Os economistas usam uma expressão em inglês, "trade-off", que designa a essência da racionalidade. Em português, a expressão pode ser traduzida como "relação custo-benefício". Afinal, se tudo tem um custo, essa pode ser a condição de acesso a benefícios compensadores.
Quatro anos depois do início do processo de estabilização de preços no Brasil, uma questão ainda não foi resolvida: qual o balanço entre custos e benefícios da estabilização? A resposta é difícil porque depende de uma definição prévia do horizonte de tempo relevante para a questão.
No curto prazo, os custos da estabilização foram compensados generosamente pelos benefícios da ampliação do consumo, do emprego, dos investimentos e da arrecadação. Até o início de 1995, a euforia era tanta que a estabilização parecia inclusive ser um processo indolor, em que haveria apenas ganhadores.
Mas em economia há uma expressão igualmente conhecida que alerta para o fato de que "não existe almoço grátis". Passada a euforia, a lista de dificuldades a vencer, tanto externas quanto internas, foi tornando-se clara. Os benefícios passaram a surgir com menos intensidade na mesma medida em que os custos tornavam-se cada vez mais evidentes. Economistas, empresários, consumidores e burocratas se deram conta de que juros muito altos passaram a ser um peso terrível na análise custo-benefício da estabilização.
O controle que o governo exerce sobre a taxa de câmbio depende de juros altos. Os empresários e os bancos, convivendo com índices altos de inadimplência, não conseguem reduzir as taxas em suas operações de crédito. O consumidor, que é também um contribuinte, passou a enfrentar mais impostos, pois é assim que o governo tenta arrecadar mais para pagar os juros da dívida interna.
Os custos são muitos e crescentes. O benefício é a vitória contra a inflação. Mas qual é o "trade-off"? Como poderá uma economia cuja inflação caminha para 3% ao ano suportar taxas de juros básicas que na previsão mais otimista ficariam apenas em torno de 22% ao ano?
As autoridades econômicas de Brasília justificam-se: é preciso manter o interesse dos investidores externos. Para atrair capitais, é preciso pagar uma taxa de juros que seja não apenas superior à inflação, mas -como se trata de capital estrangeiro- superior também à expectativa de desvalorização cambial e à percepção de risco que o país inspira. E o governo, mesmo com inflação baixíssima (até aproveitando-se disso), continua desvalorizando o câmbio.
Os benefícios dessa estratégia tão custosa viriam em breve, segundo Brasília. O país conseguiria exportar mais. Produtos importados seriam substituídos pela produção nacional. Com o tempo, precisando de menos capital estrangeiro para financiar o comércio desequilibrado, os juros baixariam. Com o tempo, a economia voltaria a crescer, os juros domésticos poderiam cair.
Mas a dificuldade está, novamente, no tempo. Quanto será preciso até que o "trade-off" seja satisfatório? A questão ainda não tem resposta. Por ora, ouvem-se apenas os ecos da velha catilinária latina: até quando abusarão da paciência nossa?
domingo, 20 de abril de 2025
O "TRADE-OFF" DO REAL, FSP
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