segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Quem dá mais?


JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO - O Estado de S.Paulo
A entrada de paraquedas de José Serra na corrida eleitoral em São Paulo altera alguns, mas não todos os aspectos da sucessão paulistana. Continua sendo uma eleição mais favorável à oposição do que à situação. Permanece a divisão do eleitorado em três grupos: petistas, antipetistas e independentes. O clima econômico positivo não prejudica o candidato federal. O que muda, então?
1) Grau de conhecimento dos candidatos. Por comparação, Serra é um gigante entre nanicos: 92% o conhecem bem (73%) ou ao menos um pouco (19%), segundo pesquisa Datafolha de janeiro. Ele é quatro vezes mais conhecido do que seu principal adversário, o petista Fernando Haddad, e três vezes mais do que Gabriel Chalita (PMDB).
Serra alcançou 21% das intenções de voto quando seu nome foi estimulado pelo pesquisador (embora fique em 2% na pesquisa espontânea, porque disse e repetiu que não seria candidato a prefeito). Não se sabe quanto disso é fama e quanto é voto, mas os 21% lhe dão uma velocidade inicial muito maior do que a de seus adversários diretos. Haddad e Chalita ainda patinam entre 4% e 6%.
No caso de Serra, porém, mais reconhecimento implica mais rejeição: um terço dos paulistanos disse que não votaria nele, principalmente petistas e os mais críticos à atual gestão municipal. Por isso, interessa a Serra uma campanha curta e intensiva. Uma longa exposição, como aconteceu em 2010, só aumentaria o risco de desgastar sua imagem. É o oposto do que seria a campanha do PSDB se o candidato do partido fosse, por exemplo, Bruno Covas.
2) Quem representa o governo do prefeito Gilberto Kassab. Se a articulação de Lula para cooptar o PSD em São Paulo tivesse dado certo, o ônus de defender a gestão kassabista ficaria dividido entre PT e PSDB. Com Serra na disputa, o atual prefeito sai da esfera tucana para a petista. Serra ganha a ajuda da máquina municipal, um tempinho a mais na TV e o peso de falar bem de uma prefeitura malvista por 4 em cada 10 eleitores. O saldo tende a ser mais negativo do que positivo, porque reforça sua rejeição.
Kassab só virou prefeito por causa de Serra, que deixou a Prefeitura com menos de dois anos de mandato para se eleger governador. O tucano tem uma escolha a fazer: ignorar ou defender a atual gestão. Os adversários não tornarão fácil a primeira opção - e ficar em cima do muro já mostrou ser uma má ideia em 2010. Restará tentar melhorar a imagem do governo Kassab durante o horário eleitoral na TV. Para isso, Serra precisará de tempo de propaganda.
3) Quem galvanizará o antipetismo. Serra sai na frente das pesquisas, mas não é certo que chegue ao segundo turno. O fracasso de Geraldo Alckmin em 2008 relembrou que quando o PSDB racha e tem pouco tempo de TV o candidato tucano chega em terceiro ou quarto lugar - também foi assim em 1988, 1992, 1996 e 2000. A primeira missão de Serra é curar as feridas tucanas, depois somar partidos coligados, e, só então, mirar no eleitorado antipetista.
O primeiro turno em São Paulo deverá replicar as prévias republicanas nos EUA: uma corrida para o eleitorado conservador decidir quem tem mais chances de bater Barack Obama no turno final. Haddad não é Obama, obviamente, mas o candidato do PT, fosse quem fosse, sempre chegou ao segundo turno paulistano. Foram cinco vezes seguidas. Isso fecha a porta para um candidato à esquerda do petista.
Quem mais ameaça tomar a vaga do PSDB no segundo turno é o PMDB, pois tem o segundo maior número de spots publicitários na TV, atrás apenas do PT. Se fechar alianças com PSC e PTB, adotar um discurso crítico a Kassab, repisar a promessa descumprida por Serra de não abandonar a Prefeitura e cativar o eleitorado religioso, Chalita pode se viabilizar no final. Hoje, porém, ele perde eleitores com a entrada do tucano.
São os spots, estúpido! Por essas três razões, o nome do jogo é coligação. A primeira briga é por tempo de TV - especialmente pelas propagandas de 15 a 60 segundos distribuídas ao longo da programação. Elas são o principal trampolim para alcançar o eleitor a partir de 21 de agosto. É vital para PT, PSDB e PMDB o tempo de outros partidos, que vão cobrar caro pelo apoio. O leilão está aberto.
Quanto vale um spot de propaganda eleitoral na TV em São Paulo? Os spots são diários e variam de 15 a 60 segundos. Eles devem ser distribuídos em quantidades iguais em quatro faixas de horário, com diferentes audiências: das 8h ao meio-dia, do meio-dia às 18h, das 18h às 21h e das 21h à meia-noite. Vão ao ar em todos os canais. Na média, dá mais de R$ 250 mil por 30 segundos. São 45 dias de propaganda só no primeiro turno. Faça as contas.

