terça-feira, 24 de março de 2015

Rillo, nitroglicerina pura, in CC

No último dia 15 de março, enquanto milhares de pessoas tomavam as ruas para gritar “Fora Dilma” e “Fora PT” em São Paulo, a bancada paulista do Partido dos Trabalhadores ajudava a eleger um aliado de Geraldo Alckmin (PSDB), o deputado tucano Fernando Capez, como presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). A eleição de Capez foi fruto da reedição de uma "composição" que deu ao PT a Primeira Secretaria da Casa, a ser ocupada novamente por Enio Tatto.
Para o deputado estadual João Paulo Rillo (PT-SP), o PT tem direito a compor a Mesa Diretora da Alesp, mas a forma como o partido tem feito isso é equivocada. Segundo Rillo, a direção estadual do PT, comandada pelo ex-prefeito de Osasco Emídio de Souza, “inibe” uma postura mais agressiva e radical no Estado que é palco de umacrise hídrica e escândalos em licitações do MetrôO comportamento do PT paulista, diz o deputado, distancia o partido de sua base social e dos eleitores mais críticos, ameaçando a sigla em futuras eleições, e é reflexo da chegada aos estados do presidencialismo de coalização. “Parece que deu uma contaminada. O presidencialismo de coalizão não fica só lá [no governo federal]. Ele desce para os estados”.
Leia a entrevista abaixo:
CartaCapital: Como o senhor avalia a postura do PT na Assembleia Legislativa do Estado (Alesp), em oposição ao governo Alckmin?
João Paulo Rillo: O PT tem uma linha de oposição que usa os meios tradicionais para se opor. O PT propõe CPI, faz convocações, faz representação na Justiça. Durante esses quatro anos que estive aqui, o PT fez isso, mas tem de avançar. Tem de experimentar uma participação maior do povo e dos movimentos sociais na Assembleia. É o servidor da Justiça, é o professor, o Policial Militar que vem reivindicar, o sem teto, o estudante, o artista. Precisamos abusar dos instrumentos de obstrução, de parar a Casa para ter discussão sobre projetos importantes. É preciso negociar política, negociar a sua ideia. Você garante no Parlamento também um pouco do seu programa. Temos de ser respeitados como pensamento. Mesmo que seja minoritário, mas é um pensamento garantido, legitimado pelo voto. Falta aprofundar uma oposição institucional mais radical.
CC: Por que o PT não faz uma oposição mais firme?
JPR: O PT e a bancada na Alesp não têm uma agenda conjunta há muitos anos. Não podemos esquecer que, no passado, o PT estourou o Banestado com dez deputados, arrebentou com o PMDB. As denúncias contra o [ex-governador Orestes] Quércia, contra o PMDB, nasceram todas aqui. Então não é verdade que não dá para fazer uma oposição melhor por conta da hegemonia governista. Há uma outra verdade, na minha opinião. É possível, sim, fazer uma oposição mais profunda com a quantidade de deputados que nós temos, somados com PCdoB e PSOL. E falta uma agenda conjunta. O Diretório Estadual do PT não aponta caminho, não tem um projeto para o Estado de São Paulo. Entre outros problemas, há uma ausência de projetos, que coloque em diálogo bancada, partido e estrutura partidária. Você não tem uma agenda conjunta entre as macrorregiões, a bancada e o Diretório Estadual. Não é uma crítica, mas é a situação a que chegamos em São Paulo. O PT tem uma direção que não aponta um horizonte, um projeto claro para o estado.
CC: E o cerne da questão é o acordo para o PT ficar, mais uma vez, com o cargo da 1ª Secretaria?
JPR: Não, isso é simplista demais. Estar na 1ª Secretaria, compor a Mesa [diretora] não significa que você não possa fazer oposição. Por quê? Uma coisa é o Poder Executivo, outra coisa é o Poder Legislativo. Nossa compreensão é que temos direito à estrutura da Casa porque temos a segunda maior bancada da Casa. Isso aqui não é o poder do Geraldo Alckmin, não é o poder do governo do Estado, isso aqui é o Poder Legislativo e é composto de maneira proporcional. Nunca foi negociado isso, ninguém condiciona o cargo da 1ª Secretaria a uma oposição mais branda. Isso não existe. A questão é: por que lutamos para alcançar esse instrumento? Aí é que está. A 1ª Secretaria não pode ser um cargo desvinculado da liderança do PT. Ela também é um instrumento para garantir o pensamento da oposição, é um instrumento para garantir a participação popular, para viabilizar também a fiscalização do governo estadual. O primeiro secretário não é um funcionário do presidente da Casa, ele é um dirigente que representa ali uma força minoritária de oposição. É obvio que você pode ter solidariedade na gestão da Casa, mas não no posicionamento político. E, às vezes, na minha opinião, isso se confunde.
CC: Essa ‘confusão’ não é de hoje...
