domingo, 1 de dezembro de 2024

Hélio Schwartsman O mundo, FSP

 Colossal é o adjetivo que me ocorre para qualificar "O Mundo", a mais recente obra do aclamado historiador britânico Simon Sebag Montefiore. O título abrangente corresponde à ambição do autor, que é contar a história do mundo através das histórias de famílias. Essa instituição, ainda que comporte inúmeras variações, seria um traço comum a toda a humanidade em todas as épocas.

A imagem apresenta cinco figuras em um fundo verde. À esquerda, um homem com uma lira, vestido com roupas antigas. Ao centro, uma mulher sentada em um trono, vestindo um vestido azul e adornos egípcios. Ao lado dela, um homem com um terno azul e gravata vermelha, gesticulando. À direita, dois homens em ternos escuros, um com uma gravata vermelha e o outro com uma gravata verde, ambos com expressões sérias.
Annette Schwartsman

O mais impressionante é que ele consegue fazer isso. "O Mundo" é um festival de erudição. Montefiore começa sua narrativa no começo da história, isto é, 4.000 anos atrás, com o relato em primeira pessoa das desventuras de Enheduana, uma princesa acadiana, filha de Sargão, e termina em 2022, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, retratando ZelenskiPutin e também Xi, Trump e Biden.

Embora haja mais páginas sobre famílias de origem europeia, o autor cobre de forma extensiva o mundo árabe e a Ásia. A África e mesmo a América pré-colombiana também estão presentes. Isso torna, por óbvio, a obra bastante extensa. Na edição física brasileira, o livro tem 1.384 páginas e 1,79 kg. E isso porque o autor economizou, terceirizando as referências bibliográficas para seu site.

E a sensação que fica é a de que faltou espaço. A obra é desigual. Há momentos em que o texto corre fluido, como se fosse um romance policial, mas também há passagens em que os resultados das pesquisas parecem ter sido empilhados para assegurar a completude da obra. Às vezes, o autor muda de continente sem nem trocar o parágrafo.

Montefiore não poupa nas descrições de sexo, massacres e torturas. Ele fala de parafilias que acho que nem receberam nome da psiquiatria, como a fixação em luvas, fetiche do kaiser Guilherme 2º. E a violência é ecumênica, fazendo-se presente em todos os continentes e todas as épocas. A mensagem que fica é que a crueldade parece ser tão universal quanto a família.

Creio que os leitores que toparem o desafio não se arrependerão. Eles terão a oportunidade de ver sob nova luz os personagens com os quais já estão familiarizados e conhecer muitos, muitos mais.

Juca Kfouri -Os paradoxos na vida dos técnicos, FSP

O Botafogo fez uma campanha de recuperação magnífica na Libertadores —que começou com eliminação evitada na fase de grupos por um triz e culminou em vitória por 3 a 1 na decisão disputada o tempo todo, e mais um pouco, com dez jogadores.

Artur Jorge revelou a irrestrita confiança que tem no time ao não substituir para compensar a expulsão de Gegore, embora tenha cogitado botar Danilo Barbosa, prontamente chamado para aquecer antes do primeiro minuto da decisão, a primeira, e na sexta edição, que acabou com diferença maior de um gol desde que, em 2019, passou a ser disputada em jogo único.

A exemplo dos conterrâneos Jorge Jesus e Abel Ferreira, o português Artur Jorge Torres Gomes Araújo Amorim, nascido em 1972, dois anos depois do tri, fez história no futebol pentacampeão mundial.

Poderia ser chamado de Artur Amorim, Artur Gomes ou Artur Torres e preferiu não ter sobrenome para inscrever-se como tantos outros estrangeiros na enciclopédia do nosso futebol.

Artur Jorge agora tem seu nome na enciclopédia do nosso futebol - Luis Robayo - 30.nov.24/AFP

Como o esporte adora pregar peças, ao alarmante 0 a 0 em Belo Horizonte contra o mesmo Atlético Mineiro com dez jogadores, que tanta preocupação causou, e tantas dúvidas pôs na capacidade botafoguense na reta final do Campeonato Brasileiro, o lusitano deu o troco com juros na finalíssima continental.

O próximo desafio é igualmente monumental, não mais de Núñez, mas à Beira-Rio.

Enfrentar o Inter de melhor campanha no segundo turno do Brasileirão depois da feliz ressaca pelo título inédito, superado o complexo de ser o único carioca sem a conquista sul-americana, e único dos 12 maiores clubes do Brasil até o último 30 de novembro sem a chamada glória eterna, será tarefa quase sobre-humana nesta quarta-feira (4).

Ninguém mais duvida de que o Botafogo pode.

Se não puder, paciência, a temporada está ganha.

E Artur Jorge será para sempre bestial.

Do outro lado, Gabriel Milito.

Teve 90 minutos para inscrever seu nome, Gabriel Alejandro Milito, como o primeiro argentino a ser campeão da Libertadores por um clube brasileiro.

Nascido em 1980, dois anos antes da dita Tragédia de Sarriá, Gabriel Alejandro (?) virou uma besta.

Sacrossanta injustiça!

Se acontece o previsto por todo o Planeta Bola de o Galo se impor com um jogador a mais sem que Artur Jorge fizesse substituição imediata, seria Milito o bestial, o que segurou o Glorioso com um a menos e o derrotou com a vantagem.

Mais: caso Vargas, o autor do gol do eu acredito, o do 1 a 2, em seu segundo minuto no gramado portenho, tivesse aproveitado as duas outras claríssimas oportunidades que teve para virar o placar, acrescida a excelente atuação de Mariano também vindo do banco, e seu nome ecoaria pelas veias abertas da América Latina, pelas Minas Gerais, e do Monte Caburaí ao Arroio do Chuí.

Milito levou o Galo para duas finais de Copas e é olhado apenas como quem perdeu ambas. Está certo?

Há quem prefira ficar no meio do caminho a perder no fim, para não se frustrar. Questão de gosto.

Se Artur Jorge permanecerá no país, ou será seduzido por propostas que certamente virão do exterior, é interrogação que os próximos dias responderão.

O destino de Milito, ouvida a chiadeira atleticana, parece selado.

De bestial à besta, basta um pulo, falta um gol.