quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Não foram dados os primeiros passos, Celso Ming, OESP

Uma vez completados os primeiros 30 dias de governo Bolsonaro, ainda não temos nenhum anúncio de providências na política econômica

Celso Ming, O Estado de S.Paulo
30 Janeiro 2019 | 21h15
Pouco antes da mudança de governo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, avisou que, a partir de janeiro, novidades na política econômica seriam anunciadas quase diariamente.
Uma vez completados os primeiros 30 dias de governo Bolsonaro, ainda não temos nenhum anúncio de providências na política econômica. O que há são declarações de intenção: de levar adiante a reforma da Previdência; de reduzir a carga tributária para as empresas; de simplificar o sistema tributário; de reduzir a burocratização; de fechar novos acordos de comércio exterior; de recolocar em marcha leilões de concessão de serviços públicos; e de privatizar grande parte do setor estatal.
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Brazil's Privatization Secretary Salim Mattar speaks at Credit Suisse Latin America conference in Sao Paulo, Brazil January 29, 2019. REUTERS/Amanda Perobelli
Essas declarações se repetem desde as eleições e foram reafirmadas em Davos, por ocasião do Fórum Econômico Mundial. Mas, por enquanto, não há novidade, tampouco a formulação de um plano de prioridades ou detalhamento do projeto de reforma da Previdência.
O clima geral ainda é de confiança, como demonstram a redução da percepção do índice de risco (queda do CDS de 5 anos) da economia, a relativa estabilidade das cotações do dólar no câmbio interno e a alta da Bolsa, de 10,36% nestes 30 primeiros dias do mês.
Os levantamentos do Boletim Focus, do Banco Central, esperam avanço do PIB neste ano de 2,5%; retomada da produção industrial da ordem de 3,0%; inflação anual de 4,0%, abaixo da meta, que é de 4,25%; e entrada de investimentos estrangeiros diretos de US$ 80 bilhões. São números que refletem otimismo, à espera de que o novo governo anuncie seus projetos e não faça nenhuma grande besteira em política econômica.
Mas as incertezas continuam aí. Ainda não se sabe como o rombo das contas públicas e a dívida serão equacionados. Os governadores de nada menos que seis Estados decretaram estado de calamidade financeira, à espera do socorro da União. E, em alguns casos, o governo continua reforçando a percepção de que ainda não sabe o que quer. O último dos casos são as declarações de que estudava intervir na diretoria da Vale, para todos os efeitos uma empresa privada.
A privatização de empresas estatais, tal como novamente anunciada pelo secretário de Desestatização e Desinvestimento do Ministério da Economia, Salim Mattar, é providência saneadora, na medida em que, além de conter a ineficiência e a roubalheira, reduz a drenagem de recursos públicos para atividades não essenciais.
O Tesouro está quebrado e não pode seguir sustentando empresas públicas carregadas de distorções e de má governança. O Boletim de Participações Societárias da Uniãomostrou que, apenas de 2012 a 2017, o Tesouro despejou R$ 142 bilhões em empresas estatais e teve como retorno apenas R$ 96 bilhões.
No entanto, mesmo se muito bem feita, a privatização intensiva por si só não recuperará as finanças públicas. É a venda das joias da família que pode até reduzir o endividamento federal hoje de R$ 3,9 trilhões, mas não pode ser entendida como decisão estratégica de política econômica. Ela não é instrumento de alavancagem do sistema produtivo e de criação de empregos.
Enfim, sabemos, em suas grandes linhas, o que pensam os responsáveis pela política econômica. Mas ainda não temos decisões.
CONFIRA
» Subvenções a estatais
O gráfico mostra a evolução das subvenções do Tesouro a empresas públicas. Não se trata de injeção de capital novo, mas apenas de despesas com pessoal e outros custeios. A estatal que mais recebeu vitaminas no período 2012 a 2017 (inclusive) foi a Embrapa (R$ 15,9 bi). A segunda foi a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (R$ 9,1 bi). E a terceira, o Hospital Nossa Senhora da Conceição (R$ 5,8 bi). Vêm a seguir o Hospital das Clínicas de Porto Alegre (R$ 5,7 bi) e a Conab (R$ 4,8 bi).

Meirelles sobre a reforma da previdência


À frente da Secretaria de Fazenda de São Paulo, o ex-ministro Henrique Meirelles afirmou, em entrevista ao Estado de S. Paulo, que fará ajustes na Previdência estadual assim que uma reforma for aprovada pelo Congresso Nacional. Meirelles confia que a proposta será aprovada ainda no primeiro semestre deste ano. Responsável pelo projeto na gestão Michel Temer, o ex-ministro da Fazenda admitiu que não houve um engajamento firme dos governadores, mas considera que a situação agora é diferente. Meirelles disse que o mais provável é que o governo João Doria (PSDB) faça um contingenciamento “cautelar” entre 2% e 3% das despesas. Leia os principais trechos da entrevista:


Qual é a estratégia para as finanças de São Paulo, que está em situação melhor que outros estados, mas também passa por dificuldades? Estamos fazendo uma revisão rigorosa e cuidadosa de todos os itens do Orçamento para 2019, exatamente vendo qual é o número de receitas recorrentes e o que depende de vendas de ativos, receitas eventuais, etc. A nossa conclusão é que vai, sim, haver uma dependência da alienação de ativos para equilibrar (as contas). O Orçamento aprovado pela Assembleia Legislativa, de receitas e despesas equilibradas em R$ 231 bilhões, prevê nessas receitas R$ 10 bilhões com venda de ativos.

Haverá contingenciamento? 

Havendo necessidade, vamos contingenciar uma parte. Agora, nós contamos certamente, e é parte importante da estratégia, em fazer entrada de capital privado na Sabesp. E tem duas alternativas, duas hipóteses: ou a manutenção da legislação que prevaleceu até agora, com isso nós faríamos a montagem de uma companhia holding da Sabesp e venderíamos ações da companhia holding. Nesse caso, esperamos arrecadar cerca de R$ 5 bilhões. É uma estimativa. Por outro lado, existe medida provisória em tramitação no Congresso. Caso essa MP seja transformada em lei, haverá possibilidade concreta, de fato, de privatização da Sabesp. Portanto, a venda do controle. Nesse caso, haveria possivelmente a entrada de mais recursos, possivelmente algo na casa de dois dígitos, mais de R$ 10 bilhões.

Que outras privatizações o senhor pretende fazer? Tem outro projeto prioritário que é a privatização de presídios. É algo que, de fato, oferece possibilidades e temos aí um número bastante expressivo de presídios que poderão ser colocados para privatização, o que poderá não só oferecer uma melhor qualidade de serviços, mas também certamente vai gerar arrecadação suplementar. Para se ter uma ideia, no caso do presídio, possivelmente não será privatização de grande controle, porque não é uma companhia. Será uma concessão de serviço, via PPP (Parceria Público-Privada) ou concessão ou cessão. Existem 71 unidades com aproximadamente 200 mil detentos, e 11 presídios em construção. Então, isso também é um projeto relevante.

Onde seria preciso cortar despesas nesse primeiro momento?É um valor, considerando-se o porte do Estado, de R$ 231 bilhões em despesas, é um valor pequeno. Estamos pensando algo entre 2% e 3% das despesas totais. Então, é um contingenciamento cautelar, que poderá ser liberado à medida que essas vendas de ativos começarem a se concretizar.

A Previdência de São Paulo tinha um problema de registro divergente do Tesouro Nacional. Como está isso? É um problema da Previdência de todos os estados. Vamos trabalhar também num projeto de reforma no âmbito da reforma federal. No momento em que reforma federal for aprovada, daí nós faremos também os necessários ajustes aqui na Previdência do estado. Nós temos já um fundo de previdência complementar, que é importante, relevante, a Prevcom, e temos também a SPPrev. Ou seja, São Paulo tem já uma estrutura desenvolvida nisso. Agora, como todo o país, precisa fazer olhando para frente, para o futuro, uma reforma também da Previdência estadual mais à frente

O que será necessário fazer na Previdência do estado? Estamos estudando isso. Não é uma situação como a federal, que tem um déficit (grande). Hoje, muitos estados têm deficit grande, que não é financiável, e têm de fazer uma reforma. São ajustes de longo prazo, mas nos pontos clássicos de idade mínima, tempo de contribuição etc. É uma situação importante, pelo aumento da expectativa de vida dos brasileiros e dos paulistas, mas não é situação de emergência como é a nacional.

