terça-feira, 20 de setembro de 2011


Mel da primavera

20 de setembro de 2011 | 6h 07
XICO, GRAZIANO, AGRÔNOMO, FOI SECRETÁRIO, DO MEIO AMBIENTE DO, ESTADO DE SÃO PAULO. E-MAIL:, XICOGRAZIANO@TERRA.COM.BR, XICO, GRAZIANO, AGRÔNOMO, FOI SECRETÁRIO, DO MEIO AMBIENTE DO, ESTADO DE SÃO PAULO. E-MAIL:, XICOGRAZIANO@TERRA.COM.BR - O Estado de S.Paulo
Vai começar a primavera. Mais quente e úmida, a época das flores renova as cores da natureza e rejuvenesce a biodiversidade. Podem verificar: as árvores já vestiram seus novos trajes. Para as abelhas é tempo de fabricar o mel.
A apicultura representa uma antiga atividade humana. Recebeu a atenção pioneira dos regulamentos de Sólon, na Grécia, fixando a distância mínima, de 90 metros, entre as colmeias lá exploradas. Utilizado o mel em cerimônias sagradas e na medicina, as abelhas despertaram também a curiosidade de Aristóteles, sabido estudioso da entomologia, a ciência dos insetos.
No Brasil, a história da apicultura começou, pra valer, em 1840. Foi quando aqui chegaram, trazidas pelo padre Antônio Carneiro, da região lusitana do Porto, as primeiras rainhas de abelhas europeias. Logo depois, os imigrantes alemães e italianos introduziram novas espécies melíferas, próprias de suas regiões de origem.
Junto vieram os inchaços. Acontece que nem toda abelha tem ferrão. As espécies do gênero Apis, exóticas, carregam dardos venenosos, ao contrário das abelhas nativas, pertencentes ao gênero Melipos, que são mansas, como a pequenina jataí. Por isso na meliponicultura nem se utilizam roupas protetoras, imprescindíveis na apicultura.
Um acidente mudou a apicultura nacional há cerca de 50 anos. Introduzidas por cientistas liderados por Warwick Kerr, as abelhas africanas, mais produtivas, porém muito bravas, escapuliram dos laboratórios, enxameando-se livremente nas matas. Agressivas, causaram pavor na população. Foram denominadas, na época, de "abelhas assassinas". Assunto de bombeiros.
Durante décadas, porém, a contínua mestiçagem entre as abelhas europeias, amarelas, e as negras africanas foi "amansando" o enxame nacional. Hoje o Brasil produz 50 mil toneladas por ano de mel, ocupando o 11.º lugar no ranking mundial. É pouco. O País poderia, segundo os estudiosos, quadruplicar a sua produção.
Insetos sociais, as abelhas vivem em colônias, organizadas em castas, cada qual com funções delimitadas. Normalmente existem na colmeia milhares de operárias, algumas centenas de zangões e apenas uma rainha. Esta vinga da operária, alimentada com geleia real. Logo após o seu nascimento, entre cinco e sete dias, ela realiza o voo nupcial e, a dez metros de altura, se vê cercada por uma nuvem de zangões, atraídos de longe pelo odor de seu feromônio sexual.
A morte é o presente do felizardo zangão que a copula, dilacerado em seu abdômen pelo ferrão preso ao corpo da rainha. Em contrapartida, seu sêmen permanecerá ativo durante toda a vida útil da fêmea, cerca de três anos. Fora isso, os zangões não servem para mais nada. São as operárias que cuidam de todo o trabalho de manutenção e proteção da colmeia. Curioso é o mundo das abelhas.
Pouca gente, óbvio, conhece as artimanhas da sociedade apícola. Mas sabe que o delicioso alimento dos enxames se fabrica a partir do néctar das flores. Desconhece, ainda assim, que, após ser recolhido, o néctar é "mastigado" pelas abelhas, momento em que nele se juntam as secreções glandulares dos insetos. Depois segue "cuspido" e concentrado nos alvéolos do favo. Cada flor, um aroma, uma cor. Segredo delicioso.
Mais que na qualidade, na veracidade do mel reside um grande desafio da apicultura atual. Análises de laboratório mostram que chega a 80% a falsificação vista no mercado. Vende-se como mel legítimo uma gororoba que mistura xarope de açúcar com amido (para dar viscosidade), artificializado com odor e cor. Até desinfetante com cheiro de eucalipto já se encontrou no produto dos picaretas.
Distinguir, visualmente, mel puro da meleca falsificada não é tarefa fácil. Alguns pensam que mel endurecido é ruim. Ledo engano. Mel puro sempre tende a se cristalizar, mas uniformemente. Se formar pelotas, aí, sim, é malandragem. Os técnicos ensinam a pingar umas gotas de iodo no produto. Se ele enegrecer, significa que apresenta amido, portanto, é falso.
Só existe uma saída para enfrentar essa malandragem: identificar a origem do produto. Nesse sentido, um selo de qualidade seria bem-vindo. Enquanto isso, a fiscalização sanitária poderia funcionar melhor. E o consumidor, esperto, fugir da pechincha. Mel bom custa caro. Palavra das abelhas.
Uma ameaça ecológica apavora os apicultores. Em várias partes do mundo, enxames de abelhas perecem sem que se conheça, ao certo, a causa da mortandade. Desde 2006, o mistério da "desordem de colapso de colônia" afeta a população das abelhas. Inseticidas, perdas de hábitat, mudanças no clima, nutrição e até sinais emitidos por celulares se colocam entre os suspeitos da morte dos enxames. Os bichinhos somem sem deixarem seus restos mortais. Simplesmente desaparecem.
Ainda não relatado cientificamente por aqui, o terrível fenômeno poderá afetar não apenas a produção mundial de mel, mas também comprometer a produtividade das lavouras. Acontece que, em sua labuta diária de coletar néctar das flores, as abelhas ajudam na fertilização vegetal, melhorando a frutificação. Pólen de uma flor encontra os óvulos de outra, distante, graças ao trabalho das abelhas. Gratuito.
Pesquisadores relatam acréscimos de até 94% na produtividade de pomares de macieiras e pessegueiros quando neles se alojam colônias de abelhas. Em cafezais e laranjais, os ganhos ficam na ordem de 35%. Se desaparecerem as abelhas, perde-se o mel e, junto, ganha-se uma crise de produção rural, especialmente na fruticultura.
A cada primavera aumenta a incerteza sobre o amanhã. Dos problemas ecológicos mundiais às bandidagens corriqueiras, resta acreditar na indignação humana. A favor das abelhas, contra a degradação de sua própria natureza.

