quinta-feira, 8 de março de 2018

Atenção às mulheres, OESP


Em um ano eleitoral, é melhor prestar atenção nas demandas das eleitoras

Zeina Latif *, O Estado de S.Paulo
08 Março 2018 | 05h00
A desigualdade de gêneros é uma realidade. Mas seria injusto afirmar que o tema é negligenciado por formuladores de políticas públicas, gestores nos vários setores ou acadêmicos.
Existem muitos trabalhos acadêmicos sobre o tema, mas ainda há muita controvérsia sobre o peso relativo das diversas causas da desigualdade de gênero.
Uma área em que a diferença entre homens e mulheres é bem documentada é nas políticas de auxílio às famílias de baixa renda. São muitos os exemplos de que transferir os recursos para as mulheres, e não para os homens, aumenta a efetividade da política pública.
Na política habitacional, a experiência pioneira no Estado de São Paulo foi na gestão Mario Covas (1995-2001), que passou direcionar as moradias para as mulheres, em função da menor propensão a abandonar o lar.
No Minha Casa Minha Vida, 89% dos contratos são firmados pelas mulheres. No Bolsa Família, 93%. A avaliação é que o empoderamento feminino produz um melhor uso dos recursos transferidos.
Alguns críticos apontam que esses programas podem acabar reforçando a responsabilidade das mulheres nas tarefas tradicionais de cuidar dos filhos e da casa. É importante ponderar, no entanto, que o objetivo desses programas não é promover a igualdade de gênero, mas sim a igualdade de renda. Outras políticas devem focar a igualdade de gênero, sendo que envolver as mulheres nas políticas acima aumenta a capacidade de atingir os objetivos almejados.
Tanto é assim que o modelo brasileiro do Bolsa Família foi adotado em outros países com bons resultados.
A pesquisa acadêmica internacional provê evidências de que as mulheres fazem melhor uso dos recursos dos programas de transferências de renda, garantindo maior e melhor alimentação para a família (como na República da Macedônia) e maior poupança e investimento produtivo de mulheres em áreas rurais (como na Zâmbia).
Há também evidências, ainda que menos contundentes, de que o poder de decisão das mulheres é ampliado (Bolsa Família e Progresa/Oportunidades no México).
Na literatura econômica internacional, as pesquisas sobre a desigualdade de salários entre homens e mulheres têm avançado. Há várias evidências de que a maternidade impacta negativamente a produtividade e o rendimento das mulheres. Identifica-se também um menor engajamento e ambição das mulheres.
Não é esperado que as firmas remunerem igualmente seus funcionários nesses casos, pois isso afetaria a sua competitividade. Além disso, tentativas de evitar a queda da remuneração poderão ser contraproducentes ao desestimular o empenho dos demais funcionários (as).
Não deve surpreender a queda da taxa de fertilidade nos diversos países, que tem resultado no envelhecimento da população. Por isso mesmo, alguns países começam a adotar políticas públicas para incentivar a maternidade.
Já a suposta menor ambição profissional das mulheres merece reflexão. Aqui a questão cultural e de educação das meninas ganha peso. Aquilo que parece ser menor ambição pode ser, na realidade, a falta de referências (“role models”) que ajudem as jovens a serem mais competitivas. As pesquisas indicam que mães que trabalham aumentam a chance de a filha de ter sucesso profissional.
Mulheres têm diferentes interesses, habilidades e, muitas vezes, sentem dificuldades para mostrar sua competência. Os departamentos de recursos humanos precisam ser mais sensíveis a essas diferenças na seleção de funcionários e nas promoções.
As evidências não são conclusivas, mas há indicações que a diversidade de gênero ajuda melhorar a performance das empresas. Vale a pena estimular a participação feminina.
Finalmente, vale citar que as mulheres, que já são a maioria no ensino médio e no ensino superior (57% em 2015), também são mais numerosas nas urnas. Foram 6,2 milhões a mais em relação ao número de homens votando em 2014. Além disso, como ensina Fatima Pacheco Jordão, as mulheres são mais criteriosas no voto do que os homens.
Melhor prestar atenção nas demandas das eleitoras. Em um ano eleitoral, é melhor prestar atenção nas demandas das eleitoras.
* ECONOMISTA-CHEFE DA XP INVESTIMENTOS

O futuro da desigualdade: foco nos jovens de hoje, OESP


Relatório traz um alerta sobre nossa baixa produtividade, a qual limita o crescimento econômico e afeta nossa capacidade redistributiva