JPR: Não. A primeira vez que o PT ocupou a 1ª Secretaria deve ter sido nos anos 1990. Eu considero um instrumento muito importante desde que esteja a serviço desse tipo de pensamento, dessa lógica. O que justifica você compor uma Mesa tão heterogênea como essa? Você fazer valer sua posição de minoria. Agora, como minoria, virar primeiro secretário para se comportar como situação está errado. Aí quem fala assim: “esse aí está atrapalhando” tem razão. Então, para mim, o problema não está na 1ª Secretaria, mas o que se faz quando chega lá.
CC: Essa postura de parte da bancada do PT faz parte de uma troca de favores entre o PT e o governo?
JPR: Não tem nada a ver com o governo. A 1ª Secretaria é uma discussão política. Por quê? A Mesa não representa só o governo, representa todo mundo, representa o [Carlos] Giannazi do PSOL, representa o PCdoB. Agora, sim, ela pode inibir uma oposição se quem estiver lá não der o enfrentamento, não der o combate que precisa ser dado.
CC: Mas para o PT chegar nesse cargo há uma condição premeditada de agir de maneira 'leve'?
JPR: Não, de jeito nenhum. Isso não faz parte de acordo.
CC: A postura do PT no Estado já é criticada há algum tempo. Isso tem a ver com distribuição de emendas parlamentares para que o os deputados petistas agraciem seus eleitorados?
JPR: Isso é tudo consequência. Emenda parlamentar, 1ª Secretaria. Isso tudo pode potencializar uma falha que vem antes. O problema não é esse. O problema é que precisamos de direção estadual. Aqui a bancada está muito distante do PT, está muito distante da base do PT. Por que isso? Ausência de um projeto que combine as coisas: a luta institucional com a luta da base do PT. Não tem. O Emídio [de Souza], presidente do PT, se aproximou agora para auxiliar na composição. E foi um desastre essa discussão.
CC: Por quê?JPR: Porque ele reforçou a presença do [deputado] Enio Tatto na 1ª Secretaria. Eu não quero fulanizar, mas o Enio Tatto representa essa postura parlamentar que não me agrada na 1ª Secretaria. Não quero dar nome: “ele é light, ou é isso ou aquilo”. Pode ficar parecendo uma coisa pejorativa e eu não quero fazer isso. Mas não. Não me agrada.
CC: É uma forma de pensar da Diretório Estadual ou é um direcionamento do PT para esse tipo de postura?
JPR: É pior que isso. É ausência de [direcionamento]. Para ficar claro. É a direção que orienta a bancada a ser assim ou assado? Não, é pior do que isso. Ela não orienta. A direção não orienta. Nós não temos uma agenda de discussão sobre o que vamos fazer na Assembleia. O que fazemos na Assembleia para fortalecer um projeto progressista, um projeto à esquerda no estado de São Paulo? Não existe isso. A bancada do PT tem vida própria e o PT tem vida própria. Isso é muito ruim.
CC: Mas, se o Emídio de Souza vem aqui para indicar um nome para a 1ª Secretaria ele sabe qual a postura esse parlamentar vai ter, não? Ele sabe que o parlamentar pode barrar uma oposição firme do próprio partido, certo?
JPR: Aí é o Emídio que tem de falar sobre isso e explicar. Dos atores que se envolveram nessa disputa, eu queria poupar os outros e queria focar no Emídio porque ele é o presidente estadual do PT e era o único que tinha legitimidade para tratar do assunto.
CC: Mas, só para ficar claro, os outros a quem o senhor se refere e interferiram na formação da Mesa da Alesp são Luiz Marinho [prefeito de São Bernardo] e o Arthur Chioro [ministro da Saúde]? 
JPR: Até agora não entendi porque o Marinho fez isso. É outro que precisa explicar também. Mas eles todos defenderam a permanência do Enio Tatto, então eles precisam falar por quê. Eu defendi que não. Eu defendia uma outra pessoa, com outra postura.
CC: O senhor defendeu o [deputado estadual] Geraldo Cruz?
JPR: Sim, o Geraldo, que é como deveria agir um primeiro secretário. Que instrumentos a 1ª Secretaria pode ter para contribuir com a nossa oposição aqui? Eu acho que o Ênio não encarna bem essa postura. Agora não estou fazendo nenhuma acusação a ele, é um direito meu. Quem acha isso [a favor do Enio Tatto] deveria se posicionar publicamente. Agora o presidente do PT não garantiu um debate sobre isso. Agora, por onde passou? Eu não sei, ele que tem que falar.
CC: Há rumores de que essa postura teria haver com algo em torno de 130 cargos que estariam garantidos com essa 1ª Secretaria. Contratações sem licitação. O senhor sabe algo sobre isso?
JPR: Não, isso é público. Não existem 130 cargos na 1ª Secretaria. Não vou saber precisar. Mas, se eu não me engano, tem 60 ou 70 cargos na 1ª Secretaria. Entre esses, gente de carreira também. É uma boa estrutura, é óbvio que é uma boa estrutura. É um grande instrumento de trabalho. Para quê? Qual o projeto que nós defendemos ali? A 1ª Secretaria deveria atender os movimentos sociais, as categorias organizadas, mas ela é totalmente burocratizada e fica cumprindo tarefas executivas no Poder Legislativo. Não é problema de caráter e de ética, é de visão ideológica e política sobre as coisas.
