domingo, 17 de novembro de 2013

EUA estudam cortar importação de etanol do Brasil

domingo, 17 de novembro de 2013


                                                                                 
 

Medida atende lobby da indústria americana; refinarias terão de reduzir a quantidade de combustíveis renováveis nos produtos

Cláudia Trevisan


Principal destino das exportações brasileiras de etanol, os Estados Unidos anunciaram na sexta-feira que pretendem reduzir em 2014 o volume de biocombustíveis que as refinarias do país devem misturar à gasolina e ao diesel, em uma vitória do lobby que defende os interesses da indústria do petróleo.

Proposta divulgada sexta-feira prevê que as refinarias terão de acrescentar 15,2 bilhões de galões de combustíveis renováveis nos produtos que venderem no próximo ano, 2,95 bilhões a menos que os 18,15 bilhões previstos originalmente na legislação sobre biocombustíveis aprovada em 2007. O volume também é inferior aos 16,55 bilhões de galões fixados para 2013 e representa o primeiro corte nos patamares desde que a mistura foi aprovada.

No ano passado, o Brasil exportou ÜS$ 1,5 bilhão de etanol para os Estados Unidos, o equivalente a 68% dos embarques totais do produto. De acordo com Leticia Phillips, representante da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) na América do Norte, o etanol brasileiro respondeu por 3% dos biocombustíveis consumidos no país em 2012.

A principal justificativa para a revisão das metas é a queda no consumo de gasolina, provocada principalmente pelo uso de carros menores e mais eficientes. Segundo o Departamento de Energia, os americanos usaram 0,6% menos gasolina na primeira metade deste ano em relação a igual período do ano passado.

A legislação estabelece um limite de 10% para adição de etanol no combustível vendido no país, mas as metas da Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) são fixadas em volume e não como um porcentual do consumo. Com a redução nas vendas de gasolina, os 18,15 bilhões de galões previstos originalmente ultrapassariam o limite de 10% fixado como teto para a mistura de biocombustíveis, conhecido como E10.

"A produção de combustíveis renováveis cresceu rapidamente em anos recentes. Ao mesmo tempo, avanços na eficiência energética de veículos e outros fatores econômicos levaram o consumo de gasolina a patamares bem inferiores aos que antecipávamos quando o Congresso aprovou os Padrões para Combustíveis Renováveis em 2007", justificou nota da EPA.

Barreiras. O encontro dos dois movimentos provocou o que a agência chamou de "barreira da mistura E10", o ponto no qual a oferta de etanol pode transbordar o limite de 10% fixado pela legislação.

A solução alternativa à redução da meta para o próximo ano seria a ampliação do teto de adição de combustíveis renováveis para 15%, decisão que enfrenta oposição ferrenha da indústria de petróleo, que gostaria de ver a mistura de etanol totalmente cancelada.

Nos próximos dois meses, representantes das indústrias de petróleo e dos biocombustíveis vão se enfrentar para tentar influenciar a decisão final do governo. Mas, por enquanto, o lobby do petróleo ganhou.

