terça-feira, 2 de julho de 2024

Extrema direita da França é ruim, mas Trump é mais hipócrita, Paul Krugman NYT- FSP

 THE NEW YORK TIMES

França realizou o primeiro de dois turnos das eleições parlamentares no domingo, e o partido de "extrema direita" teve uma grande vitória.

Coloquei entre aspas porque os partidos de direita na Europa podem ser diferentes da extrema direita americana —o etnonacionalismo que mira os imigrantes é tão feio quanto, mas as políticas econômicas são menos hipócritas. Vou chegar a isso em breve.

O ex-presidente dos EUA, Donald Trump - Tom Brenner/Reuters

Antes de prosseguir, no entanto, quais são as implicações do bom desempenho do partido Reunião Nacional (RN)?

Pelo que entendi, ainda não está claro se a RN ganhará a maioria dos assentos e se será capaz de formar um governo, e em geral está muito incerto como a França funcionará dada a diminuição da força de Emmanuel Macron, que ainda será presidente.

Deixarei especulações sobre tais assuntos para pessoas que são especialistas de verdade em política francesa —não que eles saibam também.

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Em vez disso, deixe-me ser um americano típico e explorar o que os eventos na França podem significar para os Estados Unidos.

A primeira coisa a dizer é que os resultados das eleições francesas provavelmente têm menos a ver com ideologia do que você pode imaginar.

Os eleitores franceses, como em todo o mundo desenvolvido, estão de mau humor e direcionando sua ira contra os políticos no poder, sejam eles de direita, de esquerda ou de centro.

O Reino Unido, por exemplo, realizará sua própria eleição nesta quinta-feira (4) e, a menos que as pesquisas estejam muito erradas, o Partido Conservador, que governa o país há 14 anos, está a caminho de uma derrota ainda mais esmagadora do que os centristas de Macron.

Por que os eleitores estão tão irritados? Essa não é uma pergunta fácil de responder. Pelas medidas usuais, Macron tem sido um gerente bastante bem-sucedido da economia. A taxa de desemprego da França caiu significativamente em seu mandato, enquanto a taxa de emprego para adultos em idade ativa disparou.

Como quase todas as outras nações ricas, a França experimentou um surto de inflação à medida que a economia mundial se recuperava da pandemia de Covid-19 —na verdade, se você usar medidas comparáveis, os preços na França subiram aproximadamente a mesma taxa que nos Estados Unidos.

Mas também aqui, a inflação diminuiu rapidamente sem um aumento no desemprego, e o estado atual da economia parece bastante bom pelos padrões históricos.

Um comentário: os números mais recentes de inflação nos EUA foram ofuscados pelo debate presidencial da última quinta-feira, mas as notícias foram realmente boas.

Com 2,6% ao ano, a inflação está apenas marginalmente acima da meta de 2% do Federal Reserve (Fed). O pico na inflação medida no início deste ano agora parece ser apenas ruído estatístico, e há um bom argumento para afirmar que a inflação foi essencialmente derrotada e que o Fed deveria começar a reduzir as taxas de juros.

De volta à França. A economia francesa parece bastante boa, no entanto, os franceses não estão sentindo isso, ou pelo menos dizem aos pesquisadores que não estão sentindo; os números podem estar bons, mas os sentimentos estão ruins.

Apesar do alto emprego e da inflação relativamente baixa, a confiança econômica das famílias está muito abaixo da média histórica. Se isso faz lembrar a situação dos EUA, você está certo; as semelhanças são quase assustadoras.

Dito isso, os trabalhadores franceses têm algumas razões para se sentirem descontentes. Macron tentou ser um bom tecnocrata, elevando a idade de aposentadoria muito baixa da França em nome da responsabilidade fiscal.

Ele tentou reduzir as emissões de carbono aumentando os impostos sobre combustíveis, desencadeando protestos generalizados, enquanto acabava com um imposto sobre a riqueza que, segundo ele, estava prejudicando a economia francesa —uma medida que levou muitos a chamá-lo de "presidente dos ricos".

E em termos de política econômica, a RN basicamente fez campanha contra Macron pela esquerda. Prometeu reduzir a idade de aposentadoria para muitos trabalhadores enquanto cortava o imposto sobre energia. Como pagaria por essas medidas? Cortando benefícios para imigrantes.

Caso você esteja se perguntando: não, os números não batem. Mas deixando de lado a matemática, a RN efetivamente assumiu uma posição a favor de um Estado grande e benefícios sociais generosos, mas essencialmente apenas para pessoas com a origem étnica certa.

O contraste com o trumpismo deveria ser óbvio.

O Maga [Make America Great Again, slogan da campanha de Trump] compartilha a hostilidade da direita francesa aos imigrantes e a xenofobia geral.

Mas Donald Trump, muito mais do que Macron, realmente foi um presidente dos ricos, reduzindo os impostos sobre empresas e sobre os ricos enquanto tentava sem sucesso cortar benefícios de saúde para milhões.

E, se Trump for reeleito, não há motivo para pensar que ele não faria ainda mais para beneficiar os ricos em detrimento dos americanos comuns.

Ele até aventou a ideia de substituir os impostos de renda por tarifas —ou seja, impostos sobre importações. Assim como as ideias da RN, a matemática não bate; mas qualquer tentativa nesse sentido causaria grandes aumentos de preços para a grande maioria dos trabalhadores americanos, enquanto proporcionaria grandes ganhos de renda para o 1%.

Por isso passei anos argumentando que não devemos chamar Trump de populista. Sim, ele atende a alguns preconceitos populares. Mas suas ideias econômicas tornam a situação dos trabalhadores pior, enquanto os oligarcas americanos enriquecem ainda mais.

Então, sim, a direita francesa é ruim, e seu crescimento é alarmante. Mas o movimento Maga é pior, porque combina o horror da direita europeia com uma hipocrisia e desprezo por seus apoiadores impressionante.


Câmara deverá votar nesta terça criação do Parque do Bixiga e do Banespa, FSP

 A segunda e última votação na Câmara Municipal de São Paulo do projeto que cria o parque do Bixiga, na região central da cidade, está pautada para ser realizada nesta terça-feira (2). A expectativa é que a proposta seja aprovada, pondo fim a uma disputa de mais de quatro décadas entre o Teatro Oficina e o Grupo Silvio Santos, que pretendia construir no local três prédios de uso comercial e residencial.

Croqui mostra estudo preliminar para o Parque do Rio Bixiga - Divulgação
Croqui mostra estudo preliminar para o Parque do Rio Bixiga - Divulgação

No mesmo projeto está incluída uma emenda que transforma a área do Clube Banespa, alvo de uma disputa judicial, também em parque.

No caso do Bexiga, por sugestão da Bancada Feminista do PSOL na Câmara Municipal paulistana, o relator Rodrigo Goulart (PSD) incluiu uma emenda para que o entorno do parque seja considerado Território de Interesse da Cultura e da Paisagem (TIPC). Dessa forma, essa região estaria submetida a regras mais restritas para futuras construções e projetos imobiliários.

A covereadora Silvia Ferraro afirma que o objetivo é proteger a área de uma futura especulação imobiliária, que poderia expulsar os moradores atuais do local. "Isto deverá garantir a articulação de políticas habitacionais que garantam a manutenção da população residente e do perfil racial do local", afirma.

A implantação do parque era um sonho do diretor José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, fundador do Teatro Oficina que morreu há cerca de um ano, em julho do ano passado.

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Em março, a Justiça de São Paulo homologou um acordo de R$ 1 bilhão firmado entre o Ministério Público, a Prefeitura de São Paulo e a Uninove (Universidade Nove de Julho) segundo o qual R$ 51 milhões seriam utilizados para a compra do terreno de 11 mil metros quadrados, que sediará o futuro espaço.

