quinta-feira, 5 de julho de 2018

Cubo Itaú ampliará de 55 para mais de 200 o número de startups residentes, Fapesp

Claudia Izique  |  Pesquisa para Inovação – No início do segundo semestre, o Cubo Itaú, hub de fomento ao empreendedorismo tecnológico criado pelo Itaú Unibanco, vai mudar de endereço e multiplicar por quatro a área de 5 mil metros quadrados que hoje abriga 55 startups em convivência com 11 grandes empresas como Accenture, AES Brasil, Cisco, Gerdau, MasterCard, entre outras. Outras 250 startups estão instaladas no Cubo Digital.
“Com a expansão, aumentaremos a capacidade para mais de 200 startups no espaço físico e 40 parceiros. Nossa proposta de geração de valor deu tão certo que estamos saindo de um prédio de quatro andares para outro de 12, para abrigar ainda mais inovação e gerar mais fomento para o ecossistema”, afirma Lineu Andrade, diretor de tecnologia do Itaú Unibanco, responsável pelo Cubo Itaú.
O Cubo Itaú foi criado no final de 2014. “Trata-se de um espaço, físico e digital, para criar conexões e gerar valor entre empreendedor e investidor, grandes empresas, universidades e outros empreendedores”, afirma Andrade. O objetivo da iniciativa é gerar oportunidades de negócios entre os residentes – startups maduras, com potencial de escala –, previamente selecionadas por um board especializado, e potenciais clientes, em geral, grandes empresas.
“As empresas parceiras do Cubo Itaú contribuem com a proposta de fomento. Promovem palestras, mentorias, networking e workshops, iniciativas que estimulam o aprendizado e a aproximação entre as grandes corporações e as startups”, diz.
Credenciam-se para a residência no Cubo Itaú startups tecnológicas com potencial de escala e que já tenham seu negócio testado e “provado” pelo mercado. “Ou seja, precisa ter clientes”, sublinha Andrade. O board de seleção é formado por Cubo Itaú, Itaú Unibanco e RedPoint eventures – empresa de venture capital com foco em internet –, cofundadora da iniciativa.
“Entendemos que o que faz uma startup ou qualquer outra empresa dar certo é ter clientes. As empresas fundadoras do Cubo [grandes empresas] não investem nas startups por princípio, mas apenas se tiverem interesse de mercado”, ele ressalta.
Biotecnologia e inteligência artificial
Uma das empresas residentes no Cubo Itaú é a InYou, uma plataforma que combina biotecnologia, inteligência artificial e estilo de vida em solução de healthtech disponível para o cliente por meio de aplicativo. “Somos uma plataforma de mudança no estilo de vida, apoiada em três pilares: alimentação, exercício físico e saúde mental, notadamente, meditação, cujo desafio está na motivação e engajamento”, resume Vinicius Marcondes, gerente comercial da In You.
Para o cliente, a plataforma está estruturada em três níveis: um cardápio de soluções para cada um dos pilares, consultoria remota de nutricionistas e exame de DNA. “O exame é feito no laboratório Pathway, em San Diego, na Califórnia. Os testes não detectam doenças; o foco é prevenção. São avaliados 156 polimorfismos para obter informações relacionadas à alimentação e exercícios”, esclarece Marcondes.
A In You foi criada em 2017. Instalou-se num escritório na Faria Lima, antes de mudar-se para o Cubo. “A grande vantagem é o network com outras startups, a possibilidade de falar de negócios e trocar experiências. O ambiente é fértil para ideias. No momento, estamos estudando parceria com uma grande empresa para um programa de mudança de hábito”, ele diz.
O aplicativo está no mercado desde novembro de 2017. Foi reformulado no início de 2018 e ganhará uma nova versão em julho. “A startup é dinâmica. Até recentemente, o produto era comercializado por meio de profissionais da saúde. Não atingimos os resultados pretendidos. Agora, isso será feito diretamente ao público, por meio de influenciadores e redes sociais”, conta Marcondes.
A InYou é investida pela Advanced Digital Health (ADH), empresa brasileira de tecnologia especializada em análise de mapeamento genético voltada para a prevenção de doenças, promoção do bem-estar e longevidade, de capital aberto. No Relatório de Resultados de 1º Trimestre de 2018, dirigido ao mercado, a ADH informa que a geração de caixa da InYou foi “modesta”, mas aposta no crescimento do mercado de healthtech: afirma que o “DNA” da startup “tem foco no atendimento mais amplo possível de negócios no Brasil e, no momento oportuno, no mercado global”.
Iniciativa aberta
Desde a sua instalação, o modelo adotado pelo Cubo Itaú também passou por ajustes. “Um deles foi o entendimento de que a iniciativa não é um coworking. Apesar de as startups trabalharem lado a lado, não é qualquer pessoa ou empresa que pode entrar no ambiente e alugar um espaço para trabalhar. Selecionamos as empresas que ocupam nosso espaço”, explica Andrade.
Ele acrescenta ainda que o Cubo é uma iniciativa aberta: “Qualquer empresa que enxergar sentido na solução de startups residentes no Cubo Itaú pode fazer negócio, virar cliente ou até mesmo investir e virar sócio”.
Para o Itaú Unibanco, um dos principais benefícios da implantação do Cubo foi a mudança cultural promovida diariamente na organização. “Todos os executivos do banco passaram pelo Cubo de alguma forma, seja pelo Cubo Day ou por qualquer outra atividade atrelada ao espaço. A proposta de mudança de mindset, ganho de agilidade, transformação nos processos entre outros, foram os principais ganhos para o Itaú Unibanco.”
Não há, por parte do banco, qualquer apropriação de tecnologia ou de “inteligência” desenvolvida por startup. “Só nos envolvemos com a startup se identificarmos que a solução faz sentido para nossa organização ou para nossos clientes. Até agora, contabilizamos mais de 40 projetos em andamento e concluídos com o banco. Incorporamos as novas soluções em nossa gama de serviços e melhoramos a experiência de nossos clientes”, concluiu.
Cubo Itaú
https://cubo.network/
Rua Casa do Ator, 919 - Vila Olímpia , São Paulo - SP CEP 04546-003
Palavras-chave: Cubo Itaú, empreendedorismo tecnológico, Lineu Andrade, In You, Vinicius Marcondes, healthtech, Advanced Digital Health

Enzima transforma biomassa em bioprodutos, Jornal da Unicamp

Grupo de pesquisa internacional, do qual participam pesquisadores da Unicamp, identificou uma nova enzima e elucidou o seu mecanismo de ação, que cumpre papel importante no processo de conversão da biomassa lignocelulósica, proveniente de fontes renováveis como cana-de-açúcar e milho, em produtos de alto valor agregado, entre eles biomateriais, biocombustíveis e bioplásticos. Artigo científico com os resultados do estudo foi publicado no último dia 27 de junho pela revista Nature Communications, do Grupo Nature. A contribuição dos profissionais da Universidade ao projeto foi na área computacional, por meio de simulações que orientaram as experimentações.
Pela Unicamp, participaram o pós-doutorando em Química Rodrigo Leandro Silveira e seu supervisor, o professor Munir Skaf, que também responde pela Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da Universidade. Silveira explica que embora enzimas da mesma família, conhecidas como citocromos P450, ocorram comumente na natureza, inclusive no organismo humano, respondendo por boa parte do metabolismo de fármacos no fígado, não se conhecia até o momento um representante envolvido em processos de conversão de lignina. Os pesquisadores batizaram essa enzima de GcoA, na sigla em inglês. Essa diminuta estrutura, segundo o pesquisador, tem atributos especialíssimos. “Diferente de outras enzimas, ela é uma entidade extremamente versátil, com capacidade de atuar em diferentes substratos”, aponta Silveira.

Foto: Perri
O pós-doutorando Rodrigo Silveira: colaboração brasileira foi na área computacional, por meio de simulações que orientaram os experimentos

