sexta-feira, 3 de maio de 2013

Não há elogio maior que o desejo, do BLOG DO FELIPE MACHADO


Não há elogio maior do que desejar alguém. Há adjetivos que podem simular o desejo, há qualidades que podem ser destacadas em uma frase simpática ou sensual inserida no meio do diálogo rotineiro. Mas o desejo, mesmo, aquele que move montanhas e inspira loucuras, esse só se diz com o com os olhos. Ou com o corpo.
(Não é à toa que em inglês ‘desire’ (desejo) rima com fire (fogo), assim como não é à toa que em português rima com ‘beijo’…)
A Wikipedia define desejo como “uma tensão em direção a um fim considerado pela pessoa que deseja como uma fonte de satisfação”. Mas é sério que alguém acha que é possível expressar o desejo em palavras? Eu seria mais pragmático. Desejo é querer muito, muito, muito…  alguém.
Há muitas maneiras de encarar o desejo. Há o desejo material, aquele que busca satisfazer nossas necessidades consumistas. Há o desejo espiritual, a vontade de encontrar um equilíbrio utópico entre as forças que regem a existência. Há o desejo por justiça – ou vingança -, que suscita no ser humano os sentimentos mais primitivos. Mas o desejo por alguém é o mais poderoso de todos, porque tem como finalidade o sentimento mais poderoso de todos… o amor.
Se o amor é o que move um homem e uma mulher a ficarem juntos, então só posso supor que o desejo é o instrumento que a natureza inventou para atingir seu objetivo. Sábia natureza, que colocou o prazer como anzol no oceano de peixes que é a sociedade.
Como falei no início, não há elogio maior que desejar alguém. Querer que essa pessoa faça parte da sua vida, dia e noite (principalmente à noite, se é que você me entende), por um tempo indeterminado, é uma das forças que movem o mundo.
Em ‘Um Bonde Chamado Desejo’, filme baseado na peça de Tennessee Williams, a personagem de Vivien Leigh, Blanche DuBois, sussurra entre uma desilusão e outra: “Eu não quero realismo… eu quero mágica…” Embora a história tenha mesmo um bonde chamado ‘Desejo’, acho que essa frase guarda em sua simplicidade tudo o que o dramaturgo quis nos dizer sobre o desejo e o que ele representa.
A vida é feita de realidade, mas não é isso que inspira os nossos sonhos. É a mágica de sentir por outra pessoa o mesmo desejo que queremos que ela sinta por nós. Descobrir o que está por trás disso é  um mistério, mas enquanto existir ar em nossos pulmões, sangue em nossas veias e fogo em nossos corações, é um desafio que faz qualquer um acordar pela manhã e dizer para si mesmo: ‘É hoje!’

Para Santas Casas, perdão de dívida não resolve crise


OHANNA NUBLAT
DE BRASÍLIA
O refinanciamento ou mesmo o perdão da dívida de R$ 4,8 bilhões em impostos atrasados por Santas Casas e outras entidades filantrópicas, em negociação pelo governo, está longe de solucionar a crise existente, avalia o setor.
O valor representa um terço da dívida acumulada, que deve alcançar R$ 15 bilhões no meio do ano. A maior parte --cerca de R$ 8 bilhões-- está com bancos privados.
Editoria de arte/Folhapress
"É a ponta do iceberg, atinge quem tem dívidas tributárias [com a Previdência Social], o que não chega a um terço das entidades em São Paulo", afirma Edson Rogatti, diretor-presidente da Fehosp (Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo).
Outros dois problemas apontados são os valores pagos pelos serviços prestados ao SUS (Sistema Único de Saúde) --o setor estima que cubram cerca de 60% dos gastos-- e as dívidas acumuladas nos bancos privados para pagar impostos.
O setor responde por 45% das internações do SUS, apontou o relatório da Câmara de 2012 que analisou a crise dos hospitais filantrópicos.
As entidades pedem a revisão dos valores pagos e a troca da dívida com bancos privados por uma com o BNDES. O Ministério da Saúde não se pronunciou ontem.

Um jogo perigoso (editorial sobre S. Casas)


O Estado de S.Paulo 13 de abril de 2013 | 2h 14
A crise das mais de 2 mil Santas Casas e hospitais filantrópicos, que se arrasta há anos, entrou numa fase aguda, com a ameaça de interrupção dos serviços prestados ao Sistema Único de Saúde (SUS) que, se concretizada, pode levar a rede pública de saúde ao colapso, com todas as consequências imagináveis. Afinal, essas entidades são responsáveis por mais da metade dos atendimentos do SUS às camadas de baixa renda da população, pelos quais recebem muito menos do que gastam, sendo essa a origem de suas dificuldades. Apesar da gravidade do problema, o governo federal tem se limitado a tomar medidas paliativas, que apenas adiam a sua solução.
Cansadas de esperar, elas resolveram dar ao governo um prazo de 60 dias para reajustar a tabela de procedimentos do SUS. Se isso não for feito, avisam que serão obrigadas a reduzir os atendimentos e, no caso de algumas unidades, a interrompê-los. Essa tabela, que tem 4,6 mil procedimentos, não é atualizada de maneira integral desde 2008. Em mais um esforço para evitar o pior, as Santas Casas pedem 100% de reajuste apenas dos 100 principais procedimentos de média e baixa complexidades, como exames de raio X e eletrocardiograma e atendimentos de emergência. Isso deve aliviar as dificuldades, enquanto não se chega a uma solução mais abrangente.
Para ter uma ideia da situação a que se chegou, o SUS paga R$ 6,88 por um exame de raio X e os planos de saúde, R$ 20,96. Por um eletrocardiograma, os valores são respectivamente de R$ 5,15 e R$ 10 e, por um ultrassom obstétrico, de R$ 24,20 e R$ 43,32. No geral, considerando todos os procedimentos, para cada R$ 100 que gastam as Santas Casas recebem do SUS apenas R$ 60. Para cobrir os R$ 40 restantes, que não caem do céu, elas dependem de auxílio de prefeituras e governos estaduais e de empréstimos bancários, cujos juros são estratosféricos.
A consequência disso é que em 2011 - não existem ainda dados consolidados sobre 2012 - o déficit das Santas Casas e dos hospitais filantrópicos ficou em R$ 5 bilhões. A estimativa é que no ano passado ele tenha sido no mínimo igual. A dívida da maior das Santas Casas, a de São Paulo, já chega a R$ 250 milhões. Esta é claramente uma situação insustentável. Ela explica por que, além do prazo para o reajuste pretendido, dado pelo conjunto das entidades, ocorreram também manifestações de protesto em algumas delas. Na segunda-feira (8/3), mais de 70 unidades de todo o País suspenderam o atendimento eletivo (procedimentos ou cirurgias agendados), mantendo em funcionamento apenas o serviço de pronto-socorro.
Em São Paulo, mais de 2 mil cirurgias e 4 mil procedimentos tiveram de ser remarcados. Além disso, na Santa Casa de Votuporanga, todos os funcionários se vestiram de preto para protestar. O clima de descontentamento se alastra e dá razão à advertência do presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo, Edson Rogatti: "Hoje as Santas Casas suspenderam o atendimento eletivo. Mas, num futuro bem próximo, corremos o risco de elas não oferecerem mais nenhum atendimento. A situação só será resolvida se houver o reajuste emergencial e o SUS pagar pelos serviços o que eles realmente custam".
A reação do governo, mais do que decepcionante, é preocupante. Em nota, o Ministério da Saúde afirma que o pagamento dos procedimentos obedece ao valor previsto pela legislação do SUS e o reajuste é feito de acordo com as necessidades dos serviços, citando alguns exemplos de aumentos nos últimos anos, como o dado no setor de oncologia. Trocado em miúdos, vai ficar tudo como está.
Como o próprio governo, na mesma nota, reconhece que as Santas Casas são essenciais, porque são responsáveis por mais de 50% das internações feitas pelo SUS, é de perguntar se ele realmente tem consciência do jogo perigoso que está fazendo. Obrigar as Santas Casas a cobrir não se sabe como - por meio de que milagre - o prejuízo de 40% que lhes dá o SUS pode levar, em breve, à paralisia da rede pública de saúde.