terça-feira, 6 de março de 2012

A mudança no modelo chinês


Coluna Econômica - 06/03/2012
A China decidiu radicalizar a mudança do seu modelo econômico e dividir o bolo, isto é, focar mais no mercado interno como motor do desenvolvimento. Significa, de um lado, reduzir as expectativas de crescimento, baixando para 7,5% este ano – abaixo do número mágico de 8,5%.
É interessante comparar o modelo chinês com o Brasil Grande dos anos 70.
Em ambos os casos, eram governos autárquicos, com plenas condições de monitorar a economia, definir vencedores e impor as regras do jogo.
O Brasil dos anos 70 definiu o mercado externo como a grande mola do crescimento. Por outro lado, abandonou o mercado interno, contentando-se apenas com a nova classe média operária que surgia no bojo da nova industrialização. Foi quando surgiu a teoria do “bolo” – de crescer primeiro para dividir depois.
Quando sobreveio a crise internacional, a única âncora na qual a economia brasileira se apoiou foi na construção civil e no amplo endividamento público: não havia mercado interno capaz de cobrir a crise do modelo anterior.
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Já a China há anos vem arrostando os limites de crescimento. Tem problemas enormes com o meio ambiente, com o abastecimento de água, com as disparidades regionais, com a tensão interna
O lado interessante do modelo chinês é a extrema competência do Partido Comunista, de extravasar as tensões internas de duas formas.
Uma, permitindo a alternância de linhas econômicas, tal e qual numa democracia ocidental – a um governo “neoliberal” sempre sucede um governo “populista”.
A segunda maneira é a de permitir canais de crítica a decisões do governo, desde que não se coloque como alvo o próprio Partido.
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Na verdade, as etapas do desenvolvimento chinês – desde Mao – tem obedecido a uma racionalidade enorme, em que pese as loucuras da Revolução Cultural. Mao massificou os serviços sociais, especialmente educação e saúde, fornecendo apenas o básico, mas para uma população enorme.
Em cima dessa base inicial, os sucessores investiram em ensino técnico, superior e aprenderam os princípios capitalistas através de um processo gradativo de criar regiões especiais, em que se experimentassem as regras de mercado.
De início atraíram as grandes multinacionais devido ao câmbio super-desvalorizado e mão-de-obra de baixo custo. Mas o alvo de médio prazo sempre foi o mercado interno chinês.
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À medida em que a foi sendo criada uma classe média quase ocidentalizada, a maneira de mantê-la sob controle foram as expectativas de melhoria de emprego e de salário.
Agora, o PC deu-se conta de que não bastaria o crescimento acelerado para o atendimento das demandas dessa enorme população. E passou a investir em serviços públicos e a descomprimir gradativamente as pesadas condições de trabalho em muitas regiões – que têm sido objeto de denúncias internacionais variadas.
Vai-se ter uma população com a renda crescendo, os hábitos de consumo modernizando-se.
A diferença do Brasil atual é que ambas as economias se basearão no seu mercado interno: mas apenas uma (a China) têm um parque industrial capaz de se beneficiar desse boom.
Pedidos de falência voltam a subir
O número de empresas com falências requeridas teve a segunda alta consecutiva no mês de fevereiro, segundo levantamento divulgado pela consultoria Serasa Experian. Ao todo, foram feitos 152 pedidos em todo o país, 24 a mais do que o total registrado em janeiro e 32 acima do apurado em dezembro. As micro e pequenas empresas lideraram o número de pedidos em fevereiro deste ano, com 79 dos 152 registros no mês. Médias e grandes empresas, respectivamente, tiveram 46 e 27 requerimentos cada.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Hopi Hari, uma comunicação que não deu certo



5 de março de 2012 | 11h24
Cláudia Ribeiro
  Gabriella_HopiHari_REP_pX.jpg
Foto mostra que Gabriella (E) sentou em cadeira desativada (Reprodução)
A imagem de uma empresa é colocada à prova em momentos de crise. Uma tragédia como essa que matou a adolescente Gabriella Nichimura, de 14 anos, no Hopi Hari expõe o que pode haver de pior para quem lida com pessoas: descuido, descaso e precariedade. Como reverter uma imagem como essa? Indignação à parte, fica por conta de um executivo indicado pela companhia transmitir as informações necessárias à imprensa e tentar amenizar de alguma forma a grave situação. Às vezes é impossível.
No caso do Hopi Hari, as explicações foram transmitidas, em grande parte, por nota pela empresa. Mas quando a gravidade do erro que motivou o acidente ficou mais clara, só isso não bastou. Um advogado do parque, Alberto Zacharias Toron, teve que assumir a comunicação. Foi dele a qualificação para o que ocorreu: “erro crasso”.
Desse lado balcão – ou seja, aqui na redação – a explicação bateu torta. Culpar um funcionário pelo erro não é a melhor forma de contornar uma crise. Mesmo que isso tenha ocorrido, a cadeira onde a adolescente estava sentada estava desativada há 10 anos. Isso não é responsabilidade do parque? O Hopi Hari não é responsável pelo trabalho do seu empregado? Tentei contato com a empresa para solucionar essas dúvidas, mas não obtive retorno.
A estratégia de comunicação de uma empresa é a forma como ela conversa com a sociedade.  Algumas companhias chegam a oferecer a seus executivos um treinamento para isso. São os chamados media trainings, uma ferramenta de treinamento para que os porta-vozes se relacionem com a imprensa.
Uma iniciativa válida, mas o que move as empresas muitas vezes é apenas o interesse em direcionar a cobertura de um assunto, quando o correto seria pensar em informar a sociedade da forma mais clara e transparente possível. Um executivo responsável pela comunicação de uma empresa deveria ter isso como norte. Jornalistas cometem erros, mas na maioria das vezes sabem perceber quando são manipulados.
Rosi Mallet, ex-jornalista da Gazeta Mercantil e que já treinou executivos do BankBoston, Sara Lee Cafés e Ceval Alimentos (do Grupo Bunge), destaca que “responsabilidade social” deve ser a base de comunicação entre a empresa e a imprensa. “Toda empresa precisa disso desde o momento em que é criada. A sociedade deve ser o alvo final dessa comunicação”, afirma.
Ela destaca dez características que um executivo precisa ter para se relacionar bem com os jornalistas e, dessa forma, cumprir sua “responsabilidade social”:
1-      Interesse e entendimento dos processos de comunicação da empresa.
2-      Estar aberto às demandas da imprensa sempre, e não apenas quando há interesse por parte da companhia.
3-      Serenidade. Tratar os jornalistas com irritação por conta de uma informação errada não é a melhor saída. É preciso ter frieza para esclarecer dados, pois a imprensa é um dos meios mais importantes para falar com a sociedade.
4-      Saber lidar com a pressão externa (da imprensa) e com a pressão interna (da empresa).
5-      Apoiar-se em uma área eficiente de comunicação.
6-      Atuar com o apoio da área jurídica.
7-      Não trabalhar como marqueteiro da empresa. A sua função é comunicar.
8-      Adotar uma postura pró-ativa. No caso do Hopi Hari, a área de comunicação foi passiva e chegou a soltar uma nota informando que o parque não seria fechado nos dias seguintes ao acidente “em respeito aos demais frequentadores”.
9-      Ter sempre as informações organizadas e prontas para atender a demanda da sociedade e da imprensa.
10-   Atualizar-se sempre sobre assuntos relacionados à mídia.

