse Soares.

A associação com um grupo da importância do JBS foi a maneira mais rápida para se avançar nesse mercado, segundo o executivo. A localização das fábricas da JBS também foi decisiva para firmar a parceria, disse Soares.

As negociações entre DuPont e a Bertin começaram antes mesmo do processo de incorporação do frigorífico pela JBS. Segundo Rogério Barros, diretor-executivo da divisão de biodiesel e óleo química da companhia, o grupo produz biodiesel em sua unidade de Lins (SP). Boa parte da matéria-prima para a produção de biodiesel da JBS vem do sebo do boi. Em 2009, o grupo negociou cerca de 90 milhões de litros de biodiesel por meio dos leilões realizados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

Segundo Barros, a produção de biodiesel da JBS tem como foco o mercado interno. O grupo ainda não tem planos de produzir o biocombustível nos Estados Unidos, onde o frigorífico também tem fábricas instaladas.

A mistura de biodiesel no diesel em 5% estava prevista somente para 2013, mas o governo decidiu antecipar a medida, como forma de estimular a produção do biocombustível no país.

Muitas empresas, como as de soja e de sebo de boi, com maior competitividade em relação a outras matérias-primas, como dendê e pinhão-manso, aceleraram seus investimentos para fazer frente à nova demanda no mercado interno. De acordo com Soares, o metilato de sódio torna o custo de produção do biodiesel mais competitivo.

Mônica Scaramuzzo