sábado, 8 de julho de 2017

Em livro recente, professores rompem silêncio sobre crise financeira da USP, FSP


Eduardo Anizelli - 24.nov.2016/Folhapress
Praça do Relógio, no campus da Cidade Universitária da USP
Praça do Relógio, no campus da Cidade Universitária da USP

RESUMO A melhor universidade brasileira em rankings internacionais coleciona orçamentos deficitários desde o começo desta década. Gastos com salários e benefícios cresceram em ritmo incompatível com a arrecadação. Em livro, estudiosos da casa buscam as raízes do desarranjo contábil e listam sugestões para superá-lo.
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A atual crise financeira da USP é como aqueles temas espinhosos que causam maremotos surdos na família. Nos corredores acadêmicos, trata-se dela a meia voz, sem alvoroço –mas insistentemente.
O coro de sussurros é uníssono: a melhor universidade brasileira em rankings internacionais se vê hoje apanhada num caos que ela própria ensejou e cuja superação não se avista com facilidade.
Em 2013, a instituição despendeu só com salários mais do que recebeu do governo paulista (R$ 4,1 bilhões). Não espanta que as contas daquele ano tenham sido reprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado. A recomendação legal é que no máximo 75% do orçamento seja gasto com a folha de pagamentos.
Diante do silêncio público de boa parte de seus pares acerca do desarranjo contábil, o professor Jacques Marcovitch, ex-reitor da USP, convocou oito renomados colegas para dissecar o tema em alto e bom som –ou com todas as letras, no livro "Universidade em Movimento" [Com-Arte/Fapesp, 256 págs., R$ 40].
Os ensaios foram adaptados de uma edição da "Revista USP" de 2015. Naquele ano, debateu-se em um seminário o que os autores chamam de desequilíbrio financeiro da USP. Essas análises, reflexões e recomendações agora saem do âmbito estrito da universidade.
Sendo uma antologia de apontamentos científicos, os capítulos do livro resultam por vezes herméticos para o leitor leigo.
Mas a coletânea tem o inestimável valor de lançar luz sobre um assunto sensível. Não se pode silenciar quando está em crise uma instituição que abriga quase 95 mil estudantes (entre graduação e pós). É preciso entender os motivos desse desequilíbrio e avaliar soluções para ele.
MEA-CULPA
Alguns dos autores incorrem numa espécie de confissão. Admitem que assistiram perplexos a uma sequência de decisões equivocadas da gestão João Grandino Rodas (2009-2013), cujo nome nem sequer é mencionado nos artigos selecionados.
Naquele momento, a USP "via-se incapacitada de gerir, com sucesso, seus próprios recursos orçamentários", segundo escreve Alexandre Sassaki, cuja tese de doutorado (orientada por Marcovitch) originou a segunda parte do livro –a primeira reúne textos do orientador e de seus colegas.
Defendido em 2016, o trabalho acadêmico de Sassaki constitui um raro estudo brasileiro sobre governança universitária (área comum nos EUA e na Europa).
Superados os trechos com a descrição detalhada da metodologia de pesquisa, o leitor encontrará uma compilação de números que não deixam dúvida quanto à afirmação de que a USP gastou muito mais dinheiro do que dispunha.
Um exemplo é o dos reajustes do valor do vale-refeição pago a servidores. O levantamento é o primeiro a sublinhar a disparidade entre o aumento do benefício (74,16%) e a inflação (24,16%) no intervalo de 2010 a 2013. Na prática, cada vale equivalia em 2013 a R$ 29, contra R$ 15,90 três anos antes.
Nesse período, o montante gasto anualmente pela USP, somados vale-refeição e auxílio-refeição, subiu de cerca de R$ 100 milhões para mais de R$ 300 milhões.
Não é a única face de uma gestão financeira perdulária que Sassaki dá a ver. O pesquisador também mostra que o prêmio pago aos servidores da instituição segundo a posição da universidade em rankings internacionais e outros critérios de qualidade oscilou significativamente no intervalo de um ano, saltando de R$ 3.500 em 2011 para R$ 6.000 em 2012. O bônus acabaria sendo extinto em 2014.
O efeito desses valores é significativo quando eles são multiplicados pelo total de trabalhadores contratados, cujo número também aumentou no período analisado. Em 2010, havia 5.863 funcionários e 16.185 professores; em 2013, eram 6.009 e 17.448, respectivamente.
ANO INTERMINÁVEL
A torneira de gastos foi aberta com mais intensidade em 2011, o ano que não acabou, na expressão dos autores do livro sobre a universidade paulista. Isso porque seu impacto financeiro é sentido até hoje. Foi ali que a curva das despesas desbancou a da arrecadação; a partir de 2012, o orçamento da instituição passaria a ser deficitário.
Os gastos com salários, contratações e obras, no entanto, não recuaram diante do desequilíbrio financeiro que se materializava. Com isso, a poupança da universidade, iniciada em 2001 para arcar com as aposentadorias vindouras, encolheu 36%, passando de R$ 3,6 bilhões em 2012 para R$ 2,3 bilhões em 2014, segundo Marcovitch.
Uma das fragilidades da obra é tratar a gestão de João Grandino Rodas como um corpo isolado, sem lhe oferecer um contexto, uma inscrição na cronologia da USP. Como dito anteriormente, o nome do reitor não é citado.
Também fica de fora qualquer apresentação das delicadas circunstâncias em que se deu a nomeação de Rodas ao cargo máximo da universidade. O advogado era o segundo nome de uma lista tríplice derivada de consulta interna e encaminhada ao governador.
Na época, José Serra (PSDB-SP) preferiu Rodas ao mais votado, Glaucius Oliva, engenheiro da USP de São Carlos –que, mais tarde, viria a se tornar presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) na gestão de Dilma Rousseff (PT).
Foi apenas a segunda vez que o número dois da lista assumiu o comando da USP –a outra havia sido em 1981, no governo Paulo Maluf (PP-SP).
Rodas, por força desse histórico, enfrentou um clima hostil no começo de seu mandato.
Se fosse um trabalho jornalístico, "Universidade em Movimento" traria também a versão de João Grandino Rodas. Em entrevistas à imprensa antes de iniciar sua espécie de exílio autoimposto (ele não foi nem à posse de seu sucessor em 2014), Rodas disse, por exemplo, que não tomara decisões sozinho.
Procurado para comentar o livro, o ex-reitor afirma que nem sabia de sua existência. Antes mesmo de ler a obra, deixa uma crítica: "Acho no mínimo estranho que um reitor da USP escreva sobre a gestão de um colega sem ter obtido informações e depoimentos também com o próprio interessado".
SEM CONSULTA
O que o material organizado por Sassaki aponta, entretanto, é que medidas que representaram golpes duros nas contas da instituição, como o aumento do prêmio a servidores e o reajuste do valor do vale-refeição, não passaram pelo escrutínio do Conselho Universitário. Elas simplesmente não constam de atas.
Alguns dos principais críticos de Rodas, como o médico Marco Antonio Zago, atual reitor, e o engenheiro Vahan Agopyan, que assina um dos textos do livro, integraram a gestão que se propõem a dissecar –o primeiro como pró-reitor de pesquisa, o segundo como pró-reitor de pós-graduação.
Em dezembro de 2013, Zago elegeu-se internamente fazendo oposição ao chefe. Quando assumiu, no ano seguinte, interrompeu obras, cortou benefícios e iniciou um polêmico programa de demissão voluntária de servidores –iniciativa apoiada abertamente por alguns dos colaboradores do livro de Marcovitch. As demissões reduziram em 8% o número de funcionários técnico-administrativos.
O ponto em que os autores convergem de forma unânime é a oposição a um pedido de socorro financeiro ao governo do Estado. Isso significaria competir com áreas como educação básica, saúde e transportes por uma fonte limitada de verba.
A solução para o desarranjo das contas da USP não passa por nenhum "deus ex machina" (um daqueles expedientes artificiosos e de suposto efeito instantâneo). O time de colaboradores de "Universidade em Movimento", todo uspiano, sabe bem disso.
O que a coletânea oferece são sugestões, como a da especialista em direito à educação Nina Ranieri (única mulher da equipe), que recomenda um esforço para fixar, em até cinco anos, um teto para os gastos com folha de pagamentos: 85% do orçamento. "Se a meta não for alcançada, a universidade deverá apresentar justificativa ao governo do Estado", escreve.
Ranieri também propõe que o governador receba anualmente um documento acerca do "estado da arte da universidade", cujo teor abrangeria as mudanças em curso também na Unicamp e na Unesp, além das da USP.
Não existe nada próximo disso atualmente. As universidades estaduais paulistas são autônomas do ponto de vista didático-científico, administrativo, financeiro e patrimonial desde 1989. Ou seja, podem tomar decisões sobre abertura de cursos e de linhas de pesquisa, benefícios salariais ou compra de terrenos ou prédios sem autorização do governo.
Nenhum dos autores parece questionar esse modelo. No entanto, como escreve Sassaki, remetendo à especialista em educação Eunice Durham (também da USP), autonomia é diferente de soberania. Uma universidade autônoma não tem liberdade para desrespeitar as leis.
SABINE RIGHETTI, 36, é jornalista, organizadora do RUF - Ranking Universitário Folha e pesquisadora doutora de política científica associada à Unicamp. 

Cúpula tucana perde controle da bancada, OESP



Enquanto parte das principais líderes do PSDB defende governo, grupo de parlamentares declara voto para aceitar denúncia contra Temer



Pedro Venceslau, Juliana Diógenes e Thiago Faria, O Estado de S.Paulo
08 Julho 2017 | 05h00
BRASÍLIA - Conhecido por ser um partido que define suas diretrizes em um colegiado pequeno de quadros, o PSDB enfrenta um descolamento entre sua cúpula e as bancadas na Câmara e no Senado. Os senadores Aécio Neves, José Serra, o governador Geraldo Alckmin e o ministro Aloysio Nunes Ferreira, que defendem a permanência da legenda no governo, perderam o controle sobre os parlamentares da sigla. Pelo placar do Estado, 14 dos 46 deputados do PSDB dizem que vão votar a favor da admissibilidade da denúncia da Procuradoria-Geral da República. Apenas três votarão contra e 30 estão indecisos ou não quiseram responder.
A contabilidade interna, porém, é mais dramática para os governistas. “A maioria quer que o partido entregue os cargos. Mas não iremos para a oposição e apoiaremos as reformas”, disse o líder tucano na Câmara, Ricardo Tripoli (SP). Para evitar o desgaste de uma reunião da Executiva tucana em Brasília para deliberar sobre a permanência ou desembarque do governo, os tucanos “históricos” articulam um encontro reservado em São Paulo nesta segunda-feira, 10.

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O líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (ao microfone), fala em reunião do partido realizada em junho, em Brasília Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO
A tensão no partido atingiu seu ápice após o presidente interino, senador Tasso Jereissati (CE), dizer que o País “beira a ingovernabilidade”. A declaração irritou Temer e seus aliados tentaram convencer os governadores tucanos a divulgarem uma nota de repúdio. 
Apesar da maioria dos sete governadores do PSDB estar alinhada com o presidente Michel Temer, a ideia não vingou. Quem acabou fazendo a réplica então foi o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes. Ele escreveu no Twitter que “nem Lula nem Dilma tiverem esse tratamento de nossa parte quando éramos oposição”.
Isolamento. Um dos aliados mais próximos de Aécio, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) repetiu, nesta sexta-feira. 7, o discurso que cresce no partido: o de que chegou a hora de os tucanos desembarcarem do governo Temer. A posição de Cunha Lima isola cada vez mais o mineiro, que retomou o mandato nesta semana com um pronunciamento em defesa da manutenção do apoio a Temer.
Presidente interino do Senado enquanto o titular, Eunício Oliveira (PMDB-CE), substitui Temer no Palácio do Planalto, Cunha Lima afirmou que será o PMDB, e não o PSDB, o responsável por um eventual fim precoce da atual gestão. 
“Podemos estar diante do início do fim com a posição do deputado-relator da denúncia na CCJ da Câmara, que é do PMDB. Porque o presidente Michel Temer não tem nenhum apoio popular, não tem apoio de setores organizados da sociedade, se sustenta basicamente com apoio parlamentar. Se no seu próprio partido esse apoio estremece, é claro que podemos ter um efeito dominó, que poderá levar a um colapso com o desfecho do acolhimento da proposta do procurador-geral (Rodrigo Janot)”, afirmou Cunha Lima, em referência à votação sobre o acolhimento da denúncia contra Temer na Câmara.
Disputa. Segundo ele, o PSDB não pode “virar as costas” para a sua base e deve ouvir os deputados, hoje maioria pelo desembarque. “É o momento de o partido ouvir não os caciques, mas os deputados, que estão no enfrentamento cotidiano do problema e devem ser respeitados”, disse Cunha Lima.
Tripoli também saiu em defesa do presidente interino da legenda. “O Tasso está verbalizando aquilo que pensa a maioria das bancadas no Senado e na Câmara. Isso vai na contramão do que o Aloysio está falando.” 
Discordância. Já o prefeito de São Paulo, João Doria, foi no sentido contrário. “Entendo que o PSDB, para tomar uma medida, deve construir isso dentro de uma reunião. Não creio que apenas o presidente, ainda que com todo respeito que devemos ao senador Tasso Jereissati, possa tomar uma decisão dessa natureza individualmente”, afirmou.
Apesar de defender a permanência do PSDB no governo, Alckmin evita dar declarações contundentes. “É evidente que o quadro político foi agravado, temos um quadro bastante grave. Mas temos de separar bem as questões políticas das questões de interesse do País”, afirmou o tucano. / COLABOROU ANDRÉ ÍTALO ROCHA 

Cotas na USP: tiro errado no alvo certo, Fernado Reinach OESP (definitivo)



Solução covarde e simplista de quem não acredita que o ensino público pode ser melhorado






