sábado, 4 de novembro de 2017

Com bandeira vermelha no 2º patamar, Itaipu abre comportas por excesso de chuvas, OESP



Vertimento das águas do rio Paraná deve durar até o fim de domingo; ontem, comitê decidiu manter operação de térmicas mais caras






O Estado de S.Paulo
04 Novembro 2017 | 12h28
A usina hidrelétrica de Itaipu, a maior do País, abriu suas comportas para escoar o excedente de água em seus reservatórios. A medida ocorre por causa das chuvas abundantes na região de Foz do Iguaçu, segundo a empresa que administra a usina. A abertura das comportas também ocorre em meio a um aumento no valor da cobrança da conta de luz, com uma taxa extra de R$ 5,00 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.

Itaipu
Usina hidrelétrica de Itaipu, a maior do País, abriu suas comportas para escoar o excedente de água em seus reservatórios Foto: Divulgação / Itaipu Binacional
O vertimento das águas do rio Paraná começou às 20h de sexta-feira, 3, e deve durar ao menos até o fim de domingo. Neste sábado, o descarte de água atingiu mais de 2,4 mil metros cúbicos por segundo, o dobro da média normal da vazão das Cataratas do Iguaçu. Segundo a Itaipu Binacional, a usina atualmente produz em alta capacidade para atender o sistema elétrico do Brasil e do Paraguai. 
Ontem, o Comitê de Monitoramento do Sistema Elétrico (CMSE) decidiu manter a operação de térmicas mais caras, apesar de uma melhora na expectativa de chuvas em novembro. A decisão mantém o despacho das térmicas, que fornecem energia ao sistema elétrico por um preço mais alto, até o dia 10 de novembro. O Custo Marginal de Operação (CMO) para o período caiu mais de 40% ante a semana anterior, para 479,88 reais/MWh, com a previsão mais otimista de chuvas. O comitê decidiu manter o despacho das usinas térmicas com Custo Variável Unitário (CVU) de até 702,50 reais/MWh.
Há cerca de uma semana, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu manter o segundo patamar da bandeira vermelha nas contas de luz em novembro. A agência justifica a medida com a estiagem na região central do País, que tem afetado o nível dos reservatórios das hidrelétricas. 
A seca, que não atinge a região de Itaipu, levou o governo a realizar avaliações semanais sobre as condições de fornecimento de energia no País. A usina já havia aberto o vertedouro há pouco mais de quatro meses, no dia 28 de junho.

