sexta-feira, 2 de março de 2018

MP se joga em roda de conversa de gênero , Sonia Racy OESP

EVENTO NO MPSP
Gianpaolo Smanio, procurador-geral de Justiça de SP, gastou ontem 5 minutos e 42 segundos para citar mais de 80 entidades que contribuíram com uma roda de conversa sobre igualdade de gênero, no Ministério Público.
A longa lista reunia órgãos oficiais e movimentos sociais – alguns que até já protagonizaram embates com autoridades. Todos foram ao centro de São Paulo para falar de políticas públicas e representatividade de gênero.
Como previsível, não faltaram disputas entre os grupos. Uma delegada estimulou mulheres a denunciarem assédio sexual pelos canais oficiais e, depois, uma assistente social reclamou de mau atendimento nas delegacias. Perguntas que causaram polêmica: é possível dizer que existem mulheres machistas? E como fica a questão das mulheres transexuais, que muitas vezes não encontram espaço em coletivos feministas?
Outras questões, embora complexas, tiveram resposta. Qual é o limite entre o assédio e o flerte? A psicóloga e psicanalista Maya Foigel ofereceu uma receita para o tema: “O assédio é um ato de constrangimento que gera medo, e é isso que vai causar danos na saúde mental da vítima. Se gerou constrangimento e gerou medo, é assédio.”
A violência doméstica também foi tema de um dos painéis. “Enquanto os homens estão morrendo no trânsito ou no bar, as mulheres estão morrendo dentro de casa, onde elas deveriam estar seguras”, lamentou a delegada Margarete Barreto, que atua contra crimes raciais e de intolerância. Ela explicou que o problema atinge mulheres de todas as classes sociais, etnias, idades e escolaridade. “Na periferia e nos Jardins.”
Barreto também citou letras de músicas de diferentes décadas que têm fundo machista. Uma, de 2012, diz: “Mulher foi feita para o tanque, homem para o botequim.”
A fala mais ovacionada partiu da ginecologista Albertina Duarte Takiuti, indicada ao Nobel da Paz de 2005. Ela contou que ouviu uma piada machista – “troca uma mulher de 60 por duas de 30”… –, e rebateu: “Você não dá conta nem de uma!”
O pedido do encontro partiu de 20 movimentos, mas o evento acabou recebendo adesões até a véspera. Lidia Passos, secretária de Integração da Procuradoria-Geral de Justiça e responsável pela reunião, conduziu três painéis de discussão enquanto consultava a plateia sobre o formato das discussões. “Igualdade é fundamental para nós, toda atuação do MP têm como âncora esse fundamento”, explicou à coluna. De lá saíram sete resoluções de combate à desigualdade.
O estilo das discussões foi importado de uma roda de conversas anterior, sobre moradia. Cármen Silva, do Movimento Sem Teto no Centro e da Frente de Luta por Moradia, explicou: “O MP é um órgão de justiça, então é com ele que nós temos que ter afinidade.” / PAULA REVERBEL

