quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Daniela Machado - O que significa ter escolas mais conectadas?, FSP

 É inegável que boa parte de nossas relações com o mundo são, hoje, mediadas pelas tecnologias digitais — do acesso a serviços básicos, como a emissão de documentos, à possibilidade de obter informações sobre os mais diferentes assuntos e participar dos debates públicos. Com as tecnologias cada vez mais imbricadas em nossa rotina, é preciso encarar a conectividade como direito de toda a população.

Alunos do 4º ano durante aula de informática na escola municipal Martin Francisco Ribeiro de Andrada, na Vila Mazzei, zona norte de São Paulo - Diego Padgurschi /Folhapress

Nesse sentido, o Brasil tem caminhado na direção certa, ainda que a passos lentos e de forma desigual. Quando olhamos para a disponibilidade de internet nas escolas do país, por exemplo, o quadro vem melhorando nos últimos anos: 92% das escolas de ensino fundamental e médio no país contam com acesso à rede, segundo a pesquisa TIC Educação 2023, divulgada no início deste mês. Trata-se de um aumento de 10 pontos percentuais em relação a 2020. Mesmo em regiões historicamente menos favorecidas, houve avanços. Em escolas de áreas rurais, a proporção subiu de 52% para 81% no mesmo período.

O levantamento, realizado desde 2010 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), mostrou ainda que 90% das escolas (ensino fundamental e médio) têm pelo menos um computador (tablet, notebook ou desktop). O percentual chega a 99% nas instituições de áreas urbanas, enquanto as situadas em zonas rurais o índice é de 75%.

Obviamente, é preciso avançar mais. E é preciso também olhar com atenção para o que está além do acesso — como podemos garantir que a sociedade faça um uso mais qualificado, crítico, responsável e seguro do amplo universo que a internet disponibiliza? Desde muito cedo, os jovens podem começar a construir as habilidades necessárias para isso, aprendendo a pesquisar e avaliar informações, refletindo sobre seu comportamento em redes sociais, engajando-se em diálogos respeitosos que fogem do discurso de ódio, responsabilizando-se pelas mensagens que criam ou compartilham, entre tantas outras práticas.

A meta é garantir a conectividade significativa, que olha a internet em múltiplas dimensões: infraestrutura, velocidade e banda larga adequadas, produtos e serviços financeiramente acessíveis, proteção e segurança e o desenvolvimento de habilidades para entender e refletir sobre as dinâmicas sociais, políticas, econômicas e culturais relacionadas às tecnologias.

"É preciso fazer mais para conectar os desconectados e para que os marcos referenciais políticos evoluam a partir da simples suposição de que, se a infraestrutura for construída, as pessoas se conectarão", escrevem Sonia Jorge e Onica Makwakwa, diretoras da Global Digital Inclusion Partnership (GDIP), em publicação do Cetic.br lançada em abril para discutir as condições de conectividade significativa no Brasil. "Pedimos aos formuladores de políticas públicas que sejam mais ousados do que foram em outros momentos ao conectar os desconectados e construir um ambiente social de apoio para um mundo online vibrante e inclusivo."

A conectividade significativa, no sentido mais amplo, precisa estar na agenda de prioridades do país. Para isso, o debate sobre o uso das tecnologias digitais por crianças e adolescentes deve ser aprofundado, em camadas bem mais complexas que o mero dualismo entre permitir ou proibir celulares nas escolas.

Petrobras vai gastar R$ 870 milhões para reabrir fábrica de fertilizantes que acumula prejuízos, FSP

  

Curitiba e Rio de Janeiro

Em evento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ministros, a Petrobras celebrou nesta quinta-feira (15) a reabertura da fábrica de fertilizantes Ansa (Araucária Nitrogenados SA), no Paraná, que acumula prejuízo de R$ 3,5 bilhões desde 2013, quando foi comprada pela estatal.

Na cerimônia, Lula criticou a paralisação de obras que tiveram indícios de corrupção investigados pela Operação Lava Jato, como a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e o antigo Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), ambos também em processo de retomada de obras.

O presidente voltou a defender o papel da estatal como indutora de investimentos e geração de empregos no país. "A Petrobras não é uma indústria de petróleo. A Petrobras é uma indústria de desenvolvimento", afirmou.

A Ansa teve as operações interrompidas em 2020 sob o argumento de que só dava prejuízo. De fato, desde que foi comprada pela Petrobras, a fábrica só não teve resultado negativo em três anos —dois deles após a suspensão das atividades.

A retomada das obras foi aprovada pela diretoria da Petrobras no início de junho, com votos contrários de três diretores e protestos de minoritários, e vai custar R$ 870 milhões. A empresa defende que estudos internos comprovam a viabilidade financeira do projeto.

"Não é só essa empresa que foi fechada, não. Nós estávamos com 15% para terminar uma empresa [também uma fábrica de fertilizantes] em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. Simplesmente, eles pararam", afirmou Lula, em seu discurso.

"A Refinaria Abreu e Lima, eles pararam. Durante tanto tempo, o complexo petroquímico que a gente ia fazer em Itaboraí, lá no Rio de Janeiro, eles pararam. Pararam tudo. Pararam a tentativa de fazer a refinaria no Ceará. Pararam a tentativa de fazer a refinaria no Maranhão."

As duas últimas refinarias citadas pelo presidente haviam sido projetadas ainda em seus primeiros mandatos para garantir a autossuficiência brasileira em combustíveis, mas também foram alvo de denúncias de corrupção.

"Se você quer prender um ladrão, prenda. Se você quer prender um empresário, você prende o empresário. O que você não pode é destruir a empresa. O que você não pode é destruir o emprego", continuou Lula, repetindo argumento que vem usando desde que voltou ao governo.

