quinta-feira, 27 de junho de 2024

Heineken cria unidade de negócio no Brasil para rentabilizar ações de sustentabilidade, FSP

 A Heineken anunciou nesta quarta-feira (26) a criação de uma nova unidade de negócio no Brasil a fim de rentabilizar ações de sustentabilidade, em uma estratégia que conta com parceiros e investimentos iniciais combinados de aproximadamente R$ 50 milhões.

A Heineken Spin terá quatro pilares fundamentais voltados para energia renovável, agricultura regenerativa, reciclagem de embalagens e parcerias com marcas de impacto em ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança, que representa o equilíbrio desses temas na gestão dos negócios).

Piroschka van de Wouw-21.mar.23/Reuters
A cervejaria Heineken terá nova unidade de negócios no Brasil - Piroschka Van De Wouw/REUTERS

"Se quisermos suportar o crescimento sustentável, temos que fazer um negócio que gere resultado financeiro", afirmou o presidente-executivo da segunda maior cervejaria do país, Mauricio Giamelaro, à Reuters, destacando que a nova divisão "é um ecossistema que vai extrapolar a produção de cerveja".

Ele disse que a sustentabilidade sempre esteve na agenda da companhia, e que agora a Heineken Spin é um meio de "continuar fazendo a roda [do negócio] girar, mas de uma maneira diferente", inclusive realizando um trabalho de colaboração com outras empresas.

"A Heineken no Brasil tem consciência de que é muito boa em construir marcas, respeitar o consumidor e seus parceiros e em produzir cerveja com qualidade. Só que há outras coisas que precisamos fazer com competência. Em vez de verticalizar, trouxemos as pessoas para dentro desse ecossistema", afirmou.

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Ele acrescentou que a Spin "nasce para dar resultados". "Todos os negócios têm o objetivo, já esse ano, de ter 'payback' positivo". A expectativa para Spin é de crescimento de duplo dígito ao ano para a receita.

Para cada um dos quatro pilares que fundamentam a Spin há um ou mais parceiros e empresas já envolvidos ou chegando.

Uma dessas frentes, a de energia renovável, conta com um acordo desde 2021 com Ultragaz, do grupo Ultra, e Raízen, que busca alavancar o uso de fontes limpas de energia entre consumidores e estabelecimentos.

O Energia Verde tem atualmente quarenta mil contratos ativos, e, de acordo com o vice-presidente de Sustentabilidade da Heineken no Brasil, Mauro Homem, deve crescer conforme o programa consiga viabilizar a disponibilidade da geração distribuída.

O executivo ressaltou que esse é o único projeto da Heineken Spin que a empresa já está desenvolvendo, enquanto as outras três frentes são novidades.

Uma delas trata da agricultura regenerativa, com a plantação de limão orgânico em uma área de mais de 800 hectares próxima da cervejaria do grupo em Itu (SP). É algo que "vai proteger uma área super importante para nós do ponto de vista de resiliência hídrica, mas também será apta a sequestrar carbono".

"Nós enxergamos que poderia ser um belo modelo e que pode ser escalável também para outras localidades, mostrando que você consegue preservar, você consegue gerar carbono e ao mesmo tempo você consegue ter um retorno em receita mesmo", afirmou.

Os frutos serão comercializados e o lucro obtido reinvestido na expansão do modelo de negócio para outras regiões do país.

Tal iniciativa ocorre em parceria com a empresa de desenvolvimento de sistemas agroflorestais e produção de grãos regenerativos orgânicos Rizoma, que tem como sócio-fundador Pedro Paulo Diniz.

RECICLAGEM

Um terceiro pilar é a circularidade de materiais e embalagens a fim de reduzir as emissões de carbono ao ampliar a reciclagem dos vidros. E nessa frente a companhia terá uma parceria com a Ambipar, que atua com gestão ambiental.

De acordo com o vice-presidente de Sustentabilidade da Heineken no Brasil, a empresa está estruturando um sistema para cobrir áreas onde hoje não há coleta de vidro.

Ele disse que o grupo começará essa ação por três Estados, sendo um deles na região Sudeste e outro no Nordeste, enquanto o local do terceiro ainda não teve o "martelo batido". A perspectiva do grupo é de que essas três operações estejam funcionando até o final do ano.

"Nós vamos pegar as zonas onde não há cobertura e colocar recursos para que esse vidro volte para a cadeia de valor e consigamos remunerar todo o contexto, que é catador, que é quem faz o transporte e até quem faz a transformação desse vidro", afirmou o executivo.

Em comunicado ao mercado também nesta quarta-feira, a Ambipar disse que, a partir do fechamento da operação, passará a fazer parte dos bids estratégicos para atender outras demandas de serviços ambientais da cervejaria no Brasil.

O quarto alicerce na estratégia da Heineken é trabalhar com marcas novas e de impacto para enfrentar desafios envolvendo inovação, principalmente no relacionamento com os consumidores.

Com esse propósito, a Heineken acertou uma parceria com a Better Drinks, dona das marcas Mamba Waters e Cerveja Praya, que afirma adotar como pilar fundamental desde sua fundação o ESG.

"Eles conseguem trazer essa conexão mais próxima com o nosso consumidor e ao mesmo tempo conseguem trazer uma perspectiva de inovação que hoje não tem escala, com produtos que vão além do nosso portfólio tradicional", disse Homem. "Não conseguimos inovar na mesma velocidade sem um modelo pensado para isso."

Outra parceria envolve a Central Única das Favelas (Cufa). "Nós entendemos que precisamos estar mais próximo das comunidades para essas inovações serem mais efetivas também", disse o executivo.

Ele explicou que a Cufa faz um trabalho de curadoria para buscar empreendedores nas favelas para que a empresa consiga trazer para o pipeline de inovação algo que às vezes não está vendo porque não está tão próxima desse público consumidor.

De acordo com o CEO da Heineken no Brasil, o desenvolvimento da nova unidade de negócio está alinhado globalmente, principalmente a parte de reflorestamento, devido à administração dos créditos de carbono, mas inicialmente é um plataforma apenas no Brasil.

Ele destacou, contudo, que se o país conseguir fazer tudo o que está nos planos conseguirá entregar boa parte do resultado global da empresa sediada na Holanda, dada a relevância da operação brasileira da marca. Globalmente, a Heineken tem a meta da neutralizar as emissões de carbono em toda a sua cadeia de valor até 2040

RICARDO VIVEIROS - Ultradireita: perigosa, inútil e deselegante ,FSP

 Ricardo Viveiros

Jornalista, professor e escritor, é doutor em educação, arte e história da cultura; autor, entre outros, de “A Vila que Descobriu o Brasil” (Geração), “Justiça Seja Feita” (Sesi-SP) e “Memórias de um Tempo Obscuro” (Contexto)

A história é útil à evolução da sociedade. Assimilar técnicas atende ao capitalismo, por isso é valorizada.

Entretanto, a emancipação humana requer mais do que acúmulo de riqueza. Boa saúde, educação, cultura, ética, respeito são bens que superam muitas coisas. Qualquer pensamento político que não privilegie as pessoas e a vida delas está no caminho errado. Tem sido assim com regimes autoritários, como nazismo, fascismo, franquismo (nazi-fascista), salazarismo e outros.

Apoiadores de Donald Trump antes de invadirem o Capitólio - Olivier Douliery - 6.jan.21/AFP

Comum aos governos opressores está a sustentação política de partidos da direita. Observa-se, além das ditaduras do Oriente Médio —de fundamentação religiosa—, na Europa, na África, nos Estados Unidos e, também, na América do Sul que a direita tem cooptado a população.

A desigualdade crescente impulsiona uma revolta que aproxima o povo, com ênfase nos menos politizados, de promessas populistas. Persiste um vácuo deixado pela esquerda mundial, que não consegue se comunicar como a direita, que se vale de fake news.

No Brasil, em 2018 e nos quatro anos seguintes, assim como na Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht e Kurt Weill, a democracia esteve fragilizada pela miséria e pela corrupção. Desalentados agarraram-se a bizarros discursos eivados de ódio e mentiras e elegeram um radical prepotente que (des)governou o país.

A triste receita da aceitação tem sido próspera aos políticos de direita. Um exemplo é Donald Trump, que aumenta sua popularidade na mesma proporção de seu ódio aos estrangeiros e de suas condenações nos tribunais. Se as eleições fossem hoje, seria eleito e aumentaria a cultura etnocentrista.

A invasão ao Capitólio, em 6/1/2021, foi a mais esdrúxula manifestação de tentativa de golpe na denominada maior democracia do planeta. Um incentivo para que, no Brasil, em 8/1/2023, houvesse a reedição tropical de tentativa de golpe de Estado. As duas ações marcadas pela dissonância cognitiva dos envolvidos e pela força das instituições que contiveram, investigaram e puniram os vândalos. E hoje combatem injustificadas tentativas de anistia.

Depois da desonra mundial que o nazismo trouxe à Alemanha, a Europa transitou entre a hegemonia dos grupos de centro e flertes com a esquerda. A atual aproximação da ultradireita é fato.

Os resultados nas eleições europeias consolidam a liderança do centro. Mas a ultradireita terá destaque em países que, historicamente, ditam a política do continente, como França e Alemanha. Brasileiros que moram no exterior, atenção: a xenofobia é ameaça crescente aos imigrantes, sobretudo a pretos, pardos e indígenas. Até no berço do Iluminismo o respeito se tornou artigo de luxo.

Como disse o filósofo Norberto Bobbio, o domínio da violência é a principal característica da existência dos Estados e, por consequência, o mais efetivo poder. A direita utiliza esse poder sem limite. Perigoso.

Intolerantes que administram as nações têm uma fórmula de governo que sempre deixa a fúria como opção viável. A guerra não é avanço, falta de humanidade é atraso civilizatório. A ignorância e a má-fé da ultradireita no trato com pautas sociais são apenas uma das faces da política reacionária. A preservação do planeta, a tolerância com as pessoas, o combate aos preconceitos e a visão emancipatória do humano inexistem.

A ultradireita, além de perigosa e inútil, é deselegante.