Fernando Reinach, O Estado de S.Paulo
08 Julho 2017 | 03h00
A Universidade de São Paulo (USP) é a melhor universidade da América Latina e um dos melhores exemplos de injustiça distributiva. O ensino na USP é pago. Ela recebe 5,03% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) recolhido no Estado. Quando você compra um saco de arroz está pagando o ensino oferecido pela USP. Como é pago por todos os cidadãos, a USP não cobra diretamente dos alunos.
O público da USP são os estudantes que terminam o ensino médio. O censo escolar do Estado de São Paulo (2014) mostra que existiam aproximadamente 530 mil alunos cursando o terceiro ano do ensino médio, potenciais candidatos a seguir estudos na USP. Desse total, 444 mil (83%) estudam em escolas públicas e 86 mil (17%) em escolas privadas. Portanto, se a chance de ingressar na USP fosse igual para alunos de escolas públicas e privadas, 83% dos 11 mil alunos que ingressaram na USP em 2014 seriam de escolas públicas e 17% de escolas privadas. 
Mas a realidade é muito diferente. Em 2014 somente 32% dos ingressantes vieram de escolas públicas, 68% vieram de escolas privadas. Dos 444 mil potenciais candidatos da escola pública, somente 3.520 foram contemplados com uma vaga na USP (0,79%). Por outro lado, dos 86 mil alunos da escola privada, 7.480 foram contemplados (8,6%). Alunos de escola privada tem 11 vezes mais chances de entrar. Sem os pontos bônus recebidos pelos alunos da escola pública essa diferença seria ainda maior. É isso que se chama injustiça distributiva: todos pagam, mas só alguns ficam com o benefício.
O processo de seleção da USP não discrimina alunos da escola pública. A prova é exatamente igual. Na inscrição e na correção das provas, a informação sobre a origem do aluno, sua raça, cor, ou renda familiar não é levada em conta. A única razão para essa enorme injustiça distributiva é o pior preparo dos alunos da escola pública. É simples e óbvio: o ensino público no Estado de São Paulo é pior que o ensino privado. Dada a diferença de poder aquisitivo, os pobres só têm a opção da escola pública e acabam fora da USP. Uma forma indireta de discriminação.
Essa injustiça distributiva precisa ser corrigida. É correta a meta de incluir mais alunos da escola pública na USP. Existem duas formas de corrigir essa distorção. A escola pública pode melhorar sua qualidade, garantindo que seus alunos passem no vestibular, ou a universidade pode discriminar favoravelmente os alunos da escola pública, dando pontos extras ou garantindo uma fração das vagas para esses alunos.
Esta semana, a USP decidiu pela segunda estratégia: vai garantir um número de vagas crescente para alunos da escola pública até que esse número chegue a 50% em 2021. Não explicou por que não adotou a meta de 83% que seria o matematicamente justo.
Foi uma decisão populista. A universidade optou pela solução fácil e rápida, baixou a régua para os alunos da escola pública, transformou um sistema meritocrático em discriminatório. A partir de agora, dois grupos de alunos ingressarão. Os que sabem mais e os que sabem menos. Se o ensino continuar calibrado para os que sabem mais, os que sabem menos serão abandonados à própria sorte. É difícil ensinar os dois grupos simultaneamente. No longo prazo, a USP será obrigada a segregá-los em classes distintas. O suprassumo da discriminação. Outra opção é abaixar o nível do ensino, o que seria indesculpável, pois a USP determina a altura do sarrafo para todas as universidades brasileiras.
A meta de aumentar a participação dos alunos das escolas públicas deveria ter sido colocada no colo de quem tem culpa pelo problema: os gestores do ensino médio. A sociedade deveria exigir desses gestores uma taxa crescente de aprovação no exame de ingresso da USP. Esse desafio ajudaria a melhoria do ensino público, colocando uma meta concreta, de fácil apuração. De quebra evitaria os problemas de discriminação intrínsecos ao sistema de cotas.
A verdade é que os envolvidos preferiram uma solução que não exige esforço, a dos preguiçosos. Essa decisão, que em última análise é responsabilidade do governo de São Paulo, gestor da USP e das escolas, é um testemunho da descrença na possibilidade de melhorar o ensino público no curto prazo.
Essa descrença não tem razão de ser. Os melhores alunos das escolas públicas são capazes de ingressar na USP. Um experimento que demonstra cabalmente o potencial desses alunos são os resultados do Instituto Acaia no seu programa Sagarana. Faz 12 anos o Acaia seleciona 36 alunos ao fim do segundo ano do ensino médio de escolas públicas da zona oeste de São Paulo. Oferece a eles um ano de curso intensivo com o objetivo de ajudá-los a entrar nas universidades públicas. 
As aulas são à noite e aos sábados. Não é cursinho, são três anos de ensino médio em um. Os alunos são selecionados com base em seu interesse, motivação e desempenho escolar. Apesar da carga didática alta, a taxa de desistência não chega a 10%. E agora você vai se espantar. A taxa de aprovação dos alunos do Sagarana nas universidades públicas é de 62,61% (quase 80 vezes maior que os 0,79% de todos os alunos das escolas públicas). Se a esse número você acrescentar as universidades privadas de primeira linha (como a FGV), a porcentagem chega a 73%, e inacreditáveis 94% se incluirmos todas as universidades privadas. O Acaia já colocou 468 alunos nessas universidades, incluindo a Faculdade de Medicina da USP. Imagine a autoestima desses alunos que não dependeram de cotas.
A cada ano entram na USP aproximadamente 3.500 alunos das escolas públicas. Para dobrar esse número bastaria oferecer um programa semelhante a 5 mil alunos da escola pública (1% do total de alunos do terceiro ano). Caso 70% fossem aprovados, dobraríamos em um ano o ingresso de alunos da escola pública na USP. Para atingir essa meta bastariam 100 programas semelhantes ao Acaia Sagarana espalhados pelos municípios do Estado de São Paulo, com 50 alunos em cada programa. Ao longo dos anos esse programa poderia ser estendido a todos os alunos. Ninguém vai me convencer que isso não é factível, falta vontade. 
É por isso que acredito que as cotas são uma solução covarde e simplista de quem não acredita que o ensino nas escolas públicas pode ser melhorado e sequer tem a coragem de tentar. Um tiro errado no alvo certo.