Os limites do BNDES


17 de novembro de 2013 | 2h 13

CELSO MING - O Estado de S.Paulo
O BNDES fechará 2013 com recorde em desembolsos. Nada menos que R$ 190 bilhões. Mas está sob ataque - como vem se queixando o presidente Luciano Coutinho. "Querem que feche a torneira."
Para dar um viés ideológico, completa ele: "É ataque conservador", algo que, na linguagem dos anos 60, seria vertido para "ataque dos reacionários". Talvez fosse mais apropriado falar de ataque republicano, que provém daqueles que se interessam pela saúde dos recursos públicos e querem o BNDES sem piruetas.
Não apareceu ainda quem esteja defendendo o fim do BNDES. Ao contrário, todas as correntes de pensamento do Brasil o saúdam como importante agência de fomento. O que há é que, ao longo do governo do PT, o BNDES produziu anomalias e distorções. Em boa parte do governo Lula, foi considerado inoperante, fator que levou à troca de direção. No governo Dilma, assumiu atribuições que deformam sua finalidade.
O BNDES está sendo usado como disfarce para imprimir moeda. Nada menos que R$ 400 bilhões lhe foram transferidos em títulos pelo Tesouro (cerca de 9% do PIB) para financiamentos de longo prazo. Além de implicar emissão de moeda, trata-se de manobra para tirar o Congresso do caminho. É um jeito destinado a arrumar recursos que escapem aos patrulhadores do Orçamento da União.
Essa manobra, por sua vez, produz outras distorções. A primeira acontece nas estatísticas da dívida pública. Os recursos injetados na veia do BNDES pelo Tesouro são registrados como expansão da dívida bruta. Como os financiamentos gerados se transformam em créditos, os estatísticos do governo afirmam que não ocorreu nada de especial no saldo da dívida líquida porque o débito registrado numa ponta da corda se transforma, na outra, em crédito correspondente. Essa é uma das razões pelas quais medir a saúde fiscal pela dívida líquida é um equívoco.
Luciano Coutinho tem repetido que, não fosse o BNDES, não haveria financiamentos de longo prazo no Brasil e o investimento estaria parado. É uma verdade que oculta outra distorção. A afirmação de que o BNDES apenas faz o que o mercado não faz oculta uma enganação. Outro jeito de examinar o problema é ver a atuação do BNDES como uma espécie de agente abortivo do mercado de capitais de longo prazo. Não há política que consiga desenvolver esse segmento para investimentos no País porque o BNDES distribui créditos subsidiados. Nem os outros bancos oficiais conseguem competir nessas condições.
Várias vezes, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a criação de um mercado de debêntures, títulos que forneceriam recursos de longo prazo que poderiam ser canalizados para investimentos. Até agora não saiu das intenções. Debêntures são aplicações de baixa procura, de não mais de R$ 10 bilhões por ano no Brasil. Para comparar, a Petrobrás precisa de US$ 236,7 bilhões para seus investimentos até 2017.
O fato é que até mesmo essas manobras criativas estão esgotadas. O ministro Mantega, que não está entre os tais críticos conservadores, já admite que o Tesouro não tem fôlego para continuar injetando todo esse soro fisiológico no BNDES.
Há ainda um punhado de críticas republicanas a fazer. Uma delas é a de que com critérios que são sempre mais políticos do que técnicos, o BNDES elege os tais campeões nacionais do futuro e turbina-os com financiamentos subsidiados, alguns dos quais somem depois durante naufrágios, como ocorreu com a produtora de laticínios LBR, com o frigorífico Marfrig que foi engolido pela JBS, com a supertele Oi que vai sendo absorvida pela Portugal Telecom e com o grupo Eike Batista.
Enfim, a função, a origem dos recursos e a atuação do BNDES precisam ser reexaminadas, sem viés reacionário.

O monstrengo fator previdenciário - SUELY CALDAS

aprendi na revisão do Estadão que era mostrengo

O Estado de S.Paulo - 17/11

Na quarta-feira a presidente Dilma Rousseff fez um apelo aos líderes de partidos políticos aliados: não aprovem projetos que possam comprometer o equilíbrio fiscal do Brasil. Não é só o Poder Legislativo que ameaça o equilíbrio fiscal com propostas populistas e, por vezes, irresponsáveis. O Poder Executivo deveria dar o exemplo, começando por reduzir à metade os 39 ministérios que Dilma defende serem necessários ("um país forte precisa de ministérios com papéis diferentes", declarou ela há dias em Porto Alegre).

O Ministério do Planejamento deve aos brasileiros duas explicações: quanto a população paga para sustentar os 14 ministérios que Lula e Dilma criaram; e se há neles alguma utilidade, além de distribuir cargos para políticos aliados. Países ricos trabalham com menos da metade de ministérios - simplesmente porque é mais racional e eficaz.

Um esforço para qualificar a gestão cotidiana da economia também seria bem-vindo para afastar, ou pelo menos amenizar, as desconfianças de investidores que têm cancelado ou engavetado investimentos, temendo interferências inconvenientes do governo. É grande a lista de ações do Executivo dirigidas a melhorar o desempenho fiscal. Mas voltemos à lista do Legislativo.

Dos projetos em tramitação no Congresso Nacional que aumentam despesas públicas sem criar receitas está o fim do fator previdenciário, proposto pelo senador Paulo Paim (PT-RS). Criado em 1999, o fator previdenciário foi um recurso paliativo encontrado pelo governo Fernando Henrique Cardoso para tentar reduzir o déficit da Previdência, diante da rejeição do Congresso, na época, em aprovar propostas de reforma previdenciária. Paliativo que implicava verdadeiro contorcionismo estatístico, uma barafunda aritmética para adiar pedidos de aposentadoria ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e que amenizou o déficit menos do que o esperado e menos do que o necessário. Não resolveu, o rombo continuou crescendo.