Os resíduos sólidos do TRE

20 de setembro de 2011 | 6h 07
O Estado de S.Paulo
Numa iniciativa sem precedentes, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo tentou converter a Corte responsável pela aplicação da legislação eleitoral no Estado em instrumento de lobby e propaganda, ao recomendar aos juízes eleitorais que distribuam a 290 prefeituras paulistas exemplares de uma cartilha e cópias de DVDs sobre programas de coleta seletiva de lixo produzidos por uma empresa privada. A recomendação foi feita em agosto, durante um evento convocado para discutir formas de coibir doações irregulares em campanhas eleitorais.
A empresa é de propriedade de um consultor do TRE que, além de acumular a função de diretor de meio ambiente da prefeitura de Franco da Rocha, foi contratado pelo TRE para fazer a cartilha e ministrar palestras para ajudar os juízes eleitorais a se "conscientizarem" da importância dos programas de coleta seletiva de lixo e estimulá-los a persuadir prefeitos a firmar "convênios" com empresas privadas especializadas.
A iniciativa do TRE, totalmente alheia às funções da Justiça Eleitoral, foi justificada pelo presidente da Corte, desembargador Walter de Almeida Guilherme, com um argumento absolutamente descabido. Ele alegou que, como os municípios brasileiros terão de se adequar ao Plano Nacional de Resíduos Sólidos a partir de 2012, os juízes eleitorais paulistas poderiam "contribuir" para a implantação dos serviços de coleta de lixo nos municípios sob sua jurisdição. "O juiz é um difusor de ideias. Não custa nada distribuir a cartilha. É ação de responsabilidade social", disse ele.
Além de corresponder a uma "responsabilidade moral", para o presidente do TRE, a participação da magistratura na propaganda "aproxima o Judiciário da cidadania". "Convoquei os juízes" - diz o desembargador Almeida Guilherme - "porque esse aspecto da coleta é muito ligado à cidadania. O Tribunal deve ser difusor dos direitos e deveres do cidadão. O papel do juiz não é apenas no gabinete, queremos um Judiciário mais próximo da cidadania." Esqueceu-se o presidente do Tribunal que magistrados são aplicadores do direito positivo, e não vendedores de serviços e difusores de projetos de empresas particulares.
O presidente do TRE confessa ainda que, apesar de não ter imposto a distribuição da cartilha e dos DVDs como uma obrigação, sugeriu aos seus subordinados que chamassem os prefeitos "para falar do interesse da Justiça nessa questão". Disse que não estava preocupado com eventuais ações por improbidade administrativa que o Ministério Público poderia impetrar. E alegou que a relação dos juízes com a empresa e com os prefeitos não seria comercial, mas institucional.
Por sua vez, o proprietário da empresa, Jetro Menezes, deu a sua contribuição para o despautério: "Um servidor público não pode ficar limitado à sua pasta, tem de ter um horizonte um pouco maior. O juiz não pode ter só a função de juiz eleitoral, mas uma função um pouco maior que isso". Por mais absurdo que pareça, o empresário é consultor do TRE.
Diante de tanta promiscuidade no relacionamento entre o presidente de um tribunal e um empresário por ele contratado como consultor, os juízes eleitorais paulistas fizeram o que se esperava, negando-se a desempenhar o papel que lhes foi "sugerido" pelo desembargador Walter de Almeida Guilherme. Lembraram que a Justiça Eleitoral nada tem a ver com questões ambientais e classificaram como inadmissível e imoral a orientação que receberam. "Entrego meu cargo, mas não entrego a cartilha. Não faço o papel de garoto-propaganda de empresa", disse um dos juízes. A orientação foi "equivocada" e a iniciativa de fazê-la foi "lamentável", afirmou José H. Rodrigues Torres, presidente da Associação Juízes para a Democracia.
Para evitar a desmoralização da Justiça Eleitoral paulista, esse é um caso que tem de ser investigado o mais rapidamente possível pela Corregedoria do Tribunal de Justiça. Não fazê-lo será confirmar a imagem da corregedoria como um órgão minado pelo corporativismo e sem coragem para punir juízes.