A planilha inconsistente à qual o Brasil se curvou



Coluna Econômica - 27/02/2012
Há anos a política econômica brasileira é amarrada a um bezerro de ouro, uma mera planilha que serviu de ferramenta para as mais altas taxas de juros do planeta.
Trata-se da planilha que estima a "taxa de juros de equilíbrio", o nível da taxa Selic que supostamente asseguraria o controle da inflação em comprometer o crescimento. E, depois, outra planilha correlata, a que estima o PIB potencial - isto é, o máximo crescimento da economia sem provocar inflação.
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Semanas atrás demonstrei aqui os efeitos irrelevantes da taxa Selic sobre o custo do dinheiro, tanto para pessoas físicas e pequenas e médias empresas, quanto para empresas de primeira linha.
Ora, a maneira da taxa de juros influenciar a atividade econômica é através do canal de crédito. Se a Selic tem pouco efeito sobre o crédito, de que maneira o BC calcula os efeitos da taxa sobre o nível de atividade?
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Há três semanas venho tentando obter essas informações do BC e desvendar esse mistério. Em vão. Coincidentemente, na semana passada o BC solicitou aos analistas econômicos do mercado explicações sobre os modelos utilizados por eles em suas projeções.
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Ontem relatei a extraordinária história dos três intelectuais brasileiros - Antonio Doria, Newton da Costa e Marcelo Tsuji - que, nos anos 90, demonstraram que até poderia haver momentos na economia com os preços gerais em equilíbrio. Mas que era impossível - matematicamente falando - estimar qual seria esse momento.
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A conclusão demoliu as principais teorias da política econômica recente, como os juros de equilíbrio ou o PIB potencial (limite para o PIB avançar sem inflação), que podem existir, mas não são calculáveis.
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No mesmo livro "O Universo Neoliberal em Desencanto", de Doria e José Carlos de Assis, procede-se a uma análise matemática da tal fórmula do Banco Central que supostamente permitiria calcular a taxa de juros neutra.
No site do BC há apenas uma nota técnica, em inglês, datada do início do século 21, assinada por Joel Bogdanski, tendo por título "Implementating Inflation Targeting in Brazil".
A fórmula é a equação IX da página 24 do trabalho.
Descobriram, então, que a fórmula mágica à qual a economia brasileira está subordinada há mais de uma década, não passa de uma regra de três simples sem nenhuma fundamentação científica mais séria.
A equação é a seguinte:
  1. A taxa de juros que o BC fixa é diretamente proporcional à expectativa de inflação.
  1. Quem define a expectativa de inflação é o mercado.
  1. Portanto a taxa de juros que o BC fixa é aquela que o mercado quer.
Conclusão dos autores - um dos quais, Doria, é matemático de reputação internacional: "Debaixo de toda a tecnicalidade matemática, depois da linguagem obscura e das ilações supostamente técnicas, o que temos é algo muito próximo de pura trivialidade".
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Não fica aí o questionamento à matemática do BC.
"O chamado produto potencial, que aparece como limitador do crescimento com estabilidade (...) jamais poderia integrar o aparato matemático do modelo porque, a rigor, não pode ser medido. É simplesmente inferido (...) Ou seja, estamos diante de uma construção matemática totalmente arbitrária, entrecruzando variáveis com relações frágeis ou inexistentes".

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Pacote de R$ 1,8 bi prevê mais 8 km de Marginal do Pinheiros na zona sul


Adriana Ferraz e Bruno Ribeiro - O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO - A margem direita da Marginal do Pinheiros, sentido zona sul, vai ganhar 8 quilômetros de pista na região de Interlagos. O prolongamento faz parte do novo plano viário apresentado pela Prefeitura para desafogar o trânsito local. Com investimento previsto em R$ 1,8 bilhão, o projeto lista ainda outras nove intervenções em vias próximas, como as Avenidas Guarapiranga, Cachoeirinha e M’Boi Mirim, em um prazo de quatro anos.
A extensão começa na Avenida Guido Caloi, na altura da Ponte Transamérica. Para esse ponto, estão programadas três novas faixas de tráfego, além de uma ciclovia com 3 metros de largura até a Ponte Vitorino Goulart da Silva, já nas proximidades do Autódromo de Interlagos. O conjunto ainda prevê uma nova ponte sobre o rio e outra sobre um dos canais da Represa do Guarapiranga.
As intervenções na Marginal representam quase um terço do total do orçamento. O gasto estimado é de R$ 470 milhões. Segundo o secretário municipal de Infraestrutura e Obras, Elton Santa Fé Zacarias, o investimento se justifica porque a obra dará mais mobilidade à zona sul. "O motorista que segue pela Marginal na direção de Interlagos enfrenta hoje um estrangulamento na Ponte Transamérica, que será sanado com as mudanças propostas", afirmou.
A pista complementar será construída, segundo Zacarias, em lotes estaduais que pertencem à Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae). "São áreas livres de ocupação, o que facilita o projeto", diz o secretário. Para viabilizar a construção, no entanto, é necessária autorização da gestão Geraldo Alckmin (PSDB). "Já estamos negociando a liberação dos terrenos e a realocação das torres de transmissão que precisarão ser transferidas", disse o secretário.
Os eventuais benefícios que a obra trará, no entanto, não são consenso entre os especialistas em transporte público. Para o consultor Horácio Augusto Figueira, o principal reflexo da ampliação da via será a atração de mais carros para a região - e, com eles, obviamente mais trânsito. "O usuário de ônibus, do trem que circula na Marginal, poderá optar por utilizar o automóvel. E os carros que usam outras rotas também devem migrar. O congestionamento, que já é pesado, tende a aumentar", avalia.
A expectativa da Prefeitura é licitar o pacote em até 90 dias. As obras, no entanto, não devem ser iniciadas nesta gestão, apesar da intenção do prefeito Gilberto Kassab (PSD) em assinar o contrato de execução logo depois de receber aval e "patrocínio" do Estado.