segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Os rumos da metrópole


ANTONIO GONÇALVES FILHO - O Estado de S.Paulo
A terceira edição do Arq.Futuro, encontro internacional de arquitetos e urbanistas promovido pela Bei+, braço da Bei Editora, começa amanhã com uma palestra do jovem arquiteto e engenheiro italiano Carlo Ratti, de 41 anos, conhecido por concretizar projetos impossíveis como um pavilhão cujas paredes de água provocaram há quatro anos reações alucinadas dos visitantes da Exposição Mundial de Zaragoza.
Ratti trabalha para o conceituado MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts. É um daqueles arquitetos que tentam colocar no presente o futuro imaginado nos desenhos animados do passado, como Os Jetsons, aquela família com robôs e toda a parafernália eletrônica de um bom lar futurista. O Arq. Futuro, no entanto, não trouxe apenas visionários que pensam no avenir digital. O encontro semestral, realizado desde o ano passado, traz nesta edição premiados arquitetos que lidam tanto com a questão da habitação popular, como o chileno Alejandro Aravena, como o casal americano Todd Williams e Billie Tsien, que vem se especializando na criação de museus, passando por Thaddeus Pawlowski, autor de gulliverianos projetos de infraestrutura em Nova York.
Além desses, o encontro tem arquitetos brasileiros em ascensão, como Ângelo Bucci, e outros com mais anos de estrada, como Isay Weinfeld, que tem no Hotel Fasano o mais completo exemplo da elegância despojada de seus projetos. Weinfeld e o empresário Otávio Zarvos, que também participa do encontro, são responsáveis por prédios que modificaram a fisionomia da Vila Madalena, em São Paulo.
Além dos nomes citados, ainda participam do Arq.Futuro Fernando de Mello Franco e André Corrêa do Lago, que conversam com os arquitetos, além dos mediadores Philip Yan e Karen Stein. Todo esse esforço, naturalmente, para ajudar São Paulo a ter uma arquitetura com menos prédios falsamente neoclássicos e mais criativos, condizentes com a importância da metrópole no cenário mundial. Mas não foi só a expressão artística que motivou a empresária Marisa Moreira Salles, da Bei+, ao criar o Arq.Futuro e trazer ao Brasil, no ano passado, arquitetos premiados com o Pritzker, como Jacques Herzog, sócio do escritório Herzog & De Meuron, que assina o projeto do Complexo Cultural Luz. Foi principalmente a arquitetura como elemento de transformação social que a levou a apostar no projeto, diz ela.
Este ano, o Arq.Futuro ensaia passos para ampliar o projeto e levá-lo a outras capitais. Em março, o Rio de Janeiro já havia recebido estrelas da arquitetura como a iraquiana Zaha Hadid, radicada em Londres, e o japonês Shigeru Ban. Quase 1.500 pessoas participaram das palestras e fóruns. Depois deste novo encontro em São Paulo, será a vez de Belo Horizonte, seguida por Salvador. "Cada metrópole precisa encontrar sua vocação e São Paulo parece que ainda não achou a sua, ao contrário de Nova York, Londres e Tóquio", observa a organizadora do evento. Talvez a passagem de cidade industrial para uma de serviço possa evitar a catástrofe urbanística que se anuncia para a urbe.
O convite à dupla de arquitetos Todd Williams e Bille Tsien, o americano e sua mulher de origem chinesa, justifica-se pela experiência dos dois como nomes de referência quando o assunto é o corredor cultural de uma cidade. Não se recupera o centro só com ele, mas a sua presença é um ponto de partida importante para seu resgate, para a promoção do convívio social e do trabalho educacional na comunidade.
O museu da Fundação Barnes, na Filadélfia, aberto ao público em maio, é uma prova de como uma coleção fabulosa (as melhores obras de Cézanne, Matisse e outros) se tornam acessíveis ao público graças ao projeto generoso do casal. "Colocá-los em contato com estudantes de arquitetura vai mostrar como a inteligência na recuperação de espaços supera amarras que um encontro de políticos e construtores não resolveria", conclui Marisa Moreira Salles.

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