Projeto de submarino nuclear brasileiro enfim avança, FSP


Depois de anos "rolando com a barriga" seu programa de construção de um submarino de propulsão nuclear por falta de recursos, a Marinha do Brasil está finalmente no rumo para obtê-lo.
Além dele, haverá quatro modelos convencionaismodernos –o primeiro dos quais deve ser lançado ao mar no ano que vem.
Foi no distante 1979 que a Marinha começou o programa com o objetivo de dominar o chamado "ciclo" do combustível nuclear –isto é, todos os passos tecnológicos para partir do minério até "enriquecer" o urânio, tornando o material capaz de servir para geração de energia elétrica ou de propulsão de um navio.
Falta de verba atrasou o projeto, além dos enormes desafios tecnológicos. Mas em 2008 foi feito um acordo de transferência de tecnologia entre o Brasil e a França, para a produção de quatro submarinos convencionais e ajuda para a produção de um quinto, nuclear, embora a tecnologia do reator seja brasileira. O ciclo tinha sido, então, dominado.
O nome da entidade responsável é difícil de lembrar: Cogesn (Coordenadoria-Geral do Programa de Desenvolvimento de Submarino com Propulsão Nuclear). Seu coordenador é o almirante-de-esquadra da reserva Gilberto Max Roffé Hirschfeld.
"Projetar é a palavra-chave", diz o almirante Max, para quem o projeto de construção de submarinos (Prosub) envolve um tripé importante: o "arrasto" tecnológico que trará ao país, a nacionalização do equipamento e da fabricação e a capacitação de pessoal. Ou seja, diz ele, "é um programa de Estado, não é só da Marinha". Trata-se de transferência de tecnologia em estado puro.
Ele acredita que há "90% de chance" de o primeiro submarino convencional ficar pronto no momento previsto.
Os submarinos convencionais são baseados na classe francesa Scorpène, embora sejam ligeiramente maiores –71,62 metros e 1.870 toneladas, em vez dos 66,4 metros e 1.717 toneladas da versão original, que a França não usa, mas exportou.
BATALHAS
O primeiro, já batizado Riachuelo, deve ser lançado ao mar no segundo semestre de 2018. Os três outros –Humaitá, Tonelero e Angostura– devem ser lançados em 2020, 2021 e 2022. Levam todos nomes de batalhas navais do século 19.
Já o submarino nuclear, chamado Álvaro Alberto, se espera que seja lançado em 2029. O nome é uma homenagem ao almirante que foi pioneiro na criação tanto do programa nuclear brasileiro quanto do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (ainda hoje conhecido pela sua sigla original, CNPq).
A tecnologia nuclear para o submarino está sendo desenvolvida nas instalações do CTMSP (Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo), em Iperó, perto de Sorocaba, e no principal campus da USP, no Butantã, capital.
"Hoje temos um projeto exequível do submarino", diz o almirante Max.
As obras em Itaguaí ainda não estão terminadas, mas já são impressionantes pelas dimensões. Cortes orçamentários em 2015 diminuíram o ritmo, mas a atribuição de prioridade ao estaleiro e ao elevador de navios que deverá lançar os submarinos ao mar mantiveram o projeto razoavelmente no curso.
Além do estaleiro, o complexo inclui uma base naval e a Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas, que cuida da produção e montagem das estruturas internas dos submarinos.
Eles são construídos em seções, como se fossem "fatias" de um filão de pão. Cada uma inclui equipamentos sofisticados, mas também uma incontável quantidade de tubulações, fiação, suportes. O submarino é de longe o mais difícil navio de guerra de ser construído. Por isso poucos países o fazem e apenas cinco dominam a tecnologia da versão nuclear (EUA, Rússia, China, França e Reino Unido).
A parceria estratégica foi feita com a empresa francesa Direction des Constructions Navales et Services (DCNS); a Construtora Norberto Odebrecht é a parceira nacional escolhida pelos franceses para as obras civis.
LOCALIZAÇÃO
A empresa brasileira esteve vinculada a casos de corrupção. A Marinha, para evitar especulações sobre o programa, insistiu em trazer o Tribunal de Contas da União para checar o programa desde o começo. Odebrecht e DCNS conjuntamente criaram a Itaguaí Construções Navais (ICN) para produzir os submarinos.
A instalação da base e do estaleiro em Itaguaí teve vários motivos. Um deles é prático: bem ao lado fica a Nuclep (Nuclebrás Equipamentos Pesados), encarregada de produzir os anéis metálicos que são as seções dos cascos dos submarinos. Outros são operacionais e estratégicos. Boa parte da indústria de ponta do país fica em São Paulo e no Rio de Janeiro.
E logo ali perto fica a base aérea de Santa Cruz, onde está a mais tradicional unidade da Força Aérea Brasileira, o 1º Grupo de Caça, empregado na Itália na Segunda Guerra. O grupo costuma ter os mais modernos aviões da FAB. Perfeito para proteger o complexo de Itaguaí, sem dúvida um dos "alvos" mais apetitosos de qualquer inimigo que queira atacar o país.
O complexo inclui um túnel de 703 metros de comprimento por meio do qual as "fatias" dos submarinos são transportadas ao prédio principal do estaleiro de construção, ao sul da base.
Ali as seções são juntadas, os sistemas são integrados, e o elevador baixa o submarino ao mar. Docas secas permitirão a manutenção dos "barcos" –submarinos costumam ser chamados assim pelos submarinistas em vários países. Uma delas foi especialmente projetada para fazer a instalação do elemento combustível, o urânio. 