Crack já se iguala ao álcool em nº de atendimentos em cidades médias de SP

Droga supera todas as ilícitas em registros médicos de todo o Estado; estudo revela ainda que 3% dos usuários têm entre 9 e 15 anos

20 de setembro de 2011 | 18h 00
William Cardoso - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Em cidades paulistas entre 50 mil e 100 mil habitantes, o atendimento a usuários de crack já se iguala ao de viciados em álcool na rede pública de saúde (38% cada). As pedras lideram também o ranking das drogas ilícitas que levam os usuários a procurar ajuda na rede pública em todo o Estado. Os números foram divulgados nesta terça-feira, 20, pela Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, da Assembleia Legislativa.
Pesquisa mostra que crescimento é maior cidades com população entre 50 e 100 mil habitantes - José Patrício/AE - 14/9/2011
José Patrício/AE - 14/9/2011
Pesquisa mostra que crescimento é maior cidades com população entre 50 e 100 mil habitantes
Todos os municípios receberam questionários. Das 645 cidades paulistas, 325 responderam às dez perguntas enviadas pelos deputados estaduais, representando 76% da população do Estado (cerca de 32 milhões de habitantes). "Temos argumentos de sobra para desenvolver estratégias contra o crack", afirma coordenador da comissão, Donisete Braga (PT).
O álcool ainda lidera o número de atendimentos no Estado como um todo, representando 49% das pessoas que buscam ajuda. Mas o crack vem logo em seguida, com 31%, seguido da cocaína (10%), maconha (9%) e das drogas sintéticas (0,59%). 
A preocupação é grande porque, além da interiorização da droga, a pesquisa revela que crianças e adolescentes já fazem uso do crack. A faixa etária que vai dos 9 aos 15 anos representa 3% da população atendida nos serviços de saúde por causa do uso da pedra.
Recursos. A falta de dinheiro para combater o consumo de crack também foi apontada pelos municípios como um dos problemas a serem resolvidos. Somente 5% das prefeituras responderam que recebem recursos diretos do governo estadual para tratar seus dependentes. Apenas 12% afirmaram que o governo federal colabora nos tratamentos.
A Frente Parlamentar apresentou uma emenda de R$ 400 milhões para os próximos quatro anos ao plano plurianual do governo estadual para um programa que prevê fortalecimento do combate e da prevenção ao álcool e outras drogas. O resultado da pesquisa foi entregue ontem à Secretaria de Segurança.
Repasse. A Secretaria de Estado da Saúde afirma que os valores gastos pela pasta para a assistência a dependentes químicos no Estado não são utilizados na forma de repasse direto aos municípios, mas por meio de capacitação de profissionais dos Caps Ad (Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) municipais, internação de pacientes por doenças decorrentes do abuso de álcool e drogas, atendimento para casos agudos em hospitais estaduais e conveniados com a Secretaria e internação de dependentes em serviços de saúde financiados exclusivamente com recursos estaduais.
O Ministério da Saúde afirmou que as reivindicações devem ser discutidas, num primeiro momento, em âmbito regional, entre municípios e o Estado, para depois serem levadas até Brasília.
Texto atualizado às 22h45 para acréscimo de informações