domingo, 4 de fevereiro de 2024

Está se sentindo estagnado? Veja 5 maneiras de impulsionar sua vida, NYT FSP

 Christina Caron

THE NEW YORK TIMES

Do lado de fora, parecia que Adam Alter estava deslizando. Aos 28 anos, ele havia obtido um doutorado em psicologia em Princeton e logo depois conseguiu um emprego como professor titular na Stern School of Business da N.Y.U. Mas ele se sentia paralisado.

Preparar-se para ensinar enquanto fazia pesquisa ao mesmo tempo se tornou avassalador, especialmente depois de ter acabado de sair de cinco anos intensos de pós-graduação. E embora ele estivesse frequentemente cercado de pessoas na cidade de Nova York, ele sentia falta de ter uma rede próxima de amigos.

Ele comparou isso a estar preso em uma esteira rolante. "Eu estava construindo uma carreira para mim", ele disse, "mas não tinha certeza se esses eram os caminhos em que eu queria ter sucesso".

Alter, que agora é professor há 15 anos, dedicou grande parte de sua carreira à pesquisa sobre a sensação de estar paralisado. Em 2020, ele pesquisou centenas de pessoas sobre o assunto, e todos os entrevistados disseram que se sentiam estagnados em pelo menos uma área: perseguições criativas fracassadas, carreiras estagnadas, relacionamentos insatisfatórios, incapacidade de economizar dinheiro —a lista continuava.

Rose Wong/The New York Times

POR QUE FICAMOS PARALISADOS

Cair em uma rotina ou se sentir estagnado de vez em quando é uma experiência universal, disse Alter, cujo último livro, "Anatomia de uma Descoberta", oferece 100 maneiras de se libertar.

Por quê? Ao enfrentar qualquer objetivo de longo prazo, você inevitavelmente encontrará um platô, ele disse. E como alguns objetivos não têm pontos finais claros, pode ser difícil sentir que você está progredindo.

Outros pontos de estagnação podem surgir de grandes mudanças na vida, como doença, ter um bebê, mudar-se ou ser demitido. Alter descobriu que as pessoas tendem a ser especialmente reflexivas ao se aproximar de uma nova década, por exemplo, aos 29 ou 39 anos, e que esses momentos de virada podem parecer avassaladores quando a vida não está indo como planejado.

COMO SE LIBERTAR

FAÇA UMA 'AUDITORIA DE FRICÇÃO': A auditoria de fricção é uma maneira que as organizações usam para eliminar áreas de ineficiência. Indivíduos podem aplicar os mesmos princípios em suas próprias vidas, identificando as coisas que criam obstáculos e adicionam complicações ou estresse, disse Alter.

Para começar, tente perguntar: Estou repetindo certos padrões que não são úteis? Existem certas coisas que faço regularmente e não gosto? O próximo passo é eliminar ou suavizar cada ponto de fricção.

Digamos que você deteste seu trajeto diário, mas se sinta impotente para mudá-lo. Alter sugeriu perguntar a si mesmo: "Qual é a parte que torna isso menos atraente?" Que mudanças específicas você pode fazer para resolver o problema? Será útil ouvir um ótimo podcast ou audiolivro? Se você dirige, pode começar uma carona com outros colegas de trabalho? Existe uma maneira de trabalhar em casa com mais frequência?

REMODELE PENSAMENTOS NEGATIVOS: Talvez você se envolva em "catastrofização", ou pense que o pior vai acontecer. Ou talvez você seja excessivamente duro consigo mesmo e tenha um caso de "deveria", como em: "Eu deveria ter feito mais no trabalho", mesmo quando você realizou uma boa quantidade.

Pensamentos persistentes como esses podem criar estresse e interferir em seus objetivos, disse Judy Ho, neuropsicóloga clínica e professora associada da Universidade Pepperdine.

Tente reformular seu pensamento, sugere Ho. Por exemplo, em vez de "Vou fracassar neste projeto", você pode pensar: "Vou fazer o melhor que posso e, se estiver com dificuldades, vou pedir ajuda". Por fim, ela disse, tente avaliar seus pensamentos de forma objetiva: "Estou tendo esse pensamento. Qual é a evidência para isso? E qual é a evidência contra isso?"

TENTE 'PREVER O FUTURO': "Imagine uma vida futura em que você esteja livre", disse Sarah Sarkis, psicóloga clínica e coach executiva em Boston. Como seria? Como você se sentiria?

Então, pense nas etapas específicas que ajudariam você a trabalhar em direção a essa visão. Escreva essas etapas —de preferência à mão. Isso nos ajuda a nos comprometer com elas, disse Sarkis.

E não espere até se sentir "pronto", acrescentou. Faça pelo menos uma etapa por dia, se puder —mas seja gentil consigo mesmo se não puder. Se você pular um dia ou dois, comece novamente amanhã. "Pinte o futuro que você está buscando", disse Sarkis. "Trace um plano para chegar lá."

COMPARTILHE SEU OBJETIVO: Contar para outras pessoas sobre seus planos também pode ser útil. Adam Cheyer, co-criador da Siri e vice-presidente de Experiência em Inteligência Artificial na Airbnb, disse que isso foi crucial para o seu sucesso.

"Apenas o ato de colocar as palavras no mundo agora faz você acreditar, faz você se comprometer", ele disse para uma plateia na Universidade da Califórnia, Berkeley. O benefício adicional é que as pessoas podem querer ajudá-lo. "De alguma forma, o universo vai ajudá-lo a alcançar esse objetivo", ele disse. "Isso tem sido uma ferramenta enorme para mim".

FAÇA ALGO SIGNIFICATIVO: Passar tempo em atividades que estejam alinhadas com seus valores "te faz avançar se você se sentir preso em áreas completamente não relacionadas à sua vida", disse Alter.

Quando ele estava se sentindo desmotivado no início de sua carreira como professor, ele encontrou um pôster em sua academia —um grupo estava procurando voluntários para ajudar a arrecadar dinheiro para a Sociedade de Leucemia e Linfoma correndo na Maratona da Cidade de Nova York.

Parecia quase como destino, ele disse; um de seus amigos havia morrido de leucemia anos antes. Durante o treinamento, ele acabou fazendo vários amigos. "Eu me senti como uma pessoa mais produtiva e isso me deu confiança para lidar com outras áreas da minha vida", disse ele. "Precisamos de significado mais do que nunca quando nos sentimos presos."

Marcus André Melo- O Brasil é uma imagem invertida de Singapura, FSP

 No que se refere à corrupção e à democracia, o Brasil é uma imagem invertida de Singapura. À frente da Suécia e da Suíça, no ranking da Transparência Internacional (TI), Singapura é um dos países menos corruptos do mundo. Mas o país não é uma democracia; seu escore no Índice da Freedom House é idêntico ao de Moçambique e Gâmbia. O escore do Brasil é quase o dobro (44 vs 74, na média), mas a corrupção é alta.

A publicação do Relatório Geral da entidade gerou protestos. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, atacou-a: "de transparente só tem o nome". O governo da Rússia também. O procurador-geral do país emitiu nota quando o relatório anual do ano passado foi divulgado: "a organização é uma ameaça à ordem constitucional e segurança da Federação Russa". Também Maduro já disparou contra a TI e disse que nenhum outro governo fez mais no combate a corrupção que o seu ou o de Chávez. A Venezuela lidera o ranking da corrupção na América Latina há anos.

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Bandeira do Brasil é colocada da fachada do Palácio do Planalto , em Brasília - Gabriela Biló 14.ou.22/Folhapress

Este contraste entre os dois países é contraintuitivo: em geral, assume-se que democracia e percepção baixa da corrupção caminham juntos. Quando há um processo de democratização, há mais exposição da corrupção e, portanto, há um aumento na corrupção percebida, mesmo que a corrupção real aumente, diminua ou permaneça a mesma. (veja um estudo clássico aqui)

Entretanto, no médio ou longo prazo, esperamos que ocorra um efeito dissuasório, pois, com a democracia, há mais transparência, menos impunidade e menos aceitação da corrupção. Se a democracia implica o fortalecimento do Estado de direito, esse efeito levará a um declínio da corrupção, pois os controles eficazes inibem a prática da corrupção.

