sábado, 4 de junho de 2022

Verticalização, presidente da Fundação Florestal é contrário, MAr sem Fim ,OESP

 

Verticalização: Mário Mantovani, presidente da FF, e ambientalista, é ‘radicalmente’ contrário

Primeiramente, o ambientalista Mário Mantovani assumiu a Fundação Florestal de São Paulo há pouco. Antecipadamente, à FF, entre outras, cabe cuidar das unidades de conservação do Estado. Já havíamos perdido as esperanças devido às constantes polêmicas com o ‘diligente’ diretor-executivo, Rodrigo Levkovicz. Mas, para nossa surpresa, de repente, Mário é o escolhido para presidir o órgão. A confiança voltou. Apesar disso, decidimos aguardar até a poeira baixar. Então, pedimos uma entrevista que, curiosamente, o diretor-executivo não costuma dar. Fomos atendidos em seguida. Verticalização, presidente da Fundação Florestal é contrário.

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Mário Mantovani, ambientalista e presidente da Fundação Florestal. Imagem,

Breve currículo do ambientalista Mário Mantovani

Antes de mais nada, conheci Mantovani em 1992 quando um programa da Nova Eldorado AM provocou catarse na cidade. Apesar do meio ambiente estar em voga, às vésperas da segunda mais importante reunião do clima, Rio-92, ninguém lembrava da imundície do Tietê.

A princípio, a mata atlântica ganhou uma ONG para chamar de sua. Assim como, outras surgiram para defender a Amazônia, mas, e o Tietê?

eldorado lançou a semente do que viria a ser a campanha de despoluição do Tietê, assim, nasceu a ONG Núcleo União Pró-Tietê. Para tomar conta, foi chamado um biólogo que  ‘era um azougue”, Mário Mantovani.

Desde então, nunca mais o perdi de vista. Posteriormente, Mário assumiu a direção da SOS Mata Atlântica, além de inúmeras outras ações em prol do meio ambiente. Ele é hiperativo, não para jamais. Mas, desta vez, cedeu seu tempo para um bate-papo que durou cerca de 90 minutos. À entrevista…

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Entrevista do Mar Sem Fim com Mário Mantovani

Como se sabe, nossa atenção é voltada, sobretudo, ao bioma marinho. Assim, o foco foi o maltratado litoral de São Paulo. Fiz uma série de perguntas abrangendo desde o litoral norte, até o sul.

Comecei com Ilha Anchieta, parque estadual desde 1977, que sofreu a introdução de espécies invasivas em 1983, quando a Fundação Parque Zoológico de São Paulo, introduziu mais de cem animais exóticos de 15 espécies diferentes.  Um desastre. Não há mais pássaros miúdos desde então.

Mário, que gosta de se reunir com os Conselhos gestores das UCs, responde que ‘até o momento a demanda não surgiu nas reuniões’, mas disse que iria ‘levantar o problema nas próximas’.

Em seguida, falamos da APA Litoral Norte, que engloba a cidade de Ubatuba. Perguntei se o manguezal não era protegido, APP, Área de Proteção Permanente. Sim, é protegido. Então, retruquei, como a FF não age já que a prefeitura de Ubatuba extirpa o mangue de rio Comprido para nele crescer o bairro de mesmo nome?

Mário ficou escandalizado. Mas, disse que é preciso que ‘alguém’, ‘talvez o MPF’, entre com uma ação. Deste modo, a FF poderia agir. Prometeu, em seguida, averiguar o andamento.

Especulação imobiliária

Expliquei que, ao meu ver, a especulação imobiliária é o maior problema do litoral do País, consequentemente, também de São Paulo. Mário concorda. E contou que ‘facções criminosas do Rio de Janeiro se deslocaram para o litoral norte do Estado’ piorando, e muito, a situação já crítica.

De Ubatuba para Ilhabela, outro parque estadual  também criado em 1977, portanto, há 45 anos. De bate-pronto perguntei: ‘mas até hoje sem um barco, mesmo passado quase meio século!’

Mário retrucou que estudam uma forma de viabilizar com empréstimos, ou algo no gênero. Anotou a pergunta, e pediu que eu enviasse, depois, todos os temas debatidos de modo que não esquecesse. Avançamos para a…

Pesca de Arrasto no litoral paulista grudada na área de arrebentação

‘É muito difícil brecá-la’, consentiu, ‘ao prepararmos um barco para fiscalizar, o pessoal (de terra) passa um rádio e avisa’. ‘Os pescadores fogem’.

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‘Talvez’, disse, ‘melhor seria usar o avião da FF e dar umas batidas; é pegar uns dois ou três no flagra para a situação se acalmar’.

