José Roberto de Toledo - O Estado de S.Paulo
O julgamento do chamado mensalão afetou a eleição de prefeito, mas não como se imaginava. Somado ao escândalo de Cachoeira, o efeito de horas e horas de programação televisiva sobre o mensalão acabou sendo maior entre os financiadores do que entre os eleitores. Está faltando dinheiro para a campanha eleitoral.
Basta ver a penúria da primeira parcial das prestações de contas dos candidatos a prefeito nas capitais. Os valores previstos em dezenas de milhões estão sendo contados aos milhares. Os poucos que gastaram mais do que isso o fizeram por conta. Ou seja, fazem campanha na base do fiado.
Contraditoriamente, os tetos de gasto de campanha apresentados pelos comitês à Justiça Eleitoral nunca foram tão altos. Em São Paulo, projeções de receitas triplicaram em comparação ao pleito de quatro anos atrás. Obviamente a correção aplicada não foi apenas a da inflação. Os tesoureiros abriram espaço em suas planilhas para abrigar os antigos "recursos não contabilizados".
Por enquanto, porém, o dinheiro não está sendo contabilizado nem pelo caixa 2 nem pelo 1. Potenciais doadores têm muito frescas na memória as cenas de advogados de banqueiros e empresários apresentando a defesa de seus clientes no Supremo Tribunal Federal. Ou o exemplo da Delta, uma ex-rica doadora eleitoral que foi da prosperidade à bancarrota em apenas uma CPI.
Os céticos dirão que, mais cedo ou mais tarde, os interessados de sempre pingarão suas contribuições salvadoras nos cofres partidários. É bem provável. Até porque a gratidão pelas doações tardias será ainda maior do que de hábito. Mas o estrago já estará feito. A campanha foi encurtada para 50 ou 60 dias. Neófitos que precisavam se tornar conhecidos terão menos tempo para chegar aos olhos, ouvidos e dedos dos eleitores.
Tempestade perfeita. Desde 2002, a campanha eleitoral petista tacha José Serra (PSDB) de o candidato do medo. Por essa definição, vota no tucano quem teme ver hordas bárbaras invadirem o centro próspero. Mas a última década produziu uma invasão às avessas, uma onda de prosperidade consumista a banhar a periferia. Ermelino Matarazzo ficou mais parecido com a Mooca, não o contrário.
No começo da atual campanha eleitoral paulistana, a questão a ser respondida em 2012 parecia ser: o eleitor de Ermelino vai votar mais parecido com o da Mooca, ou o da Mooca com o de Ermelino? Na primeira hipótese daria Serra; na segunda, Fernando Haddad (PT). Mas aí Celso Russomanno (PRB) cresceu, apareceu, e o binômio PT-PSDB ficou insuficiente para resumir a eleição.
De onde apareceu Russomanno? Uma explicação é que Haddad é desconhecido, e o candidato do PRB ocupou o vácuo no eleitorado petista. Outra é que o paulistano está cansado das mesmas caras. Uma terceira, que há eleitores antipetistas que acham Serra um bom candidato a presidente, mas não um bom candidato a prefeito. Todas estão corretas.
Russomanno vai se sustentar na liderança? Ele tem um quarto do tempo de TV de Serra e Haddad. Ao contrário dos adversários, não tem as máquinas dos governos federal, estadual e municipal a apoiá-lo. Daqui para frente sua força é inercial. Veio da exposição na TV Record, da Igreja Universal do Reino de Deus e de sua imagem de conciliador e defensor do consumidor. E agora? Depende menos dele do que dos adversários.
Para Russomanno cair, Haddad tem que crescer. A maior superposição do voto no candidato do PRB é com o eleitorado petista. O pequeno crescimento de Haddad no mais recente Ibope já desacelerou Russomanno. Mas, para chegar ao segundo turno contra Serra, Haddad precisaria ao menos trocar os seus 11% de intenção de voto na zona petista pelos 30% de Russomanno. Mesmo assim seria o segundo colocado, e por uma margem muito apertada.
Nem só de votos petistas vive o fenômeno Russomanno, porém. Não está claro qual o tamanho do buraco que ele pode provocar no eleitorado de Serra. Entre maio e julho, fez o tucano perder cinco pontos porcentuais na zona antipetista da cidade. Mas a sangria parou em agosto. Só esperando o efeito do horário eleitoral para saber se a ferida cicatrizou ou não.
O que aconteceria se Haddad chegasse aos 30% na zona petista, a 10% no resto e, ao mesmo tempo, Russomanno equilibrasse a disputa com Serra em todas as regiões da cidade? A definição do segundo turno seria no olho mecânico. Qualquer combinação seria possível: Serra x Haddad, Serra x Russomanno ou até Russomanno x Haddad. A atual eleição paulistana é tudo, menos previsível.