Produção de cachaça incrementa renda de canavicultores paulistas, Portal SP


Treinamento auxilia pequenos produtores de cana-de-açúcar a aumentarem sua arrecadação; São Paulo produz 45% da fabricação nacional
Sex, 02/03/2018 - 15h06 | Do Portal do Governo 
Quem já percorreu as estradas do interior paulista sabe que as paisagens são marcadas por grandes áreas de plantações de cana-de-açúcar. Por isso, não é surpresa que o Estado concentre, hoje, a maior quantidade de canaviais do país e seja referência mundial no setor sucroalcooleiro. Além do etanol e do açúcar, porém, a cana se destaca por ser a matéria-prima da produção de cachaça.
Atualmente, o Brasil produz cerca de 800 milhões de litros por ano da bebida. Só o Estado de São Paulo, de acordo com o Instituto Brasileiro de Cachaça (IBRAC), corresponde a 45% do volume total. Assim, este produto genuinamente brasileiro tem uma importante participação na economia do país e, sobretudo, dos produtores paulistas de cana-de-açúcar.
As diversas práticas realizadas nas lavouras interferem fundamentalmente na produção final da bebida. Pensando nisso, a Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Jaú da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, promoveu no final de fevereiro o IV Treinamento Prático sobre Produção de Cachaça.
O encontro teve palestras relacionadas a boas práticas de fabricação, cultivares, extração do caldo, fermentação, destilação e aspectos sensoriais da bebida. “Reconhece-se uma cachaça de boa qualidade quando ela apresenta cor, sabor, aroma e textura, ou viscosidade, característicos do processo de fermentação ou da harmonização dos produtos agregados ao processo de envelhecimento”, ensina Gabriela Aferri, chefe da UPD de Jaú da APTA.
O objetivo da instituição, que também promoveu um treinamento para produção de açúcar mascavo, melado e rapadura, foi apresentar aos pequenos canavicultores alternativas de processamento da cana-de-açúcar, podendo assim agregar valor à sua produção. “Grandes produtores têm acesso mais fácil à informação. Nós queremos levar esse conhecimento para quem não tem tanto acesso”, afirma Gabriela.
De acordo com o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado, Arnaldo Jardim, esses cursos permitem a diversificação de renda nas propriedades paulistas. “Isso é muito importante para melhorar a qualidade de vida do pequeno agricultor. Uma das diretrizes do governador Geraldo Alckmin é justamente termos foco no pequeno produtor e agricultor familiar em nossos trabalhos de pesquisa e transferência de tecnologia”, completa Jardim.

Juízes de passeata, POR Fábio Prieto*, O Estado de S.Paulo


Defesa da magistratura compete ao STF e ao Congresso, não ao sindicalismo de toga


