Relatório traz um alerta sobre nossa baixa produtividade, a qual limita o crescimento econômico e afeta nossa capacidade redistributiva
Sérgio Firpo*, O Estado de S.Paulo
07 Março 2018 | 21h17
Sabe-se se que o Brasil é um país profunda e historicamente desigual. A despeito da recente queda da desigualdade de renda que se iniciou nos anos 1990 e que foi abortada a partir de 2015, continuamos a ser um dos dez países com a maior desigualdade de renda no mundo. Melhorar a distribuição de renda no Brasil no longo prazo, requer dar oportunidades mais igualitárias aos nossos jovens. Mas o recente relatório do Banco Mundial intitulado “Competência e Emprego: Uma Agenda para a Juventude” nos revela que talvez não estejamos caminhando nessa direção.
O relatório traz um alerta sobre nossa baixa produtividade, a qual limita o crescimento econômico e afeta nossa capacidade redistributiva. Elevamos em mais de 50% a escolaridade média da população nos últimos 30 anos. Seria de se esperar que trabalhadores com mais anos de estudo fossem mais produtivos em seus postos de trabalho.
Mas ganhos agregados de produtividade do trabalho não ocorreram nesse período. Para esse potencial “puzzle” há diversas explicações, como a baixa qualidade da educação básica, a ponto de os anos de escolaridade a mais não se refletirem em ganhos de aprendizado dos alunos e a falta de competição no mercado de produtos, que permite a empresas pequenas contratar trabalhadores de baixa produtividade e ainda conseguir manter suas operações. Não há, assim, nem a geração de competências e habilidades que serão úteis no mercado de trabalho, nem a demanda pelas empresas por tais habilidades.
Claro que há grande heterogeneidade entre os jovens na aquisição das competências e habilidades valorizadas no mundo do trabalho. Há também enormes diferenças entre empregadores no que se refere à demanda por essas habilidades. Ocorre que o mercado acaba alocando jovens com menos competências técnicas, cognitivas e socioemocionais em postos de trabalho informais, onde a rotatividade é maior e a contínua acumulação de habilidades desnecessária ou desincentivada. Isso perpetua desigualdade, pois esses jovens terão uma aderência precária ao mercado formal de trabalho, permanecendo longos períodos inativos ou desempregados e com capacidade limitada de escapar da vulnerabilidade social no futuro.
A saída da armadilha que o País parece ter armado para si próprio, de baixo crescimento e alta desigualdade, depende da adoção de políticas públicas específicas. É imperativa a adoção de iniciativas que criem oportunidades para todos os jovens desenvolverem suas habilidades e de políticas que incentivem empresas a estimular o crescimento da produtividade de seus trabalhadores.
Precisamos mudar o foco das políticas públicas. O centro das políticas tem de estar em nossos jovens, ainda que, por restrições orçamentárias, tenhamos de reduzir os gastos, sobretudo previdenciários, com os mais velhos. A não ser que não nos importemos em ser listados de forma duradoura como top 10 nos rankings de desigualdade econômica.
* PROFESSOR DE ECONOMIA DO INSPER
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