RICARDO MENDONÇA
EDITOR-ASSISTENTE DE "PODER"
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Parece claro que a altíssima e inédita rejeição a Serra tem sido um dos elementos centrais da eleição paulistana. Era 33% em janeiro, foi a 46% em setembro, está em 52% agora. A impressão é que quanto maior a exposição do tucano, maior sua rejeição.
Esses recordes, que ajudaram e explicar o "fenômeno" Russomanno quando a maioria não conhecia bem nenhum outro adversário de Serra, ajudam agora a explicar a liderança de Haddad e, de certa forma, o alto índice de eleitores sem candidato. Não é porque o sujeito rejeita Serra que irá aderir instantaneamente ao PT.
Serra e aliados sempre oferecem duas explicações para tamanha rejeição: a renúncia à prefeitura em 2006 e a alta reprovação do aliado Kassab na gestão municipal. Só após o primeiro turno Serra passou a desqualificar as pesquisas.
Renúncia e Kassab atrapalham, sem dúvida. Mas, mesmo combinados, parecem insuficientes para explicar tanta má vontade do eleitorado.
Se a renúncia de 2006 fosse tão grave, Serra dificilmente teria virado governador logo depois. Mas ganhou. E com uma votação consagradora. Na cidade, derrotou o petista Mercadante por 53% a 34%. Quatro anos depois, na presidencial, venceu Dilma na capital por 40% a 38%. Só agora os paulistanos descobriram que Serra renunciou?
Da mesma forma, não dá mais para terceirizar os 52% de rejeição nas costas de Kassab. Simples: os eleitores que julgam Kassab ruim ou péssimo são 42%. Ainda que todos eles rejeitassem Serra automaticamente, sobrariam 10% que não acham Kassab um desastre, mas recusam Serra.
Serra sempre associou sua imagem a valores liberais. Era o ex-líder da UNE, o intelectual perseguido por Pinochet, o ministro que combateu a Aids. Mas desde 2010, sua figura, suas campanhas e seus novos aliados aparecem majoritariamente ligados a outras pautas. Rejeição visceral ao aborto, supervalorização de alianças evangélicas, escandalização de um kit contra o preconceito. Por que o eleitor não haveria de desconfiar?
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