sexta-feira, 10 de junho de 2022

São Paulo construiu 1,2 milhão de apartamentos em seis décadas, FSP

 Mariana Zylberkan

SÃO PAULO

Ao longo de seis décadas, o processo de verticalização na cidade de São Paulo levou à construção de 1,2 milhão de apartamentos e se acentuou entre os anos 1960 e 1970, quando a zona oeste passou a disputar com a região central a homogeneidade do mercado imobiliário.

Até os anos 1960, os lançamentos de unidades não saíam do eixo República-Consolação-Bela Vista. De 1950 a 1959, foram construídos 38 mil apartamentos, 72% deles na região central.

A partir de 1970, o foco das construções mudou. O início do adensamento de bairros disputados pelas construtoras, como Jardim Paulista, Perdizes, Itaim Bibi, na zona oeste, e Vila Mariana, na zona sul, coincidiu com o primeiro boom imobiliário da cidade.

Foto aérea do bairro do Tatuapé
Prédios no Tatuapé, na zona leste de São Paulo, onde verticalização foi intensificada a partir dos anos 1990 - Eduardo Knapp - 20.jan.22/ Folhapress

De uma década para outra, o número de novos apartamentos triplicou. A cidade lançou 64,1 mil nos anos 1960, contra 193,1 mil nos anos 1970. Na década de 2010, esse número saltou para 262,2 mil.

Os números são de levantamento do Portal Loft, plataforma da startup imobiliária para divulgar dados do setor inaugurada neste mês, com base nas informações do IPTU. Foram considerados imóveis construídos de 1950 a 2019.

"A verticalização em São Paulo seguiu a demanda nas regiões onde se concentravam a oferta de empregos e o desenvolvimento do transporte público", diz Rodger Campos, gerente de dados da Loft.

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"A aglomeração dos empregos começou no centro, na praça da Sé, e se deslocou para as avenidas Paulista, Rebouças, Faria Lima e a região de Pinheiros. O mercado de trabalho demanda espaço para se alocar e as famílias também. A solução para isso é a verticalização", afirma Campos.

Diferentemente de outras cidades do mundo, o adensamento em São Paulo não seguiu um projeto urbanístico, e o paliteiro urbano acabou acompanhando a construção das linhas do metrô e das grandes avenidas.

"A verticalização começou em direção à avenida Paulista, quando chegou perto da Barra Funda, esbarrou nos galpões industriais e seguiu em direção a Perdizes, Cerqueira César e Consolação", explica o urbanista Kazuo Nakano, professor do Instituto das Cidades da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Isso porque, explica Nakano, o investidor de incorporação imobiliária busca áreas onde há mais vantagens ao comprador para atrair lucro com maior aproveitamento da terra urbana. Isso se intensificou nos anos 1970, com a implantação do metrô na cidade.

"O processo de verticalização foi induzido pelo sistema de metrô com mais construções nas extremidades das linhas em um primeiro momento, porque era onde ainda havia terrenos desocupados", diz.

A relação entre meio de transporte e habitação é prevista pelo PDE (Plano Diretor Estratégico) de São Paulo, sancionado como lei municipal em 2014. O ordenamento de construções também é regrado pela Lei de Zoneamento, embora a verticalização da cidade tenha começado bem antes das leis.

Em processo de revisão, o PDE criou incentivos para a construção de unidades pequenas próximo a eixos de mobilidade urbana, como estações de metrô e corredores de ônibus. O intuito foi condensar mais pessoas em locais de fácil acesso de transporte como uma forma de reduzir o trânsito na cidade e também diminuir o processo de espraiamento da metrópole.

O gerente de dados da Loft explica que a proximidade a esses microcentros urbanos inseridos em cada bairro é um dos principais parâmetros para definir os valores dos imóveis, por exemplo. "Os preços vão ser mais caros nos subcentros, porque oferta de emprego e de transporte são âncoras para definir precificação", diz.

Outros fatores, como políticas públicas habitacionais, também impulsionaram a inauguração de empreendimentos imobiliários. Nas periferias, principalmente na zona leste, as construções se tornaram mais frequentes a partir de 1990, quando se consolidou a entrega de conjuntos habitacionais populares da Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo).

Em 1995, por exemplo, Cidade Tiradentes teve um salto de verticalização. O maior complexo da Cohab fica no bairro, com cerca de 40 mil unidades. Dez anos antes havia sido a vez de Sapopemba e Artur Alvim, de acordo com o estudo.

