terça-feira, 2 de abril de 2024

Privatização da Sabesp deve gerar pelo menos R$ 15 bilhões, estima Bradesco, FSP

 

SÃO PAULO

oferta de ações que vai tirar do governo de São Paulo o controle da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de SP) deve sair em junho e girar em torno de R$ 15 bilhões —pouco mais de quatro vezes o lucro da companhia em 2023, de R$ 3,5 bilhões—, segundo estimativas do Bradesco.

A empresa paulista de saneamento prepara um follow-on para que o governo venda entre 15% e 30% das ações da companhia. Hoje o estado detém 50,3% dos papéis da empresa.

Vista aérea de estação de tratamento de água da Sabesp, em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo
Estação de tratamento de água da Sabesp, em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, estatal que deve ser privatizada - Gabriel Cabral/Folhapress

gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirma que não definiu ainda qual será a fatia de venda da Sabesp, mas fontes que acompanham as negociações afirmam que o estado se encaminha para vender 30%, o máximo previsto em lei aprovada pela Assembleia Legislativa no ano passado.

"É uma oferta bastante grande para o mercado brasileiro. Cerca de US$ 3 bilhões é muita coisa", afirmou Bruno Boetger, vice-presidente do Bradesco BBI, nesta terça-feira (2).

Segundo o executivo, há uma forte demanda pela oferta. "Já há empresas estratégicas e financeiras que estão olhando [o follow-on da Sabesp] com muito carinho."

O banco também está otimista com novas ofertas de ações no segundo semestre deste ano na Bolsa de Valores brasileira.

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"Esperamos cinco IPOs no segundo semestre de empresas de qualidade, joias da coroa de seus respectivos setores, prontas para vir a mercado, com governança", disse Boetger em entrevista a jornalistas.

Ao todo, o Bradesco estima que as ofertas de ações, considerando IPOs e follow-ons, totalize entre R$ 40 bilhões e R$ 60 bilhões neste ano.

Para isso, o banco conta com o início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos, com uma primeira redução de 0,25 ponto percentual na Selic americana em junho, levando-a para a faixa de 5% a 5,25% ao ano. Ao fim de 2024, após cortes adicionais, o Bradesco prevê que o juro americano termine a 4,75%.

"Esse é um cenário positivo para o Brasil. Os fundos dedicados a América Latina e Brasil já estão alocados em ativos brasileiros, mas os fundos globais ainda não. Acreditamos que o Brasil está bem posicionado para atrair esses investimentos, pois ele ainda está barato comparado a outros emergentes", disse Boetger.


Produtividade – Por Luis Cosme Pinto, Forum

 


Rodrigo se arrisca sobre duas rodas para servir quem não quer tirar as pantufas

Créditos: Prefeitura de Curitiba
Escrito en OPINIÃO el 

- Eu sentei o dedo com vontade no interfone lá do prédio. Fiz igualzinho no trânsito. O sem noção para na tua frente, o verde acende e ele lá no celular. Aí, é biiiiiiii!!! Biiiiiii!!! Biiiiii!!! Sei que é errado, mas se não buzino o que acontece?

- Não sei.

- Com ele nada. Tá dentro do carro, ouvindo música, digitando, ar condicionado. Já eu, perco tempo. Meu dinheiro vai embora. A gente trabalha por entrega, tá ligado?

- Como assim?

- Quanto mais rápido o frete, mais lucrativo é. Sabe o nome disso?

- Não.

- Chama produtividade. Muita entrega em pouco tempo é igual a mais dinheiro no fim do dia, o encarregado me explicou. Eu trabalho por produtividade. Adoro essa palavra: produtividade.

- Isso também não é exploração?

- Daqui a pouco a gente fala disso, grande. (Rodrigo chama todos de grande e às vezes de senhor) Antes deixa eu te contar o que aconteceu lá no prédio. Na real, eu toquei o interfone com ódio.

- Por quê?

- Noite zoada, um monte de pedido, temporal dos infernos. Eu encosto a moto ensopado e peço pro porteiro receber a encomenda.

- E aí?

- Ele diz que não pode sair da guarita e manda tocar no apartamento. Toco, toco e nada. Até que depois de um tempo, uma voz de sono diz: “Sobe aí.”

- E você?

- Disse que eu não podia e pedi que ele descesse.

- E ele?

- Demorou mais um monte, depois avisou: “tô descendo.”

- Como foi?

- Me aparece um cara de uns 40 anos, pijama de bolinhas, arrastando as pantufas e mexendo no celular. De repente, tira o fone de ouvido e dá um berro: “Vai tirar o pai da forca, véio? Quer destruir o interfone?” Que susto! Quase deixei cair a comida japonesa. Ele gritou mais.

- Você tá aqui para entregar a comida que eu mandei trazer ou veio fazer escândalo?

- O senhor demorou a descer...

- Senhor, muito bem. É assim que eu gosto. Presta atenção, eu demoro o tempo que eu quiser. Tô pagando. Me dá logo esse troço e aprende a esperar com educação. Da próxima vez te denuncio.

- (Rodrigo fingiu que não ouviu) O senhor vai pagar com cartão?

- (Com riso cínico) Tô pensando...

- Assim, vou ter que cancelar a entrega.

- (Bufando) Toma aqui o cartão, aproxima logo. Vai, vai, some daqui.

- É sempre assim a rotina do entregador?

- Não, tem muita gente legal, bem educada e generosa.

-  Como é?

- Pessoas que perguntam o seu nome, cumprimentam, se desculpam quando atrasam. Muitas dão gorjeta. Outro dia uma senhora me ofereceu um chocolate. Tem uma freguesa de Pinheiros, que já desce com um copo d’água, às vezes mate. Precisa ver que delícia.

- E a turma da entrega?

- Tudo irmão. Se fura um pneu, já chega uma galera pra ajudar, o mesmo quando o tanque seca.

- E a produtividade como fica?

- A gente é mano, depois sai a trilhão e recupera o tempo. Desde a pandemia tá sobrando serviço. O povo quer tudo em casa, na mão. É nóis, entendeu?

- Não.

- É nóis que vai fazer o trampo. Teve sábado que eu fiz mais de 30 entregas: compra de mercado, farmácia, lanche, jantar. Em cada uma, ganho dez reais. Faz as contas.

- Baita produtividade.

- Sabia que o senhor tinha gostado.

Dez da noite. O entregador Rodrigo Fernandes, 24 anos, três tombos sem gravidade, 14 horas de trabalho por dia sem carteira assinada e nenhum direito trabalhista, aguarda na fila de uma lanchonete o pedido que fez para ele mesmo. Terminou o trabalho mais cedo porque vai jantar em casa. Foi ali, na fila, que começamos a conversar. Já com alguma intimidade, eu pergunto.

- Você não pede delivery?

- Não, motoqueiro não aguenta esperar (risos). Colo na lanchonete e peço pra viagem. Que nem aqui. Vou comer esse pastel rapidinho e levar uma pizza pra família.

- Você já tem família?

- Mulher e dois meninos. Olha aqui a foto. Tarcísio com 3 e Victor com 2.

- Lindos. Parabéns. Obrigado pela conversa. Vou indo.

- Pô ia te contar como começou essa história da família...

- Oba, quero ouvir.

(Continua na semana que vem)

*Dedico esta crônica ao melhor entregador do Brasil, Guilherme Jesus. Ele me ajudou com sugestões e histórias do mundo dos motoboys.

*Luis Cosme Pinto é autor de Birinaites, Catiripapos e Borogodó, da Kotter.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.