quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Meirelles sobre a reforma da previdência


À frente da Secretaria de Fazenda de São Paulo, o ex-ministro Henrique Meirelles afirmou, em entrevista ao Estado de S. Paulo, que fará ajustes na Previdência estadual assim que uma reforma for aprovada pelo Congresso Nacional. Meirelles confia que a proposta será aprovada ainda no primeiro semestre deste ano. Responsável pelo projeto na gestão Michel Temer, o ex-ministro da Fazenda admitiu que não houve um engajamento firme dos governadores, mas considera que a situação agora é diferente. Meirelles disse que o mais provável é que o governo João Doria (PSDB) faça um contingenciamento “cautelar” entre 2% e 3% das despesas. Leia os principais trechos da entrevista:


Qual é a estratégia para as finanças de São Paulo, que está em situação melhor que outros estados, mas também passa por dificuldades? Estamos fazendo uma revisão rigorosa e cuidadosa de todos os itens do Orçamento para 2019, exatamente vendo qual é o número de receitas recorrentes e o que depende de vendas de ativos, receitas eventuais, etc. A nossa conclusão é que vai, sim, haver uma dependência da alienação de ativos para equilibrar (as contas). O Orçamento aprovado pela Assembleia Legislativa, de receitas e despesas equilibradas em R$ 231 bilhões, prevê nessas receitas R$ 10 bilhões com venda de ativos.

Haverá contingenciamento? 

Havendo necessidade, vamos contingenciar uma parte. Agora, nós contamos certamente, e é parte importante da estratégia, em fazer entrada de capital privado na Sabesp. E tem duas alternativas, duas hipóteses: ou a manutenção da legislação que prevaleceu até agora, com isso nós faríamos a montagem de uma companhia holding da Sabesp e venderíamos ações da companhia holding. Nesse caso, esperamos arrecadar cerca de R$ 5 bilhões. É uma estimativa. Por outro lado, existe medida provisória em tramitação no Congresso. Caso essa MP seja transformada em lei, haverá possibilidade concreta, de fato, de privatização da Sabesp. Portanto, a venda do controle. Nesse caso, haveria possivelmente a entrada de mais recursos, possivelmente algo na casa de dois dígitos, mais de R$ 10 bilhões.

Que outras privatizações o senhor pretende fazer? Tem outro projeto prioritário que é a privatização de presídios. É algo que, de fato, oferece possibilidades e temos aí um número bastante expressivo de presídios que poderão ser colocados para privatização, o que poderá não só oferecer uma melhor qualidade de serviços, mas também certamente vai gerar arrecadação suplementar. Para se ter uma ideia, no caso do presídio, possivelmente não será privatização de grande controle, porque não é uma companhia. Será uma concessão de serviço, via PPP (Parceria Público-Privada) ou concessão ou cessão. Existem 71 unidades com aproximadamente 200 mil detentos, e 11 presídios em construção. Então, isso também é um projeto relevante.

Onde seria preciso cortar despesas nesse primeiro momento?É um valor, considerando-se o porte do Estado, de R$ 231 bilhões em despesas, é um valor pequeno. Estamos pensando algo entre 2% e 3% das despesas totais. Então, é um contingenciamento cautelar, que poderá ser liberado à medida que essas vendas de ativos começarem a se concretizar.

A Previdência de São Paulo tinha um problema de registro divergente do Tesouro Nacional. Como está isso? É um problema da Previdência de todos os estados. Vamos trabalhar também num projeto de reforma no âmbito da reforma federal. No momento em que reforma federal for aprovada, daí nós faremos também os necessários ajustes aqui na Previdência do estado. Nós temos já um fundo de previdência complementar, que é importante, relevante, a Prevcom, e temos também a SPPrev. Ou seja, São Paulo tem já uma estrutura desenvolvida nisso. Agora, como todo o país, precisa fazer olhando para frente, para o futuro, uma reforma também da Previdência estadual mais à frente

O que será necessário fazer na Previdência do estado? Estamos estudando isso. Não é uma situação como a federal, que tem um déficit (grande). Hoje, muitos estados têm deficit grande, que não é financiável, e têm de fazer uma reforma. São ajustes de longo prazo, mas nos pontos clássicos de idade mínima, tempo de contribuição etc. É uma situação importante, pelo aumento da expectativa de vida dos brasileiros e dos paulistas, mas não é situação de emergência como é a nacional.

O senhor esteve à frente da proposta de reforma do governo Michel Temer. Como vê as chances de aprovação da reforma pelopresidente Jair Bolsonaro? 

Acho que está indo da forma adequada. Quanto mais cedo o governo definir qual é o projeto, melhor e mais rápida será a negociação com o Congresso.

Acha que dá para aprovar no primeiro semestre? Acredito que sim, esse é um projeto que andou muito bem durante o ano de 2017. Em 2018, não, porque teve a eleição.

