O pronunciamento de improviso do ministro da Economia, Paulo Guedes mostrou que o caminho consiste em eliminar a disparada dos gastos públicos e a criação de privilégios e desonerações para um agrupamento de 'piratas privados'
Celso Ming, O Estado de S.Paulo
02 Janeiro 2019 | 21h00
Os discursos de conteúdo vago da posse do presidente Bolsonaro haviam deixado a impressão de que o governo sabe o que não quer, mas ainda não sabe o que quer.
O pronunciamento de improviso do ministro da Economia, Paulo Guedes, de grande contundência, mostrou o oposto. Mostrou que o caminho consiste em descentralizar o Estado e eliminar as fontes de todas as corrupções, que são a disparada dos gastos públicos e a criação de privilégios e desonerações para um agrupamento de “piratas privados”.
O Brasil está apequenado na comunidade das nações, como ficou demonstrado no baixo comparecimento de chefes de Estado e de governo na posse de Bolsonaro. Até como promessa, o Brasil já foi maior do que é hoje. E isso aconteceu porque somos um país desgraçadamente desarrumado na economia. É verdade que não estamos mais afogados na crise cambial e na hiperinflação. As contas externas estão robustas, mas como observou o ministro Paulo Guedes, tivemos que amealhar quase US$ 400 bilhões em reservas para levar os outros a acreditarem na nossa capacidade de honrar a dívida.
As contas públicas estão em frangalhos, o crescimento econômico é pífio, a indústria está prostrada e há 12,2 milhão de desempregados. É uma ficha cadastral que dá pena. Mais do que isso, é uma ficha cadastral que não incomoda nenhum concorrente externo. Os desempenhos do México e da Índia vêm sendo acompanhados com mais atenção do que o do Brasil.
A principal proposta do governo na área econômica é o desencadeamento do processo de descentralização das decisões econômicas, de dar primazia às soluções de mercado “que é o que permitiu a inclusão de centenas de milhões de asiáticos”.
Ainda não sabemos se os projetos de reforma pretendidos já estão detalhados. Sabemos apenas que o grande objetivo é manter com firmeza o teto dos gastos para impedir o avanço da despesa. E para segurar esse teto são necessárias as paredes, ou seja, as reformas. A mais importante delas será a reforma da Previdência.
O ministro Paulo Guedes não chegou a revelar se pretende colocar em votação o projeto já em fase adiantada de tramitação no Congresso ou se pretende começar do zero. Mas entende que a aprovação do que tem em mente permitirá o crescimento da economia por no mínimo dez anos seguidos. Se der errado, não haverá saída senão a desindexação da economia e a desvinculação das despesas.
O modelão liberal a adotar está claro. A questão central consiste em saber se vai dar certo ou não, depois de pelo menos 50 anos de descaminho. Os inimigos são conhecidos. São, em primeiro lugar, os que estão ganhando com o sistema atual, os privilegiados, os corporativistas, os que se dedicaram a pilhar o Estado. Por enquanto essa oposição potencial está desestruturada porque levou paulada nas urnas. Mas tentará se recompor.
O outro inimigo pode ser o próprio governo Bolsonaro, se ele não se entender e se ele se perder em picuinhas ou na falta de liderança. De todo modo, se é para colocar o Brasil acima de todos, como diz o slogan do novo presidente, é preciso antes arrumar a economia.
» Ótimo resultado
O saldo da balança comercial em 2018 ficou dentro do previsto: superávit de US$ 58,3 bilhões. A novidade no ano foi o crescimento maior das importações, de 19,7% ante o de 9,6% das exportações. Isso se deveu ao aumento maior do consumo e do PIB, que exigiu mais produtos importados para dar conta da demanda. Para 2019, o mercado (aferido pela Pesquisa Focus, do Banco Central), prevê um superávit de US$ 52 bilhões. Mas o bom resultado da agricultura pode aumentar esses ganhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário