COP 21. No final das contas, toda conversa em Paris se resume a uma questão: como e quando acabar com as emissões de gases de efeito estufa, ou como e quando acabar com a indústria do petróleo e do carvão.
Os gases de efeito estufa são cumulativos. Até hoje não existe nada que consiga trazê-los de volta a não ser o crescimento de árvores e os oceanos. Ou seja, uma vez na atmosfera lá ficarão para sempre.
Apenas emitir menos, como querem alguns, não resolve. Não há truque possível: 2/3 das reservas de petróleo terão que ser deixadas no solo. Catástrofes seria a outra opção.
Sim, entramos na era da desmontagem da indústria do petróleo e do carvão. O prazo para isso acontecer é bem apertado, 2050. Temos 35 anos para chegar a emissão zero, para passarmos por Cubatão descendo a Via Anchieta e vermos o mangue ocupando de novo a área onde um dia foi uma refinaria.
Esta imagem de Cubatão sem fumaça, linda para uns, cai como uma bomba para os países e companhias produtoras de petróleo e não é difícil entendê-los. Eles ainda acreditam e lutam para que seu produto tenha mercado até o final do século. Lutam por uma sobrevida na COP21.
Não por acaso a Arábia Saudita foi o último país a enviar sua INDC (Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida, na sigla em inglês) para Paris, mesmo assim um compromisso vago onde exigem que os países ricos os ajude a fazer a transição para fontes de energia limpa e a se recuperar do impacto que sua economia vai sofrer.
Sem esta ajuda o documento saudita sugere que as mudanças poderão não ser levadas a cabo. Claro que os países ricos não querem pagar pela recuperação econômica de quem tem um dos maiores PIBs per capita do mundo e as mãos igualmente sujas. Esta pode ser uma das pedras no caminho do sucesso destas negociações.
Ontem, dia 8, sauditas, argentinos, poloneses e venezuelanos aceitaram baixar a meta de aquecimento máximo de 2˚C para 1,5˚C, só que com a condição de ser retirada do texto a proposta de descarbonização do mundo.
Como se aquecer menos mas continuar emitindo fosse conciliável. Para eles é. A justificativa que deram compete na categoria non-sense e humor com a definição do Cunha de "usufrutuário".
Do lado das companhias privadas a tensão em relação ao futuro não é menor. Nenhuma das grandes como Shell, BP, Exxon ou mesmo a Petrobras fizeram lances no ultimo leilão de blocos do pré-sal em outubro. O tal leilão que foi um fiasco e não vendeu quase nada.
Aparentemente investimentos em petróleo a longo prazo já estão em cheque. Mesmo não sendo um especialista na área, vendo daqui dos corredores da COP 21 me parece que o sonho do pré-sal acabou.
Morreu. Vamos ser realistas: se já não venderam em outubro, depois desta COP e a cada ano ficará mais difícil fazê-lo. Claro que o baixo preço do barril afasta investidores, mas quero crer que o bom senso também tenha peso nesta decisão. Fichas demoram a cair mas parecem já estar caindo. Ainda bem.
Mas aí vem a pergunta: E a Petrobras como fica? Se forem sensatos eles já devem estar montando um time para planejar a data para desligar cada refinaria, tipo de coisa que funciona melhor se pensada com décadas de antecedência.
O Brasil tinha um excelente projeto de biocombustível em andamento, abortado quando o pré-sal foi confirmado em 2008. Talvez agora seja a hora de retomá-lo e a Petrobras poderia fazê-lo. Uma nova vocação.
A rapaziada técnica da Petrobras é extremamente competente para fazer dar certo e assim o Brasil volta para a trilha da energia limpa que não deveria ter abandonado, alinhando-se com o mundo e não mais correndo na contramão.
Fernando Meirelles
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