sexta-feira, 15 de julho de 2011

Imobiliária Prefeitura S.A.


TENDÊNCIAS/DEBATES


JORGE EDUARDO RUBIES
Com a venda do "quarteirão da cultura", os políticos de nosso município perderam mais uma chance de mostrar que estão realmente a serviço do cidadão
Em meio ao festival de leis absurdas, inconsequentes e patéticas de autoria do Executivo, aprovadas a toque de caixa pela Câmara Municipal de São Paulo às vésperas do recesso de julho, é difícil apontar qual é a mais contrária ao interesse público, mas a venda do "quarteirão da cultura" do Itaim Bibi desponta como uma das favoritas.
Votada na calada da noite (às 23h30!), essa lei oferece de repasto à farra imobiliária -que dá sinais de iminente colapso- um oásis de beleza e paz num dos bairros mais áridos e congestionados da cidade.Concebido nos anos 50 de acordo com o conceito de escola-parque, revolucionário até hoje, o "quarteirão da cultura" é um terreno municipal de 20 mil m2 com a maior densidade arbórea do Itaim.Ele congrega quase todos os serviços públicos da região -duas escolas, teatro, biblioteca, creche, unidade da Apae, posto de saúde e Centro de Atenção Psicossocial-, reconhecidos por sua excelência e que atendem diariamente a milhares de usuários, sendo que alguns dos prédios foram recentemente reformados e reinaugurados com fanfarra pelo próprio prefeito.O pretexto para sua venda e consequente destruição é a construção de 200 creches, o que não passa de uma farsa pessimamente encenada, pois dinheiro é o que não falta para tanto, a começar por verbas federais e estaduais disponibilizadas para a prefeitura e não utilizadas.
Sem falar no fabuloso Orçamento municipal de R$ 35 bilhões, suficiente para cumprir essa e todas as outras promessas de campanha do prefeito, desde que utilizado com um mínimo de eficiência.De fato, é inacreditável que a prioridade da prefeitura seja a venda do quarteirão, e não o corte de parte das cerca de 30 secretarias municipais, das centenas de cargos em comissão, da verba para propaganda oficial (superior a R$ 100 milhões em 2010) ou dos R$ 191 milhões gastos em consultorias (que a Folha noti ciou nesta semana)...
A pá de cal na farsa foi dada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, que esclareceu que a eventual venda desse e de outros nove terrenos municipais só pode servir ao pagamento de precatórios.
E apesar disso, da abertura de processo de tombamento do quarteirão pelo Condephaat -que reconheceu o relevante valor histórico, urbanístico, paisagístico, ambiental e social do local-, do repúdio de grande parte da população do bairro e da sociedade à iniciativa, expresso em abaixo-assinado com 12 mil assinaturas, de um abraço no quarteirão que reuniu mais de mil pessoas e de diversos atos e manifestações, a prefeitura e a Câmara insistem na ideia.
Enfim, estamos sempre prontos a debater com as autoridades municipais acerca de nossa convicção da lesividade da venda do quarteirão, convite por elas declinado nas duas audiências públicas convocadas para discutir o assunto.Não entrarei nos detalhes sórdidos, como a p ressão a funcionários municipais que aderiram ao Movimento SOS Quarteirão do Itaim, mas vale sempre lembrar que o prefeito e mais de 20 vereadores da cidade chegaram a ser cassados em primeira instância pelo recebimento de doações ilegais provenientes de uma entidade de fachada do setor imobiliário.Com a aprovação desse e dos outros projetos, os políticos do município perderam mais uma oportunidade de mostrar que estão realmente a serviço do cidadão, e não dos doadores de campanha.Isso num momento em que, no mundo inteiro, a paciência do povo com seus supostos representantes começa a se esgotar. Afinal, a Grécia, a Espanha e o Egito também são, ou haverão de ser, aqui.
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JORGE EDUARDO RUBIES é presidente da Associação Preserva São Paulo, coordenador do Movimento SOS Quarteirão do Itaim e coordenador-geral da União de Movimentos contra a Especulação Imobiliária e pela Ética na Política.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Margem, que embute lucro, pode passar de 100% no Brasil; é preciso discuti-la

13/07/2011 - 14h06 / Atualizada 13/07/2011 - 18h07


PEDRO KUTNEY
Especial para UOL Carros
  • Foto de arquivo mostra carros nacionais prontos para embarcar rumo ao México
    Foto de arquivo mostra carros nacionais prontos para embarcar rumo ao México
Muito se fala a respeito da competitividade da indústria brasileira (ou da falta dela). Depois de perderem a camuflagem que o câmbio favorável garantiu até meados dos anos 2000, com o dólar cotado acima dos R$ 2, os problemas afloraram, com consequente queda de exportações e aumento de importações. A desvantagem cambial atingiu em cheio o setor automotivo no Brasil, que reclama, fazendo aparecer o discurso da competitividade. Mas, como de costume, os empresários colocam todas as culpas de suas mazelas em fatores externos aos muros das fábricas -- custos altos demais para produzir no país, logística capenga, impostos que comem um terço do preço de um carro, os maiores juros do mundo.

