sexta-feira, 25 de abril de 2025

Publicado há cem anos, 'O Grande Gatsby' explica Trump, Alavaro Costa e Silva -FSP

 "O Grande Gatsby" completou cem anos outro dia —10 de abril para ser exato— e continua como se tivesse chegado às livrarias nesta semana, estalando de contemporaneidade. Um tipo de mágica que só os verdadeiros clássicos, por resistirem ao tempo, oferecem.

A obra de F. Scott Fitzgerald torna-se uma experiência inédita a cada releitura. O relato da obsessão de Jay Gatsby, gângster disposto a reverter o passado por amor à namorada da juventude, Daisy Buchanan —cuja voz "soava como dinheiro"—, hoje pode dar algumas pistas para compreender a tragédia em curso que é o governo Trump.

O "Gatsby" consegue a proeza de contar uma história "out of time". O curioso é que, segundo o escritor Rodrigo Fresán —que aproveitou a data redonda para publicar o ensaio "El Pequeño Gatsby: Apuntes para la Teoría de una Gran Novela"—, a palavra tempo aparece 87 vezes no romance e há nele mais de 400 referências temporais. Sabemos exatamente em que momento do dia ou da noite as ações se desenrolam. Sobretudo sabemos a quem elas afetam: os ricos, que depois acabam ferrando os pobres mortais.

Tom Buchanan, o vilão corpulento e agressivo com quem Daisy está casada, foi comparado a John Kennedy e Bill Clinton. Mas ele é, assim como o próprio Gatsby, um modelo fiel de Donald Trump. O Make America Great Again é uma cópia pálida e cafona das festas suntuosas que o gângster do livro oferece numa tentativa inútil de recompor o passado perdido.

A época retratada no "Gatsby" antecede o crash da Bolsa de Nova York, em 1929. Agora, sob Trump, os EUA aceleram em direção ao desastre. Segundo a revista The Economist, cometem "o erro econômico mais profundo, prejudicial e desnecessário da era moderna".

Não se ouve outra coisa no boteco da esquina: há risco de inflação, recessão e colapso nas cadeias de produção globais. Os plutocratas da tecnologia que se aliaram a Trump e a classe alta dos EUA são os primeiros a sentir o baque. Se tivessem lido Scott Fitzgerald, não tomariam o tombo.

Nenhum comentário: