sexta-feira, 21 de abril de 2017

Relator acena com alívio nas regras para servidores, e governo teme mais recuos na reforma da Previdência , O Globo

BRASÍLIA E WASHINGTON - O relator da reforma da Previdência, deputado Arthur Maia (PPS-BA), quebrou um acordo com o governo e sinalizou que vai alterar a regra de transição para os servidores públicos, que ele havia combinado endurecer com o Executivo no início da semana. O movimento ocorreu um dia após nove entidades representativas de juízes e procuradores encaminharem manifesto a Maia criticando a decisão de permitir paridade (direito de continuar recebendo os reajustes de quem está na ativa) e integralidade (direito a manter o salário integral de quando estava na ativa) só para servidores que se aposentarem com idade mínima de 65 anos.
O governo teme ainda que o relator faça novas concessões. Isso porque o parlamentar também está sofrendo pressões de outras categorias organizadas. Professores, sobretudo mulheres, brigam para manter uma idade mínima de aposentadoria inferior à dos homens da mesma profissão. Na avaliação da equipe econômica, novos recuos nas regras poderão reduzir a eficácia da reforma. Ontem, em Washington, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou as mudanças estão no limite do que pode ser feito “sem alterar o equilíbrio fiscal”.
Maia não admitiu o alívio para os servidores abertamente. Mas durante a leitura de seu relatório, ontem, na comissão especial que trata do tema, divulgou uma errata informando que vai rever as regras de transição dos servidores. “É evidente que a súbita imposição das idades de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres como condição de acesso à paridade e à integralidade contrariam o que se entende como respeito à expectativa de direito, razão pela qual serão elaboradas regras mais compatíveis com os legítimos interesses envolvidos no assunto”, disse o texto.
Para o Palácio do Planalto e integrantes da equipe econômica, isso foi visto como um sinal claro de que Maia vai atender à demanda dos magistrados e procuradores. Para os técnicos do governo, o deputado tem uma situação frágil uma vez que foi citado nas delações da Operação Lava-Jato.
— Ele tomou a decisão sem comunicar Temer, Eliseu Padilha (ministro da Casa Civil), Henrique Meirelles ou Marcelo Caetano (secretário de Previdência), com a intenção de salvar a própria pele — disse um interlocutor do governo.
PRESSÃO DA BANCADA FEMININA
Perguntado sobre a errata ontem à noite, Maia foi cauteloso e não fez qualquer menção aos magistrados e procuradores. Ele apenas explicou que os servidores públicos têm regras diferentes dependendo do ano em que ingressaram na carreira. Até 2003, os servidores tinham direito a se aposentar com salário integral. Mas, com a reforma atual, para conseguir esses valores, eles terão que atingir a idade mínima. No projeto original encaminhado ao Legislativo, a idade mínima era a mesma para homens e mulheres, de 65 anos. Mas com a alteração, a proposta terá que ser ajustada para que as mulheres que ingressaram no serviço público antes de 2003 tenham aposentadoria integral aos 62 anos.
— Não tem flexibilização nenhuma. Permanece a regra de 65 anos. A errata está propondo que seja considerada a condição de quem entrou antes de 2003. Como ontem houve a mudança de 65 anos para homens e de 62 anos para mulheres, essa condição tem que ser transplantada para a regra de integralidade. A mulher que entrou em 2003 não precisará mais ter 65 anos (para se aposentar), mas 62 anos.