Tucanos amadores, OESP


O PSDB é hoje um partido sem identidade e sem rumos, que busca o estelionato eleitoral

João Domingos, O Estado de S.Paulo
04 Novembro 2017 | 03h00
Ulysses Guimarães e Tancredo Neves costumavam dizer que a política é a arte de construir consensos a partir das divergências. Dessa prática eles fizeram a sua profissão de fé. Na política, enfrentaram a ditadura, cada um a seu modo, sempre na tentativa de construir o consenso. Tancredo aceitou as regras do regime para acabar com ele. Uniu-se a dissidentes e venceu a eleição realizada no último Colégio Eleitoral dos militares. Não assumiu a Presidência porque adoeceu e morreu. Mas deixou em seu lugar o vice José Sarney, que seguiu sua orientação e convocou a Assembleia Constituinte de 1987/88, responsável pela Constituição atual, a mesma Constituição que deu a Ulysses a condição política de dizer que tinha “ódio e nojo à ditadura”.
Se estivessem vivos, certamente Ulysses e Tancredo estariam estarrecidos com o que está acontecendo com o PSDB. Como é que um partido que tem todas as condições de construir o consenso em torno de um candidato de centro, com possibilidade de sair vitorioso na disputa pela sucessão de Michel Temer, pode arrumar uma crise interna grave como a atual, que pode até levar ao primeiro grande racha da legenda? 
A impressão que se tem é de que o PSDB é formado por amadores da política, mais preocupados com um pequeno detalhe aqui, outro ali, com o que o eleitor do PT pensa dele hoje, do que com o que o eleitor dele pensa sobre o futuro do País. 
Duas eleições recentes, uma no Brasil, outra na França, deveriam servir de lição para o PSDB numa hora tão importante quanto a atual. Em primeiro lugar, a eleição para a prefeitura do Rio. O centro político se dividiu em pelo menos quatro candidaturas. Com isso, os extremos, representados pelo vencedor, Marcelo Crivella, do PRB, e por Marcelo Freixo, do PSOL, passaram para o segundo turno. Caso Pedro Paulo, do PMDB, e Carlos Osório, do PSDB, tivessem se unido, eles poderiam ter chegado a cerca de 25% dos votos, cerca de sete pontos porcentuais acima de Freixo. Disputariam o segundo turno com Crivella com chances totais de vitória. Como não construíram o consenso, ficaram no meio do caminho. 
Em segundo lugar, vejamos o exemplo da eleição para presidente da França. Emmanuel Macron, o vitorioso, percebeu logo no primeiro turno que o centro estava esvaziado. Deu um jeito de ocupar o lugar dos partidos tradicionais desse campo, entre eles o Socialista, de François Hollande, e o Republicanos, de Nicolas Sarkozy. Ao mesmo tempo que avançava sobre o eleitor de centro, Macron trabalhava para isolar os extremos, comandados por Jean-Luc Mélenchon, da esquerda, e Marine Le Pen, da direita. Passou para o segundo turno com Le Pen, como queria, o que lhe garantiu uma vitória esmagadora.
Se o PSDB fosse um partido formado por profissionais, e não por figuras vaidosas ocasionais que se arruinaram politicamente por suspeitas de envolvimento em escândalos cabeludos, como o senador Aécio Neves (MG), o partido estaria nesse momento trabalhando para formar uma grande frente de centro. Com isso, teria todas as chances de isolar eleitoralmente o ex-presidente Lula, de um lado, e o deputado Jair Bolsonaro, de outro. 
Mas isso não acontece porque o PSDB é um partido sem identidade e sem rumos. Tem quatro ministérios no governo Michel Temer, mas se envergonha disso. Defende no programa partidário reformas estruturais e o equilíbrio fiscal, mas tenta esconder isso do eleitor. Em outras palavras, tenta o estelionato eleitoral. 
Quem chegou à mais interessante conclusão sobre a canoa furada que é o PSDB hoje foi o prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (SP): “Enquanto não começarmos a remar para o mesmo lado, continuaremos todos batendo com os remos uns na cabeça dos outros”.