02 Março 2018 | 03h00
Durante os debates federalistas nos EUA, Alexander Hamilton anotou que, “depois da vitaliciedade no cargo, nada pode contribuir mais para a independência dos juízes que uma estipulação definitiva de seus proventos. (...) No curso geral da natureza humana, o poder sobre o sustento de um homem equivale ao poder sobre sua vontade”.
Hamilton estava preocupado com as oscilações artificiais dos vencimentos dos juízes nos Estados. Ao defender a criação da poderosa Justiça Federal, não pretendia ver a independência dos novos magistrados ameaçada pela redução “política” dos salários. Não só o pragmatismo americano sabe que a remuneração compatível com a exigência da função é o melhor cimento para vincular o cidadão ao seu dever laboral, público ou privado. O princípio é de fácil compreensão. A execução exige engenho.
No Brasil, na reforma do Judiciário concluída com a, ainda vigente, Lei Orgânica da Magistratura (1979), os vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) foram fixados como teto, em nome da unidade nacional do Poder Judiciário. Para além dos vencimentos, foram listadas algumas vantagens pecuniárias na Lei Orgânica da Magistratura.
Na porta das finanças públicas a tranca foi posta em dispositivo da própria lei: “É vedada a concessão de adicionais ou vantagens pecuniárias não previstas na presente Lei, bem como em bases e limites superiores aos nela fixados”. O STF garantiu eficiência razoável ao sistema no curso dos anos, proibindo a concessão de outras vantagens, por lei federal ou estadual.
No início dos anos 2000, o Brasil fez outra reforma do Judiciário. Criou os Conselhos Nacional de Justiça (CNJ) e Nacional do Ministério Público, sem extinguir dois outros então atuantes, o da Justiça Federal e o Superior da Justiça do Trabalho. O contribuinte brasileiro passou a ser o único no mundo a sustentar o modelo dispendioso, com quatro estruturas.
Sob a inspiração da superação do autoritarismo e da consagração da atuação paritária, o CNJ foi composto por conselheiros escolhidos a partir do conceito de representação. Há representantes dos tribunais, dos juízes de primeiro grau, dos advogados, do Ministério Público e do Congresso Nacional.
Os princípios são generosos. Mas aplicados no projeto errado. O conselho de um Poder do Estado não é órgão de representação paritária, mas de gestão pública e institucional.
No sistema de Justiça, seus integrantes precisam ser os mais experientes, com a posição funcional mais estável. E a mais elevada, não apenas para enfrentar o dilema das graves decisões, mas, ainda, por questão essencial da democracia: a plena visibilidade, para a fiscalização eficaz da sociedade e da imprensa. Os cidadãos devem saber o nome dos juízes responsáveis pela alta gestão do Poder Judiciário, como em qualquer país civilizado.
O Brasil tem grupo qualificado e institucionalmente livre para a tarefa: os ministros do STF. Cometeu-se grave equívoco, todavia: só o presidente do STF foi escolhido para compor o CNJ. O dirigente máximo do Poder Judiciário pode ser constrangido a tomar decisões cercado pela inexperiência e pela instabilidade – os conselheiros têm mandato curto e precário de dois anos.
Os outros três conselhos ainda podem decidir a mesma questão ou tese. A confusão – cara para o contribuinte – é geral.
A reforma do Judiciário foi manipulada para introduzir no sistema de Justiça a mensagem da luta de classes entre “nós e eles”: juízes de tribunal contra os “da base”, de primeiro grau. Como a divisão é artificial, a conciliação, que não era necessária, veio com a acomodação realizada por meio do aumento exponencial das estruturas burocráticas sustentadas pelo contribuinte.
Grupos ditos de trabalho, gabinetes, comissões, seminários, conselhos para dar conselhos aos conselhos, laboratórios, assessorias – a nova elite burocrático-sindical da reforma do Judiciário não sabe o que é julgar processos. Tudo é permitido em nome de um mundo melhor, menos fazer sentenças. Há campeões de sinecura que não redigem uma sentença há cinco, dez anos.
A partilha dos “penduricalhos” não poderia ser feita só com as relações de compadrio. Surgiram, então, as “eleições diretas” sem povo no sistema de Justiça. A pele da democracia vestida pelo assembleísmo corporativo-sindical. O método aplicado para a ruína de nosso futuro, nas universidades públicas, veio para a condenação do presente, nas Cortes de Justiça.
A última reforma do Judiciário produziu muitos danos e, passados mais de 13 anos, com gastos públicos bilionários, não atingiu sequer um de seus poucos objetivos: a definição do sistema de remuneração da magistratura, com respeito ao teto constitucional. O mais grave dano é o mais difícil de chegar à percepção da sociedade: a sindicalização da magistratura. Era. Há poucos dias o sindicalismo de toga expôs ao conhecimento público a sua grande novidade, o juiz de passeata.
Em ato sem precedentes na História do Brasil, a caravana sindical cinco-estrelas, em dia de expediente pesado para os demais magistrados, fez “protesto” no prédio-sede do STF. Porque não tem nada com isso, consciente de que, seja qual for a adversidade, nunca é hora para realizar assembleia de marinheiros no sindicato dos metalúrgicos, a magistratura séria e trabalhadora continua a aguardar que Alexander Hamilton seja inspirador para as instituições brasileiras.
O assunto público e estratégico da remuneração dos magistrados é responsabilidade do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional. Não pode ser privatizado pelo descansado sindicalismo de toga.
*DESEMBARGADOR DO TRIBUNAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO (SP E MS), DO QUAL FOI PRESIDENTE E CORREGEDOR, DIRETOR CONSELHEIRO  DA INTERNATIONAL ASSOCIATION OF TAX JUDGES, JUIZ DO TRE-SP, FOI ADVOGADO E PROMOTOR DE JUSTIÇA DE ENTRÂNCIA ESPECIAL EM SÃO PAULO (1º LUGAR, MELHOR TRABALHO FORENSE, 1989, NA ÁREA DOS DIREITOS DO CIDADÃO