sábado, 14 de fevereiro de 2015

HÉLIO SCHWARTSMAN E o amor?


SÃO PAULO - Na esteira de Yale, Harvard decidiu proibir que seus professores tenham "relações sexuais ou românticas" com alunos da graduação. Como fica o amor?
Não ignoro que universidades lidam mal com denúncias de assédio e abuso sexual. Se isso já acontece quando o episódio envolve apenas estudantes, fica ainda pior quando alguém do corpo docente está metido. Aqui, ao afã de preservar a instituição de escândalos, soma-se o tradicional espírito de corpo para produzir um manto de silêncio leniente.
Não me parece, porém, que a resposta a esse problema seja proibir ligações sexuais ou amorosas entre professores e alunos. O principal argumento é que elas podem em princípio ser perfeitamente legítimas. Nem sempre que um mestre dá em cima de uma estudante ele a está chantageando. Nem sempre que uma aluna vai para a cama com um professor ela está atrás de nota. Especialmente universidades, que deveriam ser uma espécie de templo da razão e da liberdade, não podem erguer barreiras contra o sexo consensual. E, se o sexo não era tão consensual, esse é o fato a ser apurado e que deve eventualmente gerar punições.
A ideia de amor romântico é em boa medida uma construção cultural, mas isso não impede que pessoas se sintam atraídas umas pelas outras por razões absolutamente insondáveis. Se as duas ou mais partes envolvidas estão de acordo com a relação, não cabe a instituições interferir.
Termino com uma provocação, que é o experimento mental concebido por Jonathan Haidt. Julie e Mark são irmãos. Eles estão em férias. Uma noite, sozinhos num bangalô na praia, decidem que seria legal se fizessem amor. Julie já tomava anticoncepcionais. Os dois se esbaldam na cama e curtem a experiência, mas decidem não repeti-la nem contar a ninguém sobre ela. O que eles fizeram é correto? Bem, como não há dano a ninguém, não há como racionalmente condená-los.

    Em apenas um ano, mundo despejou 8 milhões de toneladas de plástico nos oceanos

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    Lixo em praia na Malásia
    Foto: epSos .de
    Das 275 milhões de toneladas de resíduos plásticos produzidos por 192 países em 2010, oito milhões de toneladas foram parar nos oceanos. Os dados constam em um estudo inédito publicado na quinta-feira, 12 de fevereiro, na revista Science. Depois de quantificar pela primeira vez os resíduos plásticos lançados em um ano nos oceanos, os especialistas alertam que seu volume se multiplicará por 10 em uma década se não melhorar o processamento deste lixo, que ameaçam os ecossistemas marinhos do planeta.
    "Isto representa cinco sacos de supermercado cheios de dejetos plásticos a cada 30 cm ao longo da costa desses 192 países que estudamos", afirmou à AFP Jenna Jambeck, professora de engenharia ambiental da Universidade da Geórgia e principal autora do estudo.
    Inicialmente, os cientistas estudaram dejetos plásticos nos oceanos procedentes do solo, dos barcos e de outras fontes para criar um sistema informático.
    "Rapidamente apareceu que a má gestão do tratamento dos dejetos é a principal causa desta contaminação" em crescimento, alertou Roland Geyer, professor de ciências ambientais da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara.
    "É a primeira vez que contabilizamos a quantidade de resíduos plásticos que chegam aos oceanos durante um ano; até hoje nada tinha sido feito", afirma Kara Lavender Law, professora da Sea Education Association, em Massachusetts.
    Das oito milhões de toneladas só 245.000 flutuam nas águas.
    A contaminação com esta causa foi mencionada pela primeira vez na literatura científica no início dos anos 1970 e depois não se voltou a fazer uma estimativa rigorosa do fenômeno, sustenta Lavender Law. Este tipo de dano ao meio ambiente é relativamente novo. Estes materiais apareceram nos grandes mercados de consumo nos anos 30 e 40 do século passado.
    Crescimento da economia
    Mas os mecanismos para processá-los que se conhecem atualmente começaram a se desenvolver em Estados Unidos, Europa e alguns país desenvolvidos da Ásia no início e em meados dos anos 1970. Em outros países, "o sistema de gestão de resíduos é a última das infraestruturas que se implementa; o tratamento das águas residuais e da água potável são mais importantes", afirma Jambeck.
    Com o crescimento da economia, o uso de materiais plásticos aumentou em todos os países. Em 2013, a produção mundial de resina de plástico, adotada para fabricar numerosos artigos descartáveis depois de usá-los uma só vez, como os sacos e as garrafas, alcançou 299 milhões de toneladas, 647% a mais que em 1975. Hoje, um americano produz em media dois quilos de resíduos por dia, dos quais 13% são plásticos.
    O volume de dejetos existente em todos os oceanos revela só uma parte do problema, porque das oito milhões de toneladas só 245.000 flutuam nas águas. O estudo "nos dá uma média das quantidades de plástico que realmente estão nos oceanos, mas que não vemos. Nós medimos o que flutua", observa Law, salientando que "importantes quantidades" destes resíduos "estão no fundo do mar e nas praias de todo o mundo".
    Para Jambeck, sem uma mudança real, o efeito acumulado desta contaminação vai encher os oceanos com 115 milhões de toneladas de plástico de hoje até 2025. "Estamos oprimidos por nossos dejetos", completa a especialista, explicando que "os modelos desenvolvidos nestas pesquisas deveriam ajudar a revisar as estratégias para melhorar a gestão mundial do tratamento de resíduos para reduzir seu fluxo até as bacias oceânicas".

    segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

    O governo precisa criar juízo e adotar um projeto energético que funcione, DA COLUNA DIRETO DA FONTE


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    Publicado em : 09/02/2015
    `O governo precisa criar juízo e adotar um projeto energético que funcione´
    Pouquíssimas pessoas, em São Paulo e no País, têm o conhecimento e a prática do professor José Goldemberg para entender a dupla crise de água e energia que, desde o final do ano passado, vem assustando milhões de brasileiros, e para sugerir saídas concretas. E o veterano professor, mesmo sabendo das limitações gerais e da indisciplina da população, se mostra esperançoso. "Acho possível gerenciar o problema e evitar a catástrofe. Mas é preciso ter um plano competente e capacidade de levá-lo adiante."
    Estudioso do assunto há várias décadas, reitor da USP por 14 anos, titular do Meio Ambiente no Estado e no governo federal e hoje comandando o Instituto de Energia e Ambiente da universidade, Goldemberg alia a tudo isso um grande espírito prático. É o que descobre quem entra na área do IEE, câmpus do Butantã: do portão de entrada até o prédio onde ele trabalha, uma fileira de painéis solares capta a energia e garante o fornecimento de eletricidade quase total do instituto. "Pelo menos uns 90%", diz ele.
    "O grande nó a desatar é que há mais consumo do que produção", resume ele nesta entrevista. E a saída para isso tem de ser organizada em três etapas. "A primeira, imediata, é consumir menos - tanto água quanto energia. A segunda, para a água, é apressar as ligações com outras fontes. Para a energia, estimular as alternativas - como a eólica, a solar e a de biomassa, que dão resultados no médio prazo. E a terceira, bem mais cara e mais demorada, é preparar e cumprir um plano para aumentar a oferta de energia, sem a qual o Brasil não vai a lugar nenhum". A seguir, os principais pontos da conversa.

    A falta d´água em São Paulo caminha para um momento dramático ou ainda há saídas para se evitar o pior?
    Acho que a catástrofe vai ser evitada e que será possível gerenciar o problema, com alguma dificuldade. Mas é preciso ter uma capacidade bastante boa.

    De que maneira? Qual a saída rápida para o problema?
    A crise, tanto da água quanto da energia, pode ser resumida no seguinte: há mais consumo do que produção. Em São Paulo, gastamos mais água do que há nas represas. E no Sudeste, mais energia elétrica do que as usinas produzem. A curto prazo - digo em 2015 - a única coisa a fazer é racionalizar o uso da água para consumo humano e também da eletricidade. Quer um exemplo? Aqui em São Paulo se consomem 180 litros/dia por pessoa. Os números da OMS nos revelam que a média de grandes cidades de outros países é de 150 litros/dia. Ou seja, há espaço, sim, para uma redução.

    E quanto à energia elétrica?
    A situação é semelhante. Estamos consumindo energia no limite. Não existe folga e isso provoca coisas como se viu naquela segunda-feira fatídica em que caiu parte do sistema. Muito calor, todo mundo ligou o ar-condicionado, a rede caiu. E não há nisso nenhuma surpresa. Qualquer técnico do setor lhe dirá que, em um sistema interligado, é preciso manter uma reserva de 5%. Naquela tarde, a reserva era zero. Repito: no curto prazo, nada mais há a fazer além de conscientizar a população e reduzir o consumo. Quem tem duas geladeiras, use só uma. Chuveiro, o mínimo. Luzes apagadas. São pequenas medidas que dão resultado quando milhões de pessoas as adotam.

    E no médio prazo?
    São necessárias obras. No caso da água, fazer logo essas interligações que a Sabesp está providenciando. Pegar a água da Billings e jogar no Alto Tietê, por exemplo. Mas essas obras, mesmo as emergenciais, vão levar seis meses. E a mais importante, a do Rio Jaguari, só fica pronta daqui a um ano e meio.

    E o plano no sistema elétrico?
    Aqui, todas as obras são de longa duração. E há os atrasos. Dois anos de atraso em Jirau. Em Belo Monte nem se sabe direito qual o atraso e, mesmo quando ficar pronta, não tem reservatório. De tantas concessões, reduções, ela ficou uma represa no chamado fio d´água - quando diminuir o volume do rio, a produção diminui. Em suma, é preciso planejamento para construir mais hidrelétricas com reservatórios e dar um estímulo real às energias renováveis, coisa que o governo não fez.

    Por que não fez?
    Porque o sistema de leilões tinha uma componente ideológica, introduzida em 2004. E a própria presidente esteve, na época, envolvida com a criação desse modelo - não foi uma opinião casual de um técnico desinformado. É a ideia da modicidade tarifária, que parece atraente. O que ela diz? Que só vamos produzir as energias mais baratas. Ora, é como alguém ir à feira pensando "vou comprar um quilo de frutas". Não faz sentido. A produção, e portanto o custo de cada uma, é diferente. É razoável que a uva seja mais cara que a banana%6

    Ou seja, a modicidade tarifária é uma solução equivocada.
    Sim, é uma fórmula inventada pelo governo federal que passa a tábua rasa nisso. Resultado: nos leilões, as novas fontes de energia, que ajudariam a resolver o sistema - eólica, biomassas, energia solar%6 - não conseguiam competir, já que o custo do quilovate seria maior. Assim, a que situação chegamos? O sistema hidrelétrico não deu conta e o governo colocou usinas térmicas em funcionamento. Foi um ponto positivo, sem elas estaria muito pior. Acontece que o custo da energia das térmicas é cinco a dez vezes maior que a das hidrelétricas. Nessa hora não lembraram da tal modicidade tarifária.

    O que explica esse destino inevitável do País, que há décadas vive afundado em dificuldades e atrasos na construção das usinas? Por que é tão difícil resolver esses conflitos entre o governo, as empresas e os movimentos ambientais?
    Porque falta firmeza por parte das autoridades responsáveis pelo setor. Belo Monte é um ótimo exemplo. Veja só: a construção da usina ali afeta a população local. É verdade. São 30 ou 40 mil pessoas que seriam afetadas. Por isso, o reservatório foi reduzido a tal ponto que virou a fio d´água. Ficou no mesmo nível normal do rio. Uma usina capenga. Se ela tivesse um reservatório, beneficiaria mais de 5 milhões de pessoas. E o governo não tem pulso para enfrentar essa situação. É verdade que esses grupos são organizados politicamente. E os 5 milhões que seriam beneficiados não são. Mas é para isso, enfim, que existe governo, não? Outro exemplo: o trecho sul do Rodoanel. Ali houve vários problemas. Passa em áreas de nascentes, tem índios etc. E onde, enfim, está o bem comum? É evidente que o bem comum exige que se faça o Rodoanel. Custou mais caro, 25% mais, por desvios etc., mas valeu a pena. O problema foi enfrentado e a obra saiu, com diálogo, sem massacrar as populações. Ficou mais caro? Ficou. Mas ficaria muito mais não fazer.

    Por que até agora o sr. não usou a palavra "racionamento"?
    O racionamento afeta mais os pobres do que os ricos. E há interesse social em evitá-lo. Veja o caso da água: ainda não falta, não é dramático. Mas quem pode abre poço artesiano, aumenta caixa d´água, aluga carro-pipa. Os pobres não têm como fazer isso. Mas há formas de fazer o racionamento.

    Essa solução de "5 dias por 2" foi entendida por muita gente como o clássico "bode na sala". Ou seja, fala-se em uma solução dolorosa para, depois, adotar uma mais aceitável. Foi isso?
    Foi isso. Há métodos mais suaves de racionar.

    Quais, por exemplo?
    Como já mencionei antes, não é bom fazer racionamento numa área onde passa metrô. Pois milhares de pessoas vão pagar por isso. Veja, em Minas Gerais, três grandes empresas consomem 15% da água. Tem de começar por aí. Não vai deixar a população de BH sem água por causa dessas três. Vai provocar desemprego? É uma escolha: criar um problema econômico ou deixar uma cidade inteira sem água. Mas antes do racionamento, valeria um esforço de racionalização.

    Acha adequado o modo como o governo paulista tratou até aqui a questão da água?
    Antes das eleições o governo federal não fez nada. Pelo contrário, o Ministério das Minas e Energia garantiu que o risco de racionamento seria zero. O governo de SP pelo menos deu um desconto para quem reduzisse o consumo. Mas creio que ele devia ter sido mais rigoroso, multar quem consumisse mais.

    E as ações de longo prazo?
    É fundamental fazer leilão para diferentes formas de energia. Com preços competitivos, para realmente atrair o setor privado a participar.

    De que modo se aproveitariam essas energias alternativas?
    A eólica só valeria de fato no Norte do País, e um pouco no Sul. A biomassa, sobretudo em SP, poderia dar um choque de gestão, despertar o espírito animal do empresário, como dizia o (ex-ministro Guido) Mantega. As usinas de álcool e açúcar têm bagaço de cana seis meses por ano, para gerar eletricidade e vapor. E há dois tipos de energia solar: a que gera calor para aquecer água, que vem sendo usada inclusive em algumas unidades do Minha Casa Minha Vida; e o coletor solar, que produz eletricidade.

    Esse segundo sistema foi implantado aqui no IEE.
    Sim, e ele supre praticamente toda a energia usada no Instituto. É uma tecnologia um pouco mais cara, a fotovoltaica. Por isso, para ser adotada de fato é preciso trabalhar com escala.

    No quadro econômico atual, com déficit de 6,7% do PIB - ou seja, faltando recursos - e muitas grandes empresas amarradas nas denúncias da Lava Jato, o governo tem uma limitação estratégica enorme. Algum think tank por aí tem um plano para o País voltar a crescer em ritmo razoável?
    Essas medidas de curto alcance que mencionei não precisam de dinheiro do governo. O que é preciso é mudar os leilões, fazê-los de uma forma que o setor privado entre. E mais: um morador de casa térrea pode instalar uma fonte de energia para si próprio por uns R$ 10 mil a R$ 15 mil. E deixaria de gastar a energia fornecida pelas empresas do setor. Acho que o governo poderia fazer um pequeno esforço com os bancos de financiamento, o próprio BNDES, por exemplo. Já as grandes obras são mais complicadas. O fato é: para produzir 1 kW precisa-se de US$ 2 mil. Mas o Brasil necessita de 5 milhões de kW por ano. Por isso defendo que se ataque o problema de maneira descentralizada, com pequenos projetos - eólica, biomassa etc. O governo precisa criar juízo e um grande projeto energético que funcione.

    Quando começaram a contar, em público, as reservas das represas, elas já não estavam em 100%, nem em 70%. As quedas começaram de 30%. Todo mundo bobeou lá atrás? Dá para por a culpa nos ambientalistas?
    No caso do governo federal, acho que a resposta é clara: populismo e proximidade das eleições. Em 2012, várias pessoas alertaram - eu, inclusive - as autoridades para o fato de que os reservatórios estavam diminuindo muito. O que fez o governo? Deu desconto de 20% na tarifa de energia elétrica e, ao mesmo tempo, reduziu o IPI da linha branca, encorajando a compra de eletrodomésticos. Que contradição, e que hora para se fazer isso! Façamos justiça, os técnicos do Ministério de Minas e Energia viram, claramente, essa situação. Aí foi mesmo um DNA populista. Em São Paulo, o sistema energético não está nas mãos do governo do Estado. Mas na água, poderia ter sido mais proativo.

    O ONS tem capacidade e autonomia para cumprir suas tarefas adequadamente?
    Ele é tecnicamente competente. Ao contrário de outras agências, que são aparelhadas politicamente. Mas o ONS só é responsável por gerir os problemas que existem.
    Gabriel Manzano

    Fonte: O Estado de S. Paulo - Brasil