A Ansa tem capacidade para produzir 720 mil toneladas de ureia por ano, o correspondente a 8% da demanda nacional. Produz ainda 475 mil toneladas de ureia por ano e 450 mil metros cúbicos de Arla 32, usado em motores a diesel.

Petroleiros protestam no Rio de Janeiro contra demissões em fábrica de fertilizantes da Petrobras do Paraná
Em 2022, petroleiros protestam no Rio de Janeiro contra demissões em fábrica de fertilizantes da Petrobras do Paraná - Nicola Pamplona-18.fev.20/Folhapress

Em discurso, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, disse que a cerimônia dessa quinta "representa o início do cumprimento da missão que o presidente Lula me endereçou". "A Petrobras está absolutamente comprometida com investimentos no Brasil, com a aceleração do desenvolvimento desse país."

A Petrobras prevê o início das operações em maio de 2025, antecipando meta anteriormente prevista para o segundo semestre. A empresa estima a geração de mais de dois mil empregos durante a preparação da fábrica para voltar a operar.

Após o retorno, diz a estatal, serão mantidos cerca de 700 empregos diretos. Deste total, 215 trabalhavam na Ansa antes do fechamento, foram demitidos e depois reintegrados à Petrobras, com base em acordo homologado no TST (Tribunal Superior do Trabalho).

Magda afirmou que o planejamento estratégico da Petrobras prevê R$ 6 bilhões para a retomada ao setor de fertilizantes, abandonado pela estatal no governo Jair Bolsonaro (PL), sob o argumento de que a empresa precisava focar na produção do pré-sal.

A Petrobras investirá também R$ 3,2 bilhões na Repar, refinaria vizinha à Ansa, com a construção de novas unidades para produzir diesel S-10 e melhoria de eficiência energética. A refinaria responde por cerca de 15% da produção nacional de combustíveis.

Esteve no plano de vendas de ativos da estatal durante os governos Michel Temer e Jair Bolsonaro, mas não atraiu propostas firmes de compra.

Safra mundial cheia mantém desafio para produtor na comercialização, FSP

 Vem aí uma safra cheia de grãos pela frente, o que obriga o produtor a ficar ainda mais atento à comercialização. Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) atualizaram seus números neste início de semana.

A produção de soja vem como uma das surpresas. O bom desempenho das lavouras nos Estados Unidos deve elevar a produção dos americanos para 125 milhões de toneladas em 2024/25.

Para o Brasil, mesmo antes do início de plantio, o Usda estima uma safra recorde de 169 milhões de toneladas. A Argentina, terceira maior produtora mundial, terá 51 milhões.

Estrada cruza lavoura de soja na zona rural de Luis Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia. - Lalo de Almeida/Folhapress

Se o andamento das lavouras do Brasil e da Argentina seguir os padrões esperados pelos americanos, o mundo terá uma safra recorde de 429 milhões de toneladas, 8,5% a mais do que na anterior.

Ainda é cedo para uma estimativa de 2024/25, uma vez que o clima não dá tréguas em área nenhuma do planeta. Confirmados esses números, no entanto, os estoques mundiais de soja sobem 20%, para 134 milhões de toneladas. Serão suficientes para 122 dias de consumo, segundo a AgRural.

No relatório de oferta e demanda divulgado na segunda-feira (12), o Usda mantém a produção brasileira deste ano em 153 milhões de toneladas, volume superior aos 147 milhões divulgados pela Conab nesta terça-feira (13).

A boa notícia é que o consumo compensa parte dessa evolução de produção. Na safra 2023/24, os chineses importaram 111,5 milhões de toneladas. Na 2024/25, serão 109 milhões. O consumo mundial, que ficou estável em 23/24, cresce 8,5% em 24/25, atingindo 403 milhões.

No caso do milho, há uma perda de produção tanto no Brasil como nos Estados Unidos, mas sobe na Argentina. O dado desta terça-feira da Conab reajusta um pouco para cima a safrinha, mas ainda indica 116 milhões de toneladas no total da safra, 12% a menos do que na anterior.

Nos Estados Unidos, com a melhora do desempenho das lavouras e o aumento de produtividade, a produção fica em 385 milhões de toneladas, mas ainda abaixo do recorde de 390 milhões do período anterior.

Líder do mercado mundial no ano passado no milho, o Brasil vai enfrentar a concorrência dos americanos, argentinos e ucranianos nesta safra. A Conab espera vendas externas de 36 milhões de toneladas na safra 2023/24, e o Usda estima 49 milhões para o Brasil em 2024/25.

Segundo a AgRural, os números dos estoques finais do milho não mudam muito, ficando em 310 milhões de toneladas, o suficiente para 92 dias de consumo.

Ritmo forte A produção de carnes mantém aceleração no segundo trimestre deste ano, conforme dados provisórios divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta terça-feira.

Ritmo forte 2 O peso das carcaças produzidas de abril a junho sobe para 7,34 milhões de toneladas, quando consideradas as carnes bovina, suína e de frango.

Destaque O setor de bovinos teve ritmo melhor, com evolução de 17% na produção deste segundo trimestre, em relação a igual período anterior. Serão 2,6 milhões de toneladas. A produção de carne suína sobe 0,9%, e a de frango, 2,1%.

Leite Ao contrário das carnes, a captação de leite recua para 5,8 bilhões de litros no período, 6,3% a menos do que no segundo trimestre de 2023, segundo o IBGE.

Milho As exportações deste mês ganham ritmo e devem chegar a 6,3 milhões de toneladas, mas ainda ficam abaixo das ocorridas em agosto do ano passado, quando somaram 9,3 milhões. Os dados são da Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais), com base na escala de embarques nos navios neste mês.