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Tudo isso é verdade. Contudo, há outras verdades não ditas. Se os custos de produção de veículos aqui são até 60% mais altos do que na China, como revela um estudo de competitividade feito pela PricewaterhouseCoopers (PwC) por encomenda da Anfavea (associação das fabricantes), o que dizer das margens praticadas no Brasil, de 40% a quase 100%, embutidas nos preços de fábrica dos veículos? Isso é competitivo? E os produtos feitos aqui inadequados para exportação? Como vendê-los?

O custo da mão-de-obra também não fica atrás: em dólares, segundo o mesmo levantamento da PwC, é na média 342% mais alto do que na Índia e 305% maior do que na China. Porém, esqueceu-se de informar que o valor da hora trabalhada por um brasileiro em uma montadora é 87% menor do que nos Estados Unidos e na Europa. Para sermos competitivos precisamos ter salários como os dos indianos e chineses? Se fosse assim, haveria mercado de consumo suficiente para sustentar, por exemplo, os preços cobrados pelas fábricas?

No estudo de competitividade da consultoria PwC, que foi entregue ao governo, estão todas as desvantagens de se produzir carros no Brasil, incluindo materiais e mão-de-obra, que fazem o Brasil parecer o pior lugar do mundo para se construir uma indústria. Tudo é ruim, tudo é mais caro. Seria essa a explicação para se fabricar aqui os piores carros mais caros do mundo, com preços muito altos em comparação a outros mercados e pelo conteúdo inferior que oferecem.
MARGENS ESTRATOSFÉRICAS
É verdade que o custo brasileiro não está competitivo no exterior. De acordo com dados do Aliceweb, sistema do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior que armazena preços de importações e exportações, o valor médio de embarque (FOB) de um automóvel made in Brazil com motor acima de 1,5 litro, exportado para países da América do Sul no período de janeiro a maio deste ano, foi de US$ 10,5 mil.

A título de comparação, um chinês Chery Face 1.3 desembarca no Brasil com preço FOB (sem incluir frete, seguro e impostos) de US$ 7,1 mil, muito próximo do conterrâneo "completão" JAC J3 Turin, que chega ao porto por US$ 7,7 mil. A diferença, como se vê, é grande. Contudo, para competir com a China, o Brasil teria de decretar uma ditadura, controlar o câmbio e pagar mal seus trabalhadores. Melhor esquecer isso.

MARGEM NA IMPORTAÇÃO DE CARROS AO BRASIL

MODELOORIGEMPREÇO DE NACIONALIZAÇÃOPREÇO FINALMARGEM
Chery FaceChinaR$ 17.800R$ 33.00085%
Chery QQChinaR$ 12.400R$ 23.00086%
Fiat SienaArgentinaR$ 29.700R$ 41.30039%
Ford New FiestaMéxicoR$ 27.000R$ 51.40090%
JAC J3 TurinChinaR$ 19.300R$ 39.900106%
O problema é quando esse carro nacional exportado compete com ele mesmo no mercado nacional. Partindo do preço FOB médio de exportação de um carro 1.6, de US$ 10,5 mil, após aplicar a carga tributária brasileira, a maior do mundo sobre automóveis, esse mesmo veículo custaria R$ 24,4 mil, considerando que o exportador já colocou seu lucro no valor. Pois no Brasil não se acha um modelo 1.6 por menos de R$ 33 mil (equivalente a um Volkswagen Gol "peladão"), valor 36% mais caro. A margem, portanto, ainda é bastante elástica para competir no mercado interno.

O que não se ouve dos dirigentes da indústria automotiva nacional, em nenhum momento, é a admissão de que os produtos feitos aqui não servem para ser exportados não só por causa do custo, mas também porque foram pensados e projetados para oferecer o menos possível pelo maior preço possível. Poucos mercados no mundo compram veículos assim, o que significa uma dificuldade de exportação maior do que qualquer desvantagem cambial.

E até os brasileiros querem coisa melhor: prova disso é crescente aumento no país da preferência por modelos mais bem equipados e com motorização superior a 1 litro, que pela primeira vez em mais de uma década superaram as vendas dos chamados "carros populares", com mais de 52% dos emplacamentos de novos.

