segunda-feira, 30 de abril de 2018

Brasil só cria vagas de trabalho de até 2 salários, FSP

No 1º trimestre, Nordeste e Norte tiveram saldo positivo em postos com remuneração mais baixa

Laís Alegretti
BRASÍLIA
O Brasil só criou empregos formais, neste ano, com remuneração de até dois salários mínimos (R$ 1.908).
As contratações foram maiores do que as demissões apenas em vagas com rendimentos mais baixos, segundo dados do primeiro trimestre levantados pela Folha no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
Houve fechamento de vagas em todas as faixas com vencimento maior do que dois salários mínimos.
No Norte e no Nordeste, a situação é pior: no mesmo período, a abertura de empregos ficou na faixa de até um salário mínimo (R$ 954).
O Ministério do Trabalho diz que os números refletem um processo de recuperação e que a expectativa é que o saldo positivo chegue aos cargos com melhor remuneração.
“O ideal seria que estivesse bem distribuído entre as faixas, mas há melhora em relação a 2017”, afirma Mariana Eugênio, analista de Políticas Sociais do ministério.
No primeiro trimestre de 2017, o saldo positivo estava concentrado nos empregos de até um salário mínimo e meio. Em 2016, foi registrado o pior cenário para o período: só foram abertas vagas de até um salário mínimo.
Anos atrás, contudo, o Brasil criava oportunidades com remunerações maiores: no início de 2008, foram geradas vagas de até quatro salários mínimos e também de sete a dez.
A economista Vivian Almeida, professora do Ibmec, aponta que o emprego, muitas vezes, demora mais a reagir.
“O mercado de trabalho tende a responder um período depois. Primeiro, há, por exemplo, aumento nas vendas, depois no emprego.”
A maior parte do impacto de crises econômicas no mercado de trabalho ocorre nos postos com menor remuneração, segundo Bruno Ottoni, pesquisador do iDados e Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
O cenário ainda mais desfavorável no Norte e no Nordeste pode ser explicado, segundo ele, pelo fato de os salários médios nessas regiões serem menores. “Assim, o valor do salário mínimo fica mais custoso para o empregador.”
Com o emprego mais fraco do que o esperado no ano, o Ibre revisou a projeção inicial de criação de 800 mil vagas em 2018 para 630 mil (considera o envio de dados pelas empresas no prazo).
Apesar de o governo ter defendido, em 2017, que a reforma trabalhista permitiria a abertura de 2 milhões de empregos em dois anos, o Ministério do Trabalho hoje não divulga a expectativa para o saldo do Caged em 2018.
As novas regras da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) entraram em vigor no fim do ano passado e dependem, em vários pontos, de regulamentação.
A oferta de vagas em modalidades previstas na nova lei, como contratos intermitente e regime parcial, tem sido “decepcionante”, segundo Ottoni.
Essas duas modalidades de contrato de trabalho responderam, juntas, pela abertura de 6,4 mil vagas em março, de acordo com o dado mais recente do governo.
O índice de desemprego também preocupa nessa fase de recuperação econômica. 
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o país tem hoje 13,7 milhões de pessoas em busca de trabalho. No primeiro trimestre, o índice ficou em 13,1%, alta de 1,3 ponto percentual em relação ao trimestre finalizado em dezembro.

China dá baile em internet das coisas, FSP

China dá baile em internet das coisas

Em Pequim, morador de rua carrega placa com seu código QR para receber ajuda

Na semana passada, aconteceu na Universidade Columbia, em Nova York, um evento para promover o diálogo entre o Brasil e a China sobre a chamada internet das coisas. O termo denota a tendência de que tudo tende a se conectar à internet. Desde objetos cotidianos, como lâmpadas, a maquinário industrial.
O Brasil está prestes a lançar oficialmente seu plano nacional para essa área. Faz sentido. A onda de conectar objetos vai gerar um novo ciclo de inovação que está só no começo. O plano brasileiro (do qual participei) prioriza quatro setores: saúde, cidades inteligentes, manufatura e produção rural.
Passageiro utiliza leitor de código QR do telefone para comprar mercadorias em um trem, na China - Liu Chuan - 13.mar.2018/Xinhua
A China, por sua vez, lançou seu plano de internet das coisas em 2010. Colhe agora os frutos do investimento na área. Enquanto o Brasil investe perto de 1% do PIB (Produto Interno Bruto) em ciência e tecnologia (com a maior parte vinda de recursos públicos), a China investe 2,1%, sendo que 75% do valor vem de empresas.
Os resultados são visíveis. A tecnologia mudou a sociedade chinesa. Hoje praticamente ninguém mais usa dinheiro. Todos os pagamentos são feitos por celular. Basta caminhar pelas ruas de Pequim para notar que os moradores de rua carregam placas com seu código QR para receber ajuda. Sabem que a chance de conseguir um trocado em dinheiro é ínfima.
O mesmo acontece com carregadores de mala nos hotéis. Usualmente portam um crachá com seu código QR. Ou, ainda, em festas de casamento. Na entrada há um painel com o código da noiva e do noivo, para que cada um possa receber presentes diretamente.
Outra vítima dessa mudança tecnológica são as “maquininhas” para pagamentos por débito ou crédito. Elas desapareceram. Tudo o que um lojista precisa hoje para aceitar pagamentos digitais é uma folha de papel com seu código QR impresso. 
Para pagar, o cliente lê o código do lojista com o celular e digita o valor. O dinheiro é transferido na hora, sem nenhuma taxa de intermediação.
Outra evolução que a internet das coisas trouxe na China é o surgimento de lojas meramente demonstrativas. Elas não têm estoque nem vendem nada. São grandes mostruários onde o consumidor vê os produtos, experimenta roupas e assim por diante.
Se gostar de algo, escaneia o código do produto com o celular, fazendo também o pagamento digitalmente. O produto é então entregue na sua casa no mesmo dia.
Outra inovação comum na China (que começa a chegar ao Brasil) são bicicletas públicas sem estação fixa (“dockless bikes”). Não precisam ser colocadas de volta. Podem ser deixadas em qualquer lugar.
Claro que há recomendações sobre como estacioná-las (não obstruindo passagens, por exemplo). Mas a decisão é de cada pessoa. Como cada bicicleta tem um GPS, são então reorganizadas todas as noites conforme a demanda. 
Há hoje 2,3 milhões de bicicletas desse tipo em Pequim. A primeira hora de uso é sempre gratuita. Cada hora adicional custa o equivalente a R$ 0,50, e o valor máximo por 24 horas é de R$ 5.
A impressão é que a China está ao menos cinco anos na frente do Ocidente no uso da tecnologia. Apesar disso, é questão de tempo para que essas mudanças cheguem também entre nós.
Já era  Celulares de tela pequena
Já é  Celulares de telas grandes
Já vem  Celulares com três telas diferentes
Ronaldo Lemos
É advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio e representante do MIT Media Lab.