A construção desses conjuntos habitacionais, porém, deixou terrenos públicos abandonados nos arredores, que não foram aproveitados. Eles não se transformaram em áreas construídas, o que favoreceu o surgimento de ocupações irregulares, segundo o urbanista Nakano.

Entre os anos 1980 e 1990, a construção de novas unidades habitacionais na cidade teve o primeiro resultado negativo desde 1950, quando foi registrada retração de 2% nos lançamentos, segundo o estudo da Loft.

O levantamento mostrou que, mais recentemente, a partir de 2010, o bairro mais disputado pelas construtoras foi a Vila Andrade, na zona sul, em decorrência do prolongamento da linha 5-lilás do metrô.

A primeira vez que o bairro apareceu no ranking dos dez com maior número de imóveis novos foi nos anos 1990, em oitavo lugar. Na década seguinte, foi para terceiro lugar, e na de 2010 ocupou o topo da lista, com 12,7 mil unidades entregues em dez anos.

Segundo o levantamento, a lista de bairros com maior número de unidades habitacionais entregues entre a década de 1950 e a de 2010 é encabeçada por Itaim Bibi, com 54,4 mil apartamentos residenciais, seguido por Vila Mariana (52,8 mil), Jardim Paulista (51,4 mil), Moema (39,7 mil) e Perdizes (38,8 mil).

E POR QUE FALTA TETO?

Apesar da intensa atividade da construção civil na cidade, o déficit habitacional ainda é um problema escancarado na metrópole.

Como mostrou a Folha, a cidade tem hoje um déficit de 369 mil domicílios, de acordo com dados do PMH (Plano Municipal de Habitação). Estudo da consultoria econômica Econnit estima que, até 2030, o problema vá se agravar, e seriam necessárias 73 mil novas residências por ano para suprir a demanda por moradia na capital paulista.

De 2015 a 2019, porém, foram entregues menos de 20 mil por ano, de acordo com o levantamento da Loft.

Para o gerente de dados da startup, o déficit habitacional crônico é consequência de crescimento demográfico acelerado, que produz cidades inchadas do ponto de vista da moradia. "A cidade nasce em algum lugar e, a partir do momento que houve maior entrada de pessoas, uma parcela foi acomodada em favelas e áreas invadidas", diz.

No mesmo período em que São Paulo entregou 1,2 milhão de apartamentos residenciais, entre 1950 e 2019, a população da cidade mais que triplicou: foi de 3,5 milhões de habitantes para 11,2 milhões, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O equilíbrio entre verticalização e densidade habitacional, visto por urbanistas como a fórmula ideal para a construção de uma cidade mais justa, ainda está distante de ser alcançado. Nakano diz que, atualmente, o mercado imobiliário segue a tendência de investir em imóveis de alto padrão com condomínios aos moldes de clubes que ocupam mais terra urbana para habitar menos pessoas.

Além disso, segundo Nakano, para continuar o processo de expansão, o mercado imobiliário ​tem rumado para os polos metropolitanos, as cidades da Grande São Paulo, como Osasco, Guarulhos e Barueri.

Mesmo durante a atual crise econômica do país, o mercado da construção civil segue aquecido na cidade por causa do mercado financeiro, cada vez mais imbricado com o imobiliário em razão dos fundos de investimento. "É a financeirização da produção imobiliária e da moradia", diz Nakano.

EUA: Comissão parlamentar acusa Trump de incitar golpe de Estado, Meio

 O ataque ao Capitólio no dia 6 de janeiro, quando o Congresso dos EUA homologou a vitória de Joe Biden, foi uma tentativa de golpe de Estado liderada pelo então presidente Donald Trump. Essa foi a conclusão apresentada ontem pela comissão parlamentar na primeira audiência pública para apresentar o resultado de suas investigações. Ao longo de um ano, os sete parlamentares de ambos os partidos ouviram mais de mil testemunhas e analisaram cerca de 1,4 mil documentos. Na audiência foram apresentados vídeos inéditos da violência, além de gravações de depoimentos. “A violência não foi acidental”, disse o presidente da comissão, o democrata Bernie G. Thompson. “Ela representou a última e mais desesperada tentativa de Trump de impedir a transferência de poder”. (Washington Post)

Para ler com calma. Como um presidente que não aceitava a derrota trabalhou com um grupo de apoiadores em busca de uma estratégia atrás da outra para subverter a democracia e reverter o resultado das eleições. (New York Times)

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Em seu primeiro encontro com o presidente americano Joe Biden, Jair Bolsonaro (PL) mudou o tom e amenizou as ameaças à democracia. Os dois chefes de Estado se reuniram durante a Cúpula das Américas, em Los Angeles. Embora tenha enfatizado querer eleições “limpas, confiáveis e auditáveis”, Bolsonaro disse ter certeza de que elas acontecerão num “espírito democrático”. “Cheguei pela democracia e tenho certeza que, quando deixar o governo, também será de forma democrática", disse. A manutenção da democracia no Brasil é, segundo assessores de Biden, um dos principais temas que o presidente americano quer abordar. (UOL)

Biden, por sua vez, afagou o convidado dizendo que o Brasil “sempre será prioridade” para os EUA, mas enfatizando a defesa da democracia. “Não há razão pela qual o Ocidente não possa ser a região mais progressista, democrática, próspera, pacífica e segura do mundo. Temos potencial ilimitado e imensos recursos”, afirmou. Ele também defendeu que o Brasil aceite ajuda de outros países na preservação da Amazônia. (Poder360)

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A Justiça do Amazonas decretou ontem a prisão temporária de Amarildo da Costa de Oliveira, suspeito de envolvimento no desaparecimento do indigenista Bruno Araújo e do jornalista inglês Dom Phillips. O pedido foi feito pela polícia após uma perícia identificar vestígios de sangue no barco dele, embora ainda não se saiba se é humano ou de algum animal. Conhecido como ‘Pelado’, Amarildo foi preso por posse de munição de uso restrito e drogas, e testemunhas disseram que ele saiu de barco logo em seguida a Araújo e Phillips na manhã de domingo, antes de os dois desaparecerem. (g1)

A família de Dom Phillips reagiu à declaração do presidente Jair Bolsonaro de que ele e Araújo fizeram uma “aventura não recomendável”. “Acho que ele [Bolsonaro] está colocando a culpa no meu irmão por uma ‘aventura’. Não é uma aventura. Ele é um jornalista, ele está pesquisando para um livro que vai escrever sobre como salvar a Amazônia”, disse Sian Phillips, irmã do jornalista. (Poder360)

Aliás... As famílias de Dom e Bruno estão precisando de ajuda, de recursos mesmo, enquanto há esperança. Uma vakinha foi posta no ar. Se puder, colabore.

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quinta-feira, 9 de junho de 2022

Ruy Castro - Um dia, um jornal, FSP

 No dia 2 de junho de 1959, todos os jornais do Brasil chegaram às ruas com um ranço de que, na véspera, não se suspeitava. De repente, pareciam uma bagunça. Suas páginas eram uma mixórdia de títulos, letras e fotos desencontrados, de tamanhos diferentes, sem lógica ou coerência, como se empilhados à medida que iam chegando à mesa do diagramador. Os textos eram aprisionados por fios que os espremiam à quase asfixia e sofriam daquele irritante recurso: começava-se a ler e vinha o "Continua na página tal".

O que revelou a súbita velhice desses jornais foi a novíssima face de um matutino carioca de 68 anos, lançada naquele dia: o Jornal do Brasil. Sua primeira página era de inédita clareza e modernidade. Os textos, alinhados por tamanho, altura e largura, aproximavam-se por assunto. Os títulos tinham objetividade de jornal e charme de revista. As fotos combinavam leveza e beleza, com as câmeras 35mm em vez das pesadas Rolleiflex. E os fios haviam magicamente desaparecido, permitindo à página —e ao leitor— respirar pelo espaço em branco.

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Não foi só uma reforma gráfica, mas uma reforma jornalística, que só um jornalista poderia conceber. Foi, inclusive, o fim do "Continua..." —cada notícia vinha agora completa e resumida na primeira página, e só então remetia ao miolo. Para isso, havia os copidesques, redatores que reescreviam o que os repórteres traziam da rua ou chegava pelas agências de notícias. Pelos dois anos seguintes, a revolução do Jornal do Brasil se consolidou. Os concorrentes, apanhados no contrapé, tentaram preservar sua identidade, mas, um dia, tiveram de se espelhar no JB.

Já se atribuiu a muita gente a autoria dessa reforma. Mas ela foi de Janio de Freitas, às vésperas dos seus 27 anos naquele dia 2 de junho.

O mesmo Janio que completou 90 nesta quinta (9) e cuja história, única na imprensa brasileira, continua há 42 anos na Folha.

O jovem Janio de Freitas na sucursal da Folha no Rio de Janeiro - Acervo Pessoal