Novo consumidor é móvel, social e exige inovação


  • 19 de fevereiro de 2012|
  •  
  • 19h33|
  • Por Filipe Serrano
* Publicado no ‘Link’ em 20/2/2012.
É fato que ferramentas digitais já fazem parte do cotidiano na hora de decidir qual tipo de produto ou serviço que as pessoas escolhem. Mas há uma mudança de comportamento em curso que, para muitos empreendedores, é um exemplo do que a internet vai se tornar nos próximos anos.
Se hoje já planejamos viagens pela rede, procuramos restaurantes, pesquisamos preços de produtos eletrônicos, negociamos carros, calculamos financiamentos de imóveis, entre outras inúmeras formas de consulta que influenciam na decisão de compra, acredita-se que, para outro tipo de consumidor e de produto, não é a busca por informação que importa mais.
“As pessoas estão deixando de fazer um pouco o ‘search’, a comparação de preço, e indo para o que está se chamando hoje de ‘social discovery’ (descoberta social)”, afirma Flávio Pripas, um dos fundadores do Fashion.me, um site de moda para montar “looks” virtuais, com peças de roupas e acessórios reais.
“Em muitos casos, a pessoa não sabe exatamente o que quer, mas ela entra em um site em que tem milhares de outras pessoas conversando sobre determinado assunto, e acaba encontrando um produto. Seja porque elas têm um mesmo perfil ou porque tem um gosto completamente diferente.”
Na semana passada, o Fashion.me recebeu um investimento, de valor não divulgado, da Intel Capital, braço de investimentos de risco da fabricante de microprocessadores. Pripas afirma que o investimento vai permitir uma mudança no site, que deixará de dar foco à ferramenta de looks para melhorar a interação social entre os usuários. Ele também pretende expandir o site internacionalmente e, em março, a página já deve ganhar uma versão em inglês.
Uma pesquisa recente da eMarketer estima que em 2015 pelo menos 31 milhões de brasileiros vão fazer algum tipo de compra pela internet e as vendas devem somar US$ 26,9 bilhões (R$ 46,6 bilhões). É de olho neste crescimento, em ritmo acelerado, que estão surgindo novos serviços online.
Outro exemplo são os criadores do Meu Carrinho, que receberam um investimento do Buscapé no ano passado. O app, que ganhou versão para iPhone há um mês (antes só havia a versão para Android), aposta na consulta de preços para um outro tipo de produto. Ele permite fazer listas de compras de supermercado e consultar preços por meio de um leitor de código de barras.
Agora os fundadores do Meu Carrinho estão fechando parcerias com fabricantes para incluir dados dos seus produtos e destaques das marcas dentro aplicativo. É outro tipo de funcionalidade que influencia qual produto a pessoa vai comprar. Muitas vezes ali dentro da própria loja. Além disso, o próximo passo, segundo Bruno Branta, um dos fundadores, é lançar um comparador de preços de supermercados.
“O celular muda tudo, ele te dá mais poder do que você tinha com o computador, porque pega todos os parâmetros de geolocalização, às vezes até a indicação de que você está em um shopping, e dá a informação mais direcionada possível”, diz Branta.
De acordo com Eduardo Baer, um dos fundadores do iFood – site de delivery pela internet – entre 10% e 15% dos pedidos já são feitos por meio do aplicativo para iPhone. No mês que vem, ele deve ganhar uma versão para Android. Nesta semana os restaurantes poderão ser organizados no site de acordo com a avaliação dos consumidores.
“Em geral a pessoa faz um pedido com o telefone que está anotado na agenda. Mas ela não tem a informação atualizada. Para fazer um pedido pela internet, por outro lado, tem de estar na frente do computador. Com o celular, ele junta as duas coisas. É rápido, está ali no seu bolso, é fácil pedir e ao mesmo tempo tem todas as facilidades que a web traz”, diz Baer.
É o smartphone conectado à rede, aliado ao poder de interação das redes sociais, que tem sido esta nova fronteira dos serviços que ajudam o consumidor a tomar a melhor decisão. Para muitos, é aí que estão as oportunidades de criar novos negócios online.
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