Já em relação ao Banespa, a emenda transforma o terreno de 60 mil quadrados do clube em parque. Segundo o vereador Goulart, essa emenda é possível porque o projeto do Bixiga altera a relação de parques no Plano Diretor da cidade, o que viabilizaria, em sua visão, alterações legais que envolvam o mesmo tema.

Ele justifica a criação da área verde como forma de preservação da vegetação que ocupa grande parte do terreno.

A área, localizada no distrito de Santo Amaro, é alvo de uma ação judicial por meio da qual o Santander quer romper o contrato de comodato —empréstimo gratuito— com a associação que administra o Clube Banespa. Em caso de vitória do banco espanhol, o terreno cujo valor é estimado em aproximadamente R$ 1 bilhão poderia ser comercializado no mercado imobiliário.

A transformação do clube em parque impediria a construção de empreendimentos residenciais ou empresariais no local.

Com base rachada, governo Tarcísio recorre ao PT para fechar semestre na Alesp, FSP

 Guilherme Seto

SÃO PAULO

O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) segue com dificuldades para consolidar sua base de apoio na Assembleia Legislativa de São Paulo e precisou recorrer a um acordo com a bancada do PT para conseguir encerrar o primeiro semestre no Legislativo.

Segundo parlamentares, os problemas concentram-se hoje na insatisfação com o ritmo de pagamento de emendas impositivas, mecanismo que ganha ainda mais importância em ano eleitoral.

A imagem mostra um homem de meia-idade com cabelos grisalhos, vestindo um terno azul escuro, camisa branca e gravata azul clara. Ele está sentado em uma cadeira, olhando para o lado, com uma expressão séria. O fundo é escuro, destacando a figura do homem.
O governador Tarcísio de Freitas durante evento no Palácio dos Bandeirantes - Danilo Verpa-6.mai.2024/Folhapress

É por meio do envio de recursos que os deputados conseguem turbinar as gestões dos candidatos que apoiam nas cidades. As regras eleitorais determinam que pagamentos desse tipo só podem ocorrer até 6 de julho (sábado).

Também há certo incômodo com o estreitamento da relação do governador com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), escolhido por ele na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Parte da bancada bolsonarista prefere o coach Pablo Marçal (PRTB).

Na terça-feira (27), a base do governo na Alesp desistiu de votar projetos prioritários do Executivo por falta de quórum. No dia seguinte, quarta-feira (28), não conseguiu confirmar a presença de 48 deputados para votar o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2024, que precisa ser apreciado antes do fim das atividades do semestre para dar início ao recesso.

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Diante da dificuldade, líderes da base de Tarcísio apelaram aos parlamentares do PT na Alesp e costuraram um acordo. O 48º deputado a verificar presença na votação do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias foi Paulo Fiorilo, líder da bancada do PT.

Deputado Teonilio Barba (PT) na Alesp
Deputado Teonílio Barba (PT), 1º secretário da Alesp, durante sessão na Casa - Carol Jacob-5.dez.2019/Divulgação

Em troca da declaração de presença acertada com o PT, o governo desistiu de votar antes do recesso alguns projetos de seu interesse, como a isenção de IPVA para carro híbrido e a transferência de atribuições da Procuradoria-Geral do Estado para a Controladoria-Geral do Estado.

Além disso, também votou 15 projetos de parlamentares da federação do PT (que inclui também PCdoB e PV).

O deputado Teonilio Barba (PT), primeiro-secretário da Alesp, diz que Tarcísio "não tem tido habilidade política com a sua base no parlamento". Ele destaca que outros dois projetos prioritários só foram aprovados na terceira vez que foram a plenário: o das terras devolutas e o das escolas cívico-militares.

"Mesmo a LDO só teve quórum com o voto contrário da oposição, o que comprova a falta de compromisso da base do governador com o estado de São Paulo", afirma Barba.