No manifesto, a Frente Nacional da Magistratura e do Ministério Público e outras seis associações representativas criticam o endurecimento das regras para os que ingressaram no serviço público antes de 2003: “Não se trata de uma proposta digna do cuidado com que o relator estudou esta matéria. Não é constitucional, pela absoluta falta de proporcionalidade e desrespeito completo às regras vigentes. E, para além da injustiça profunda mantida contra os servidores públicos, não se sustentará perante o Poder Judiciário, fique alerta o país disso”.
O sinal amarelo para a equipe econômica de que Maia cederia a pressões acendeu logo cedo, depois que ele iniciou ontem a leitura de seu relatório na comissão especial. De forma inesperada, o relator informou que a idade mínima para a aposentadoria das mulheres na área rural seria de 57 anos e não mais de 60 anos, como havia informado na véspera. O deputado também recuou da ideia de fixar o tempo de contribuição rural em 20 anos. Em seu relatório, ele propôs que o prazo ficasse mantido em 15 anos, como já ocorre.
Perguntado sobre as novas mudanças, Maia brincou ontem dizendo que tinha trazido “uma surpresinha” no relatório. O argumento do deputado para que mulheres rurais tivessem uma idade mínima menor é que a regra para elas deveria acompanhar a norma geral, pela qual homens poderão se aposentar aos 65 anos e mulheres aos 62 anos. No entanto, essa avaliação pode acabar se refletindo sobre outras categorias, como professoras.
A bancada feminina está atenta a isso. Foi por pressão das parlamentares que o relator reduziu a idade mínima de aposentadoria das mulheres que trabalham no campo. Técnicos envolvidos nas discussões ficaram indignados com a decisão do relator em propor um tempo de contribuição de apenas 15 anos na área rural. Eles alegam que o déficit da Previdência na zona rural é mais que o dobro do registrado na área urbana e que as condições de trabalho nos grandes centros urbanos são até piores em alguns casos, como obras, além de dificuldades de deslocamento para o trabalho entre a residência e o serviço.
O governo também não concorda que as professoras tenham uma idade inferior à dos professores porque os salários são os mesmos e todos são concursados. Permitir regras diferenciadas pode pressionar ainda mais o rombo do INSS, pois mais de três mil municípios de pequeno porte continuam dependentes do regime geral. Além disso, a medida poderia agravar ainda mais a crise fiscal nos estados, onde as despesas com ensino têm relevância.
O fim da aposentadoria integral para os servidores públicos antes dos 65 anos (para homens e mulheres) faz parte das medidas de compensação de parte das perdas decorrentes dos recuos do governo em relação ao texto original. Outro argumento favorável à medida é que ela tem potencial para aliviar as contas dos estados, pressionadas por altos salários de juízes, procuradores, desembargadores e procuradores.
A sessão da comissão especial começou ontem com mais duas horas de atraso e foi suspensa logo depois do início da leitura do relatório por conta do início dos trabalhos no plenário da Câmara. Para evitar que a oposição obstruísse a leitura do documento, os líderes da base aliada fecharam acordo para adiar a votação do texto final da reforma da Previdência para 2 de maio.
Em Washington, onde participa da reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI), Meirelles disse ontem que, da forma como está o relatório, a reforma da Previdência garante 75% dos benefícios fiscais estimados na proposta original do governo nos próximos 10 anos.
— Estamos mais ou menos no limite das mudanças que podem ser feitas sem alterar o equilíbrio fiscal do país — disse o ministro.
Meirelles voltou a afirmar que espera a aprovação da reforma pelos deputados ainda em maio e, no Senado, em junho, embora não veja grandes problemas se houver mudanças de “uns dois meses”. Ele afirma que a rápida aprovação, contudo, é fundamental para retomar a confiança da economia.


L

terça-feira, 18 de abril de 2017

AES Tietê fecha compra de parque eólico da Renova, OESP



As negociações entre as duas empresas ocorrem há mais de um ano; valor da compra foi de R$ 600 milhões


Monica Scaramuzzo ,
O Estado de S.Paulo
18 Abril 2017 | 20h55
A AES Tietê, do grupo americano AES (dono da Eletropaulo), fechou a compra do conjunto de parques eólicos que constituem o complexo Alto Sertão II, pertencente à Renova Energia, por R$ 600 milhões. A companhia assumirá também a dívida do projeto, de R$ 1,15 bilhão.
Em fato relevante, a empresa informou que o valor da operação poderá ter acréscimo de até R$ 100 milhões, se atingir metas de desempenho, após período de cinco anos contados do fechamento da operação.

Foto: Fernando Pereira/AE
ctv-so7-aes-tiete
Usina Caconde, no município de Rio Pardo, a 300 quilômetros de São Paulo
As negociações entre as duas empresas ocorrem há mais de um ano. Em janeiro, a Renova divulgou ao mercado que estava prestes a concluir a venda do complexo e que dependia de acertos burocráticos. O banco BTG Pactual assessorou a Renova Energia nessa transação. Já o Itaú BBA foi o assessor da AES Tietê. A operação ainda está sujeita à aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
O Complexo Eólico Alto Sertão II está localizado na Bahia e possui capacidade instalada total de 386,1 MW, e energia contratada por 20 anos. Para a AES Tietê, a aquisição é considerada estratégica, uma vez que a empresa tem planos para avançar em energia renovável, afirmaram fontes a par do assunto.
Capitalização. Para a Renova Energia, a venda desse projeto também foi importante. Endividada, a companhia também precisava de caixa para a dar continuidade ao projeto Alto Sertão III, que está em fase adiantada de investimentos. /MÔNICA SCARAMUZZO

ECONOMIA » Oposição barra tentativa de acelerar reforma trabalhista na Câmara e placar preocupa governo ECONOMIA Oposição barra tentativa de acelerar reforma trabalhista na Câmara e placar preocupa governo, OESP

Foram 230 votos a favor, 163 contrários e uma abstenção. Eram necessários 257 votos para que o requerimento fosse aprovado. Se passasse, a medida daria brecha para que a base aliada articulasse a votação do projeto diretamente no plenário, sem passar pela comissão.
Mesmo com a derrota, os governistas avisaram que vão apresentar novo requerimento para acelerar a tramitação do projeto. A oposição alega que, pelo regimento interno, o plenário não pode apreciar a mesma proposição rejeitada anteriormente. Com a rejeição do requerimento, o calendário de votação da matéria - previsto inicialmente para a próxima semana - fica comprometido.

Saiba o que pode mudar no seu emprego com a reforma trabalhista


6

A derrota do governo foi comemorada pela oposição, que se articulou e aproveitou que menos de 400 deputados estavam presentes na sessão. “Com a Previdência também será assim”, avisou o deputado Paulo Pimenta (PT-RS). “O governo Temer registrou uma grande derrota”, celebrou Afonso Florence (PT-BA).
Erro. Diante do resultado, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assumiu a culpa pelo erro na votação. “Informo ao plenário que a votação aconteceu com quórum baixo, eu encerrei a votação em momento equivocado. O erro foi meu, tinham 50 deputados na Casa que não tiveram o direito de votar. Se a maioria dos líderes, de qualquer lado, apresentar novo requerimento, é uma decisão que pode ser pautada a qualquer momento”, afirmou.
Pela manhã, o presidente Michel Temer havia reunido deputados da base para fazer um apelo pela aprovação das reformas do governo, especialmente a da Previdência. Após a abertura de inquéritos contra dezenas de aliados na esteira das delações da Odebrecht, o peemedebista pediu para que os políticos não se intimidassem e disse que o governo não poderia ficar parado por causa das investigações.



00:00
01:05
Media Quality
360P
Mobile Preset
O que propõe a nova lei da terceirização
A derrota do requerimento para acelerar a tramitação da reforma trabalhista foi um banho de água fria no Planalto, que havia saído do café da manhã comemorando “os avanços nas negociações” e a “construção de consenso” em torno do texto da Previdência. 
Deputados da base não esconderam a surpresa. Um importante nome do PMDB disse que o governo teria muito trabalho pela frente para não deixar as reformas “subirem no telhado”.

Durante a votação no plenário, parlamentares da oposição ocuparam a mesa diretora para protestar contra as revelações dos executivos da empreiteira. Mais cedo, policiais tentaram invadir a Câmara contra a reforma previdenciária. Houve tumulto e uso de gás de pimenta.