quinta-feira, 16 de junho de 2022

PAULO BARRETO A real fronteira para o desenvolvimento da Amazônia, FSP

 15.jun.2022 às 21h00

Paulo Barreto

Cofundador e pesquisador associado do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) e pesquisador associado do projeto Amazônia 2030

Amazônia oferece uma imensa oportunidade de desenvolvimento para o Brasil. Tão grande que tem o tamanho equivalente aos territórios da França e de Portugal: esta é a área desmatada na região, que cresceu expressivamente depois de mais de 40 anos de uma política de colonização que via a floresta como uma barreira ao desenvolvimento.

Entretanto a promessa de desenvolvimento falhou. Cerca de 90% desse território desmatado (quase equivalente à área da França) são ocupados por pastos com produtividade média de apenas um terço do que poderia produzir.

PUBLICIDADE

Esse imenso território ocupado pela pecuária ineficiente resulta em pobreza rural e urbana. Em 2019, o rendimento médio dos trabalhadores da pecuária foi 34% menor do que o rendimento médio dos trabalhadores da região. Além disso, apenas 22,7% dos trabalhadores da pecuária eram formais e, portanto, recebiam seus diretos —em comparação com a média de 40,6% de todos os trabalhadores da região. Ainda pior, o desemprego na pecuária tem aumentado à medida que o desmatamento cresce.

O desmatamento já se tornou risco ambiental e financeiro para os negócios. Alguns investidores e grandes empresas que compram produtos do Brasil e da região entenderam que o desmate agrava a crise climática e tem levado em vários casos a conflitos violentos com povos originários da região. Por isso, recentemente, alguns financiadores deixaram de investir em frigoríficos que atuam por lá, e redes de supermercados não mais compram carne do Brasil. O caso mais significativo impediu o empréstimo de cerca de R$ 1 bilhão para um frigorífico.

estação de chuvas no sul da Amazônia já está mais curta por causa do desmatamento e das mudanças do clima. O tempo mais seco está reduzindo a produtividade nessas áreas, segundo estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A ocupação extensiva e ineficiente não gera receitas suficientes para pagar por serviços públicos e aumenta o custo de provê-los em regiões remotas. Assim, a disponibilidade de médicos por mil habitantes na região é metade do restante do Brasil, e a proporção de habitantes com acesso a esgoto público é quatro vezes menor que a dos brasileiros que vivem em outras regiões, segundo estudos do projeto Amazônia 2030. De acordo com o Censo Agropecuário do IBGE de 2017, apenas 10% dos estabelecimentos rurais recebiam assistência técnica na região, enquanto no Centro-Oeste eram 23% e, na região Sul, 48%. No Pará, apenas 15% dos agricultores frequentaram escolas, ante 40% no Paraná, onde a produtividade da pecuária é o dobro.

A virada para o desenvolvimento da região requer o uso inteligente da imensa área desmatada e subaproveitada. Uma oportunidade é aumentar a produção de carne melhorando o uso de pastos. É possível, no mínimo, dobrar a produção pecuária sem desmatar. A pecuária mais produtiva sustentaria empregos com melhores salários e a satisfação dos trabalhadores, como mostrou um estudo do Imazon.

Outra opção para o desenvolvimento é o reflorestamento e a regeneração natural da floresta. A restauração florestal incluiria a produção de produtos agroflorestais, como madeira e cacau. Além disso, ao crescerem, as árvores retiram do ar o principal poluente atmosférico (CO2) que vem provocando a crise climática —ou seja, secas e chuvas mais intensas e frequentes. Para evitar o pior da mudança climática, governos e empresas já começaram a pagar pelo serviço de limpeza da atmosfera.

A melhoria da qualidade de vida nas zonas desmatadas requer investir em áreas rurais e urbanas. Por exemplo, instalar internet de alta qualidade e energia descentralizada (como painéis solares) permitirá melhorias nos serviços de saúde, educação e assistência técnica em áreas remotas. Recuperar as estradas nas zonas mais densamente ocupadas provocará avanços nos serviços e no acesso ao mercado. Adensar a infraestrutura nessas zonas é mais inteligente do que abrir novas estradas em fronteiras florestais remotas —o que iniciaria uma nova corrida de ocupação improdutiva, como ocorreu nos últimos 40 anos.