ABISMO DE VALORES

  • Murilo Góes/UOL
    Ford New Fiesta, feito no México com motor brasileiro, é vendido com margem de 90%
Muitos desses carros (20%) são importados e alguns deles conseguem chegar ao Brasil custando menos do que os nacionais, mesmo pagando imposto de importação de 35%, como é o caso dos chineses. O estarrecedor é verificar como os importadores também praticam margens estratosféricas no Brasil.

Para ficar com os mesmos exemplos, o preço de nacionalização do JAC J3 Turin (após todos os impostos II, IPI, ICMS e PIS/Cofins) fica em R$ 19,3 mil para o importador, mas ele é vendido por quase R$ 40 mil, com margem de 106%. No caso do Chery Face esse porcentual é de 85%: o modelo salta de R$ 17,8 mil na importadora para R$ 33 mil nas lojas. O mesmo acontece com o carro mais barato à venda no Brasil, o Chery QQ, que chega com preço FOB de US$ 4,4 mil, é nacionalizado por R$ 12,4 mil e depois é vendido por R$ 23 mil, 86% mais.

Há também interessantes exemplos de montadoras importadoras. A Ford traz do México, sem pagar imposto de importação, o New Fiesta, com motor 1.6 feito no Brasil, pelo preço FOB de US$ 11,4 mil, nacionaliza o modelo por R$ 27 mil e cobra R$ 51,4 mil do consumidor (margem de 90%). A Fiat monta o Siena na vizinha Argentina, com motor e muitos componentes brasileiros, e traz a versão Essence por US$ 12,9 mil (FOB), que após aplicação de impostos ficaria em R$ 29,7 mil, mas vende por R$ 41,3 mil (39% de margem).

E qual o segredo para vender o carro relativamente mais caro do mundo? O crédito, que mesmo com os juros mais altos do mundo acomoda em suaves prestações que cabem no bolso todas as assimetrias de custos, preços e bobos do mercado brasileiro.

CUSTO VS. LUCRO
Por mais que nessas margens de venda estejam incluídas despesas comerciais, publicidade e marketing, lucro dos concessionários (dizem que não passa de 5% e pode ser zero), as diferenças parecem grandes demais. Cledorvino Belini, presidente da Anfavea, ao apresentar o estudo da PwC deu uma pista do porquê: "Os custos de remuneração de capital no Brasil são os maiores do mundo", disse. Ou seja, para compensar os investimentos feitos aqui e ganhar mais do que em aplicações financeiras, a rentabilidade de um negócio precisa ser também das mais altas do mundo.

A corporação que Belini dirige no Brasil, a Fiat Automóveis S.A. (Fiasa), sabe bem disso. Em 2010 a Fiasa reportou lucro líquido de R$ 1,6 bilhão, o que significa margem de 7,7% sobre o faturamento de R$ 20,7 bilhões. No mundo todo, montadoras ficam muito contentes quanto obtêm margem de 5%. O Grupo Fiat, por exemplo, contabilizou 3,9% no ano passado. (Das outras fabricantes instaladas no Brasil nada se sabe a respeito, pois os lucros apurados aqui são tratados como informações de caixa-preta e ficam escondidos no meio dos balanços globais; a Fiat é a única que publica balanço separado no Brasil.)

Portanto, se os custos são altos no país, os lucros também são. Uma mostra disso são as remessas de dividendos de fabricantes de veículos às suas matrizes. Segundo dados do Banco Central, de janeiro a maio deste ano foram remetidos US$ 2,3 bilhões, o dobro do que foi enviado no mesmo período de 2010. Com esse valor, a indústria automobilística é o setor que mais pagou lucros aos controladores estrangeiros neste ano.

Lucrar não é desonesto, mas as montadoras tratam disso como se fosse, pois escondem esse número aqui o quanto podem. Não seria por outro motivo que, apesar dos custos não competitivos, o Brasil continua bastante interessante, com um horizonte de mercado em mais três ou quatro anos de 6 milhões de veículos vendidos por ano com uma grande margem embutida em cada um deles. Tanto que mais de uma dezena de montadoras têm planos de ampliar a produção e construir novas fábricas no país -- como a Fiat em Suape (PE), a Chery em Jacareí (SP), a Hyundai em Piracicaba (SP) e a Toyota em Sorocaba (SP), só para citar os maiores investimentos.

Antes de reclamar do "Custo Brasil", seria interessante aumentar a transparência, colocar todas as verdades sobre a mesa, como a que diz respeito ao custo do trabalho no Brasil, de US$ 7,70 por hora, contra US$ 1,74 na Índia segundo a Anfavea, mas de no mínimo US$ 15 nos Estados Unidos (o salário mais baixo atualmente numa montadora), podendo chegar a US$ 60 na General Motors e US$ 55 na Toyota. Essa não é uma vantagem competitiva e tanto?