O senhor esteve à frente da proposta de reforma do governo Michel Temer. Como vê as chances de aprovação da reforma pelopresidente Jair Bolsonaro? 

Acho que está indo da forma adequada. Quanto mais cedo o governo definir qual é o projeto, melhor e mais rápida será a negociação com o Congresso.

Acha que dá para aprovar no primeiro semestre? Acredito que sim, esse é um projeto que andou muito bem durante o ano de 2017. Em 2018, não, porque teve a eleição.

Os policiais militares são um problema para a Previdência do estado? Não, normal, como todas as polícias militares. É algo que terá de ser devidamente endereçado por conta do aumento da expectativa de vida. É um processo normal. Não é um problema específico. Estamos conversando, tratando de outros assuntos. Tenho tido reuniões sobre outros assuntos com o secretário de Segurança, é um clima de total cooperação.

Faltam 3.000 km para que a ferrovia Norte-Sul ligue extremos do país,

Faltam 3.000 km para que a ferrovia Norte-Sul ligue extremos do paísFoto: Beth Santos/Secretaria Geral da Presidência da República
De acordo com a Valec Engenharia, Construções e Ferrovias, empresa que faz a gestão desse sistema, até o momento foram investidos R$ 12,5 bilhões. Hoje a ferrovia Norte-Sul está dividida em três partes: Tramo Norte, entre Açailândia (MA) e Porto Nacional (TO), com 720 quilômetros de extensão, já em operação e administrado pela subconcessionária "Ferrovia Norte Sul S.A" desde 2007, com movimentação de 8,4 milhões de toneladas de produtos em 2018; o Tramo Central, com 855 quilômetros de extensão entre Palmas (TO) e Anápolis (GO), que se encontra em operação pela Valec desde 2015; e o Tramo Sul, entre os municípios de Ouro Verde de Goiás (GO) e Estrela d´Oeste (SP), com 682 km de extensão, cujas obras estão em fase final.
Confira a seguir as condições atuais dos principais trechos que compõem a Ferrovia Norte-Sul, que, quando totalmente implantada terá extensão superior a 4.100 quilômetros.
Barcarena (PA) - Açailândia (MA) - Em projeto. São aproximadamente 477 quilômetros de extensão, concebidos com o propósito de ampliar e integrar o sistema ferroviário nacional e estabelecer a sua interligação com o Complexo Portuário de Vila do Conde, no Pará. A implantação desse trecho transformará a logística regional de transporte de minério de ferro e o desenvolvimento da exploração de outros minerais. Também facilitará o escoamento da produção de açúcar, milho, etanol, soja e seus subprodutos (farelo e óleo) na área de influência da ferrovia.
Açailândia (MA) - Palmas (TO) - Com 720 quilômetros de extensão, o trecho encontra-se subconcedido à ferrovia Norte-Sul S.A. Essa estrada de ferro facilitou a logística de transporte de etanol e grãos, como milho, soja (além de farelo e óleo) para a região Centro-Norte do Brasil. Em Açailândia (MA), a ferrovia se conecta à estrada de ferro Carajás - EFC, que acessa o complexo portuário de São Luís (MA). Em Porto Franco (MA), com a implantação da ligação a Eliseu Martins (PI), a ferrovia Norte-Sul se conectará com a ferrovia Transnordestina, em construção, o que permitirá acesso aos portos de Suape (PE) e Pecém (CE).
Palmas (TO) - Anápolis (TO) - O trecho de 855 quilômetros foi concluído em 2014 e é operado pela Valec. Nesse trecho são transportados principalmente farelo de soja, madeira triturada e minério de manganês. A ferrovia Norte-Sul (FNS) terá acesso a vários portos e corredores de exportação, sendo que em Figueirópolis(TO) se conectará à ferrovia de integração Oeste-Leste. Isso permitirá o acesso ao Porto Sul, que será construído nas proximidades de Ilhéus (BA). Em Campinorte (GO), vai se interligar com a ferrovia de integração do Centro-Oeste, estabelecendo um canal com a maior região produtora de soja do país, no estado de Mato Grosso.
Ouro Verde (GO) - Estrela d´Oeste (SP) - Partindo de Ouro Verde de Goiás, cidade distante 40 quilômetros ao norte de Anápolis, esse trecho, em construção, atravessará boa parte do sudeste goiano, uma das principais regiões do agronegócio no país, e chegará a Estrela d´Oeste (SP), completando 684 km de extensão. Em Estrela d'Oeste, a ferrovia Norte-Sul se conectará com a ferrovia EF-364, operada pela Rumo Logística, acessando assim o Porto de Santos.
Estrela d'Oeste (SP) Panorama (SP) - Em projeto. A ferrovia Norte-Sul pretende avançar até Panorama/SP, às margens do rio Paraná, numa extensão de 264 quilômetros. Esse prolongamento proporcionará nova alternativa de transporte para a produção agroindustrial do oeste paulista e leste de Mato Grosso do Sul. Em Panorama (SP), a ferrovia se conectará com a EF-366, operada pela Rumo, com possibilidade de acesso ao Porto de Santos(SP).
Panorama (SP) / Chapecó (SC) - A partir de Panorama/SP, a ferrovia prosseguirá em direção ao sul, até Chapecó, atravessando os estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Esse trecho ferroviário proporcionará nova opção de transporte para a produção da região. Os estudos de viabilidade já foram concluídos e a extensão final do trecho foi de 950,8 quilômetros.
Chapecó (SC) / Rio Grande (RS) - A ferrovia também prosseguirá até o porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Os estudos de viabilidade estão concluídos e a extensão final do trecho foi de 832,9 quilômetros.

Fim das baterias? Pesquisadores do MIT conseguem ligar aparelho usando sinais de wi-fi, BBC news

Estados Unidos - As baterias e os carregadores estão com os dias contados. Isso se estiverem certos os pesquisadores da universidade americana Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) que estudam a transmissão de energia usando sinais de wi-fi.

"Apresentamos uma nova maneira de dar energia a sistemas eletrônicos no futuro - simplesmente captando energia wi-fi de uma maneira que pode ser facilmente integrada a áreas abrangentes", explica o cientista Tomás Palacios, professor do Departamento de Engenharia Elétrica e Ciências da Computação do MIT, que há tempos dedica-se a estudar formas mais econômicas e inteligentes de energia elétrica.

A pesquisa foi tema de artigo publicado nesta segunda-feira pelo periódico científico Nature.

Antena flexível de radiofrequência

Os cientistas partiram da mesma ideia dos transformadores capazes de converter ondas eletromagnéticas de corrente alternada em eletricidade de corrente contínua. Em seu modelo, utilizaram um dispositivo com uma antena flexível de radiofrequência, capaz de captar tais ondas.

Esse receptor foi conectado a um dispositivo feito de um semicondutor bidimensional extremamente fino - apenas três átomos de espessura.

Esse semicondutor converte o sinal em tensão elétrica contínua, pronta para alimentar baterias recarregáveis ou, diretamente, circuitos eletrônicos. Ou seja: o dispositivo não tem bateria, mas captura os sinais de wi-fi presentes no local e os transforma, de forma passiva, em corrente elétrica.

Nas experiências realizadas em laboratório, os cientistas conseguiram obter 40 microwatts de energia elétrica quando o dispositivo estava exposto aos 150 microwatts de uma rede wi-fi convencional. É potência elétrica mais que suficiente para manter ligada uma tela de tablet ou fazer funcionar pequenos chips eletrônicos.

Uso para fins médicos

Esse formato bidimensional e flexível do dispositivo é o que parece empolgar mais os pesquisadores. "E se pudéssemos desenvolver sistemas eletrônicos e envolver uma ponte ou uma rodovia inteira? Ou as paredes de nosso escritório? Traríamos inteligência eletrônica a tudo ao nosso redor", prevê Palacios.

Entre os usos do sistema, além de aparelhos eletrônicos do dia a dia, estão os sensores para gadgets integrados à chamada "internet das coisas".

No caso de celulares, uma novidade assim vem ao encontro de avanços da indústria no design de aparelhos flexíveis e cada vez mais finos.

O pesquisador Jesús Grajal, da Universidade Técnica de Madri, coautor do estudo, lembra que também seria possível utilizar o dispositivo para fins médicos. Não só para manter alimentados os equipamentos de um dia a dia hospitalar, mas também para futuros gadgets que precisam ser muito pequenos para uma bateria convencional.

Um exemplo: atualmente, há pesquisadores desenvolvendo pílulas que podem ser engolidas pelos pacientes para coletar e transmitir, com precisão, dados de saúde dos mesmos - para fins de diagnóstico. Uma solução de energia assim seria a ideal em casos específicos como este.

Nesses casos, as preocupações vão além do tamanho das baterias convencionais. "O ideal é não usar baterias para alimentar esses sistemas, porque se houver um vazamento de lítio, o paciente pode morrer", afirma Grajal. "Desta forma, é muito mais seguro colher energia do ambiente para ligar esses minúsculos laboratórios dentro do corpo."

Composto inorgânico

O material utilizado pelos pesquisadores para a construção desse eficiente transformador de correntes é o MoS2, ou dissulfeto de molibdênio. Trata-se de um composto inorgânico, que é encontrado no mineral molibdenita - as principais jazidas estão na República Checa, na Noruega, na Suécia, na Austrália, na Inglaterra e nos Estados Unidos.

Os pesquisadores criaram um dispositivo de MoS2 com apenas três átomos de espessura, o suficiente para que ele funcione, como um dos semicondutores mais finos do mundo. Isso ocorre porque os átomos do material se comportam de uma maneira particular, reorganizando-se como um interruptor.

Os pesquisadores envolvidos acreditam que o material tenha capacidade para capturar e converter até 10 GHz de sinais sem fio.

"Esse dispositivo é rápido o suficiente para abranger a maior parte das bandas de frequência utilizadas hoje, de sinais de celular, de bluetooth, de wi-fi e muitos outros", afirma o pesquisador Xu Zhang, principal autor do estudo.

A eficiência energética obtida com o modelo é de 30%. O grupo agora pretende testar novos modelos e materiais em busca de melhorar esse potencial e diminuir a perda energética.

Em entrevista à BBC News Brasil, Zhang explicou que ainda é preciso um longo processo para que o dispositivo ganhe um versão comercial, ou seja, esteja ao alcance do usuário comum. "Precisamos desenvolver um único dispositivo para uma série de conversões e otimizar o processo tanto do projeto quanto da fabricação de circuitos. Só então será viável usar algo assim para os eletrônicos do dia a dia", 

Raul Marcelo questiona governo sobre as condições de segurança das barragens de Itupararanga e CBA

Devido às graves consequências socioambientais em decorrência do rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho (MG), o deputado estadual Raul Marcelo (PSOL) questionou, em requerimento protocolado nesta terça-feira (29), quais medidas foram tomadas nos últimos três anos tanto da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e quanto da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) a fim de reduzir os riscos de acidentes com barragens.

"Infelizmente, o território do Estado de São Paulo não está imune ao risco de acidentes com barragens. Com efeito, a barragem de resíduos da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), situada no município de Alumínio (SP), apresentou vazamentos em 2001 e 2004", relata. "Em relação à Represa de Itupararanga, há uma barragem construída há 107 anos, que também precisa de atenção por parte dos órgãos fiscalizadores", completa.

Sobre a situação em Brumadinho, Raul Marcelo manifesta profunda indignação e dor diante deste crime que conta com proporções inestimáveis em termos de vidas humanas. "Tudo isso a pouco mais de três anos após o rompimento da barragem de Fundão em Mariana – também sob responsabilidade da  Vale – que chocou o Brasil e o mundo com seu impacto que ainda apresenta consequências às populações que vivem na bacia do rio Doce. Cobramos a reestatização da Vale, investimentos na fiscalização de barragens e indenização a famílias de Brumadinho."

De acordo com a Agência Nacional das Águas (ANA), em relatório divulgado em 2018, no intervalo de um ano, o número de barragens no Brasil com de rompimento subiu de 25 para 45. O País possui mais de 24 mil barragens identificadas para difenretes finalidades, com acúmulo de água, de rejeitos de minérios, ou industriais e para geraçaõ de energia.

No requerimento, Raul Marcelo pontua questões que precisam ser colocadas à tona: há o risco de rompimento de alguma barragem de contenção no Estado de São Paulo e qual o grau desse risco; periodicidade das vistorias realizadas pelos órgãos ambientais vinculados à Secretaria nas barragens; há algum plano estadual de prevenção e mitigação de danos socioambientais decorrentes de acidentes com barragens; as populações situadas nas proximidades recebem informações e orientações a respeito dos procedimentos adequados diante de uma situação de acidente envolvendo barragens; entre outros questionamentos que foram encaminhados ao governo paulista.

O rompimento de uma barragem da Vale em Brumadinho, na sexta-feira (25), deixou ao menos 65 mortos. Há ainda outras 279 pessoas desaparecidas. A tragédia liberou cerca de 13 milhões de m³ de rejeitos de minério de ferro da mina do Feijão no rio Paraopeba. A lama se estende por uma área de 3,6 km² e por 10 km, de forma linear.


Valdinei Queiroz
Jornalista e assessor de imprensa

A reação a desastres pela (in)ação humana, FSP

Brumadinho exige ir até as últimas consequências

Fabio Feldmann e Suely Araújo
Estamos preparados para desastres? Como avaliar, com um mínimo de serenidade, Brumadinho? Em um desastre nas usinas de Angra dos Reis, qual seria a nossa capacidade de resposta?

No caso de Brumadinho, a responsabilidade direta é de uma das maiores empresas de mineração do mundo, a Vale S.A., com participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em sua composição acionária e com o antecedente de envolvimento no rompimento da barragem em Mariana.

Não se trata de uma empresa de "fundo de quintal", mas de uma importante empresa no mercado de capitais nacional e na Bolsa de Nova York, que em suas campanhas publicitárias sempre afirmou seus compromissos com a sustentabilidade.

É líquido e certo que estamos diante de um crime, com o efeito doloroso da perda de vida de centenas de pessoas. Desta vez, teremos que dar conta do acontecido até as últimas consequências. Ou seja, assegurar a apuração rígida das responsabilidades, englobando a esfera penal e encontrando soluções jurídico-institucionais para evitar procedimentos processuais que se aproveitem da lentidão do Judiciário.

A responsabilização pode atingir dirigentes e técnicos da empresa, prestadores de serviço e também alguns agentes públicos.

Devemos aprender com Mariana e caminhar para acordos judiciais que fixem de forma mais clara, desde logo, o valor indenizatório, disponibilizando os recursos necessários para fazer frente aos prejuízos impostos às vítimas. Se é complicado fazer isso em relação a danos ambientais que levam tempo para serem tecnicamente qualificados, a reparação social necessita de agilidade.
A criação da Fundação Renova é um bom exemplo, mas o modelo carece de aperfeiçoamentos em termos de permitir uma governança que envolva, desde o início, representação de todas as partes interessadas, incluindo os atingidos, e que garanta uma gestão absolutamente independente em relação às empresas mantenedoras.

Nesse quadro, é preciso questionar as propostas que vêm sendo veiculadas de flexibilização do licenciamento ambiental e de redução da participação pública nesse processo, sob o pretexto de celeridade. A análise de risco das barragens necessita ser bastante fortalecida e estar estreitamente vinculada ao licenciamento. Cumpre resolver, também, a coordenação entre o licenciamento e o controle da segurança de barragens a cargo da Agência Nacional de Mineração (ANM).

Brumadinho exige uma postura firme do governo federal e dos governos estaduais na direção de real fortalecimento das organizações governamentais responsáveis pelo licenciamento ambiental. E a fiscalização deve ser, de uma vez por todas, entendida como um requisito essencial e obrigatório à atuação estatal, sem submetê-la a qualquer discricionariedade, notadamente em termos de alocação dos recursos necessários para a sua efetivação.

O setor empresarial, por sua vez, deve incorporar a dimensão ambiental em seu modelo de negócio, entendendo que não se trata, simplesmente, de gerenciamento de externalidades, mas sim de uma visão de médio e longo prazo.

Mariana e Brumadinho representarão um ônus econômico para a Vale centenas de vezes maior do que o que teria sido gasto em alternativas tecnológicas à utilização de barragens de rejeito. Nenhuma campanha publicitária torna qualquer empresa mais sustentável, mas sim ações concretas, amplas e efetivas.

O Brasil não merece esse mar de lama.
Fabio Feldmann
Ex-deputado constituinte, deputado federal por três mandatos (1986-1998) e ex-secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo (1995-1998, governo Covas)
Suely Araújo
Ex-presidente do Ibama (2016-2019, governos Temer e Bolsonaro) e doutora em ciência política (UnB)
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