Gianpaolo Smanio, procurador-geral de Justiça de SP, gastou ontem 5 minutos e 42 segundos para citar mais de 80 entidades que contribuíram com uma roda de conversa sobre igualdade de gênero, no Ministério Público.
A longa lista reunia órgãos oficiais e movimentos sociais – alguns que até já protagonizaram embates com autoridades. Todos foram ao centro de São Paulo para falar de políticas públicas e representatividade de gênero.
Como previsível, não faltaram disputas entre os grupos. Uma delegada estimulou mulheres a denunciarem assédio sexual pelos canais oficiais e, depois, uma assistente social reclamou de mau atendimento nas delegacias. Perguntas que causaram polêmica: é possível dizer que existem mulheres machistas? E como fica a questão das mulheres transexuais, que muitas vezes não encontram espaço em coletivos feministas?
Outras questões, embora complexas, tiveram resposta. Qual é o limite entre o assédio e o flerte? A psicóloga e psicanalista Maya Foigel ofereceu uma receita para o tema: “O assédio é um ato de constrangimento que gera medo, e é isso que vai causar danos na saúde mental da vítima. Se gerou constrangimento e gerou medo, é assédio.”
A violência doméstica também foi tema de um dos painéis. “Enquanto os homens estão morrendo no trânsito ou no bar, as mulheres estão morrendo dentro de casa, onde elas deveriam estar seguras”, lamentou a delegada Margarete Barreto, que atua contra crimes raciais e de intolerância. Ela explicou que o problema atinge mulheres de todas as classes sociais, etnias, idades e escolaridade. “Na periferia e nos Jardins.”
Barreto também citou letras de músicas de diferentes décadas que têm fundo machista. Uma, de 2012, diz: “Mulher foi feita para o tanque, homem para o botequim.”
A fala mais ovacionada partiu da ginecologista Albertina Duarte Takiuti, indicada ao Nobel da Paz de 2005. Ela contou que ouviu uma piada machista – “troca uma mulher de 60 por duas de 30”… –, e rebateu: “Você não dá conta nem de uma!”
O pedido do encontro partiu de 20 movimentos, mas o evento acabou recebendo adesões até a véspera. Lidia Passos, secretária de Integração da Procuradoria-Geral de Justiça e responsável pela reunião, conduziu três painéis de discussão enquanto consultava a plateia sobre o formato das discussões. “Igualdade é fundamental para nós, toda atuação do MP têm como âncora esse fundamento”, explicou à coluna. De lá saíram sete resoluções de combate à desigualdade.
O estilo das discussões foi importado de uma roda de conversas anterior, sobre moradia. Cármen Silva, do Movimento Sem Teto no Centro e da Frente de Luta por Moradia, explicou: “O MP é um órgão de justiça, então é com ele que nós temos que ter afinidade.” / PAULA REVERBEL
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