Seria maravilhoso se acontecer. Este site vai cobrar. Mário só aceitou o ‘rojão (assumir a FF)’ se tivesse garantia de ficar no cargo até 2024 o que, de fato, vai acontecer. Melhor para a biodiversidade paulista.

E, lembrou, o projeto da FF de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) Mar Sem Lixo, uma bela ideia que, se for avante, pode ser exemplo para o Brasil e se estender para outros Estados. A seguir, tratamos de…

Infestação do coral sol, e outros…

O que a FF pretende fazer neste caso? Alcatrazes, Búzios e Vitória (ambas ilhas do Parque Estadual de Ilhabela), especialmente, mas não apenas, estão infestadas.

Novamente, a resposta foi a falta de demanda dos gestores, segundo ele, e foi mais um tópico anotado na agenda. Para situar o leitor, problema não só do Estado, mas, de todo o litoral do Brasil. Em seguida, a questão principal que gerou a entrevista. A…

Verticalização de Ilha Comprida

O tema da verticalização, em outras palavras, especulação correndo solta com apoio dos caciques políticos nativos do PSDB, e a vergonhosa omissão da FF depois de inúmeras tentativas com o ‘diligente’ diretor-executivo, Rodrigo Levkovicz.

projetos da verticalização de Ilha Comprida
Projeto da verticalização de Ilha Comprida do empresário Chico Silvestre, um ‘presente’ do prefeito Geraldino Júnior (PSDB).

‘Escreva aí’, João, ‘que o presidente da FF, e ambientalista, faço questão deste termo, é RADICALMENTE contrário à verticalização’. ‘Ilha Comprida não terá verticalização de jeito nenhum!’

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Os leitores já sabem da polêmica que nasceu depois de um alerta do vereador Rogério Revitti (Cidadania), o único voto contrário nas duas votações, fajutas, que houve na Câmara do Vereadores; e de Roberto Nicacio, biólogo, morador de Vila das Pedrinhas, que pegaram a falcatrua na ‘unha’.

Roberto Nicacio, biólogo
Roberto Nicacio, o biólogo de vila das Pedrinhas.

Tudo começou quando o prefeito, Geraldino Júnior (PSDB), apresentou uma lei sob medida para o empresário Chico Silvestre, que prevê a construção de prédios com até 30 metros de altura e sete andares em Ilha Comprida!

vereador Rogério Revitti
O vereador Rogério Revitti.jpg.

A partir desse ponto, a posição da FF, então a cargo de Rodrigo Levkovicz, foi um papelão que se aproxima, perigosamente, da prevaricação.

Resumo da ópera bufa com libreto da Fundação Florestal antes de Mário Mantovani

Se tem um local que Mário conhece bem é o litoral sul do Estado onde passou longo tempo de sua vida. Para começar, quando estava na SOS Mata Atlântica havia um escritório da ONG na região. Ali Mário trabalhou por anos.

Ele sabe a importância de Ilha Comprida para o Lagamar, que a ilha é uma APA – Área de Proteção Ambiental e, ainda, que a erosão está tragando as beiradas de Ilha Comprida. Só não sabia do papelão da FF desde que este site publicou a denúncia de Rogério Revitti, e Roberto Nicacio.

Foi das melhores e mais positivas entrevistas que este site já fez. Naquela noite dormi feliz, na certeza de que o bom senso, e a responsabilidade de um servidor comprometido, Mantovani, haverá de prevalecer.

Não à verticalização!

Manteremos o leitor informado.


O outro Lula, Sérgio Augusto, O Estado de S.Paulo


04 de junho de 2022 | 03h00

O que dizer de um gaúcho nascido no mesmo ano em que o químico Albert Hofmann “sintetizou” o ácido lisérgico e ganhou o nome de Luiz Carlos em homenagem a Prestes? 

“Você é um predestinado, Maciel”, disse-lhe uma vez, ao sabor de uma conversa sobre a caretice dos comunistas da velha-guarda. Criado num lar comuna, sem jamais deixar de remar pela esquerda, diversas vezes chamou-a às falas, entre outros motivos por sua preconceituosa visão sobre o consumo de drogas. 

Era um libertário no sentido mais puro da palavra, não na acepção deletéria, individualoide, que lhe sobrepôs a direita americana. Justamente por seu olhar crítico sobre a esquerda, seus argumentos se tornaram mais complexos e fortes, salienta Caetano Veloso na apresentação de Underground, coletânea organizada por Claudio Leal, jovem jornalista cultural de primeira linha, ativo na imprensa paulistana e baiano de nascença.

