domingo, 20 de abril de 2025

Com Trump, EUA se tornaram uma cleptocracia?, Álvaro Machado Dias, FSP

 O mais manjado dos debates hermenêuticos opõe visões sistêmicas e personalistas dos acontecimentos. Foram as conjunturas ou as aspirações de dom Pedro 1º que levaram ao Grito de Independência? Hitler tornou-se Führer em função da crise institucional da República de Weimar ou da execução meticulosa de um plano orientado à maximização do seu poder?

A resposta é que a combinação de fatores tende a criar os melhores modelos interpretativos e o que importa mesmo é determinar o papel relativo de cada fator. Aplicando este princípio ao mistério das decisões de Donald Trump, pode ser importante dar mais realce aos interesses privados do presidente, em paralelo às dimensões de maior evidência —a visão sui generis do excepcionalismo americano, o desprezo ao conhecimento acumulado em seu grupo e a guerra cultural.

Um homem com cabelo loiro e pele clara está sentado, com os olhos fechados e uma expressão pensativa. Ele usa um terno escuro e uma gravata vermelha. Ao fundo, há um ambiente que parece ser um escritório, com um fundo desfocado que sugere um ambiente formal.
Trump assina decreto no Salão Oval da Casa Branca - Saul Loeb - 9.abr.25/AFP

Porém, é preciso cautela: não há comprovação de qualquer ilicitude até aqui.

Por exemplo, enquanto ameaça aliados e oponentes com tarifas assimétricas, Trump lançou ou planeja lançar 19 projetos imobiliários em 8 países estrangeiros. Na Sérvia e em Omã, os projetos estão em terras do governo. A Indonésia criou uma zona econômica especial com incentivos tributários para o novo complexo do empresário. Já o presidente indiano, Narendra Modi, escutou ameaças tarifárias na Casa Branca ao mesmo tempo que o anfitrião se prepara para lançar torres corporativas em seu país.

Um dos assuntos do momento é o Acordo de Mar-a-Lago, um conjunto de diretrizes para desvalorizar o dólar sem afetar sua posição de reserva global, que nenhum economista leva a sério, uma vez que preconiza que o resto do mundo assuma prejuízos bilionários de bom grado.

Seja como for, o valor de adesão ao resort subiu 43%, a um mês das eleições, chegando a US$ 1 milhão, quando este passava longe de ser o mais icônico da Flórida, o que de fato aconteceu ao se posicionar como o novo Bretton Woods. Na esfera pública, "Trump faz planos para deixar Casa Branca com mais cara de Mar-a-Lago" (The New York Times, 06/03/2025).

É quase inacreditável que um plano econômico capaz de mudar a economia global leve em consideração os efeitos em um endereço, mas vale lembrar que tende a não prosperar.

Pouco antes de ser empossado, o grupo do presidente lançou duas criptomoedas, $TRUMP e $MELANIA. Nas duas primeiras semanas de governo, embolsou US$ 100 milhões de lucro com a operação. Desde então, os negócios se expandiram para NFTs, plataformas de pagamento e sistemas de gestão financeira em blockchain (DeFi), "stablecoins" (WLF1) e mineração de bitcoins, gerando uma nova vertical de negócios avaliada em US$ 1 bilhão. Na esfera pública, foi anunciado que a reserva federal passaria a incluir criptomoedas.

Os tecnologistas viraram trumpistas para queimar combustíveis e alimentar servidores e para vencer batalhas regulatórias. Musk, que investiu US$ 277 milhões na campanha do presidente, fez um acordo em que pagou US$ 10 milhões pelo seu banimento do Twitter. À frente do Doge (Departamento de Eficiência Governamental), mandou embora os reguladores das sete agências que supervisionam suas empresas.

Mark Zuckerberg perdeu o timing, mas compensou no acordo judicial pelo mesmo erro —fechou-o em US$ 25 milhões. No momento, a Meta enfrenta o maior desafio em anos: um processo antitruste que pode obrigá-la a vender o Instagram e o WhatsApp. A aposta é que o presidente ajude-os a vencer.

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