Os policiais militares são um problema para a Previdência do estado? Não, normal, como todas as polícias militares. É algo que terá de ser devidamente endereçado por conta do aumento da expectativa de vida. É um processo normal. Não é um problema específico. Estamos conversando, tratando de outros assuntos. Tenho tido reuniões sobre outros assuntos com o secretário de Segurança, é um clima de total cooperação.

Faltam 3.000 km para que a ferrovia Norte-Sul ligue extremos do país,

Faltam 3.000 km para que a ferrovia Norte-Sul ligue extremos do paísFoto: Beth Santos/Secretaria Geral da Presidência da República
De acordo com a Valec Engenharia, Construções e Ferrovias, empresa que faz a gestão desse sistema, até o momento foram investidos R$ 12,5 bilhões. Hoje a ferrovia Norte-Sul está dividida em três partes: Tramo Norte, entre Açailândia (MA) e Porto Nacional (TO), com 720 quilômetros de extensão, já em operação e administrado pela subconcessionária "Ferrovia Norte Sul S.A" desde 2007, com movimentação de 8,4 milhões de toneladas de produtos em 2018; o Tramo Central, com 855 quilômetros de extensão entre Palmas (TO) e Anápolis (GO), que se encontra em operação pela Valec desde 2015; e o Tramo Sul, entre os municípios de Ouro Verde de Goiás (GO) e Estrela d´Oeste (SP), com 682 km de extensão, cujas obras estão em fase final.
Confira a seguir as condições atuais dos principais trechos que compõem a Ferrovia Norte-Sul, que, quando totalmente implantada terá extensão superior a 4.100 quilômetros.
Barcarena (PA) - Açailândia (MA) - Em projeto. São aproximadamente 477 quilômetros de extensão, concebidos com o propósito de ampliar e integrar o sistema ferroviário nacional e estabelecer a sua interligação com o Complexo Portuário de Vila do Conde, no Pará. A implantação desse trecho transformará a logística regional de transporte de minério de ferro e o desenvolvimento da exploração de outros minerais. Também facilitará o escoamento da produção de açúcar, milho, etanol, soja e seus subprodutos (farelo e óleo) na área de influência da ferrovia.
Açailândia (MA) - Palmas (TO) - Com 720 quilômetros de extensão, o trecho encontra-se subconcedido à ferrovia Norte-Sul S.A. Essa estrada de ferro facilitou a logística de transporte de etanol e grãos, como milho, soja (além de farelo e óleo) para a região Centro-Norte do Brasil. Em Açailândia (MA), a ferrovia se conecta à estrada de ferro Carajás - EFC, que acessa o complexo portuário de São Luís (MA). Em Porto Franco (MA), com a implantação da ligação a Eliseu Martins (PI), a ferrovia Norte-Sul se conectará com a ferrovia Transnordestina, em construção, o que permitirá acesso aos portos de Suape (PE) e Pecém (CE).
Palmas (TO) - Anápolis (TO) - O trecho de 855 quilômetros foi concluído em 2014 e é operado pela Valec. Nesse trecho são transportados principalmente farelo de soja, madeira triturada e minério de manganês. A ferrovia Norte-Sul (FNS) terá acesso a vários portos e corredores de exportação, sendo que em Figueirópolis(TO) se conectará à ferrovia de integração Oeste-Leste. Isso permitirá o acesso ao Porto Sul, que será construído nas proximidades de Ilhéus (BA). Em Campinorte (GO), vai se interligar com a ferrovia de integração do Centro-Oeste, estabelecendo um canal com a maior região produtora de soja do país, no estado de Mato Grosso.
Ouro Verde (GO) - Estrela d´Oeste (SP) - Partindo de Ouro Verde de Goiás, cidade distante 40 quilômetros ao norte de Anápolis, esse trecho, em construção, atravessará boa parte do sudeste goiano, uma das principais regiões do agronegócio no país, e chegará a Estrela d´Oeste (SP), completando 684 km de extensão. Em Estrela d'Oeste, a ferrovia Norte-Sul se conectará com a ferrovia EF-364, operada pela Rumo Logística, acessando assim o Porto de Santos.
Estrela d'Oeste (SP) Panorama (SP) - Em projeto. A ferrovia Norte-Sul pretende avançar até Panorama/SP, às margens do rio Paraná, numa extensão de 264 quilômetros. Esse prolongamento proporcionará nova alternativa de transporte para a produção agroindustrial do oeste paulista e leste de Mato Grosso do Sul. Em Panorama (SP), a ferrovia se conectará com a EF-366, operada pela Rumo, com possibilidade de acesso ao Porto de Santos(SP).
Panorama (SP) / Chapecó (SC) - A partir de Panorama/SP, a ferrovia prosseguirá em direção ao sul, até Chapecó, atravessando os estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Esse trecho ferroviário proporcionará nova opção de transporte para a produção da região. Os estudos de viabilidade já foram concluídos e a extensão final do trecho foi de 950,8 quilômetros.
Chapecó (SC) / Rio Grande (RS) - A ferrovia também prosseguirá até o porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Os estudos de viabilidade estão concluídos e a extensão final do trecho foi de 832,9 quilômetros.

Fim das baterias? Pesquisadores do MIT conseguem ligar aparelho usando sinais de wi-fi, BBC news

Estados Unidos - As baterias e os carregadores estão com os dias contados. Isso se estiverem certos os pesquisadores da universidade americana Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) que estudam a transmissão de energia usando sinais de wi-fi.

"Apresentamos uma nova maneira de dar energia a sistemas eletrônicos no futuro - simplesmente captando energia wi-fi de uma maneira que pode ser facilmente integrada a áreas abrangentes", explica o cientista Tomás Palacios, professor do Departamento de Engenharia Elétrica e Ciências da Computação do MIT, que há tempos dedica-se a estudar formas mais econômicas e inteligentes de energia elétrica.

A pesquisa foi tema de artigo publicado nesta segunda-feira pelo periódico científico Nature.

Antena flexível de radiofrequência

Os cientistas partiram da mesma ideia dos transformadores capazes de converter ondas eletromagnéticas de corrente alternada em eletricidade de corrente contínua. Em seu modelo, utilizaram um dispositivo com uma antena flexível de radiofrequência, capaz de captar tais ondas.

Esse receptor foi conectado a um dispositivo feito de um semicondutor bidimensional extremamente fino - apenas três átomos de espessura.

Esse semicondutor converte o sinal em tensão elétrica contínua, pronta para alimentar baterias recarregáveis ou, diretamente, circuitos eletrônicos. Ou seja: o dispositivo não tem bateria, mas captura os sinais de wi-fi presentes no local e os transforma, de forma passiva, em corrente elétrica.

Nas experiências realizadas em laboratório, os cientistas conseguiram obter 40 microwatts de energia elétrica quando o dispositivo estava exposto aos 150 microwatts de uma rede wi-fi convencional. É potência elétrica mais que suficiente para manter ligada uma tela de tablet ou fazer funcionar pequenos chips eletrônicos.

Uso para fins médicos

Esse formato bidimensional e flexível do dispositivo é o que parece empolgar mais os pesquisadores. "E se pudéssemos desenvolver sistemas eletrônicos e envolver uma ponte ou uma rodovia inteira? Ou as paredes de nosso escritório? Traríamos inteligência eletrônica a tudo ao nosso redor", prevê Palacios.

Entre os usos do sistema, além de aparelhos eletrônicos do dia a dia, estão os sensores para gadgets integrados à chamada "internet das coisas".

No caso de celulares, uma novidade assim vem ao encontro de avanços da indústria no design de aparelhos flexíveis e cada vez mais finos.

O pesquisador Jesús Grajal, da Universidade Técnica de Madri, coautor do estudo, lembra que também seria possível utilizar o dispositivo para fins médicos. Não só para manter alimentados os equipamentos de um dia a dia hospitalar, mas também para futuros gadgets que precisam ser muito pequenos para uma bateria convencional.

Um exemplo: atualmente, há pesquisadores desenvolvendo pílulas que podem ser engolidas pelos pacientes para coletar e transmitir, com precisão, dados de saúde dos mesmos - para fins de diagnóstico. Uma solução de energia assim seria a ideal em casos específicos como este.

Nesses casos, as preocupações vão além do tamanho das baterias convencionais. "O ideal é não usar baterias para alimentar esses sistemas, porque se houver um vazamento de lítio, o paciente pode morrer", afirma Grajal. "Desta forma, é muito mais seguro colher energia do ambiente para ligar esses minúsculos laboratórios dentro do corpo."

Composto inorgânico

O material utilizado pelos pesquisadores para a construção desse eficiente transformador de correntes é o MoS2, ou dissulfeto de molibdênio. Trata-se de um composto inorgânico, que é encontrado no mineral molibdenita - as principais jazidas estão na República Checa, na Noruega, na Suécia, na Austrália, na Inglaterra e nos Estados Unidos.

Os pesquisadores criaram um dispositivo de MoS2 com apenas três átomos de espessura, o suficiente para que ele funcione, como um dos semicondutores mais finos do mundo. Isso ocorre porque os átomos do material se comportam de uma maneira particular, reorganizando-se como um interruptor.

Os pesquisadores envolvidos acreditam que o material tenha capacidade para capturar e converter até 10 GHz de sinais sem fio.

"Esse dispositivo é rápido o suficiente para abranger a maior parte das bandas de frequência utilizadas hoje, de sinais de celular, de bluetooth, de wi-fi e muitos outros", afirma o pesquisador Xu Zhang, principal autor do estudo.

A eficiência energética obtida com o modelo é de 30%. O grupo agora pretende testar novos modelos e materiais em busca de melhorar esse potencial e diminuir a perda energética.

Em entrevista à BBC News Brasil, Zhang explicou que ainda é preciso um longo processo para que o dispositivo ganhe um versão comercial, ou seja, esteja ao alcance do usuário comum. "Precisamos desenvolver um único dispositivo para uma série de conversões e otimizar o processo tanto do projeto quanto da fabricação de circuitos. Só então será viável usar algo assim para os eletrônicos do dia a dia",