CC: Então o PT de São Paulo poderia ter tido uma postura mais rígida e combativa em escândalos como o do cartel do Metrô, para falar em exemplos mais recentes?
JPR: Sim, nós fizemos muito, mas daria para ter feito muito mais. A gente não consegue emplacar CPI aqui, mas eu mesmo, junto com outros deputados, sou autor de duas dezenas de representações relacionadas ao tema. Nós temos uma estrutura partidária, temos 19 macrorregiões, somos organizados em quase todos os municípios do Estado de São Paulo, mas  Nunca teve uma ação de partido, ou a produção de um bom material sobre isso, ciclo de debates. Vamos lá em dez deputados, falar em rádio. Não estou falando de coisas que são impossíveis. Não estou falando que vamos conseguir espaço na Rede Globo. Vai em seis ou sete deputados, mais o presidente do PT, fazer uma audiência sobre Metrô em alguma cidade para ver se não vai dar imprensa lá, se não vai dar gente lá. Nós temos um pouco de estrutura. Não é muita, mas temos. Por que não fazemos uma coisa dessa? Por que não colocamos outdoor em lugares do Estado? Faz luta de trincheira. São coisas que deveriam ser feitas e podem ser feitas. Não lutamos para essa estrutura estar a serviço disso? Então ela tem de estar a esse serviço. Se não está, alguma coisa está errada...
CC: O quê está errado?
JPR: Aí é estrutura para manutenção do poder. Aí o povo não é bobo. Aí o povo olha pra gente e fala: “realmente, vocês são bem intencionados”. Não estou falando daqueles idiotas que acham que todo mundo que está no PT é ladrão. Estou falando daquele que entende que não tem ladrão aqui, que a gente não está enriquecendo, mas entende que é pouco. 'Vocês estão acomodados, não dá mais para votar em vocês. Vou votar em outros', dizem. O PT é o responsável pelo grande vácuo que existe na esquerda hoje. Por quê? Porque o PT é a principal organização de esquerda hoje. É um bom partido. Então esse eleitor crítico que ainda quer votar na gente, ele espera mais, sabe. Qual o problema do PT na Assembleia? Que ele pode mais.
CC: Os nomes do PT ficam até um pouco ofuscados, não? Os próprios militantes desconhecem os deputados do PT e a atividades deles na Alesp...JPR: Ofusca. Quando conheci o [ex-deputado] Lucas Buzato, por exemplo, ele era deputado estadual [entre 1987 e 1999]. Sabe por que eu conheci o Lucas? Porque ele ia no diretório municipal discutir. O José Dirceu era de tal macrorregião, o Djalma Bom era de outra macrorregião, o Devanir Ribeiro também. Eu conhecia todos os deputados porque existia um rodízio, eles andavam pelo interior de São Paulo. Eles cumpriam uma agenda partidária. Eles eram obrigados a ir debater com a militância. Não interessava se era base deles ou não. Faziam isso com dez deputados. Eu, com 15, 16 anos, fiquei sabendo do que eles fizeram aqui, arrebentaram com o PMDB. A gente não faz mais isso. Estou falando de uma coisa que é simples. Por que não faz? Não é só acomodação. É crise de direção. A crise do PT em São Paulo é crise de direção. Não é trotskismo barato. Entre outros problemas, ajudaria muito se nós tivéssemos uma boa direção.
CC: O senhor acha que esse tipo de coisa, troca de cargo ou acordo mediante apoio à situação branda, mostra que o PT caminha para se tornar um novo PMDB?JRP: O PT nunca vai virar um PMDB porque a base não deixa, ele acaba antes. A base social não deixa. O PT não é um partido de laboratório, de gabinete. Ele acaba antes. Quando? Luto para que a gente se recupere para o bem do Brasil e para o bem da esquerda.
CC: Me parece que essa atuação branda do PT em São Paulo vem desde o tempo em que o Rui Falcão e o José Dirceu estavam aqui na Assembleia Legislativa. Eles votaram, por exemplo, no Barros Munhoz para assumir a Presidência da Alesp. Essa já não é a forma de pensar do PT há algum tempo?JPR: Você quer aprofundar uma questão, que acho legal aprofundar. O PT deve ou não compor a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa? Na minha opinião, só deve se for para fazer da 1ª Secretaria uma trincheira de luta. Para garantir o nosso espaço de direito, conquistado proporcionalmente. Não acho que o problema do PT foi ocupar a 1ª Secretaria. É que pode ter coincidido um monte de coisas. Depois de 2002, tem uma coisa que contaminou geral, que é essa história do novo republicanismo. Essa história do governo federal ser republicano demais fez o PT esquecer que não é um partido republicano, é um partido de