terça-feira, 14 de junho de 2022

Vizinhos fazem abaixo-assinado contra casas para moradores de rua no centro de SP, FSP

 


SÃO PAULO

Moradores do Bom Retiro, na região central de São Paulo, criaram um abaixo-assinado contra um projeto da prefeitura que pretende construir habitações para moradores de rua na altura do número 900 da avenida do Estado, uma das principais vias do bairro.

Na visão dos moradores, a implantação dos imóveis junto a outros equipamentos voltados para os sem-teto podem resultar na desvalorização de suas residências e comércios, além da sensação de insegurança, devido ao número de pessoas que passariam a circular pela região.

Eles tomam como exemplo o bairro dos Campos Elíseos, que tem convivido com relatos de roubos e furtos após concentrações de usuários de drogas e moradores de rua se espalharem pelo bairro depois de ações policiais iniciadas em 11 de maio, quando a cracolândia na praça Princesa Isabel foi desfeita.

Abaixo-assinado cita insegurança e desvalorização de imóveis na região com a chega de casas populares
Imagem do abaixo-assinado passou a circular pelas redes sociais há duas semanas - Arquivo pessoal

Segundo a Prefeitura de São Paulo, a Vila Reencontro está em fase de implantação, onde serão instaladas 350 unidades, que já foram licitadas, além de um condomínio com variados serviços públicos voltados ao atendimento da população em situação de rua.

Cada unidade a ser entregue pela prefeitura tem área de 18 m², com quarto, cozinha e banheiro. Serão 1.200 vagas na primeira fase do projeto, destinadas prioritariamente a famílias —com ou sem crianças— e idosos, que estejam vivendo em condição de rua há menos de dois anos, informou a gestão municipal.

As diretrizes do programa estabelecem que cada família poderá permanecer nas moradias transitórias por um período entre 12 e 18 meses.

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A intenção original é de que sejam implantados, também, equipamentos de saúde, educação, assistência social, inclusão digital e produtiva. A inauguração, conforme a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), está prevista para o segundo semestre.

A reportagem conversou com uma empresária de 52 anos que foi escolhida como a responsável por centralizar informações sobre o abaixo-assinado. Ela pediu para não ser identificada.

De acordo com ela, moradores e comerciantes estão sofrendo com a insegurança no bairro, e temem que o problema ganhe ainda mais dimensão com a chegada de um grande volume de pessoas. Além da falta de segurança, ela usa a desvalorização dos imóveis como fator principal para a confecção do abaixo-assinado, que já teria mil assinaturas, segundo seus cálculos.

Ela contou que seu imóvel, que valia R$ 600 mil, já está custando a metade, e que pode desvalorizar ainda mais com a chegada dos novos vizinhos. Para ela, a prefeitura deveria distribuir o projeto por outras áreas da capital e não apenas pelo centro.

A empresária negou que o abaixo-assinado possa ter discurso higienista ou discriminatório. Ela diz não ser contrária ao projeto, mas sim ao volume de pessoas que possam chegar ao bairro junto com ele.

A mulher relatou que pretende encaminhar o documento para o prefeito, na intenção de que ele reveja algumas das diretrizes do projeto.

Quem também já assinou o documento e ajuda a empresária na coleta de assinaturas é a modelista Maria José Lopes, 59, que também cita a possível queda no valor dos imóveis e a insegurança como fatores para a mobilização dos moradores.

"Essas casas vão mesmo ajudar ou vai piorar a vida deles? O que eu entendo [é que] esse prefeito vai fazer para eles um campo de concentração."

Maria José explicou que, se a prefeitura não monitorar, a situação pode ficar fora do controle se os novos moradores trouxerem parentes para morar com eles.

"Daqui um ano nesse lugar pode estar morando 5.000 pessoas, 10 mil pessoas, porque vem trazendo a família e em cada casinha pode estar morando 20 pessoas dentro. Quem vai monitorar tudo isso? Quem vai olhar tudo isso? Como vai ficar tudo isso? Porque é um ano político. Eles estão querendo fazer alguma coisa para mostrar política nesse momento".

Para Maria José, a prefeitura deveria tomar como exemplo outros países, os quais, segundo ela, dividiram moradores de rua por diversos bairros. "O que eu gostaria que esse prefeito fizesse era pegar cada 10 famílias, como é em Portugal e outros países, e colocar em cada bairro. São Paulo é grande, cada bairro coloca 10 famílias. Eles são humanos, têm o mesmo direito de todos nós".

"E esse lugar que temos aqui fazer um hospital, fazer alguma coisa de bom para todos, para nós moradores e para eles que também dependem. A nossa posição nisso tudo é isso, que esse prefeito faça algo para todos nós, não só para eles, como se fosse: vou eliminar o problema porque tem um lugar para eles ficarem agora", disse a modelista.

A mulher também criticou a ausência de informações sobre o projeto no bairro, já que teria tomado conhecimento há menos de 15 dias sobre a construção das casas.

A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social afirmou, por meio de nota, que desconhece o abaixo-assinado e ressaltou que o bairro é referência para o atendimento à população de rua, já que abriga o Complexo Prates, centro que reúne núcleo de convivência e centros de acolhida.

"Para a nova instalação", continua a nota da secretaria, "todas as medidas de controle de acesso estão sendo dimensionadas. A estrutura está sendo planejada para receber um público de acordo com a capacidade de atendimento dos serviços, a fim de evitar ao máximo qualquer transtorno para a região".

A ponta de lança do mercado financeiro foi pega no contrapé, Marcos Vasconcelos, FSP

 Em 2013 e 2014, as bancas de jornal —bons termômetros daquela realidade— colocavam em lugar de destaque revistas sobre lanchas, carros e estilo de vida. Estava claro que as injeções de crédito haviam levado o consumo a patamares altos demais e que aquilo se tornaria insustentável.

Prever o passado é fácil, mas o resultado do último ciclo de commodities foi embora, a recessão de 2015 e 2016 impôs-se, e o brasileiro teve de reaprender a usar seu dinheiro. Já no fim da década, os juros declinaram, atingindo patamares historicamente baixos, o retorno recebido pelo risco de empreender tornou-se mais interessante.

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Gráfico mostra flutuações do mercado na Bolsa de Valores de São Paulo - Amanda Perobelli - 19.out.2021/Reuters

Agora, os destaques das bancas de jornal são gôndolas com brinquedos e doces e geladeiras com refrigerante e cerveja. O empreendedorismo, por necessidade ou oportunidade, ganhou corpo e hipertrofiou-se.

Com tanta gente empreendendo, com o risco pagando altos retornos, o número de investidores explodiu. O Brasil, "paraíso dos rentistas" —que ganham com o dinheiro parado—, passou a trazer oportunidades para quem estava disposto a correr para a Bolsa de Valores. Da casa dos 500 mil investidores na Bolsa, em 2016, passamos para 5 milhões, neste ano.

A publicidade na internet (novo termômetro da realidade) encheu-se de anúncios relacionados a esse novo mercado. No YouTube, chamadas da Empiricus (que vende relatórios de investimentos); vídeos do Primo Rico (que dá lições sobre como investir); e anúncios do TC (plataforma de informações para investidores) tomaram conta das telinhas.

Claro que, por ser do meio, minha navegação é afetada pelo onipresente algoritmo, mas é inegável o volume investido na expansão desse novo mercado financeiro. A abertura de capital do Nubank (NUBR33) levantou US$ 2,6 bilhões (quase R$ 13 bilhões), em dezembro de 2021. O TC (TRAD3) levantou outros R$ 607 milhões, em julho.

No início de 2022, ouvi do dono de uma empresa de serviços financeiros, com centenas de funcionários: "A gente sabe que tudo neste setor está superavaliado e estamos torrando dinheiro agora a tempo de entrar nessa bolha, antes que voltem aos preços da realidade".

Agora, ficou claro que o choque da nova realidade bateu à porta de quem surfou a onda. Três grandes demissões foram anunciadas só neste mês.

Um ano depois de ser comprada pelo banco BTG Pactual, por R$ 690 milhões, a Empiricus demitiu 12% dos funcionários das quatro empresas do grupo. O Grupo Primo, de Thiago Nigro, do canal O Primo Rico, anunciou corte de 20% do pessoal. A 2TM, dona do Mercado Bitcoin (corretora de criptomoedas), anunciou cortes que, segundo notícias, atingem a 90 pessoas.

Já a empresa de serviços financeiros cujo dono queria "surfar na bolha" parece ter queimado mais dinheiro do que podia e hoje é acusada de travar dinheiro de centenas de clientes.

O passo atrás na linha temporal é essencial para entender o movimento cíclico. E que as oportunidades no mercado financeiro sempre existem, mas os excessos costumam ser punidos pelo tempo. Para aproveitar as ondas, é preciso ter uma carteira que resista às mudanças de maré.

Estamos em um novo ciclo de alta de commodities, da inflação e de taxa básica de juros. Ignorar isso é um pecado com o seu dinheiro, tal qual ignorar que isso daqui a pouco vai mudar e que as ações que hoje estão "amassadas" vão tomar espaço no mercado, quando o crédito voltar a circular. Com equilíbrio e racionalidade, bastam pequenos ajustes para evitar ser pego no contrapé.