O escritor, jornalista e roteirista Luiz Carlos Maciel
O escritor, jornalista e roteirista Luiz Carlos Maciel Foto: YouTube

Por algum tempo, desde nossa aproximação, via Glauber Rocha, pensei que “Lula” (era assim que Glauber chamava Maciel) fosse baiano. Passara quatro anos em Salvador, estudando e praticando teatro com Martim Gonçalves e uma privilegiada trupe de atores e futuros diretores, experiência que, somada ao que aprendera graças a uma bolsa em Nova York, o levou a uma fecunda associação com Zé Celso Martinez Corrêa, no Oficina. Foi Maciel quem sugeriu a Zé Celso encenar O Rei da Vela, montagem a cuja exuberância criativa só o Glauber de Terra em Transe fez sombra na época. 

Charmoso, culto e antenadíssimo, ao contrário de outros meros professores de filosofia, vivos e mortos, Maciel (1938-2017) jamais se identificou como “filósofo”, embora não faltasse quem assim o considerasse. Glauber, por exemplo, e a legião de discípulos que avidamente consumia suas reflexões no semanário Pasquim, que ajudou a fundar e no qual manteve, por mais de três anos, a mais influente página sobre a contracultura da imprensa brasileira, origem de sua fama como guru de nossa marginália cultural. 

Foi Caetano quem melhor o definiu: “Um autor docemente desaforado”, que defendia teses irracionalistas num estilo “calmamente lógico” – e por isso, acrescento eu, desconcertante. Até Paulo Francis, que o respeitava à beça, se deixou desconcertar por ele. 

Discorria e escrevia sobre filosofia como quem descasca uma banana. De formação existencialista, traçou e nos ajudou a digerir Sartre e Heidegger (tema de seu primeiro livro) e a muita gente introduziu e explicou Reich, Marcuse, Norman O. Brown, Allan Watts e outros faróis contraculturais. 

Fez teatro, TV, viveu intensamente os bastidores da Tropicália e do Cinema Novo, deu aula de dramaturgia, lançou publicações mais e menos alternativas (entre as quais a edição brasileira da revista Rolling Stone, em 1972). 

Não bastasse, era um gato. 

Economistas estão alienados e presos a dogmas no Brasil, diz André Lara Resende, FSP

 Eduardo Sombini

O economista André Lara Resende é um dos críticos mais importantes dos dogmas da teoria econômica dominante e seu apego ao equilíbrio fiscal a qualquer custo e à diminuição do tamanho do Estado.

Para ele, a macroeconomia neoclássica, que orienta boa parte da produção acadêmica e do debate público no Brasil, se tornou um garrote ideológico, com ferramentas equivocadas e sem capacidade de formular políticas para promover a retomada do crescimento e a distribuição de renda.

Em seu livro recém-lançado, "Camisa de Força Ideológica: a Crise da Macroeconomia", Lara Resende percorre a história da teoria monetária e discute por que o fato de a moeda ser hoje um registro digital, não mais um metal com valor em si, transforma as possibilidades de financiamento do Estado.

Doutor pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, ex-diretor do Banco Central e um dos formuladores do Plano Real, o economista diz que países que emitem a própria moeda não têm, sob algumas condições, restrições financeiras.

O economista André Lara Resende, autor de 'Camisa de Força Ideológica', no campus da Universidade Columbia, em Nova York - Gilberto Tadday - 3.dez.15/Agência O Globo

O Estado pode sempre ampliar a base monetária para financiar investimentos e políticas públicas sem correr o risco de criar surtos inflacionários. No entanto, a perspectiva de se livrar das amarras da ortodoxia monetária deve vir acompanhada de controle e disciplina, diz, para tornar o Estado mais competente.

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Neste episódio do Ilustríssima Conversa, Lara Resende criticou a fórmula de elevar a taxa de juros para conter a alta da inflação, como vem acontecendo no Brasil nos últimos meses, discutiu o que pensa sobre a privatização de empresas estatais e explicou a ideia de o Estado assumir a função de empregador de última instância dos trabalhadores, da mesma forma que desempenha o papel de credor de última instância em crises financeiras.

Como é que se pode defender que o Estado está quebrado e não pode gastar com infraestrutura, educação, saúde, mas pode —e deve— aumentar a taxa de juros, como aumentou no Brasil em mais de dez pontos de percentagem? Com uma dívida de 85% do PIB, isso é 8,5% do PIB de transferência de gastos fiscais para os detentores da dívida pública, que são os agentes mais ricos e superavitários da economia

André Lara Resende

economista

PARA SE APROFUNDAR

André Lara Resende indica

Eduardo Sombini indica

  • "Trabalho Interno", de Charles Ferguson, vencedor do Oscar de melhor documentário de 2010 que aborda a crise financeira de 2008 e as medidas do governo federal americano para socorrer o sistema financeiro do país