Sérgio Firpo*, O Estado de S.Paulo
07 Março 2018 | 21h17
Sabe-se se que o Brasil é um país profunda e historicamente desigual. A despeito da recente queda da desigualdade de renda que se iniciou nos anos 1990 e que foi abortada a partir de 2015, continuamos a ser um dos dez países com a maior desigualdade de renda no mundo. Melhorar a distribuição de renda no Brasil no longo prazo, requer dar oportunidades mais igualitárias aos nossos jovens. Mas o recente relatório do Banco Mundial intitulado “Competência e Emprego: Uma Agenda para a Juventude” nos revela que talvez não estejamos caminhando nessa direção.
O relatório traz um alerta sobre nossa baixa produtividade, a qual limita o crescimento econômico e afeta nossa capacidade redistributiva. Elevamos em mais de 50% a escolaridade média da população nos últimos 30 anos. Seria de se esperar que trabalhadores com mais anos de estudo fossem mais produtivos em seus postos de trabalho.
Mas ganhos agregados de produtividade do trabalho não ocorreram nesse período. Para esse potencial “puzzle” há diversas explicações, como a baixa qualidade da educação básica, a ponto de os anos de escolaridade a mais não se refletirem em ganhos de aprendizado dos alunos e a falta de competição no mercado de produtos, que permite a empresas pequenas contratar trabalhadores de baixa produtividade e ainda conseguir manter suas operações. Não há, assim, nem a geração de competências e habilidades que serão úteis no mercado de trabalho, nem a demanda pelas empresas por tais habilidades.
Claro que há grande heterogeneidade entre os jovens na aquisição das competências e habilidades valorizadas no mundo do trabalho. Há também enormes diferenças entre empregadores no que se refere à demanda por essas habilidades. Ocorre que o mercado acaba alocando jovens com menos competências técnicas, cognitivas e socioemocionais em postos de trabalho informais, onde a rotatividade é maior e a contínua acumulação de habilidades desnecessária ou desincentivada. Isso perpetua desigualdade, pois esses jovens terão uma aderência precária ao mercado formal de trabalho, permanecendo longos períodos inativos ou desempregados e com capacidade limitada de escapar da vulnerabilidade social no futuro.
A saída da armadilha que o País parece ter armado para si próprio, de baixo crescimento e alta desigualdade, depende da adoção de políticas públicas específicas. É imperativa a adoção de iniciativas que criem oportunidades para todos os jovens desenvolverem suas habilidades e de políticas que incentivem empresas a estimular o crescimento da produtividade de seus trabalhadores.
Precisamos mudar o foco das políticas públicas. O centro das políticas tem de estar em nossos jovens, ainda que, por restrições orçamentárias, tenhamos de reduzir os gastos, sobretudo previdenciários, com os mais velhos. A não ser que não nos importemos em ser listados de forma duradoura como top 10 nos rankings de desigualdade econômica.
* PROFESSOR DE ECONOMIA DO INSPER

CCJ do Senado rejeita projeto a favor de regulamentação de jogos de azar no Brasil, OESP

BRASÍLIA - Por 13 votos a 2, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado rejeitou proposta de regulamentação dos jogos de azar e a reabertura dos cassinos no Brasil. O texto, de autoria do presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), foi relatado pelo senador Benedito de Lira (PP-AL). No lugar, foi aprovada, de maneira simbólica, manifestação contrária do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). 
No voto em separado, Randolfe considerou que a exploração de jogos de azar incentiva a lavagem de dinheiro, tem "nefasto" impacto psíquico e sociofamiliar sobre o jogador e não deverá produzir aumento de receita tributária nem fomentar o turismo no Brasil, como alegam os defensores da matéria. 
"Acho que o Congresso Nacional, no dia de hoje, sepultou em definitivo esse absurdo. Num momento em que o Brasil debate problemas de segurança pública, aprovar projeto que facilita ações do tráfico de drogas e de arma e que vulnerabiliza a saúde dos cidadão seria o mesmo que o Congresso dar um tiro na própria cabeça, ainda bem que esse absurdo não prosperou", comentou Randolfe após o resultado.
Jogos de azar
Jogos de azar Foto: Celso Júnior/ Estadão
O parlamentar avaliou que não há experiência concreta em outros países que prove que a legalização dos jogos traria melhorias para a arrecadação de impostos no Brasil. "Ao contrário, os danos na saúde pública e as despesas ampliadas no Sistema Único de Saúde (SUS) seriam muito maiores do que eventuais arrecadações."
Durante as discussões na CCJ, Ronaldo Caiado (DEM-GO) defendeu que é preciso combater os responsáveis por jogos clandestinos, e não regularizar a atividade. "É triste, chega a ser deprimente diante da crise que vivemos, priorizar um projeto que, na minha opinião, é o mais permissivo já discutido no Congresso. Ao invés de cuidarmos de saúde e segurança pública, estamos aqui cuidando de jogos de azar, é difícil acreditar", declarou.
Ele lembrou casos de viciados em jogos e comparou com dependentes de drogas. "Existe um consumo de crack muito grande, então vamos regularizar uso de crack e não vamos combatê-lo? É algo inimaginável."
O senador Roberto Requião (MDB-PR) avaliou que jogos de cassinos são "instrumentos de lavagem de dinheiro do tráfico de armas, do tráfico de drogas e da corrupção generalizada". A senadora Simone Tebet (MDB-MS) considerou ainda que a regulamentação dos jogos de azar aumentaria os casos de sonegação de impostos no País e dificultariam ainda mais a fiscalização e controle.
Relator. Antes da votação, o senador Benedito de Lira defendeu seu parecer favorável à legalização e destacou que jogos clandestinos são uma "realidade no Brasil". Para ele, é preciso regulamentar a atividade para combater crimes como lavagem de dinheiro. "Lavagem de dinheiro existe hoje, crime existe hoje, porque tudo é feito às escondidas. Como se defende tese de não mostrar a cara para aquilo que está debaixo do tapete? Eu não posso entender isso. Visão ideológica é uma coisa, visão religiosa é outra, mas aqui estamos tentando regularizar uma atividade econômica."
Ele insinuou também que instituições como o Ministério Público têm conhecimento dos jogos clandestinos atualmente, mas não fiscalizam a atividade. Lira alegou ainda que "ninguém é obrigado a jogar". "Joga quem quer", afirmou.