quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Mais consumo, menos PIB



15 de dezembro de 2011 | 3h 05
CELSO MING - O Estado de S.Paulo
Há algumas coisas esquisitas acontecendo na economia brasileira.
O consumo vem crescendo mais do que a produção e isso é ruim porque não é sustentável - como ainda ontem advertiu a Confederação Nacional da Indústria (CNI), presidida pelo empresário Robson de Andrade (foto). E, no entanto, o Brasil vive uma fase de pleno emprego. Falta mão de obra para quase tudo: de engenheiros a pedreiros; de executivos de primeira linha a empregadas domésticas.
O ambiente é de franca retração da produção - como ontem ficou demonstrado pelo IBC-Br, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (veja no Confira). No entanto, a inflação ainda é alta demais, acima de qualquer padrão internacional.
A poupança nacional continua contraída e, por isso, o investimento segue insuficiente, mal chega a 20% do PIB. Enquanto isso, a demanda, que cresce perto de 5% neste ano, tem de ser suprida cada vez mais pelas importações.
O problema de fundo não é o real valorizado demais - como insistem os dirigentes da CNI e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). É a baixa competitividade do setor produtivo brasileiro que, em grande parte, é determinada pelo excessivo custo Brasil: carga tributária superelevada, juros altos, infraestrutura cara, Justiça lenta e confusa, baixa qualidade da mão de obra e por aí vai.
A indústria já está tão dependente de fornecimento externo de matérias-primas, componentes, conjuntos e capitais que forte desvalorização da moeda elevaria ainda mais seus custos - o que, por sua vez, reduziria ainda mais sua competitividade. Por outro lado, uma das mais importantes razões pelas quais os juros são altos no Brasil são os financiamentos subsidiados, cuja principal beneficiária é a indústria.
Um câmbio artificialmente desvalorizado e juros artificialmente baixos tentariam compensar a falta de competitividade do setor produtivo sem solucionar a questão principal.
Os empresários reclamam por mudanças de rumo, mas também não têm proposta e acabam se contentando com favores temporários e discriminatórios. Ao primeiro encalhe de mercadoria, o setor de veículos, por exemplo, mobiliza seus lobbies para obtenção de favores fiscais, como redução do IPI e proteção comercial. São providências que antecipam vendas e desembocam em saturação da demanda, como acontece agora.
O Brasil precisa de mais poupança e de mais investimento para garantir avanços econômicos. Para viabilizá-los, são necessárias reformas - cujos projetos estão encalhados em Brasília. Por mais paradoxal que pareça, elas não comparecem mais nas listas de prioridade dos dirigentes de empresas.
Não deixa de ter razão a CNI quando afirma que é preciso "mudar o padrão de expansão doméstico e eleger o investimento - e não o consumo - como a alavanca do crescimento". Mas isso exigiria forte formação de poupança e, portanto, adiamento do consumo. Se é por aí, então é preciso aguentar também longos períodos de retração das vendas. Os empresários aceitariam isso?

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Adib Jatene, médico


advivo
Coluna Econômica - 13/12/2011
Gravei ontem uma entrevista com o doutor Adib Jatene. Uma aula inesquecível de brasilinidade, de visão de futuro e de construção de conhecimento.
Jatene começou na cirurgia cardíaca pelas mãos do dr. Euclides Zerbini. Depois de um estágio, mudou-se para Uberlândia onde desenvolveu os primeiros equipamentos tecnológicos para a cirurgia.
Zerbini passou por lá, entusiasmou-se e o chamou de volta para São Paulo, onde passou a trabalhar como instrumentador da equipe de Zerbini.
Como operavam-se em vários hospitais, Jatene andava com os instrumentos no carro.
Certo dia, o carro foi roubado e os instrumentos - importados -, levados.
Era uma quarta-feira; terça haveria cirurgia.
Jatene rumou então para a oficina de um conhecido, que há tempos tentava desenvolver esses equipamentos, mas sem ter domínio sobre o tema. Na terça seguinte apareceu na sala de Zerbini. Informou que os equipamentos importados tinham sido roubados, mas ele construíra equipamentos alternativos.
Zerbini olhou os equipamentos, sugeriu alguns ajustes. Feitos os ajustes, a operação transcorreu normalmente.
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O trabalho seguinte de Jatene foi com Dante Pazannese - que depois daria nome ao Instituto de cardiologia que chefiava. Estava nos anos 50.
Dali em diante, muitos equipamentos foram desenvolvidos por Jatene e outros especialistas.
Em 1966, no mesmo Pazzanese, o médico José Eduardo Souza criava as bases para os modernos cataterismos, a cinecoronariografia.
Em São José do Rio Preto, um aluno de Jatene, Domingo Braile, montaria um instituto de padrão internacional para doenças coronarianas, criando uma enorme gama de produtos.
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O próprio Jatene prosseguiu em suas pesquisas, trabalhando com pesquisadores do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), desenvolvendo válvulas, corações artificiais.
Em 1962 Jatene criou a Oficina Experimental, nbo Instituto de Cardiologia do Estado, que desenvolveu inúmeros equipamentos, como máquina de circulação extracorpórea, oxigenadores de sangue artificial, desfibriladores, instrumentais cirúrgicos para procedimentos de circulação extracorpórea, marcapassos internos e externos e válvulas cardíacas.
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Em 1986 foi criado o Instituto Adib Jatene, no âmbito do Instituto Pazzanese, para desenvolvimento tecnológico de equipamentos ligados à cardiologia. Nesse período, houve o desenvolvimento do Coração Auxiliar Artificial, Descartável “Spiral Pump”.
No momento, Jatene analisa o sistema de ultracentrifugação da Marinha, em Aramar - para enriquecimento de urânio - tentando adaptá-lo a equipamentos de centrífuga utilizados nas cirurgias cardíacas.
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É uma larga tradição, a dos cardiologistas e cirurgiões cardíacos brasileiros, que passa por Alípio Correa Netto, que formou Zerbini, que formou Jatene, que juntos espalharam conhecimento e generosidade por todo o país.
Em geral, há duas espécies de médico. Um, o missionário, geralmente formado nos cursos de saúde pública. O outro, o especialista, ferozmente individualista por formação, muitos sentindo-se próximos de Deus.
Jatene junto os dois, a ponto de ter se transformado numa referência moral para todos os brasileiros, um desses faróis que iluminará a nacionalidade na grande obra de construção ainda em curso.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Dilma deve se responsabilizar por ministros, diz FHC


Dilma deve se responsabilizar por ministros, diz FHC

Em entrevista à Radio 'Estadão ESPN', o ex-presidente falou sobre, governo federal, corrupção e eleições 2012

12 de dezembro de 2011 | 11h 26
Daiene Cardoso, da Agência Estado
Em entrevista à rádio Estadão ESPN, na manhã desta segunda-feira, 12, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chamou a presidente Dilma Rousseff à responsabilidade diante das denúncias contra ministros de seu governo. "Tem de haver um pouco mais de responsabilização", cobrou FHC. Para o ex-presidente, os ministros precisam deixar o cargo diante do surgimento de denúncias. "Tem suspeita? Tem de cair fora", recomendou.
Ex-presidente durante entrevista à rádio - Andre Lessa/AE - 12.12.2011
Andre Lessa/AE - 12.12.2011
Ex-presidente durante entrevista à rádio
FHC disse que em seu governo não existia "tolerância" com irregularidades e que seus auxiliares eram obrigados a deixar o cargo ao serem confrontados com denúncias. "Eu nunca tive leniência ou tolerância", afirmou. Na opinião do ex-presidente, hoje a responsabilidade é jogada sobre os partidos e a corrupção se tornou parte do jogo político. "Acho isso muito grave", comentou.
Durante entrevista de uma hora, Fernando Henrique disse que em seu primeiro ano de governo a presidente Dilma Rousseff carregou uma base "maior do que a necessária" para governar e a herança do governo Luiz Inácio Lula da Silva se transformou em "entulho". "Ela levou o ano todo com o peso morto desse entulho. Ela tem de se livrar desse entulho", sugeriu.
Na avaliação do ex-presidente, se Dilma perder alguns partidos da base aliada, isso não comprometerá a governabilidade. "A Dilma tem uma base maior que o necessário. Se ela dispensar um ou dois partidos, não acontece nada (na coalizão)", comentou. Mesmo evitando "dar conselhos" a Dilma, FHC acredita que a reforma ministerial prevista para o início de 2012 será a oportunidade de a presidente mostrar "coragem" e dar sua cara ao ministério."Acho que ela tem uma bela chance de atuar firmemente", disse.
Embora tenha cobrado firmeza de Dilma, o tucano culpou o sistema político clientelista pela corrupção no País. "Nossa cultura aceita transgressões", resumiu. Segundo ele, a frouxidão da cultura política brasileira só pode ser mudada com o tempo e com exemplos. "É muito difícil mudar o sistema porque quem muda foi eleito pelo sistema", afirmou. Ainda que tenha sido rigoroso com as denúncias, FHC admitiu que possa ter ocorrido irregularidades em sua gestão. "Não vou dizer que não teve corrupção no meu governo, provavelmente sim", reconheceu.
FHC lembrou que o governo tucano deu prioridade a outras reformas, mas que ele não se dedicou pessoalmente à reforma política para não se tornar "refém dela". O ex-presidente disse ainda que será preciso que alguém enfrente os desafios de implementar uma reforma política. "Vai ser necessário que algum presidente tome como objetivo fazer a reforma política", disse.