esquerda, socialista. O governo é republicano, o partido não é e nunca vai ser republicano. Então parece que deu uma contaminada. O presidencialismo de coalizão desce, não fica só lá. Ele desce para os estados e, se você não tomar conta, você se contamina com ele. Então isso, sim, pode ter um excesso de responsabilidade parlamentar. Em um estado que falta água, em que o policial mata descaradamente e de maneira quase que legitimada pelo sistema, em que o professor é quase tratado como lixo, não pode haver tanta responsabilidade parlamentar. Não pode. Você tem que ter um pouco de ousadia, você tem que ter muita ousadia, muita coragem para enfrentar um cenário como esse. Um estado em que não há política de desenvolvimento, um estado em que a elite manda e desmanda não dá pra ter uma bancada excessivamente responsável.
CC: O senhor citou o presidencialismo de coalização. Esse modelo se esgotou e está refletindo na forma de atuar do PT em cada estado?
JPR: Claro que se esgotou. Acabou. Ou a Dilma acena para o povo dela e tenta governar junto com esse povo ou...eu não acho que ela vá cair, acho que vai ser pior. Acho que ela vai sangrar e sucumbir a tal ponto que nós não vamos ter base social para disputar a Presidência da República. O PT precisa ter essas ações, como estamos conversando aqui, mas precisamos muito de uma ação de governo. O PT precisa reafirmar o seu lado. Em junho de 2013, a Dilma apontou para a reforma política. E não era só retórica, ela lançou a ideia. Tanto que não era só retórica que a pauta central do debate é a reforma política. Até a direita não consegue esconder isso. Então ela não estava errada. Não era retórica. E outra coisa importantíssima. Em que momento a Dilma reafirma seu lado? Com o Mais Médicos. E não dá para falar que era um programa pontual. Pontual, mas que atende 50 milhões de pessoas. Pontual, mas que há anos você precisava fazer essa discussão e não conseguia por conta de um corporativismo, de uma discussão elitista. Em que momento a Dilma consegue isso? Ela aproveita a polarização, aproveita o povo na rua. Agora é a hora de aproveitar. Diferente das manifestações de 2013, que eram muito difusas, essas manifestações caminharam para a polarização mesmo. Você tem a nossa marcha e tem a marcha da direita. A nossa marcha pode ampliar muito mais. Como é que essa marcha amplia muito mais? O governo precisa acenar. A Dilma precisa levantar uma bandeira, mostrar para nós qual é o rumo. Aí não é o partido só. A Dilma precisa organizar sua base social, ela tem apoio. Só precisa organizar.
CC: Como o senhor, um jovem deputado do PT, enxerga essa crise de quadros do partido?
JPR: O PT tem problemas, sim, de geração. O PT está envelhecendo e deixando de ser referência para as novas gerações e isso é fatal para um partido de esquerda. Partido de esquerda, que não é tido como referência pelas novas gerações, acabou. Mas o PT pode recuperar. Por quê? Exemplo prático, agora, história recentíssima: eleição da Dilma no segundo turno. Quem estava no segundo turno das eleições de 2014? 90% das pessoas que estavam no ato da PUC [em São Paulo] não eram filiadas ao PT. Eram jovens, jovens de classe média. Então é possível recuperar, mas tem de ter bandeira. Tem de ter programa.
CC: Dilma não perdeu a credibilidade entre seus eleitores por conta das medidas de ajustes fiscal que atingiram basicamente a classe trabalhadora? O historiador Lincoln Secco avaliou que o problema foi ela ter sido rápida demais, dando uma impressão de estelionato eleitoral entre seus próprios eleitores. Mesmo assim o senhor acha que tem volta nessa guinada neoliberal?
JRP: Concordo com o Lincoln, mas acho que tem caminho de volta. Tem que acenar...rápido. Tem que espremer ali e fortalecer os programas sociais. Tem que apontar temas que interessam à juventude. Tem que taxar grandes fortunas, mas taxar grandes fortunas só também não adianta. Senão vira retórica. Não é só isso. Um programa econômico que retoma o desenvolvimento é mais do que isso. É apostar no desenvolvimento. O que o Lula fez? Tudo bem, a conjuntura era outra. A conjuntura internacional era outra. Mas o que o Lula fez? O Lula olhou para a cara do povo e dos empresários e falou: “Continua vivendo, consumindo e produzindo que eu garanto. É verdade, tem uma crise mundial mas nós estamos preparados. Essa não nos derruba se a gente fizer isso, isso e isso”. Diálogo direto. Cadê a Dilma conversando? Nos falta a presidenta conversar mais de um jeito direto. A Dilma precisa criar relação de intimidade com o eleitor dela, rapidamente.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Moniz Bandeira: "EUA promovem desestabilização na América Latina"


Iniciativas como a criação do Banco do Brics e o regime de partilha para o pré-sal contrariam seriamente os interesses norte-americanos.


Viomundo
reprodução
O cientista político e historiador Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira denunciou hoje (17) que os Estados Unidos, por meio de órgãos como CIA, NSA (Agência Nacional de Segurança) e ONGs a eles vinculadas, continuam na tentativa de desestabilizar governos de esquerda e progressistas da América Latina, como os da Venezuela, Argentina e Brasil.
 
Em entrevista ao PT na Câmara, por e-mail, Moniz Bandeira disse que ‘’evidentemente há atores, profissionais muito bem pagos, que atuam tanto na Venezuela, Argentina e Brasil, integrantes ou não de ONGs, a serviço da USAID, National Endowment for Democracy (NED) e outras entidades americanas”, para desestabilizar esses países, com a utilização de instrumentos que incluem protestos de rua.
 
"As demonstrações de 2013 e as últimas, contra a eleição da presidente Dilma Russeff, não foram evidentemente espontâneas", disse o cientista político.
 
“Os atores, com o suporte externo, fomentam e encorajam a aguda luta de classe no Brasil, intensificada desde que um líder sindical, Lula, foi eleito presidente da República. Os jornais aqui na Alemanha salientaram que a maior parte dos que participaram nas manifestações de domingo, dia 15, era gente da classe média alta para cima, dos endinheirados’’, disse Moniz Bandeira, que reside na Alemanha e é autor de vários livros sobre as relações Brasil—EUA.
 
No caso do Brasil especificamente, citou iniciativas do PT e aliados que contrariam Washington, como a criação do Banco do Brics, uma alternativa ao FMI e ao Banco Mundial e o regime de partilha para o pré-sal, que conferiu papel estratégico à Petrobras, deslocando as petroleiras estrangeiras. Ele lembrou também que a presidenta Dilma foi espionada pela NSA e não se alinhou com os EUA em outras questões de política internacional, entre as quais a dos países da América Latina.
 
Eis a entrevista:
 
O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), comentou nas redes sociais que a CIA tem atuado nas tentativas de desestabilização de governos democráticos na América Latina . Como o senhor avalia isso, diante de vários episódios históricos que mostram os EUA por trás da desestabilização de governos de esquerda e progressistas?
 
Washington há muito tempo está a criar ONGs com o fito de promover demonstrações empreendidas, com recursos canalizados através da USAID, National Endowment for Democracy (NED) e CIA; Open Society Foundation (OSF), do bilionário George Soros, Freedom House, International Republican Institute (IRI), sob a direção do senador John McCain, etc.
 
Elas trabalham diretamente com o setor privado, municípios e cidadãos, como estudantes, recrutados para fazerem cursos nos EUA.
 
A estratégia é aproveitar as contradições domésticas do país, os problemas internos, a fim de agravá-los, gerar turbulência e caos até derrubar o governo sem recorrer a golpes militares.
 
Na Ucrânia, dentro do projeto TechCamp, instrutores, a serviço da Embaixada dos EUA, então chefiada pelo embaixador Geoffrey R. Pyatt, estavam a preparar, desde pelo menos 2012, especialistas, profissionais em guerra de informação e descrédito das instituições do Estado, a usar o potencial revolucionário da mídia moderna – subvencionando a imprensa escrita e falada, TVs e sites na Internet — para a manipulação da opinião pública, e organização de protestos, com o objetivo de subverter a ordem estabelecida no país e derrubar o presidente Viktor Yanukovych, em fevereiro de 2014.
 
Essa estratégia baseia-se nas doutrinas do professor Gene Sharp e de Political Defiance, i. e., o desafio político, termo usado pelo coronel Robert Helvey, especialista da Joint Military Attache School (JMAS), operada pela Defence Intelligence Agency (DIA), para descrever como derrubar um governo e conquistar o controle das instituições, mediante o planejamento das operações e mobilizações populares no ataque às fontes de poder nos países hostis aos interesses e valores do Ocidente (Estados Unidos).
 
Essa estratégia pautou em larga medida a política de 'regime change', a subversão em outros países, sem golpe militar, incrementada pelo presidente George W. Bush, desde as chamadas “revoluções coloridas” na Europa e Eurásia, assim como na África do Norte e no Oriente Médio. Explico, em detalhes e com provas, como essa estratégia se desenvolve em meu livro A Segunda Guerra Fria, e, no momento estou a pesquisar e escrever outra obra – A desordem mundial — onde aprofundo o estudo do que ocorreu e ocorre em vários países, sobretudo na Ucrânia.
 
