terça-feira, 30 de julho de 2024

Alvaro Costa e Silva - Ramagem, mais um candidato inimigo das urnas, FSP

 Delegado da PF eleito deputado da bancada da bala, Alexandre Ramagem se aproximou de Bolsonaro em 2018, quando virou chefe da segurança do candidato a presidente depois da facada em Juiz de Fora. Um destino marcado pelo ato de Adélio e os esgares do capitão.

Logo se tornou íntimo dos Bolsonaro, em especial do filho 02, Carlos, percebendo que ali estava o caminho das pedras, a mágica que permitia aos membros do clã a compra de apartamentos em dinheiro vivo. Um arrivista de Balzac não subiria na vida com mais rapidez. Em 2019 já era assessor da Presidência. Ao nomeá-lo diretor-geral da Abin, Jair admitiu: "Grande parte do destino da nossa nação e das decisões que eu venha a tomar partirão das mãos dele". Era o plano do golpe rolando a ladeira.

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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com o deputado federal Alexandre Ramagem, no bairro Tijuca, durante ato de apoio a candidatura de Ramagem a Prefeitura do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli/Folhapress

Investigado por arapongagem de adversários políticos e monitoramento de procuradores públicos, Ramagem afirmou em depoimento à PF que não lembra o conteúdo das mensagens enviadas a Bolsonaro. São arquivos com recomendações e conselhos de um comparsa —para que o ex-presidente continuasse atacando as urnas eletrônicas e a lisura do sistema eleitoral—, além de relatos difamatórios sobre ministros do STF.

"Por tudo que tenho pesquisado, mantenho total certeza de que houve fraude nas eleições de 2018, com vitória do sr. (presidente Bolsonaro) no primeiro turno", mostra um dos documentos descobertos no email de Ramagem. Informações comprovadamente falsas e sem fundamento, puro puxa-saquismo. Um patriota do cercadinho montado em frente ao Palácio da Alvorada teria dito melhor. E por menos dinheiro.

Bolsonaro que deu certo manietando a Justiça eleitoral e corrompendo as Forças Armadas, o ditador Nicolás Maduro também não leva fé nas urnas brasileiras. Dá até para desconfiar que Ramagem —cuja candidatura a prefeito do Rio se sustenta pelo medo da traição— andou fazendo bico na agência de inteligência venezuelana.

A subversão das Olimpíadas, Betty Milan ,FSP

 Betty Milan

Escritora e psicanalista, é membro da Academia Paulista de Letras

abertura dos Jogos Olímpicos em Paris valeu pelo espetáculo, mas sobretudo pela mensagem que passou. Os Jogos têm uma história que remonta à Grécia Antiga —776 a.C., em Olímpia. Foram instituídos em homenagem aos deuses: tratava-se de uma forma de culto, e a vitória era considerada uma honra divina. No início, havia apenas uma corrida a pé. Ao longo dos anos, novas modalidades foram incluídas —corridas de longa distância, lançamento de dardo e luta. Eram muito mais do que uma competição esportiva, representavam a paz entre as cidades gregas, que interrompiam a guerra para participar. Além de simbolizar a união dos povos, o evento valorizava a busca pela excelência, incitava à superação e preconizava o fair play.

A origem dos Jogos Olímpicos, na nossa era, data de 1896, quando foram realizados em Atenas. A ideia de organizá-los se deve a um francês, o Barão de Coubertin, o pai da Olimpíada Moderna, que promove a união entre as nações e a inclusão social através da competição.

A cantora Aya Nakamura se apresenta dura a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris - Esa Alexander/Reuters - Esa Alexander/Pool via REUTERS

A realização das Olimpíadas é disputada pelos países porque traz benefícios para as cidades-sedes. Entre eles, a promoção da cultura e das tradições. A fim de se beneficiar, a França reinventou a abertura. Não abriu os Jogos no contexto fechado de um estádio —pessoas sentadas olhando os atletas desfilar—, mas no centro de Paris. Atravessou a fronteira do estádio para fazer dos jogos uma atividade de outra natureza.

As diferentes delegações desfilaram navegando pelo Sena, onde Paris se originou. Nessa viagem, os monumentos históricos foram aparecendo um a um, a grande beleza foi sendo descortinada. Por causa dela, Paris não foi bombardeada durante a Segunda Guerra. A beleza freia a violência, e é disso que nós mais precisamos.

Quem diz monumento histórico diz rememoração do passado e valorização da arte. A França se serviu dos Jogos para reafirmar a importância da cultura e transmitir a mensagem para o maior número de pessoas. Consequentemente, o significado das Olimpíadas mudou. Sempre existiram para propiciar a disputa e, com isso, controlar a violência. Mas Paris-2024 associou os Jogos Olímpicos à história e à cultura e tanto exaltou o mérito dos atletas quanto o dos que fizeram a França ser o que ela é. Como se esquecer da cena da coreografia na Notre-Dame, das acrobacias dos artistas na catedral que, depois de ter passado por um grave incêndio em 2019, deve ser inaugurada em dezembro graças aos artesãos franceses?

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A abertura parisiense fez valer na escolha dos artistas a igualdade de gênero e de raça e exaltou continuamente as mulheres. As estátuas das heroínas francesas emergiram uma a uma do fundo do Sena, e a bandeira olímpica foi entregue por uma mulher que evocava Joana d’Arc e cavalgou sobre o rio até a Torre Eiffel.

Também os atletas dos países que estão em guerra participaram e, quem viu, não pode duvidar dos benefícios da paz. Os atletas icônicos e suas conquistas épicas foram celebrados para incitar um entendimento que a ONU ainda não alcança. A França transformou os Jogos Olímpicos num modelo de responsabilidade social. Quis ser e será um exemplo a ser seguido.