sexta-feira, 10 de maio de 2024

Chuva também é política, Alvaro Costa e Silva. FSP

 "Todos os modelos climáticos mostram que, com o aumento da temperatura global, vai aumentar a quantidade de chuvas e secas intensas", disse o físico Paulo Artaxo para a repórter Jéssica Maes. Ele deu a declaração após o flagelo no Rio Grande do Sul. Mas há pelo menos 20 anos ouvimos a frase, quase com as mesmas palavras, e nada tem sido feito.

Na contramão do que recomenda o pesquisador da USP, a Prefeitura de Porto Alegre não investiu um real em prevenção a enchentes em 2023. "Aumentar o orçamento das defesas civis, multiplicando por cinco, por dez. Desse modo, é possível ter toda a estrutura de resgate pronta antes de desastres acontecerem e salvar vidas", afirmou Artaxo, lembrando que o prejuízo é maior para a população de baixa renda, que não tem para onde ir.

Além da falta de investimento, não há ações integradas entre municípios, estados e governo federal. Aliás, quase não há no país integração em qualquer setor, o que existe é o atropelo depois da casa arrombada (ou submersa), evidenciando a crise federativa. A primeira coisa que fez Eduardo Leite —patrocinador do desmonte ambiental— foi pedir ajuda ao Planalto. O detalhe é que o governador preferiu as redes sociais para fazer o apelo. Nem precisava politizar a tragédia, ela é essencialmente política.

Quem mais trabalha para estimular a destruição é o Congresso. Os deputados acabam de aprovar um projeto que na prática vai acelerar a substituição de florestas nativas por plantações de eucalipto —e há mais de 25 PLs do mesmo tipo. Desde 2023, apenas uma única deputada, Célia Xakriabá, destinou recursos relacionados às mudanças climáticas, enquanto os redutos eleitorais receberam derramas de dinheiro para uso sem controle.

Não bastasse a chuva, está em cartaz um circo de mentiras sobre a assistência aos desabrigados. Como na época da pandemia, é uma tática da extrema direita.

Chuva também é política, Alvaro Costa e Silva, FSP

 

"Todos os modelos climáticos mostram que, com o aumento da temperatura global, vai aumentar a quantidade de chuvas e secas intensas", disse o físico Paulo Artaxo para a repórter Jéssica Maes. Ele deu a declaração após o flagelo no Rio Grande do Sul. Mas há pelo menos 20 anos ouvimos a frase, quase com as mesmas palavras, e nada tem sido feito.

Na contramão do que recomenda o pesquisador da USP, a Prefeitura de Porto Alegre não investiu um real em prevenção a enchentes em 2023. "Aumentar o orçamento das defesas civis, multiplicando por cinco, por dez. Desse modo, é possível ter toda a estrutura de resgate pronta antes de desastres acontecerem e salvar vidas", afirmou Artaxo, lembrando que o prejuízo é maior para a população de baixa renda, que não tem para onde ir.

Além da falta de investimento, não há ações integradas entre municípios, estados e governo federal. Aliás, quase não há no país integração em qualquer setor, o que existe é o atropelo depois da casa arrombada (ou submersa), evidenciando a crise federativa. A primeira coisa que fez Eduardo Leite —patrocinador do desmonte ambiental— foi pedir ajuda ao Planalto. O detalhe é que o governador preferiu as redes sociais para fazer o apelo. Nem precisava politizar a tragédia, ela é essencialmente política.

Quem mais trabalha para estimular a destruição é o Congresso. Os deputados acabam de aprovar um projeto que na prática vai acelerar a substituição de florestas nativas por plantações de eucalipto —e há mais de 25 PLs do mesmo tipo. Desde 2023, apenas uma única deputada, Célia Xakriabá, destinou recursos relacionados às mudanças climáticas, enquanto os redutos eleitorais receberam derramas de dinheiro para uso sem controle.

Não bastasse a chuva, está em cartaz um circo de mentiras sobre a assistência aos desabrigados. Como na época da pandemia, é uma tática da extrema direita.

0
Eduardo Leite e Lula em Santa Maria (RS) - Mauricio Tonetto/Secom

Opinião |Vinculação de recursos e autonomia universitária em SP, Simon Schwartzman - OESP

 Desde 1989 o Estado de São Paulo vincula 9,57% de sua arrecadação do ICMS para suas três universidades, em uma proporção fixa de 5,02% para a USP, 2,34% para a Unesp e 2,19% para a Unicamp. Neste ano, o governo do Estado tentou incluir outras instituições estaduais nessa conta, mas voltou atrás depois dos protestos dos reitores. Essa vinculação tem sido defendida como garantia da autonomia financeira contra a instabilidade e as interferências de políticos que afetam, por contraste, as universidades federais.