Como a inexplicável explosão de gastos com o seguro-desemprego num momento em que o Brasil vive uma situação de quase pleno-emprego, entre janeiro e setembro deste ano o déficit do INSS somou R$ 47,6 bilhões, 31,5% maior do que os R$ 36,2 bilhões projetados pelo governo e 36% acima do realizado em 2012. É um número surpreendente, nebuloso e ruim para um regime previdenciário de repartição como o nosso, pelo qual os trabalhadores ativos pagam os benefícios dos inativos.

Ou seja, se o emprego cresce, a receita das contribuições ao INSS também deveria crescer e o déficit, encolher. Só que aconteceu o inverso!

O Ministério da Previdência explica que os gastos de setembro de 2013 foram inflados pelo pagamento da primeira parcela do décimo terceiro salário aos aposentados. Mas isso também ocorreu em setembro de 2012 e o déficit acumulado até aí foi R$ 8,4 bilhões menor do que o de 2013. Na verdade, o problema é anterior a setembro: o governo sapecou uma estimativa irreal de R$ 36 bilhões na previsão orçamentária de 2013, desprezando o aumento do salário mínimo, que influencia fortemente o déficit previdenciário. Por que será?

Casamento. Em questões previdenciárias, a expectativa de vida da população e a idade de acesso à aposentadoria devem caminhar juntas. Se a população passa a viver mais, é necessário refazer o cálculo atuarial e elevar a idade de acesso na mesma proporção. O descasamento entre esses dois fatores fatalmente leva ao desequilíbrio financeiro. No Brasil, a mulher se aposenta com 60 anos de idade ou com 30 anos de contribuição ao INSS e o homem, com 65 anos ou 35 de contribuição. É comum uma mulher que começou a trabalhar aos 20 anos aposentar-se aos 50 e o homem, aos 55. Só que ano a ano o brasileiro experimenta a feliz aventura de viver mais: segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2005 ele vivia, em média, até os 71,9 anos de idade e em 2011 passou a viver 74,1 anos. O feliz avanço tem-se dado em ritmo rápido. Mas a idade de acesso à aposentadoria é a mesma há décadas, levando ao descasamento financeiro que onera o déficit previdenciário.

Pois bem, neste mês de novembro, as centrais sindicais de trabalhadores têm se unido em manifestações públicas nas grandes cidades do País pelo fim do fator previdenciário e anunciaram passeata gigante para o próximo dia 26 de novembro, em Brasília. Vão fazer barulho e cobrar a promessa do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, de dar uma solução à questão ainda este ano. O governo Dilma, no entanto, já anunciou que vai adiar a discussão para 2015, depois das eleições (como as eleições mandam e desmandam na agenda petista!).

O mais simples e justo seria substituir o monstrengo fator previdenciário pelo aumento da idade mínima de acesso à aposentadoria. É o mais lógico e o que tem sido feito no resto do mundo. Certamente não vai levar ao equilíbrio da Previdência, porque nela está embutida a aposentadoria rural - na verdade um programa de transferência de renda que a Constituição de 1988 erroneamente colocou nas contas do INSS. Mas é a solução socialmente mais justa e lógica.

As centrais sindicais não aceitam a lógica e propõem uma fórmula que adiciona idade mínima e tempo de contribuição, resultando em 85 anos para as mulheres e em 95 anos para os homens. Ou seja, cálculo feito na ponta do lápis, é trocar seis por meia dúzia e manter o que prevalece atualmente. E, como nada de significativo vai acontecer até as eleições de 2014, a previdência é mais um problema que o governo vai continuar empurrando com a barriga.

Mas, se o déficit do INSS é ruim para o equilíbrio das contas públicas, muito pior é o rombo da previdência do funcionalismo federal. Os dois comparados, constatam-se enorme disparidade, injustiça social e concentração de renda: o déficit do INSS, que abrange 28 milhões de trabalhadores, fechou em R$ 35 milhões no ano passado, enquanto o rombo da previdência pública foi quase o dobro (R$ 62 bilhões) para suprir a aposentadoria de apenas 953,5 mil funcionários. Com a criação da Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal (Funpresp), foi dada uma solução estrutural para o futuro. Mas até 2047 - quando esse fundo começa a produzir efeito - os brasileiros continuarão sustentando esse déficit e seu crescimento progressivo.