domingo, 20 de abril de 2025

Atingidos por mortandade de peixes no Tietê reclamam de valor liberado por SP, FSP

 Simone Machado

São José do Rio Preto (SP)

O Governo de São Paulo começou a liberar na segunda-feira (14) uma linha de crédito emergencial no valor de R$ 2,5 milhões para pescadores e piscicultores afetados pela mortandade de peixes no rio Tietê na região de São José do Rio Preto e Araçatuba, no interior de São Paulo. Os valores, porém, não agradaram os profissionais afetados.

Estimativa da Associação Paulista de Piscicultores aponta que o prejuízo chega a R$ 11 milhões. A linha de crédito disponibilizada por meio do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista, que tem juro zero, possui o teto de R$ 5.000 para pescadores artesanais e de até R$ 20 mil para piscicultores.

Procurada, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento afirmou que "o valor total da linha [de crédito] poderá ser suplementado em caso de necessidade da cadeia produtiva".

A imagem mostra uma área de água verde, onde vários peixes mortos flutuam na superfície. A água reflete a luz do sol, criando um brilho na superfície. Na borda da imagem, há uma margem de pedras e vegetação seca.
Pescadores reclamam do subsídio de R$ 5.000 que seria insuficiente

Criador de tilápias há cinco anos, o piscicultor Nelson Benedito Moreira contabilizou a perda de 30 toneladas de peixes, um prejuízo estimado em R$ 1 milhão.

Ele possui tanques para criação no afluente do rio Tietê em Ubarana (SP). As perdas começaram no mês passado, quando a água do rio ficou verde, com aspecto denso e cheia de algas.

"Em um dos tanques os peixes já estavam grandes, alguns com dois quilos, prontos para serem vendidos para a Semana Santa e perdi tudo. No outro, ainda eram de tamanho médio e também não salvou nada. Tive que descartar tudo", diz.

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Ainda segundo Moreira, o crédito de R$ 20 mil oferecido pelo governo estadual não é suficiente para cobrir os prejuízos e ele ainda não sabe se vai seguir com a criação de tilápias no local.

"Se eu pegar esse empréstimo só vai aumentar o meu prejuízo, porque como vou pagar se não tenho mais peixe para vender? Acredito que o ideal seria o Governo nos ajudar a fazer a criação em tanques piscinais", acrescenta.

A imagem mostra uma superfície de água coberta por uma camada espessa de algas verdes. As ondas da água estão visíveis, criando um efeito de ondulação na superfície. Algumas partes da água estão mais claras, possivelmente indicando a presença de peixes ou outros organismos subaquáticos.
Água do rio Tietê e seus afluentes ficou esverdeada causando a mortandade de toneladas de peixes

Mauro Gusmão, pescador e que também depende do rio Tietê para levar o sustento para casa, ressalta que, além do prejuízo, há a incerteza sobre quando voltará a pescar.

"Todo ano a água fica esverdeada, mas é só nas margens. Como aconteceu neste ano, eu nunca tinha visto, o rio todo ficou verde", disse. "Vou tentar fazer um bico em outras coisas para repor esse prejuízo, porque os R$ 5.000 não dão para nada. Os peixes têm um ciclo, precisam de tempo para crescer, não sei quando vamos voltar a pescar".

O noroeste paulista é responsável por 70% da produção de tilápia no estado de São Paulo. A Peixe SP (Associação de Piscicultores em Águas Paulista e da União) também criticou o valor liberado e afirma que está em contato com o Governo Estadual para que novas medidas sejam tomadas para ajudar o setor.

"Esse valor na piscicultura não faz nada. Para se ter ideia, uma produção pequena de 10 toneladas de tilápia, só de ração, o gasto é de R$ 50 mil por mês. Então essa linha de crédito realmente não ajuda em nada a piscicultura", diz.

Causas da mortandade

O fenômeno que afeta diretamente o rio Tietê, seus afluentes e toda a cadeia produtiva do local, acontece devido a vários fatores como alterações na qualidade da água devido às chuvas e despejos irregulares de poluentes.

A cor esverdeada é devido a reprodução excessiva de algas que afetam o oxigênio da água causando a mortandade dos peixes. Essa reprodução de algas em grande quantidade é devido ao excesso de nutrientes na água, que são provenientes de esgoto doméstico, fertilizantes usados na lavoura e vinhaça, que vão parar no rio devido às chuvas, que são mais constantes nessa época do ano.

Na tentativa de coibir o despejo irregular, o Governo estadual criou o Grupo de Fiscalização Integrada das Águas do Rio Tietê formado pela Semil (Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística) e suas vinculadas (Cetesb, Fundação Florestal e SP Águas), além da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, Polícia Militar Ambiental, Comitês de Bacias Hidrográficas e prefeituras municipais.

Em três semanas de operação, o grupo percorreu 2.348 quilômetros do rio e fiscalizou 188 mil hectares de áreas de preservação ambiental às suas margens.

Segundo o Grupo, foram emitidos 25 autos de infração ambiental, totalizando pouco mais de R$ 121 mil em multas. Dessas infrações, 11 estavam relacionadas ao desmatamento irregular, cinco ao descumprimento de Termos de Compromisso de Recuperação Ambiental, duas à fauna silvestre, uma à pesca irregular e uma por infração administrativa.

Já a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) vistoriou sete Estações de Tratamento de Esgoto e quatro empresas, além de coletar 22 tipos de amostras para análise. Também foi instalada uma sonda e realizadas coletas nas cidades de Zacarias, Ubarana e Mendonça, todas no noroeste do estado.

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