Mas sim, a democracia (regra da maioria) e governo limpo (onde não há uso de recursos públicos para ganhos privados) podem estar separados. É o que ocorre no Brasil: a intolerância em relação a abusos autoritários e violação de direitos aumentou, enquanto a intolerância com a corrupção diminuiu. O que se observa não é prática direta da corrupção mas o enfraquecimento brutal de seu combate. A OCDE expressou preocupação neste sentido nos últimos anos. O risco é a volta para o equilíbrio secular anterior de impunidade atávica. O futuro está aberto.

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Os tribunais superiores refletem esta tensão. O STF enfrentou uma escolha entre controlar abusos de um líder iliberal e apoiar a Lava Jato, como vinha fazendo (como mostrei aqui). Optou pela primeira. A escolha implica a impunidade de malfeitos. Mas a defesa da democracia pode chegar ao ponto de se utilizar meios não democráticos para defender a própria democracia. Uma espécie de tiranofobia seletiva: autoritários serão punidos e democratas corruptos tolerados.


Usina solar flutuante em SP colocará o Brasil entre gigantes do setor, FSP

 Thiago Amâncio

SÃO PAULO

O projeto inaugurado pelo Governo de São Paulo em janeiro de uma usina de energia solar flutuante sobre a represa Billings deve colocar o Brasil entre os maiores atores do mundo no setor.

A UFF (Usina Fotovoltaica Flutuante) Araucária, na zona sul de São Paulo, produz força a partir de painéis solares que flutuam sobre a represa, um método defendido por especialistas como mais eficiente na geração de energia limpa —ainda que com capacidade muito aquém de sistemas tradicionais, como hidrelétricas.

Representantes de órgãos de participação da sociedade civil, porém, afirmam que a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) atropelou processos de controle e prometem acionar o Ministério Público.

Usina Fotovoltaica Flutuante Araucária, na zona sul de São Paulo, gera energia a partir de painéis na represa Billings - Eduardo Knapp/Folhapress

O governo instalou 10,5 mil placas solares sobre a represa, com 5 MW de potência (7 MW no pico), que pode produzir até 10 GWh por ano, o suficiente para abastecer 4.000 residências.

Até o fim de 2025, no entanto, essa potência deve ser ampliada até chegar a 80 MW. É esse montante esperado ao final do empreendimento que colocará o projeto entre os maiores do mundo.

Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) não tem um levantamento específico de usinas flutuantes.

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Entre as usinas fotovoltaicas (energia solar) em geral em operação, não só flutuantes, esta pode ser a quarta maior do Brasil ao fim do projeto, atrás apenas de Serra do Mel 1 e 2 (com 137,5 e 103,1 MW, respectivamente), no Rio Grande do Norte, e Sol do Sertão 8 (95,2 MW), na Bahia.

Um levantamento de 2022 da consultoria especializada Solarplaza com as maiores usinas flutuantes do mundo apontou apenas seis delas com potência superior ao projeto anunciado em São Paulo, de 80 MW. Todas estão na China, que tem 78,6% da capacidade de geração em usinas flutuantes do mundo.

A maior usina flutuante nos Estados Unidos, em Nova Jersey, tem 8,9 MW de potência.

São capacidades expressivas, mas distantes da matriz hidrelétrica. Belo Monte, a maior usina do país (excluindo Itaipu, que é binacional), tem potência de 11,2 GW, 140 vezes maior que os 80 MW previstos em SP.

O Brasil está entre os três países com maior potencial para as usinas flutuantes em todo o mundo, segundo a Solarplaza. O potencial de geração de energia no país é de 865 TWh por ano, segundo a empresa, atrás apenas de China (1.107 TWh por ano) e Estados Unidos (1.911 TWh por ano).

O projeto em São Paulo, inaugurado agora, é anterior ao governo Tarcísio e começou com um piloto em fevereiro de 2020, na gestão João Doria (PSDB), com apenas 100 kilowatts de potência.

Em 2021, a Emae e a empresa privada KWP Energia S.A. formaram consórcio para produzir e instalar a operação atual, de 5 MW. Os painéis solares foram instalados próximos da Usina Hidrelétrica de Elevação Pedreira, na região do autódromo de Interlagos.

O investimento foi de R$ 30 milhões, segundo o governo. Até o fim do ano que vem, com a expansão da usina para 80 MW, o investimento deve chegar a R$ 450 milhões.

O governo ainda aguarda a licença de operação, que vai permitir a geração de energia na usina recém-criada.

"Vai ser um dos maiores do mundo. Essa potência é muito grande mesmo para painéis em solo, é uma usina de muito destaque", diz Pedro Drumond, coordenador em São Paulo da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica) e CEO da RH Renováveis, que atua no setor.

Ele afirma que usinas flutuantes não vão necessariamente substituir as tradicionais no solo ou em tetos de casas e edifícios.

"A demanda é tanta por projetos sustentáveis e por geração mais barata de energia que a gente pode continuar em telhados, fazer em solos e também nas flutuantes", diz.

Segundo ele, embora a instalação de painéis na água seja mais trabalhosa, portanto mais cara, do que em solo, o sistema tem algumas vantagens.

Primeiro, podem ser instaladas em áreas hoje inutilizadas, como lagos de usinas hidrelétricas ou até em lagos formados em cavas (buracos) de mineração —neste caso, a instalação de painéis solares podem fazer parte de programas de compensação ambiental de mineradoras.

No fim do ano passado, por exemplo, a empresa F2B inaugurou uma usina flutuante na cava de uma antiga usina de extração de areia em Roseira, no interior de SP, com capacidade de geração de 1 MW.

Desde 2019, a barragem da hidrelétrica de Sobradinho, na Bahia, tem uma usina solar flutuante.

Além disso, a instalação sobre a água resfria os módulos dos painéis solares, o que torna o sistema mais eficiente, afirma Drumond.

A instalação de painéis solares flutuantes reduz a evaporação da água, destaca a secretária de de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de SP, Natália Resende, o que melhora a gestão dos recursos hídricos.

As usinas flutuantes não estão isentas de impacto ambiental. Estudo de 2022 de pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) apontou a possibilidade dos painéis de restringir as trocas de oxigênio e gases entre a água e a superfície, afetando o ecossistema local, além do risco de contaminação da água durante a instalação e manutenção do sistema, entre outros.

O advogado Virgílio Alcides de Farias, especialista em direito ambiental e coordenador do subcomitê Billings-Tamanduateí, afirma que o governo desrespeitou a legislação ao não detalhar o projeto ao comitê antes levá-lo a cabo. "A gente soube pela imprensa", afirma.

Ele diz que procurou um representante da Emae em 30 de outubro de 2023 pedindo a apresentação do projeto. "Nem resposta tive até hoje."

"A gestão dos recursos hídricos e dos mananciais demanda que a sociedade civil participe, precisa de um controle social, para que se discuta se o projeto é bom ou ruim, se deve ser aprovado ou melhorado. Isso não é respeitado nem pelos estados nem pelos municípios", afirma Farias.

"Por uma questão de princípio, não posso ser contra energia renovável, mas preciso saber como vai ser implementado. Quais são os benefícios? Aquilo que é bom ou é ruim? Não sabemos."

Natália Resende, do governo paulista, afirma que "todas as normas foram seguidas e observadas" no processo.

"Tem todo um procedimento prévio para a gente chegar a esse ponto que chegou, várias análises, tudo seguindo norma, observando o procedimento", disse.