O pesquisador fornece mais detalhes sobre o mecanismo de ação da GcoA. Segundo ele, a enzima está relacionada ao metabolismo bacteriano da lignina, um polímero que, junto com a celulose e a hemicelulose, confere resistência e defesa às plantas. Dito de modo simplificado, uma determinada classe de bactérias utiliza a enzima para degradar a lignina e utilizá-la como fonte de energia, ou seja, como alimento. “Trata-se de um processo bastante sofisticado porque a lignina apresenta uma composição química muito heterogênea. Do ponto de vista molecular, ela é composta por muitas unidades diferentes, que por sua vez apresentam ligações químicas igualmente diversas, as quais devem ser cuidadosamente desfeitas durantes as reações químicas do metabolismo bacteriano de lignina”, diz Silveira.
Nesses casos, continua o pesquisador, normalmente é preciso uma grande variedade de enzimas para quebrar todas essas ligações e assim degradar a lignina, que é um polímero aromático. “Ocorre que a enzima que descobrimos, que catalisa uma etapa crítica do processo chamada de O-desmetilação aromática, consegue atuar em uma grande variedade de subunidades de lignina. À medida em que liga todas essas diferentes subunidades, a GcoA as transforma em um único intermediário, chamado catecol, um precursor de ácido mucônico, que pode ser cataliticamente convertido em matéria-prima para produção de plásticos, por exemplo. Nós utilizamos a engenharia metabólica para modificar os genes da bactéria, de modo a canalizar esse processo metabólico para o objetivo que queremos, que é o de gerar produtos de alto valor agregado, como biocombustíveis e biomateriais”, detalha Silveira.
Antes de promoverem essa modificação genética, no entanto, os cientistas buscaram entender o mecanismo de ação da enzima. Isso foi feito através de avançadas técnicas computacionais, conhecidas como simulações de dinâmica molecular, capazes de representar o comportamento da estrutura. “Utilizamos como ponto de partida a estrutura da enzima obtida experimentalmente por técnicas de difração de raios X. Então, utilizamos centenas de computadores trabalhando em conjunto para resolver as equações que governam o movimento de cada um dos átomos da enzima ao longo do tempo, para assim entender sua dinâmica e seu mecanismo de funcionamento”, pormenoriza o pesquisador. Esse trabalho foi executado no Centro de Pesquisa em Engenharia e Ciências Computacionais, que é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e está sediado no Instituto de Química (IQ) da Unicamp. Quem coordena esse Cepid é o professor Skaf.
Silveira assinala que atualmente os computadores estão tão robustos e os algoritmos tão sofisticados que as simulações chegam bem perto da realidade. “Ao usarmos esse tipo de técnica, nós verificamos quais são os elementos presentes nessa enzima, que fazem com que ela seja tão versátil para atuar em diferentes substratos. O que nós vimos foi que ela funciona como uma planta carnívora. Ela se abre para capturar o substrato, depois se fecha e se adapta em torno dele.  Além disso, verificamos que a enzima pode se fechar completa ou parcialmente, dependendo da interação com o substrato, e isso possui consequências diretas no seu desempenho. A partir dessas observações, os pesquisadores experimentalistas estão agora interferindo nesse mecanismo, com o propósito de melhorá-lo e direcioná-lo para os nossos pontos de interesse”, esclarece o pós-doutorando.

Foto: Perri
O professor Munir Skaf: participação da Unicamp em consórcios internacionais revela a capacidade da ciência brasileira

O próximo passo dentro do projeto de pesquisa, adianta o professor Munir, será produzir a enzima devoradora de lignina em maior escala. “Imaginemos que o nosso objetivo futuro seja produzir biocombustível a partir de biomassa. Para atender à demanda mundial, nós precisaremos de muitas toneladas de enzima, o que não é um desafio trivial de ser superado”. Além da Unicamp, participaram da pesquisa as seguintes instituições: Universidade de Porsmouth (Reino Unido); Laboratório Nacional de Energias Renováveis (NREL, EUA), onde Silveira fez estágio de pós-doutorado; Universidade Estadual de Montana (EUA), Universidade de Georgia (EUA) e Universidade da Califórnia, em Los Angeles (EUA).
O professor Munir observa a importância de a Unicamp e seus pesquisadores participarem de projetos de pesquisas como esse, que atuam no estado da arte da ciência e que envolvem diferentes instituições e áreas do saber. “Esses são requisitos indispensáveis ao desenvolvimento da boa ciência. Entretanto, é preciso ressaltar que nós não integramos esses consórcios internacionais apenas para aprender. Nós também temos o que ensinar. Nós dispomos de infraestrutura e recursos humanos altamente qualificados, em níveis semelhantes aos dos países desenvolvidos. A participação do Rodrigo Silveira nesse estudo comprova a nossa capacidade”, analisa o pró-reitor de Pesquisa.
Para além da questão científica, o professor Skaf também registra a importância de pesquisas dessa natureza para a construção de um planeta mais sustentável do ponto de vista ambiental. O pró-reitor oferece como exemplo dessa reflexão o sistema de produção de papel, que é extraído da madeira. A lignina, objeto de interesse para a manufatura de produtos de alto valor agregado, é um elemento que “atrapalha” o papel, porque o deixa escuro. “É preciso usar uma série de reagentes químicos, que são potencialmente poluentes, para remover a lignina do papel. Através do método aplicado no estudo que acabamos de publicar, essa mesma lignina que é removida durante a produção de papel pode ser convertida em bioprodutos. Isso gera um ciclo virtuoso, visto que o eucalipto que fornece a celulose para a fabricação do papel pode ser plantado novamente e, ao crescer, vai capturar CO2 [gás carbônico] da natureza e transformá-lo, iniciando pela fotossíntese, em celulose e lignina. E tudo isso sem passar pelo uso do petróleo”, pondera o pró-reitor de Pesquisa.

