terça-feira, 7 de outubro de 2014

Por que Alckmin não conseguiu conquistar Hortolândia


Postado em 7 de outubro de 2014 às 8:55 am

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Dos 645 municípios do estado de São Paulo, apenas um não deu o trunfo para Geraldo Alckmin (PSDB) entrar para a história como o governador que conseguiu ser reeleito em todo o território paulista.
Em Hortolândia, cidade na região de Campinas, o candidato tucano ficou em segundo lugar na corrida eleitoral com 34,88% dos votos válidos contra os 38,6% conquistados pelo petista Alexandre Padilha – que, na apuração estadual, ficou em terceiro lugar.
Ele, contudo, não foi o único candidato do PT a liderar a disputa na cidade. Eduardo Suplicy, derrotado por José Serra (PSDB) na luta por uma vaga no Senado, abocanhou 58,4% dos votos válidos de Hortolândia.
A advogada Ana Perugini, que acaba de ser eleita deputada federal pelo PT, pode ser uma das responsáveis pelo fenômeno, segundo análise de Wagner Romão, professor de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Sozinha, Ana arrebanhou 50,2% dos votos válidos na cidade – o que rende 48.555 votos. O marido dela teve resultado semelhante na disputa por uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado. Apesar de ter sua candidatura barrada, Angelo Perugini ficou com 47.918 dos votos na cidade. Ele ainda recorre da decisão.
Por dois mandatos seguidos (de 2004 a 2012), Perugini foi prefeito da cidade. No último pleito municipal, conseguiu manter a tradição petista no município com a eleição de Antônio Meira, seu herdeiro político.
Já Ana foi vereadora em 2004 e eleita deputada estadual em 2006 e 2010. “Quando você tem um candidato muito forte em uma disputa local, ele atua como espécie de ímã que atrai votos para quem está junto dele no santinho”, afirma Romão.
Os resultados das urnas na cidade comprovam esta hipótese.
Com 212 mil habitantes, segundo dados do IBGE, Hortolândia abriga empresas como a IBM e tem um índice de desenvolvimento humano de 0,756 – faixa considerada alta pela ONU.
Saiba Mais: exame

‘Estou desolada com São Paulo e preocupada com o Brasil’, diz historiadora

O resultado da eleição no estado de São Paulo deve provocar uma reflexão de âmbito geral, sobre a vitória de Geraldo Alckmin. E em particular, no âmbito do PT, principal partido de oposição no estado, sobre o desempeno do candidato Alexandre Padilha. A avaliação é da cientista política e historiadora Maria Victória Benevides, professora aposentada da USP, que se disse “desolada e perplexa”.
“Estou desolada com São Paulo e preocupada com o Brasil”, resumiu.
A professora se diz intrigada com alguns resultados vistos pelo país, como a vitória do PSDB em São Paulo. “Se aqui foi um dos lugares do país onde mais se protestou no ano passado contra a corrupção e a falta de qualidade nos serviços públicos, como entender? Crise de água, crise de segurança, de saúde e educação de péssima qualidade, serviços péssimos”, enumera.
Durante algum tempo, como ela observa, se dizia que a classe política parecia não ter entendido os recados das ruas. “Agora me parece que tampouco as ruas entenderam o recados das ruas”, ironiza.
“Se fosse a indignação com a corrupção o problema, não teria sido o PT a principal vítima dos protestos, como acabou sendo. Em parte graças aos meios de comunicação, em parte à despolitização dos movimentos, que foram importantes, sobrou para Dilma, e sobrou para o Haddad, e só”, constata.
“O que diferencia Alckmin de Paulo Maluf quando ele se refere ao assunto segurança pública? Nada. É o mesmo discurso e a mesma prática da ditadura, que sufoca o conceito de direitos humanos, desloca o seu sentido de acesso a educação, moradia digna, acesso a empregos, para uma rotulação torta de que defender direitos humanos é defender bandido”, avalia.
Mas o mais grave, em sua opinião, foi a postura do PT em relação à candidatura do ex-ministro Alexandre Padilha. “Padilha teve um comportamento excepcional, mostrou que não é liderança política de se ressentir e tocou com seriedade e fidelidade sua campanha. O resultado surpreendente no final de votação, comparado com desempenho supostamente fraco nas pesquisas, revela o abandono a que foi submetida sua campanha. Foi uma irresponsabilidade do partido”, afirma a historiadora.
No plano nacional, a professora pretende avaliar nos próximos dias como irá de comportar o eleitorado de Marina Silva. “Vamos ver de que tamanho era o contingente de antipetistas que apostaram em sua candidatura, e se a maioria deles já bandeou para o lado do Aécio Neves já no primeiro turno, já que ele recebeu uma votação acima da esperada. Agora, tem o pessoal mais ligado a suas origens de esquerda, o ambientalismo, vamos ver para que lado irá”, diz
“O fato é que está dada mais uma vez a mesma polarização PT-PSDB dos últimos 20 anos. A diferença é que agora há uma candidato mais jovem, de fora de São Paulo, bem-sucedido em seu estado”, lembra Maria Victória.
Saiba Mais: rba

