terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Valeu ter nomeado Levy?, Por Emir Sader



REUTERS/Ueslei Marcelino: <p>Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, durante seminário em Brasília 3/11/ 2015. REUTERS/Ueslei Marcelino</p>
Agora, quando parece que, depois de tantas ameaças, o Levy sai do governo, resta a pergunta: valeu a pena tê-lo nomeado?
Sua nomeação foi resultado de uma determinada leitura da situação em que se encontrava o país há um ano. O resultado eleitoral apertado deveria ter levado à preocupação central o resgate de milhões de brasileiros que, ainda que beneficiários das políticas sociais do governo, tinham votado na oposição, levados pelas brutais campanhas dos monopólios privados da mídia.
O governo escolheu outra prioridade: pela primeira vez um presidente tinha sido eleito com a oposição da maioria esmagadora do grande empresariado. Além de que se haviam acumulado desajustes nas contas públicas. O governo optou por um ajuste fiscal, para cuja implementação foi chamado o Levy. Faria o ajuste e recuperaria a confiança do mercado.
Nem um nem outro. O pacote de ajuste, penalizando os trabalhadores, fez o governo rapidamente perder bases de apoio, raiz da crise política que se estende até hoje, se nenhuma acusação fundamentada, mas baseada no isolamento social do governo, conforme apontas pesquisas.
Alem de socialmente injusto, o pacote foi economicamente ineficiente. De cortes nunca se sai para retomada da expansão econômica. Ao contrário, se aprofunda a recessão, com aumento do desemprego, menos arrecadação e necessidade de maiores cortes. E politicamente, como já se disse, foi desastroso: em pouco tempo o governo passou de uma vitória – apertada mas vitória – a um isolamento popular muito grande.
Essa é a raiz da crise que se prolonga até hoje. A crise tem seu fundamento na recessão econômica, aprofundada pelo ajuste, tornando-se crise política pela fraqueza do governo.
Sem força política, o governo sequer conseguiu implementar o ajuste na sua totalidade. Vivemos no pior dos mundos: pautados há um ano pela agenda negativa do ajuste, sem nem conseguir realizá-lo e tirá-lo da pauta.
Não bastasse isso, a taxa de juros, em plena recessão, foi sendo elevada a patamares altíssimos, inviabilizadores de qualquer retomada do crescimento e incentivadora dos investimentos especulativos e não dos produtivos. Se faz tudo na contramão da forma como o governo enfrentou vitoriosamente o início da crise internacional, em 2008, com medidas anticíclicas.
Com o Levy como ministro da economia e com um pacote recessivo, que penaliza os trabalhadores, ainda assim o governo tem a Fiesp aprovando o impeachment, isto é, pelo menos uma parte significativa do empresariado pela queda do governo. E ainda tendo que sofrer desvalorizações das agências de risco na saída do Levy, cuja entrada não trouxe benéficos: perdeu a confiança dos trabalhadores e não ganhou a dos empresários.
O governo é mais fraco ou mais forte do que no momento em que entrou o Levy? Muito mais fraco. Isso se deve só a ele? Não, houve também erros de direção política. Mas as raízes da crise atual vêm do ajuste.
Que se tirem lições. Tirar o Levy para manter a política não vale a pena. Ele foi nomeado para implementá-la e os resultados, um ano depois, estão à vista. Mudar de ministro para mudar de política. Para continuar o mesmo, ficaria o Levy, sem o desgaste para o governo da sua saída. Mudar de ministro para mudar de política. Virar o ano e virar a página das agendas negativas.

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