Além da CIA, como os EUA atuam contra os governos de esquerda da América Latina?
 
Não se trata de uma questão ideológica, mas de governos que não se submetem às diretrizes de Washington. Uma potência mundial, como os EUA, é mais perigosa quando está a perder a hegemonia do que quando expandia seu Império. E o monopólio que adquiriu após a II Guerra Mundial de produzir a moeda internacional de reserva – o dólar – está a ser desafiado pela China, Rússia e também o Brasil, que está associado a esses países na criação do banco internacional de desenvolvimento, como alternativa para o FMI, Banco Mundial etc.
 
Ademais, a presidenta Dilma Rousseff denunciou na ONU a espionagem da NSA, não comprou os aviões-caça dos EUA, mas da Suécia, não entregou o pré-sal às petrolíferas americanas e não se alinhou com os Estados Unidos em outras questões de política internacional, entre as quais a dos países da América Latina.
 
O governo da Venezuela tem denunciado a participação de Washington em tentativas de golpe. O mesmo poderia estar acontecendo em relação ao Brasil?
 
Evidentemente há atores, profissionais muito bem pagos, que atuam tanto na Venezuela, Argentina e Brasil, integrantes ou não de ONGs, a serviço da USAID, National Endowment for Democracy (NED) e outras entidades americanas. Não sem razão o presidente Vladimir Putin determinou que todas as ONGs fossem registradas e indicassem a origem de seus recursos e como são gastos.
 
O Brasil devia fazer algo semelhante. As demonstrações de 2013 e as últimas, contra a eleição da presidente Dilma Rousseff, não foram evidentemente espontâneas. Os atores, com o suporte externo, fomentam e encorajam a aguda luta de classe no Brasil, intensificada desde que um líder sindical, Lula, foi eleito presidente da República. Os jornais aqui na Alemanha salientaram que a maior parte dos que participaram das manifestações de domingo, dia 15, era gente da classe média alta para cima, dos endinheirados.
 
Que interesses de Washington seriam contrariados, pelo governo do PT, para justificar a participação da CIA e de grupos empresariais de direita, como os irmãos Koch (ramo petroleiro) , no financiamento de mobilizações contra Dilma? O pré-sal, por exemplo?
 
Os interesses são vários como expliquei acima. É muito estranho como começou a Operação Lava-Jato, partir de uma denúncia “premiada”, com ampla participação da imprensa, sem que documentos comprobatórios aparecessem.
 
O grande presidente Getúlio Vargas já havia denunciado, na sua carta-testamento, que “a campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. (…) Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculizada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente”.
 
Como o senhor interpreta o surgimento de grupos de direita no Brasil, com agenda totalmente alinhada aos interesses dos EUA?
 
Grupos de direita estão no Brasil como em outros países. E despertaram com a crise econômica deflagrada em 2007-2008 e que até hoje permanece, em vários países, como o Brasil, onde irrompeu com mais atraso que na Europa.
 
E a direita sempre foi fomentada pelos interesses de Wall Street e do complexo industrial nos EUA, que é ceivado pela corrupção, e onde a porta giratória – executivos de empresas/secretários do governo – nunca deixa de funcionar, em todas as administrações.
 
Há, entre os organizadores dos protestos, gente francamente favorável à privatização da Petrobras e das riquezas nacionais, com um evidente complexo de vira-latas diante dos interesses estrangeiros. Como analisar esse movimento à luz da história brasileira? De novo o nacionalismo versus entreguismo?
 
Está claro que, por trás da Operação Lava-Jato, o objetivo é desmoralizar a Petrobras e as empresas estatais, de modo a criar as condições para privatizá-las.
 
Porém, estou certo de que as Forças Armadas não permitirão, não intervirão no processo político nem há fundamentos para golpe de Estado, mediante impeachment da presidenta Dilma Rousseff, contra a qual não há qualquer prova de corrupção, fraude eleitoral etc., elemento sempre usado na liturgia subversiva das entidades e líderes políticos que a USAID, NED e outras entidades dos EUA patrocinam.

Fim da compaixão?, por Renato Janine Ribeiro no OESP


RENATO JANINE RIBEIRO - O ESTADO DE S. PAULO
28 Fevereiro 2015 | 16h 00

Doença ou desvalia implica trégua. Por isso, em locais de fragilidade ou morte não devemos enfatizar o que nos divide

Mantega. Insultos são sintoma de processo que transforma o adversário político em inimigo
Mantega. Insultos são sintoma de processo que transforma o adversário político em inimigo
Na terça-feira, dois relatos me surpreenderam. Um eu li no Facebook, replicado centenas de vezes: a jornalista Neli Pereira, da BandNews, dizia ter sido mal atendida por um médico do Hospital Sírio Libanês. Contou que ele usou o tempo de consulta para sugerir que consultasse um colega, a quem ela pagaria R$ 700 pelo atendimento, e encerrou a conversa pedindo para participar do programa de rádio dela. Outro, todos vimos nos jornais: a forma como o ex-ministro Guido Mantega, que estaria levando a mulher para se tratar de câncer no Hospital Israelita Albert Einstein, foi ofendido na lanchonete do mesmo, a ponto de ter que se retirar. A coincidência é que essas condutas indesculpáveis ocorreram em dois hospitais top de linha de São Paulo. Mas o chocante mesmo é que ambientes que deveriam ser de acolhida, de cuidado, foram poluídos, num caso, pela ganância, no outro, pelo desdém pelo sofrimento alheio.
Estaremos vivendo o fim da compaixão? Ninguém vai a um hospital para se divertir. É um lugar onde a maior parte se dirige preocupada, quase sempre adoentada e com sintomas desagradáveis. Um hospital, mais que isso, por vezes respira morte. O câncer, de que sofre a mulher do ex-ministro, é doença de difícil e doloroso tratamento, embora a cura seja cada vez mais frequente. Nesses lugares se espera tudo, menos agressão. Na primeira narrativa, o médico falta com a ética mais elementar de sua profissão; mais que isso, com o respeito devido a um ser humano. Pode alguém escolher um ofício da saúde, para usar as palavras de um médico no filme Montenegro (1981), de Markavejev, porque “só lhe interessa o dinheiro”? Sem dúvida, o caso narrado tem de ser exceção entre milhares de médicos, mas infelizmente só reforça o descontentamento com eles - e juízes (mas esse desprestígio de duas das três grandes profissões tradicionais - a terceira são os engenheiros - seria assunto para outro momento). Minorias podem impopularizar uma profissão. Esse caso precisa ser apurado pelo hospital e pelo Conselho de Medicina.
Os insultos na lanchonete do Einstein causaram mais polêmica. Deixemos de lado a questão da presença, ou não, de médicos na turba mal-educada. Cabe lembrar que um lugar dedicado à saúde deve ter caráter quase de santuário. Sempre foi tradição, no Brasil, não falar mal de mortos, pelo menos por ocasião da morte. Essa praxe pode ter raiz em alguma superstição, mas consiste - ou consistia - na convicção de que há um limite para todas as pendências e conflitos que tenhamos em vida. Tudo é transitório, “é pó”, como diz a religião cristã. Não é o medo de que o cadáver venha nos puxar pelo pé no meio da noite. É a crença de que a morte põe termo a todas as vaidades humanas. Vaidade é um termo com dois sentidos, que se ilustram e complementam. Refere-se ao vaidoso, à pessoa exibida, que se considera especial, superior aos outros - o que, numa sociedade democrática, tende a ser intolerável. Mas também se refere ao que é vão, inútil, ocioso, ao que dá em nada. You’re So Vain, a música de Carly Simon (1972), joga com os dois sentidos, que por sinal em inglês são dados por uma palavra só: “Você é tão vaidoso / Você o que faz é tudo em vão / De que adianta ser tão besta...”.
A morte põe fim a isso tudo. Por isso, os lugares da morte são lugares de respeito. Não se imagina ofender alguém num cemitério, no velório, na missa pelas almas. Isso se estende ao lugar de fragilidade que é o hospital, o posto de saúde, a unidade básica. Instauramos um cessar-fogo em meio às guerras do cotidiano. Recordo expressões como salvo-conduto, suspensão de hostilidades, trégua. Nesses lugares, não devemos enfatizar o que nos divide. Médicos de países em conflito armado atendem aos feridos do inimigo - assim ordenam as leis de guerra. Em combate, podemos, talvez devamos, matar o inimigo; mas, quando ele é aprisionado ou se rende, da inimizade só restam o direito de mantê-lo preso e a obrigação de alimentá-lo, tratá-lo, resguardá-lo. Isso foi violado na lanchonete do hospital. 
Há gente que trata aqueles de quem discorda como se estivéssemos em guerra civil. Pior que isso: porque, como afirmei, a doença ou a desvalia implicam uma bandeira branca. Nem mesmo isso está sendo respeitado. Fiquei horrorizado com certas manifestações de facebookers e de leitores de jornais. Um dizia que o PT tem que ser tratado à bala. É uma clara degradação do espaço político em território de guerra. É esquecer que a construção do Estado consiste, antes de mais nada, na substituição da guerra pelas palavras, da matança pela convivência. Gente que diz isso passa o atestado de que não está preparada para o convívio no Estado de Direito. Quem defende o assassínio é criminoso. Pena que o Brasil seja tão leniente com o crime. 