Entenda o que está em jogo com projeto que altera a Lei dos Agrotóxicos, OESP

O projeto de lei que altera diversos pontos da legislação sobre agrotóxicos é tema de debates acalorados entre diferentes setores do poder público e da sociedade civil. A oposição apelidou a proposta que tramita na Câmara de “Pacote do Veneno”. PeloWhatsApp do Estadão Verifica — (11) 99263-7900 —, vários leitores têm perguntado sobre o assunto, evidenciando que a desinformação sobre a pauta ainda é grande. Reunimos aqui uma série de perguntas e respostas para entender melhor o que está em jogo.
Instituto Nacional de Câncer ataca uso de agrotóxicos no País
Pelo texto do projeto, o termo "agrotóxico" deixaria de existir, dando lugar para a expressão "produto fitossanitário" Foto: Divulgação

Como é a lei atual?

O projeto que tramita na Câmara sugere alterações à Lei dos Agrotóxicos, de 1989. Na legislação em vigor, agrotóxicos são chamados desta forma e são controlados por três órgãos: Ministério da Saúde, Ibama e Ministério da Agricultura. O processo de liberação acontece paralelamente nos três. O parecer sobre produtos, segundo a lei, deve ser emitido em 120 dias e não existe registro temporário. O artigo 3º da lei atual proíbe explicitamente o uso de produtos teratogênicos (que podem causar má-formação), carcinogênicos (podem causar câncer) ou mutagênicos (podem causar mutações genéticas).

O que muda com o projeto da Lei dos Agrotóxicos?

O documento que está sendo analisado na Câmara é o projeto de lei 6.299/2002, apresentado pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi, quando era senador. O texto final reúne várias propostas semelhantes que foram apensadas ao original, como o PL 3.200/2015, do deputado Covatti Filho (PP-RS). A relatoria é do deputado Luiz Nishimori (PR-PP).
Uma das principais mudanças sugeridas no projeto envolve a nomenclatura dos agrotóxicos, que passariam a ser chamados de “produtos fitossanitários”. O argumento dos ruralistas é de que há “preconceito” no termo atual. Além disso, eles afirmam que o País deve se adequar à expressão utilizada em outros países (em inglês, agrotóxicos são chamados de “pesticidas”). O registro de novos produtos passaria a ser centralizado no Ministério da Agricultura.
Com a aprovação do PL, os outros dois órgãos teriam apenas a função de homologar pareceres técnicos. No entanto, essas avaliações seriam elaboradas pelas próprias empresas interessadas em vender os agrotóxicos, medida muito criticada por entidades contrárias ao projeto, como a Organização das Nações Unidas (ONU).
A proposta também cria a possibilidade de registro temporário de 30 dias para um agrotóxico caso ele tenha sido registrado em três países que compõem a Organização Para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e na FAO. Adota ainda uma tabela de gradação de riscos para a entrada de novos agrotóxicos no Brasil. Na prática, isso significa que produtos hoje vetados por riscos de causar câncer, má-formação e mutações genéticas, por exemplo, poderiam ser analisados por grau de tolerância.

A nova Lei dos Agrotóxicos já foi aprovada na Câmara?

Não. O PL foi aprovado por uma comissão especial no dia 25 de junho, por 18 votos a favor e 9 contra. O texto, antes de virar lei, precisa passar pelo plenário da Casa. A expectativa dos parlamentares é de que a votação fique para depois das eleições 2018. A pauta deve ser analisada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Outro projeto que envolve alimentação e está em situação parecida é o PL 4576/16 do deputado Edinho Bez (MDB/SC), que estabelece novas regras para a venda de produtos orgânicos em mercados. A informação foi noticiada por alguns sites com título tendencioso, como se já estivesse convertido em lei. No entanto, ele só foi aprovado na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara, e ainda precisa passar pela Comissão de Constituição e Justiça antes de ir ao plenário.
Blairo Maggi
Segundo Blairo Maggi, agronegócio está deixando de exportar 450 mil toneladas por dia Foto: FOTO: DIDA SAMPAIO/ ESTADAO

Quem é contra e quem é a favor do projeto?