Derrota histórica em São Paulo põe petistas no divã

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VERA ROSA - O ESTADO DE S. PAULO
07 Outubro 2014 | 03h 00

Lula se reúne com dirigentes para cobrar nova estratégia para o 2º turno no Estado, berço do partido, onde desempenho foi pífio


O pífio desempenho da presidente Dilma Rousseff em São Paulo e a acachapante derrota petista no maior colégio eleitoral do País fizeram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrar a correção de rumo no partido e puseram o PT no divã, procurando culpados pela sangria dos votos.
Para Lula, o PT virou um partido “de gabinete” e “burocratizado”, que precisa sair da defensiva se quiser vencer a eleição.“O lugar do PT não é no gabinete. É nas ruas”, disse o ex-presidente, ontem, em conversa com dirigentes do partido. Diante de correligionários abalados com o fiasco de Alexandre Padilha, candidato do PT ao governo de São Paulo, Lula foi ainda mais duro.
“Não dá para a gente deixar o antipetismo dominar a eleição e entregar tudo de mão beijada para os tucanos”, emendou ele, segundo relato da conversa obtido pelo Estado.

HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO
Senador perdeu a eleição deste ano para José Serra

Movimentos sociais. Lula afirmou que, se Dilma for reeleita, vai querer mais participação no segundo governo dela, porque precisa fazer a “ponte” com a política e com movimentos sociais, principalmente em São Paulo.
Em São Paulo, berço do PT e reduto político do PSDB, Dilma foi “atropelada” por Aécio Neves (PSDB), que ficou com 44,2% dos votos válidos enquanto ela obteve 25,8%. Padilha, por sua vez, teve o pior desempenho de um candidato do partido ao Palácio dos Bandeirantes desde 1994. Para completar, o senador Eduardo Suplicy (SP) sofreu um revés e, das 18 cadeiras perdidas pelo PT n a Câmara dos Deputados, 8 são de São Paulo.
Dilma vai mirar São Paulo, nesse segundo turno, na tentativa de ampliar sua votação. Na prática, a cúpula do partido ainda se debruça sobre o fracasso, na tentativa de encontrar motivos para a rejeição no Estado. Para o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, as prisões de petistas condenados no processo do mensalão, como José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e João Paulo Cunha, atrapalharam tanto Dilma como Padilha.
Coordenador da campanha de Dilma em São Paulo, Marinho disse ser “inegável” o impacto do escândalo na disputa. “Mas nós precisamos reagir”, disse Lula. “Se não vamos ficar comendo a vida toda o pão que o diabo amassou.”
Uma ala do partido também tentou culpar a má avaliação do prefeito Fernando Haddad pelo fiasco em São Paulo, mas o ex-presidente não compartilha desse diagnóstico, sob a alegação de que o problema não está apenas em um fator.
Em reunião realizada ontem entre Dilma e sua equipe, a avaliação foi de que “todos os erros possíveis” da campanha foram concentrados em São Paulo. “Tivemos muita dificuldade com a militância, mas vamos trabalhar forte para reverter esse quadro lá”, argumentou o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.
‘Símbolos’ perdidos. Dilma perdeu em cidades simbólicas para o PT, governadas pelo partido, como São Bernardo, Santo André, Osasco e Guarulhos e em bairros da periferia da Capital historicamente leais ao PT. Em 2010, a presidente venceu em 26 zonas eleitorais de São Paulo; em 2014 Dilma ficou na frente dos adversários em apenas 15.
Da reunião com Lula, participou também o presidente do diretório estadual do PT, Emídio de Souza. Entre as duras críticas à condução da campanha de Padilha, o ex-presidente exigiu mudanças na estratégia para São Paulo no segundo turno.
Pesquisas feitas pela campanha de Padilha apontavam havia mais de um mês para o risco da avalanche antipetista no Estado.
A busca por explicações vai além das pesquisas. O partido avalia que a campanha de Padilha, que durante várias semanas apostou em ampliar o discurso para o eleitorado mais conservador do Estado, puxou Dilma para baixo.
Segundo um dirigente, Padilha demorou para buscar a polarização com o governador tucano Geraldo Alckmin e, com isso, “não ganhou o voto dos conservadores e perdeu o dos petistas”.
“Também houve uma campanha forte da mídia contra o PT em São Paulo com a divulgação de casos de corrupção”, disse o presidente municipal do partido, Paulo Fiorilo.