quarta-feira, 23 de abril de 2025

Reforma do edifício São João substituirá 35 milhões de pastilhas, FSP

 Vicente Vilardaga

São Paulo

A partir da década de 1940 não havia prédio em São Paulo que não fosse revestido por pastilhas de porcelana. Havia nessa prática uma aspecto funcional: proteger a obra de intempéries e impedir infiltrações. Mas também era considerada uma questão estética. As construções podiam ficar mais coloridas e modernas.

Foi uma solução adotada tanto por arquitetos renomados, como pelo mercado imobiliário como um todo em edifícios comerciais e residenciais. Até os anos 1970 era uma tendência.

Para ficar em alguns poucos exemplos marcantes de uso de pastilhas vale citar os edifícios projetados pelo arquiteto João Artacho Jurado, o Louveira, de João Batista Vilanova Artigas, o Prudência, de Rino Levi, e o Copan, de Oscar Niemeyer, cuja interminável reforma visa, justamente, substituí-las. Em Higienópolis há dezenas de prédios que as utilizam, assim como no Centro.

Edifício São João
No edifício São João, diante do Martinelli, serão substituídas e recuperadas 35 milhões de pastilhas - Vicente Vilardaga

Um deles é o edifício São João, na avenida do mesmo nome, que está passando por uma restauração que envolve a substituição ou a limpeza e recuperação de 35 milhões de pastilhas em uma área de 14 mil metros quadrados. A obra está a cargo da Kruchin Arquitetura, que tem 18 meses para concluí-la.

O São João, sede do Banco do Brasil em São Paulo, foi projetado pelo arquiteto Caio Pedro Moacyr, e fica bem em frente ao edifício Martinelli. Começou a ser construído em 1942 e recebeu o Habite-se em 1955. É tombado pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo).

"É uma obra muito desafiadora", diz Samuel Kruchin, proprietário do escritório, que foi responsável, por exemplo, pela restauração do edifício Sampaio Moreira, na rua Libero Badaró, e do Tribunal de Justiça, na Praça da Sé. "Não se trata de uma intervenção que segue critérios de uma simples reforma. Temos que respeitar as soluções formais do edifício, conforme sua história."

Pilares na entrada do edifício Viadutos
Colunas na entrada do edifício Viadutos, na Bela Vista: Artacho Jurado usou pastilhas cor-de-rosa - Vicente Vilardaga

O problema das pastilhas é que elas têm um prazo de validade. Num prédio de 70 anos elas começam a se soltar e a cair, ameaçando os transeuntes. No Copan foi isso que aconteceu e um cachorro foi atingido e morto.

O revestimento não é algo isolado, mas parte do conjunto arquitetônico como um todo. Por isso, numa obra tombada, deve ser considerado o aspecto cromático. As cores das novas pastilhas devem ser idênticas às originais, a fim de manter a integridade da obra.

Não se trata simplesmente de removê-las e colocar, arbitrariamente, quaisquer outras no lugar. "A gente removeu pastilhas em diversos pontos para identificar as seis cores básicas e descobrir como elas se compõem", afirma Kruchin. "Verificamos que há pelo menos três mix de cores. Precisamos verificar também se as diferenças cromáticas foram causadas pela exposição ao sol."

Edifício Copan
Um dos principais desafios na reforma do edifício Copan é a substituição das pastilhas - Vicente Vilardaga

As pastilhas não são colocadas uma a uma. Elas medem 4 cm² e são fixadas em placas de 30 cm por 60 cm. A obra já começou e envolve 15 trabalhadores. Seu custo será de R$ 8 milhões.

O prédio é gigante. Tem 24 andares, pé direito de 4,5 metros e mede 143 metros de altura, sendo um dos mais altos da cidade. Suas fachadas têm 21 mil metros de superfície, sendo que 7 mil metros são de área geminada ou de granito, que também será restaurado.

Há o granito bruto, presente no guarda-corpo dos terraços e o preto, que é o do embasamento do edifício, que vai até o primeiro andar. "Existem furos que a gente vai fechar e as pedras do terraço estão muito sujas, afetadas pela poluição", diz Kruchin. "Recuperá-las também será um trabalho muito delicado."

O edifício São João, assim como o Altino Arantes, do banco Santander seguem um estilo americano pela verticalidade e composição dos volumes. Não há qualquer influência francesa, como se via na cidade até então. São construções modernas e sem ornamentação, mas muito elegantes e austeras.

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