No governo, o projeto de lei dividiu opiniões. Como o Estado noticiou em maio, a proposta abriu uma crise na administração pública. De um lado, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), composta por 227 deputados, aprovam as alterações.
Para a pasta, o relatório final votado no dia 25 “congrega uma série histórica de diversas demandas negligenciadas pelos órgãos federais nos últimos 20 anos”. A FPA afirmou que a avaliação de risco de agrotóxicos em vigor é restritiva e ressalta que parâmetros internacionais serão mantidos com o novo projeto. “Hoje, demora-se de 8 a 10 anos para aprovar o registro de um novo produto. Muitas vezes, quando o produto é autorizado, já está defasado”, disse a frente em nota.
De outro lado, a Anvisa e o Ibama se posicionaram contra a proposta. Outros órgãos federais, como Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Ministério Público Federal (MPF) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também rejeitam a proposta. Em nota técnica, a presidente do Ibama, Suely Araújo, afirmou que as alterações na legislação são “inviáveis ou desprovidas de adequada fundamentação técnica e, até mesmo, contrariam determinação constitucional”.
O presidente da Anvisa, Jarbas Barbosa, chamou o PL de retrocesso. “O projeto muda para pior as regras de registro de agrotóxicos.” Ambientalistas, especialistas em saúde pública e artistas também já se colocaram publicamente contrários às mudanças. Um grupo de 329 ONGs, incluindo WWF e Greenpeace, publicou um manifesto em oposição ao que chamam de Pacote do Veneno.
Outra oposição importante ao projeto veio da ONU, que advertiu que, com a aprovação da lei, o Brasil pode descumprir sete convenções internacionais. A instituição publicou um documento que levanta cinco pontos de preocupação quanto ao PL. “As mudanças à legislação e normas existentes enfraqueceriam de maneira significativa os mecanismos de proteção vitais para a garantia dos direitos humanos de trabalhadores rurais, das comunidades no entorno de áreas onde agrotóxicos são usados  e da população que consome alimentos produzidos com o apoio desses produtos químicos”.

O que são agrotóxicos e para que são usados?

Os agrotóxicos, à luz da legislação brasileira, são classificados como “produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos” que têm como intuito alterar a fauna ou a flora. A ideia central, em suma, passa por impulsionar a produção eliminando vegetais ou outros seres que possam prejudicar a plantação.
Os agrotóxicos são pesticidas e se dividem em categorias. Os principais são os inseticidas, que matam insetos; os herbicidas, que destroem erva indesejadas; e os fungicidas, responsáveis por acabar com os fungos. Existem ainda outros tipos, mas são menos comuns.

O que agrotóxicos podem causar ao meio ambiente?

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, os agrotóxicos têm grande potencial de contaminação do solo e da água, principalmente devido aos ventos e às chuvas, que carregam os tóxicos aplicados na lavoura. Reservas de águas superficiais ou subterrâneas podem acumular os produtos químicos.
Uma publicação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) explica que os agrotóxicos também podem contaminar comunidades e ecossistemas próximos às áreas de plantações e pastos. Pode haver ainda um desequilíbrio ecológico na interação entre espécies de um ecossistema afetado.  

O que agrotóxicos podem causar à saúde?

Os danos mais elucidados dos agrotóxicos à saúde humana são relativos aos trabalhadores que lidam diretamente com os produtos. Eles podem ter irritação da pele e dos olhos, coceira, cólicas, vômitos, diarreias, espasmos, dificuldades respiratórias, convulsões e morte, segundo esse posicionamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca):
Já os prejuízos ao consumidor final são mais difíceis de mensurar, já que, em tese, demoram mais a aparecer. De acordo com o Inca, alguns danos podem ser: infertilidade, impotência, abortos, má-formação, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer. 
Os ruralistas, no entanto, apresentam pesquisas como a do professor Angelo Zanaga Trapé, médico toxicologista da Unicamp. O acadêmico investigou a saúde de 25 mil agricultores de todo o País, mas afirmou não ter encontrado casos de problemas crônicos relacionados a defensivos agrícolas, segundo reportou o Estadão/Broadcast em junho.