terça-feira, 11 de agosto de 2020

Helio Beltrão O que está havendo com o Guedes?, FSP

 Phineas Gage era competente detonador de explosivos para as Estradas de Ferro Rutland & Burlington em Vermont, porém em 1848 teve sua cabeça atravessada por uma barra metálica de um metro de comprimento e seis quilos depois de acionar prematuramente o detonador.

Para a surpresa de todos, Gage sobreviveu ao rombo no cérebro. Depois de alguns dias caminhava normalmente, utilizava as mãos com firmeza e não demonstrava dificuldades em comunicar-se. Mas sofreu alterações em sua personalidade, e passou a falar coisas que surpreendiam àqueles que o conheciam. Morreu pouco mais de uma década depois com poucos amigos.

Estará Paulo Guedes se tornando um Phineas Gage do planalto central? Serão o ‘centrão’ e o sistema a sua barra de ferro?

O ministro da Economia Paulo Guedes após entrega da proposta de reforma tributária do governo - Adriano Machado - 21.jul.2020/Reuters

O homem que sustentou o discurso liberal da campanha de Jair Bolsonaro e angariou apoio popular às suas promessas de reformas, privatizações e enxugamento do estado deu lugar a outro P.G. com falas anormais: cúmplice de aumento de gastos, do centralismo fiscal, e do aumento da arrecadação. ​

reforma tributária em discussão é mais uma reforma perdulária, como as últimas duas, que aumentaram a carga em mais de 5% do PIB cada. A premissa é garantir arrecadação em proporção do PIB pelo menos igual à atual, e arrecadar o que for possível a mais para aumentar os gastos do governo.

É frustrante que Paulo Guedes, que participou comigo da fundação do Instituto Millenium, esteja confortável com premissas nada liberais. Ele sabe, sempre soube, que a causa fundamental do desajuste fiscal é a mesma da pobreza do país: um estado grande e gastador. Mas em vez de sugerir uma micro-reforma desburocratizante, defende a ‘CPMF de máscara’ e lidera um enorme aumento de impostos sobre o setor de serviços e da carga tributária em mais de R$50 bilhões com a CBS de 12%. Já virou meme: é o (im)posto Ipiranga.

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Guedes não conseguiu emplacar a reforma da Previdência que gostaria. A matemática atuarial demonstra que a sobrevida da pirâmide da Previdência se estendeu por mais alguns poucos anos, seguindo com contas cada vez piores, até o inevitável colapso.

Até agora não houve nada sobre a prometida abertura comercial, talvez a mais importante reforma micro-econômica.

Ademais, tem sido bloqueado pelo "deep state" na reforma administrativa, a mais urgente. Continuamos a gastar vergonhosos (e crescentes) 85% da arrecadação federal com salários de funcionários públicos e aposentadorias, em detrimento de educação, saúde, segurança, saneamento, ambiente.

Reconheço os avanços da Lei de Liberdade Econômica e entendo as dificuldades do meu amigo na árdua missão de diminuir o estado brasileiro. Mesmo dentro de seu ministério enfrenta a máquina egressa de administrações anteriores, que sabota importantes mudanças. Mas não entendo a postura resignada. Ao encarar as enormes dificuldades em construir politicamente a reforma do Estado, optou por capitular e aceitar o velho Brasil: aumento de arrecadação e de gastos.

Paulo Guedes tem se comportado como um “liberal em descontrução”. Para voltar às origens, deveria simplificar o sistema com uma minirreforma sem aumento de arrecadação, submeter a reforma administrativa, privatizar, e fazer a abertura comercial. Para esta plataforma, terá o apoio dos liberais.

Qualquer coisa além disso significa justificar a gastança que assola o Brasil há tantas décadas. Não é para isso que este governo foi eleito.

No século 17, uma época de políticos mais francos, Jean-Baptiste Colbert, o ministro da economia do rei Luís XIV, afirmava que “a arte da tributação é a arte de depenar o ganso, obtendo o máximo de penas com o mínimo de grasnidos”. Os artistas já estão trabalhando. É hora de o brasileiro grasnar.

Helio Beltrão

Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

Nizan Guanaes - Santa Terezinha tem 1.100 haters, FSP (definitivo)

 Sou devoto de santa Terezinha. Quando tive a Covid, fiz a novena dela para ficar curado. Lá fui eu e botei no Google o vídeo da novena e encontrei uma pérola desses nossos tempos: a novena de santa Terezinha tem 24 mil likes, mas também 1.100 dislikes.

Marcas e pessoas, quando têm muitos dislikes, tiram a campanha do ar, chamam um gerenciador de crise. Eu fiquei pensando o que é que o hater não gostou da novena de santa Terezinha. Do locutor? Da música?

De ela ser católica (o que seria surpreendente, já que o cara entrou numa novena)? Ou talvez por ser um pouco repetitiva, pois tem que pedir a graça 24 vezes? Ou ele implicou porque santa Terezinha é a santa das rosas, uma flor elitizada?

Santa Terezinha conseguiu licença do papa para se tornar carmelita aos 14 anos. Foi canonizada e virou uma das duas grandes doutoras da igreja, ao lado de santa Tereza D'Ávila, sem ter feito um único milagre.

Imagem de reprodução de vídeo de Santa Terezinha mostra que 1.100 visualizadores não gostaram do conteúdo
Santa Terezinha não disse nada polêmico e tem 1.100 haters - Reprodução

Ela também não disse nada polêmico. Aliás, o que ela pregava, a pequena via, o "caminhozinho", é bem minimalista: que a pessoa, para chegar a Deus, tem que amar.

O objetivo deste texto é ajudar as marcas a entender que esperar unanimidade nas redes é um milagre que santa Terezinha não consegue fazer. Isso é coisa para santa Rita das Coisas Impossíveis.

Não há lovers sem haters. A Bíblia já falava disso em Caim e Abel. Shakespeare já falava disso em Romeu e Julieta.

Se você tem 24 mil likes, foca isso. E pensa qual é a rede ideal para a sua marca. Será que você tem que estar no Instagram ou sua marca é LinkedIn? Será que você tem que estar mesmo nas redes? O que você espera de sua comunicação na rede? Será que você está só colocando anúncios, replicando TV ou mídia impressa (quando as redes têm outra lógica)?

As redes não trabalham só com audiência. A métrica é o engajamento. E evite a busca pela unanimidade.

Os produtos vencedores não são unânimes. Quando se diz que uma grande marca tem 30% do mercado, ela não tem 70% do mercado! Paula Lavigne ganhou o Oscar de melhor estratégia esquentando a maravilhosa live do Caetano, que não aguentou tanta gente querendo entrar.

As redes não expressam a opinião pública. Elas expressam a opinião de uma parcela importante da opinião pública, mas uma parcela. Lembre-se de que boa parte dos dislikes que você recebe vem dos seus concorrentes, dos interesses contrariados e daquelas pessoas que nem santa Terezinha consegue satisfazer.

Eu saí do Facebook quando perguntei aos meus "amigos" onde eu achava um labrador para comprar e fui entupido de mensagens indignadas de que deveria adotar um cachorro.

Não dá pra viver assim. Tenho vários amigos meus que vivem no Instagram. Estão ficando loucos. Não fazem mais novenas, não compram labradores, não pensam, não acham.

Fico pensando como seria o Instagram de Machado de Assis, ou as lives de Vinícius ou Tarso de Castro, ou o YouTube do Paulo Francis.

As redes sociais nos deram coisas maravilhosas, mas elas são um pacto com o demônio. Eu tenho feito lives e adoro. Eu uso meu Instagram para ver o que Ray Dalio, Stanford ou Harvard estão apontando ou seguir gente com quem eu aprendo, como o Zé Maurício Machline.

As redes sociais não são sociais. Muitas pessoas que te seguem, na verdade, te perseguem. Você pode ter amigos no seu Face, mas seu Face não são os seus amigos. E não bote sua marca na rede esperando só ter lovers. Ela vai ter haters também. Agradar a Deus e ao mundo nem santa Terezinha conseguiu.

Nizan Guanaes

​Empreendedor, criador da N Ideias​.

Thereza foi mais bem vestida do Brasil, entrou para família real e morreu aos 91, FSP

 Ivan Finotti

RIO DE JANEIRO

“A mulher mais bem vestida do Brasil”. Esse era o título da reportagem da revista norte-americana Life em abril de 1954, sobre a socialite Thereza de Souza Campos, que décadas mais tarde se tornaria a uma Orléans e Bragança, família dos descendentes do imperador d. Pedro 2º. Ela morreu há seis semanas no Rio de Janeiro. A causa foi problema no coração, segundo João Henrique de Orléans e Bragança, de quem Thereza foi madastra.

Voltando aos anos 1950, a Life era uma das revistas mais importantes do mundo, e Thereza ocupou duas páginas e meia daquela edição em inglês, posando com cinco modelitos variados. Ela era, então, provavelmente a face mais importante do high-society carioca, um grupo de milionários brasileiros acostumado a receber estrelas de Hollywood e a figuras da realeza para jantares nos palácios da cidade, que ainda era a capital federal.

Um desses milionários era Carlos Eduardo de Souza Campos, herdeiro de uma fortuna, alto funcionário do Banco do Brasil, jogador de polo, bom garfo, grande dançarino e carinhosamente apelidado de Didu. Ele transformou a mineira Thereza, filha de um comerciante de Ubá, em madame Souza Campos em 1946. Ela tinha apenas 17 anos, e já trabalhava com moda no Rio de Janeiro.

Thereza de Orleans e Bragança morreu em julho de 2020 - Revista Manchete/Reproducao

Um filho, que ficou conhecido como Diduzinho, nasceu logo em seguida, enquanto os jovens pais se tornavam o supra-sumo da elegância nacional. No livro “A Noite de Meu Bem”, no qual Ruy Castro descreve a noite chique carioca entre os anos 1940 e 1960, pode-se ler o seguinte:

“(...) Entre essas mulheres, havia uma para quem as próprias mulheres olhavam com uma admiração quase religiosa: Thereza de Souza Campos. Todas a observavam para copiar seus penteados, vestidos, joias, sapatos, gestos, gostos, postura, tom de voz. Ela já nascera elegante –era a única explicação.”

A Life concordava. A matéria começava com Thereza em uma foto de página inteira, envergando, nos jardins de sua mansão de quatro andares e 20 cômodos, um lindo vestido de algodão riscado que ela mesma desenhara. Na página seguinte, ela está com um conjunto claro comprado em Capri. E com um tailleur de Paris, envolvido com sobretudo de Roma, ao lado de seu marido Didu, que posa de bigodinho fino, camisa polo e brilhantina atrás do volante de seu Jaguar.

Na quarta imagem, Thereza permite que o fotógrafo a flagre com uma camisa de botões, com colarinho alto, mas “velha”, pois comprada em Florença “há seis meses” —e provavelmente um tanto já fora de moda.

Na última página, vemos Thereza deslumbrante com luvas brancas de cetim acima do cotovelo e um longo preto da Dior (que valia 900 dólares em 1954, equivalentes hoje a US$ 8.600 ou R$ 47 mil). Sete voltas de pérolas no pescoço completavam o impressionante look.

O texto diz que o ator Bing Crosby a convidara para participar de um filme hollywoodiano, mas ela havia recusado. Elegantemente, é claro. Não teve, porém, como se furtar ao samba “Café-Society”, gravado no ano seguinte e no qual é citada intimamente apenas pelo primeiro nome. “Therezas e Dolores falam bem de mim/ Papai de black-tie jantando com Didu”, cantava Jorge Veiga.

Naquele mesmo casarão onde posara para as fotos –que ficava no alto da Mascarenhas de Moraes, em Copacabana—, o casal costumava hospedar o príncipe paquistanês Ali Khan, playboy internacional e pai de uma filha com Rita Hayworth. Em sua homenagem, Thereza promovia jantares para até 70 convidados. RSVP, é claro.

O casamento durou cerca de 25 anos, mas não resistiu a problemas de dinheiro e ao início das vendas dos bens do casal nos anos 1970. Em 1982, o filho Diduzinho saiu de uma longa noitada e arrebentou seu Passat numa curva da Lagoa. Perdeu 100% da visão direita e 90% da esquerda. A ele, coube adaptar a vida de playboy à de classe média.

Thereza se casou pela segunda vez em 1990, desta vez com João Maria de Orléans e Bragança, bisneto de dom Pedro 1º. Assim, aos 61 anos (ele tinha 73), ela se tornou a "princesa" Thereza de Orléans e Bragança.

“Mas papai e Thereza já viviam juntos antes, desde 1985”, conta o filho de dom João Maria, João Henrique de Orléans e Bragança. Após o casamento, Thereza e João viveram alternadamente no Rio de Janeiro e em Paraty, na casa que hoje pertence a João Henrique –é lá que ele recebe todos os anos os autores convidados da Flip para um almoço de confraternização.

“Minha madrasta era muito engraçada e simpática”, recorda-se ele, que tinha 36 anos quando aconteceu o casamento. “Ela tinha um senso de humor diferente, por vezes ácido.” O casal ficou junto por 20 anos, até a morte de João Maria, em 2005. Após isso, Thereza não voltaria mais a Paraty.

Nos últimos anos, Thereza de Orléans e Bragança se tornou cada vez mais reclusa, saindo cada vez menos para almoçar com as amigas da época do high society, como Lourdes Catão, outro símbolo daquela era e de quem Thereza era inseparável nos anos 1950.

Em agosto do ano passado, Diduzinho morreu e Thereza parou de atender mesmo a telefonemas, se fechando por completo. Há quatro meses, coincidentemente, foi a vez de a alta sociedade se despedir de Lourdes Catão, morta aos 93 anos, após pegar Covid-19.

Em 26 de junho, Thereza de Orléans e Bragança se sentiu mal e foi levada ao hospital por uma sobrinha. Lá morreu, horas depois. Tinha 91 anos.​