Ruy Castro - Mudos aos arrotos de Bolsonaro, FSP

 15.jun.2022 às 20h27

Golpes de Estado costumam ser tramados nos subterrâneos, em horas mortas e por mensagens em código. Como jornalista, fui testemunha de dois: o Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro de 1968 (o golpe dentro do golpe), e a Revolução dos Cravos, em Portugal, em 25 de abril de 1974. Mesmo os bem informados só ficaram sabendo deles quando, respectivamente, no Rio, o AI-5 foi comunicado pela televisão, e, em Lisboa, os tanques saíram às ruas. Em ambos, por mais que o clima estivesse pesado, ninguém falava em golpe na véspera.

No Brasil de hoje não se fala em outra coisa. Jair Bolsonaro, cada vez mais certo de que perderá a eleição, já não esconde que sua única salvação é o golpe. Para isso, precisa subverter as instituições, jogando a nação contra o Judiciário, prostituindo o Legislativo com o dinheiro que extorque do Tesouro, corrompendo oficiais menores e policiais para marchar com ele na aventura, infiltrando bufões na Justiça e armando civis de todas as extrações, dentro ou fora da lei, com óbvio objetivo.

É um caso único de golpe com data marcada, como um espetáculo de teatro: ensaio geral a 7 de setembro, com tumulto e violência para coagir, e a estreia —o golpe propriamente dito—, a 3 de outubro, antes que as urnas lhe tirem as imunidades. Não tem outra saída.

Para alguns, o golpe, que até há pouco era uma ameaça real, não tem mais como acontecer; e justamente por não se falar em outra coisa --por estar sendo tão exposto e denunciado. Mas isso pode ser uma ilusão. Um dos atores centrais dessa comédia continua mudo: o Exército. Não pia aos arrotos de seu Líder Supremo.

Talvez os generais ainda não tenham se decidido sobre o que fazer se os baderneiros de Bolsonaro tomarem as ruas —se os reprimem, como seria de seu dever constitucional, ou se aderem e não se envergonham de, no mesmo dia, bater continência para Daniel Silveira.

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Crescimento tímido, RF

 O estudo de mercado Todos os Vagões, realizado exclusivamente pela Revista Ferroviária, mostrou este ano acréscimo de 1.067 unidades, chegando a uma frota nacional de 121.660. Em 2021, o levantamento indicou 121.593 vagões. A principal responsável pelo aumento no período foi a Rumo, cujo número total de vagões passou de 31.374 para 32.402. O crescimento da frota, segundo a companhia, se deu por conta do início da operação da Malha Central (trecho entre Rio Verde a Estrela D’Oeste da Ferrovia Norte-Sul). Houve também uma alteração significativa entre os ativos das frotas própria e de clientes nas Operações Norte (Malhas Paulista e Norte), em função da extinção de arrendamentos. Na prática, parte do que foi contabilizado no ano passado como frota de clientes aparece esse ano como frota própria (ver tabelas).

A MRS também registrou crescimento da frota própria de vagões, que passou de 20.201 para 21.086 unidades. A maior parte dos novos vagões é do modelo hopper, o que está em linha com a estratégia da empresa de aumentar o volume de transporte de carga geral. Além das baixas comuns de um ano para outro, entre devoluções ou desvinculação de ativos, a empresa informou que acrescentou à frota no último ano 864 vagões gôndola (inox) GDT e 23 vagões plataforma PCT.


Locomotivas

Novas AC44i na via

Rumo e MRS adicionaram 56 locomotivas da Wabtec à frota própria entre 2021/2022

O levantamento Todas as Locomotivas, feito anualmente pela Revista Ferroviária, mostrou que houve crescimento da frota nacional. Entre março de 2021 e março de 2022, o número passou de 3.792 para 3.861 unidades. Rumo e MRS destacam-se entre as operadoras que mais adquiriram máquinas de tração no período. O estudo de mercado revelou também que a taxa de inatividade geral passou de 18,2% no ano passado para 21% em 2022.

Para a Operação Norte, que engloba as malhas Norte e Paulista, a Rumo comprou 28 novas locomotivas do modelo AC44, da Wabtec. Segundo a empresa, as aquisições visam atender a movimentação de todos os tipos de carga transportados pela ferrovia no trecho entre Rondonópolis (MT) a Santos.