domingo, 27 de abril de 2025

O jornalismo precisa respeitar as palavras -Lygia Maria- FSP

 

"Pedro Pascal critica J.K. Rowling por opiniões transfóbicas", dizia a manchete. Curiosa, fui ler o texto. Mas eis que nenhuma das falas de Rowling citadas ataca a dignidade de pessoas trans nem incita ódio ou preconceito contra elas.

Numa, a criadora da saga Harry Potter elogia ativistas feministas escocesas por terem levado uma demanda por definição de sexo biológico até a Suprema Corte do Reino Unido e, em outra, afirma-se: "Pessoas trans não perderam nenhum direito hoje, embora eu não tenha dúvidas de que algumas (não todas) ficarão furiosas porque a Suprema Corte manteve os direitos das mulheres com base no sexo".

Então por que esse e outros textos sobre o assunto publicados em diferentes veículos apontam transfobia? A resposta reside no desmazelo com as palavras, que facilita a manipulação de discursos ideológicos. Tal tática das militâncias, sejam de esquerda ou de direita, faz parte do jogo político, mas não deveria ser respaldada pelo jornalismo.

A imagem apresenta duas pessoas lado a lado. À esquerda, um homem com cabelo escuro e barba, vestindo uma camisa preta com detalhes vermelhos. À direita, uma mulher com cabelo ruivo preso, usando um vestido azul escuro com detalhes brilhantes e brincos. O fundo é desfocado, mas parece ser um evento de gala.
Pedro Pascal pede boicote a todos os produtos relacionados a saga 'Harry Potter', de J.K. Rowling - AFP

Por óbvio, palavras não são estanques. Contudo há textos mais polissêmicos, que utilizam termos ou expressões com múltiplos sentidos, explorando ambiguidades, e menos polissêmicos, que empregam linguagem objetiva, com palavras que possuem significados mais restritos.

Textos literários estão no primeiro caso; já a letra da lei ou o artigo científico, no outro. O trabalho jornalístico informativo se baseia em técnicas de investigação da realidade e, a todo momento, lida com o império da lei.

Assim, jornalistas devem usar as palavras de modo criterioso, justificando suas escolhas.
Se, para militâncias, "fascista", "comunista", "golpe de Estado" "gasto público", "vacina" ou "fake news" podem ser qualquer coisa, para o profissional de imprensa cada um dos termos terá acepção limitada, já que ela virá da legislação, de pesquisas acadêmicas, entrevistas e outras fontes.

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Com o ambiente online repleto de cacofonia, polarização política e punitivismo, o respeito do jornalismo pelas palavras se faz ainda mais necessário —principalmente quando se acusa um crime, como é a transfobia no Brasil.


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