Muitos dados têm sido apresentados como prova de que a autonomia tem funcionado, como o aumento da produção científica, as posições da USP e Unicamp nos rankings internacionais e a qualidade profissional dos formados pelas principais faculdades. Mas é difícil saber se esses bons resultados se devem à vinculação financeira ou a outros fatores, como a disponibilidade de recursos e a maneira pela qual professores e alunos são selecionados entre os mais qualificados do Estado mais rico do País. E, ao lado dos bons resultados, existem outros, preocupantes, que sugerem que o sistema público paulista não pode continuar acomodado.

O dado mais evidente, que mereceria maior atenção, é a cobertura extremamente reduzida do setor público estadual. No Brasil como um todo, em 2022, 78% da matrícula no ensino superior estava em instituições privadas. No Estado de São Paulo, essa proporção sobe para 84,3%. O setor estadual público só atende a 11% dos alunos de graduação, sendo 120 mil nas três universidades, para uma matrícula total de 2,5 milhões no Estado. O setor federal, menos de 3%. Isso é o resultado de uma política deliberada, de manter um sistema público pequeno e elitista, deixando o setor privado lidar com o resto? Não parece, dada a preocupação nos últimos anos com as políticas de ação afirmativa. Não seria mais justo, socialmente, investir mais dinheiro público em instituições de mais fácil acesso e mais eficientes e baratas, como as do sistema Paula Souza, a Universidade Virtual e parcerias, proporcionando formação mais prática, gratuita e de boa qualidade para mais gente? E como combinar isso com a manutenção de qualidade da pesquisa e da formação de alto nível dos cursos mais tradicionais?

Se o sistema atual falha do ponto de vista da cobertura e equidade, ele também tem problemas na outra ponta, de manutenção e garantia da excelência. O processo de concursos públicos para escolha de professores é formal, burocrático e dificulta que as universidades recrutem professores com perfis adequados para suas necessidades. A rigidez e padronização das carreiras e salários faz com que muitas áreas não consigam mais competir com o setor privado e instituições internacionais pelo talento que seria indispensável para dar continuidade às pesquisas de ponta e à formação de alto nível de que o País necessita.

Nestas questões, tenho ouvido o argumento de que o ótimo é inimigo do bom, e que é melhor manter a rigidez orçamentária conquistada 35 anos atrás do que abrir o vespeiro de sua revisão anual. Mas seria lamentável se conformar com a ideia de que instituições com tantas qualidades não deveriam buscar novos caminhos. A reforma tributária, com o fim do ICMS, de qualquer maneira vai forçar uma revisão, e é melhor, para as universidades, saírem à frente com novas propostas do que serem atropeladas.

Um novo modelo para o sistema estadual deveria contemplar pelo menos três aspectos. O primeiro é elaborar um plano diretor que tome em conta os objetivos de médio e longo prazo que o setor público deve ter e as parcerias que precisa estabelecer com outros níveis de governo e o setor privado para aumentar a cobertura, a qualidade e as vocações das diferentes instituições na formação profissional, formação para o magistério, pesquisa e cultura. Deve ser um documento conciso, construído em diálogo com diferentes setores, que estabeleça um consenso básico sobre o que o Estado deve fazer. Há anos que o conhecido sistema da Califórnia, com seus community colleges, universidades estaduais de ensino e a pós-graduação e pesquisa concentrados na Universidade da Califórnia, tem sido citado como um modelo que o Estado poderia adotar, e ainda pode servir de inspiração. O segundo é criar um mecanismo regular de elaboração de orçamentos plurianuais com participantes e processos definidos que possa garantir estabilidade de recursos e espaço para aperfeiçoamentos e mudanças de rumos com metas e indicadores de resultados conforme o plano diretor, e não somente das antigas vinculações. E terceiro, fortalecer ainda mais a autonomia universitária, sobretudo no que se refere à flexibilidade no uso de recursos, processos administrativos e políticas de recrutamento, contratação e remuneração de professores, que não podem continuar a serem rígidos e idênticos para todas as instituições e áreas de atuação.

Com isso, o sistema público paulista poderia de fato se tornar mais funcional e equitativo, e suas universidades poderiam finalmente entrar para o século 21, como todos desejamos.

*

SOCIÓLOGO, É MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS

Foto do autor
Opinião por Simon Schwartzman

Sociólogo, é membro da Academia Brasileira de Ciências