Há dois pontos finais a assinalar. Começo pela compaixão. Recentemente, num debate com psicanalistas lacanianos, eles a criticaram. Afirmam que há uma cumplicidade ruim entre quem sente pena do outro e aquele que se vitimiza. Assim se forma uma situação viciada da qual não se sai. Mas essa ideia, embora correta em seu enunciado, parte de um equívoco quanto ao que compaixão significa. Compaixão não é ter pena. Não é dar esmola. Não é manter o outro no estado de dependência. A compaixão, a “piedade” de Jean-Jacques Rousseau, é a reação, quase instintiva, que nos faz sofrer junto a qualquer ser vivo que sofra. Como bem observa Lévi-Strauss, ela vai além do mundo humano: abrange os animais (penso que hoje se pode discutir se chegaria também aos vegetais; a jovem lapsariana do filme Um Lugar Chamado Notting Hill diria que sim). Ela realiza a ideia de John Donne: “Nenhum homem é uma ilha isolada; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”. Não é o atendimento no varejo, que meus amigos criticavam: é uma postura diante da sociedade, mesmo da vida. Compaixão, mais que dar esmolas, envolve lutar pela supressão da pobreza e da miséria. Não é só cuidar de um cão machucado; é - no mínimo - lutar pela morte sem dor dos animais que comemos. Para vários, é também recusar-se a comer cadáveres, mesmo de animais não pensantes.
Ora, o que mostram esses episódios que dessacralizam os templos do cuidado é que está se desvalorizando o respeito ao sofrimento. Parece que regredimos a antes de Rousseau. Até o século 18, o grande espetáculo de mídia eram os suplícios em público, em alguns casos, precedidos de demorada tortura. Até a década de 1930, se enforcava ou guilhotinava na praça. Fizemos bem em substituir esses shows pela televisão, mas muita gente ainda quer dar vazão a essa barbárie, ao anseio de matar, destruir, fazer sofrer. Gostemos ou não, é mais frequente esse tipo de desrespeito ocorrer contra petistas e esquerdistas do que contra tucanos ou direitistas. Isso significa que ações de desrespeito são mais cometidas pela direita do que pela esquerda. Esse ponto deveria chamar nossa atenção como educadores. Uma parte de nossa sociedade, mesmo tendo dinheiro, está sendo mal-educada. Não respeita os princípios do convívio social, a ponto de violar o último bastião do respeito, o silêncio perante a dor ou sofrimento alheio. Era o refúgio da humanidade. Parece que nem isso. 
Assim, há quem substitua a vida em sociedade pela guerra de todos contra todos. Os desrespeitosos da lanchonete justificarão o que fizeram acusando o ex-ministro de criminoso. Mas todo país que entra em guerra alega isso. Acredita quem for bobo. Na 1ª Guerra Mundial, quantos não ficavam chocados de saber que, depois de uma vitória alemã, os bispos germânicos rezavam um Te Deum - e o mesmo faziam os franceses após uma vitória de seu país? Como se Deus fizesse guerra. O mesmo vale quando se proclama um lado inteiro como criminoso. 
Há um problema no modo como a oposição conduziu nestes anos a discussão política no Brasil. Ela a reduziu a uma crônica policial. Em vez de construir projetos alternativos de qualidade - e poderia, sim, ter proposto para o País coisa melhor do que o PT fez, ou pelo menos coisa boa, que preservasse as conquistas sociais do petismo e promovesse por exemplo o pequeno empreendedor -, limitou-se a torcer para que polícia, promotores e juízes fizessem o trabalho que ela não conseguia ou não queria fazer. O resultado é que parte significativa da população, em alguns poucos Estados, como São Paulo, criminalizou a simples simpatia pelo PT. 
Isso traz uma consequência preocupante: quando o outro lado é visto como criminoso, é claro que não pode ser tratado com respeito. Uma coisa é reconhecer a vitória eleitoral de um adversário, outra a de um inimigo. Ora, se o adversário é pintado como ladrão, ele se torna inimigo. Isso deslegitima, aos olhos de uma parte minoritária, mas falante da população, o próprio processo eleitoral - e a própria democracia. Voltam alguns a querer a intervenção cirúrgica dos militares, para que rapidamente sanitizem o ambiente e o deixem pronto para os homens de bem exercerem o poder. É um 1964 redivivo, com a diferença de que os militares não querem mais esse papel, os empresários serão malucos se trocarem Joaquim Levy por uma aventura de tal ordem e a embaixada norte-americana certamente não quer criar problemas novos para seu país. No pequeno varejo das lanchonetes, das praças de alimentação, das filas de cinema e de supermercado, isso pode tornar impossível o convívio entre diferentes. Perde quem só frequenta seus próprios clones e não saboreia a diversidade de opiniões e valores.