O que queremos ser passa necessariamente com o que queremos nos comparar. Seremos um país de baixo custo e, por consequência, de baixo consumo? É preciso discutir honestamente o quanto cada parte (indústria e governo) pode ceder, para que ninguém tenha que se passar por bobo na hora de negociar custos e preços. Assim o país pode evoluir para os melhores exemplos, não os piores.

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Pedro Kutney, jornalista, é editor do portal Automotive Business, onde este artigo foi publicado originalmente sob o título "Os custos, os preços e os bobos"
 

Lixo plástico transformado em petróleo




Parceria planeja investir R$ 540 milhões em cinco anos para dar fim ao resíduo.

Se tudo der certo, o lixo plástico, que leva dezenas de anos para se decompor quando jogado em aterros, está perto de ter um fim, ou melhor, um recomeço.
A Wastech, empresa baiana especializada em tratamento de resíduos, está criando uma nova companhia, chamada Novaenergia, que atuará na transformação de lixo plástico em petróleo. A RJCP Equity, empresa de investimento em capital de risco, será sócia minoritária no projeto.
A Novaenergia está em fase de captação de recursos e pretende ter a primeira unidade funcionando até o fim de 2012. O investimento inicial será de R$ 25 milhões a R$ 30 milhões. No total, o plano da companhia é ter 20 fábricas no país no prazo de cinco anos, o que exigirá investimento total de R$ 540 milhões.
Desse montante, R$ 54 milhões serão na forma de capital, R$ 105 milhões em dívida (incluindo linhas de Finame do BNDES e crédito do fornecedor) e R$ 381 milhões em geração de caixa.
Ao fim dos cinco anos, a previsão é de que as 20 unidades tenham uma capacidade anual de produção 224 mil m3 de petróleo leve (com mais de 44 graus API), equivalente a 1,4 milhão de barris. O petróleo produzido será refinado e vendido em forma de nafta, óleo combustível e diesel.
A primeira fábrica ficará em Salvador e será capaz de processar 450 toneladas de lixo por dia, o que equivale a um sexto do total de resíduos gerados hoje diariamente na cidade.
Desse montante de lixo, a empresa vai usar somente 36 toneladas de plástico considerados difíceis de reciclar, como sacolas e filmes. Materiais como PET, PVC e sucata metálica serão vendidos e o lixo orgânico aterrado.
Para cada 36 toneladas diárias de lixo plástico que entrarem de um lado da máquina, sairão 30 mil litros de óleo leve do outro.
A tecnologia de transformação de plástico em petróleo foi desenvolvida por uma empresa americana chamada Agilyx, que já faz o processo comercialmente há um ano. Recentemente, a empresa dos EUA recebeu aporte de US$ 22 milhões do fundo Kleiner Perkins Caufield & Byers, que investiu em empresas como Amazon e Google; da Waste Management, uma das maiores empresas americanas de tratamento de resíduos; e também da divisão de capital de risco da petroleira francesa Total.
De acordo com Luciano Coimbra, presidente e controlador da Wastech e da Novaenergia, os projetos ambientais, via de regra, dão retorno financeiro muito baixo. "Não é o nosso caso. O projeto tem alto impacto ambiental e terá altíssima rentabilidade."
A Wastech, que trabalha há 27 anos com tratamento de resíduos industriais perigosos, começou há cerca de quatro anos a desenvolver o projeto da Novaenergia. Depois de pesquisar diversas tecnologias, Coimbra conheceu a Agilyx, com quem firmou, no início de 2010, um contrato de exclusividade para exploração da tecnologia no Brasil.
Engenheiro químico, Coimbra diz que ó processo de transformação do plástico em petróleo é algo que está nos livros, mas que para tornar isso comercial é preciso saber alguns macetes.
Em vez de pagar royalties sobre a produção, a Novaenergia vai remunerar a companhia americana a cada fábrica construída.
Coimbra diz que já tem acordo com a concessionária responsável pelo aterro de Salvador. Nesse tipo de modelo, previsto para cidades grandes, a concessionária poderá ser sócia da fábrica de transformação de plástico em petróleo – com intervalo de 30% a 70% do capital – e terá que investir no projeto. Para a prefeitura, será destinado de 2% a 3% do óleo produzido.
Outra possibilidade, pensada para cidades médias, é atuar também como concessionária e processar todos os resíduos.
Um terceiro modelo estaria ligado ao plástico recolhido pelas fabricantes de produtos industrializados que precisarem montar estruturas de logística reversa, conforme previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos.